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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

DE MÃOS DADAS – Marília Benício dos Santos

De mãos dadas


            Ontem, à tardinha, encontrei um casal de velhos, de mãos dadas, passeando. Eu, como sempre, ia apressada, mas não deixei de olhar para aquele casal que transmitia paz, tranquilidade. Mas a minha sensação foi de dó. “Que pena! Naturalmente cada um está pensando: qual de nós dois vai partir primeiro? Que pena!” E fiquei triste. E lá me fui pegar o ônibus, planejando um dos velhos morrer. Naturalmente morrerá primeiro o velho; já está muito trôpego. Quando me sentei no ônibus pensei: “Que mania tenho de transferir para os outros aquilo que penso! E por que pensar em morte, se eles ainda estão vivos? Para que pensar no amanhã ao invés de viver o hoje?” Perguntaram a Chico Anísio:

            - E seu sonho hoje, poeta, qual é?

           -  Nesta etapa da vida, o meu sonho é ver amanhã.

            Não é viver o amanhã, mas esperar o amanhã vivendo o hoje. Cada dia tem seu encanto especial. Cada dia tem também a sua graça. Deus nos dá aquela graça do momento. De que adianta ficar pensando e sofrendo o amanhã?  Aqueles velhos vinham de mãos dadas. Isto é o importante: dar as mãos. Um ajudar o outro na caminhada. Agradecer a Deus ter chegado até aqui, dando um exemplo de amor. A atitude deles era a atitude de quem ama: tranquilos, passeavam dando a volta ao quarteirão. Na sua caminhada encontravam jovens, crianças e trabalhadores que voltavam para casa. E eles que não precisavam mais ter pressa, passeavam sem correr, sem mais se preocupar com o amanhã, com o futuro. O futuro já tinha chegado. Agora era olhar o céu e contemplá-lo; naquele fim de tarde, apesar da poluição, estava muito azul.

            Hoje, pela manhã, quando voltava do meu passeio matinal, encontrei-os e eles pareciam rir “como estão alegres!” pensei. Será que aquele casal estaria mesmo alegre ou eu é que tinha conseguido descobrir alegria neles, quando antes só via tristeza? Fiquei pensando: “a mesma coisa pode proporcionar alegria ou tristeza; depende muito do que está dentro da gente.”

            Aquele casal poderá, em seu passeio matinal transmitir alegria ou tristeza. Mas de uma coisa tenho certeza: ele transmitirá às pessoas que os veem tranquilidade ou amor. Com as mãos dadas eles comunicam união, compreensão, ternura. O mais lindo, porém, será que suas mãos estejam entrelaçadas nas mãos de Deus. Só assim á que na ausência de um, o outro não desfalecerá porque uma Mão amiga e poderosa, suavemente apertará a sua.


(ARCO-ÍRIS)

Marília Benício dos Santos

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