Poema dos Dons
Graças quero dar ao divino labirinto de efeitos e causas
pela diversidade das criaturas que formam este singular universo!
Graças quero dar pela razão, que não deixará de sonhar com
um plano para o labirinto!
Graças quero dar pelo amor, que nos deixa ver os outros como
os vê a divindade! Pelo firme diamante e água solta! Pela álgebra, palácio de
precisos e preciosos cristais!
Graças quero dar pelo fulgor do fogo, que nenhum ser humano
pode olhar sem assombro antigo! Pelo mogno, o cedro, o sândalo! Pelo pão e o
sal!
Graças quero dar pelo mistério da rosa que prodigaliza cor e
não a vê! Pela arte da amizade! Pelas palavras que foram ditas no crepúsculo de
uma cruz a outra cruz!
Graças quero dar pelos rios secretos e imemoriais que
convergem em mim! Pelo mar, que é um deserto resplandecente e uma cifra de
coisas que não sabemos!
Graças quero dar pelo ouro que reluz nos versos! Pelo
inverno épico! Pelos prismas de cristal e o peso de bronze!
Graças quero dar pelo geométrico e bizarro xadrez! Pelo odor
medicinal do eucalipto!
Graças quero dar pela linguagem, que pode simular a
sabedoria! Pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado! Pelo hábito, que
nos repete e nos confirma como um espelho!
Graças quero dar pela manhã, que nos proporciona a ilusão de
um começo! Pela noite, sua treva e sua astronomia! Pelo valor e a felicidade
dos outros! Pela pátria, sentida nos jasmins ou numa velha espada!
Graças quero dar pelo fato de que o poema é inesgotável e se
confunde com a soma das criaturas e jamais chegará ao último verso e varia
segundo os homens!
Graças quero dar pelos minutos que precedem o sono! Pelo
sono e pela morte, esses dois tesouros ocultos!
Graças quero dar pela música, misteriosa forma do tempo!
Pelos íntimos e inúmeros dons que não enumero!
Enviado por: " Gotas de Crystal"
<gotasdecrystal@gmail.com>
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