por Sílvia Marques
Sim, estamos no mundo para sofrer por amor, para sermos
enganados por nós mesmos e pelos outros, manipulados, ignorados, mas também
amados, queridos, acolhidos. Estamos no mundo para rir de nós mesmos, da nossa
ingenuidade, dos absurdos que dizemos quando estamos tristes, confusos e
sozinhos.
Nunca se culpe por ter amado. Por ter confiado. Por ter
ajudado. Nunca se culpe por acreditar na bondade humana, na amizade verdadeira,
no amor eterno. Nunca se culpe por pagar as contas em dia, ser dedicado ao seu
trabalho, honrar seus compromissos. Nunca se culpe por dizer a verdade
construtiva e pregar pequenas mentiras a fim de não magoar as pessoas. Nunca se
culpe por algo que não deu certo apesar de todo empenho empregado. Nunca se
culpe por fazer a coisa certa.
Amou e não foi amado? Paciência. Acreditou que tinha um
amigo de verdade e não tinha? Azar do falso amigo que perdeu o seu carinho e
atenção. Ajudou alguém e recebeu ingratidão? O problema não está com você com
certeza.
Por alguma razão que não sei explicar algumas pessoas ficam
ressentidas quando são amparadas e transformam o gesto de carinho em uma arma
contra quem as ajudou. Uma espécie de sentimento de inferioridade. Uma raiva
forte por ter dependido da bondade alheia. A tristeza por deparar-se com as
próprias limitações. Limitações comuns à raça humana. Ninguém é
autossuficiente.
Se o outro mentiu, não é você que deve se sentir magoado. Se
o outro foi desleal, não é você que deve se sentir traído. Se o outro foi
ingrato, não é você que deve se sentir tolo. Tolo é quem não consegue ver a
beleza da solidariedade. Tolo é quem acha perda de tempo ajudar as pessoas. Tolo
é quem se acha superior aos outros, autossuficiente. Tolo é quem ignora o
sofrimento alheio. Tolo é que nunca se permitiu acreditar em nada e deixa a
vida passar sem cor, sem odor, sem gosto.
Pode soar como loucura ou poesia barata, mas tolice é deixar
de viver, de amar, de acreditar, de se entregar aos sentimentos, sensações e
desafios da vida. Tolice é deixar de amar por medo de ser desprezado. Tolice é
deixar de fazer uma prova por medo de ser reprovado. Tolice é deixar de fazer
um convite por medo de ouvir um não. Tolice é dizer que nada muda no mundo por
preguiça de arregaçar as mangas.
Sim, estamos no mundo para sofrer por amor, para sermos
enganados por nós mesmos e pelos outros, manipulados, ignorados, mas também
amados, queridos, acolhidos.
Estamos no mundo para rir de nós mesmos, da nossa
ingenuidade, dos absurdos que dizemos quando estamos tristes, confusos e
sozinhos.
Estamos no mundo para ganhar e perder. Ganhar aprendizado
perdendo o que julgamos mais querer. Estamos no mundo ao sabor das intempéries
da natureza e precisamos aprender a nadar na marra quando formos arremessados
no mar das incertezas. Viver é não saber. É não entender. É perdoar ...é se
perdoar e seguir em frente. Nunca se culpe por fazer a coisa certa.
SÍLVIA MARQUES
Paulistana, escritora, idealista em crise,
bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de aluna,
doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de botequim,
com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes , da boa mesa,
dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas. Serei uma atleta no dia em que
levantamento de xícara de café se tornar modalidade esportiva. Sim, eu acredito
realmente que um filme possa mudar a sua vida! Autora do blog Garota desbocada.
Lancei recentemente em versão e-book pela Cia do ebook o romance O corpo nu..
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