Painel Artístico Valioso e
Maltratado
Cyro de
Mattos
Com sua
beleza enorme em que se retrata a
história da civilização cacaueira baiana, representada em figuras,
símbolos, cenas e paisagens, o painel composto de azulejos, criado pela arte
genial de Genaro de Carvalho, que fica no prédio Comendador Firmino Alves, e
que alojava o antigo Banco Econômico, entre a avenida do Cinquentenário e a
praça Adami, nos idos de 1953, é indiscutivelmente um dos patrimônios
artísticos de incalculável valor pertencente ao
município.
Não se
concebe como essa obra de arte magnífica esteve entregue à indiferença de
prefeitos, secretários de educação e cultura durante décadas, sendo alvo de
toda espécie de mazela. Sobre a sua superfície foram pregados folhetos de propaganda comercial e
política, vários azulejos estavam
quebrados ou rachados, outros tantos não mais existiam. Havia uma banca de jornal e revistas na
frente, erguida na rua, junto ao meio
fio, que obstruía sua visão. Faixas
estendidas de um poste ao outro, anunciando algum evento, poluíam a visão do
painel montado na parede como um monumento de um povo, além do tempo.
A
recuperação do painel deveu-se à nossa
iniciativa quando exercíamos o cargo de gestor cultural da cidade. Atuou como
parceiro desse desafio o Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC,
sediado em Salvador. Houve a intervenção diplomática para a remoção da banca de revista e jornal, além do comércio informal de vendedores
ambulantes, que com a exposição de seus
produtos, pregados na superfície dos azulejos trabalhados, escondiam,
também, o painel.
Reconhecimento maior
deve-se à atuação de Richard Wagner, um mestre da arte em murais, artista com
fama mundial. Usou seu talento, paciência, amor, técnica exemplar e material
apropriado, adquirido em São Paulo, para
recuperar o painel.
Hoje, passados
tantos anos da sua recuperação, o painel sofre os mesmos abandonos de tempos
passados. Existem agora, em frente ao painel,
duas mesas com guarda-sol de
praia para proteger óculos e outros produtos vendidos por camelôs. O gradil, erguido como protetor do painel,
serve para que sejam expostos óculos pendurados em mantas para atrair eventuais
compradores. Por trás do gradil,
guarda-se bicicleta; papelão, cadeiras
quebradas, jornal velho e lixo são jogados dentro. As faixas, estendidas de um poste a
outro, voltaram com seus anúncios de
algum produto novo e barato para aumentar a poluição visual sobre o painel. Ó
quão amarga é essa agressão a uma peça artística tão valiosa, de inegável
valor, do patrimônio de um município onde nasceu Jorge Amado, o autor mais lido
da língua portuguesa.
Até
quando vai continuar essa indiferença,
deixando o que é belo ao imenso largado ao sabor da sorte? Só depende de boa vontade das autoridades
responsáveis pelo setor para que se reverta o quadro. Não requer muito esforço a mudança na atitude
omissa, apenas uma vigilância atenta,
adicionada a uma política de educação cultural perante a comunidade.
Como se diz, antes tarde do que nunca.
Prefeito, por
favor, dê uma chance ao painel artístico, que retrata a civilização do cacau
nos tempos áureos, do esplêndido Genaro
de Carvalho.
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