Poeta e ensaísta, Edimilson de Almeida Pereira lembrou
'ancestrais' que construíram a Igreja Matriz de Paraty. Obra de Lima Barreto
foi tema do encontro.
Por Cauê Muraro, G1, Paraty
27/07/2017
O poeta, ensaísta e professor Edimilson de Almeida Pereira e
a crítica e professora Beatriz Resende no primeiro debate da Flip 2017, nesta
quinta-feira (27) (Foto: Divulgação/Flip)
Ao saudar e pedir licença aos escravos que "construíram
este templo" (no caso, a Igreja Matriz de Paraty) e exaltar a literatura
afrodescendente, o poeta, ensaísta e professor Edimilson de Almeida Pereira foi
aplaudido no primeiro debate da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty
(Flip).
Já em sua primeira fala, Pereira afirmou que o espaço que
recebe a programação principal do evento "remete a trabalhos de escravos
do século XVII", a quem se referiu como "ancestrais".
Mais tarde, ao falar sobre o cânone afrodescendente (ou
afro-brasileiro) – que difere do cânone brasileiro convencional, estruturado
"a partir da Europa" – , afirmou que ele "não é novo, já está
aqui desde que o primeiro escravo pisou nesta terra".
Concluiu dizendo, sob novos aplausos: "O que esse
cânone tem de fundamental é uma proposta crítica na qual as vozes dos excluídos
demonstram o que elas têm a dizer em relação as várias esferas da vida
social". Nomeou como exemplo de "excluídos" os descendentes de
indígenas.
E falou ainda que "o cânone afrodescendente pressupõe
um espaço importantíssimo para a autoria feminina – de modo geral, o cânone
[convencional] exclui mulheres".
"É essa literatura que chamo de estrangeira",
disse, citando que ela "tem chegado pouquíssimo na universidade",
"o silêncio pesado do racismo e a herança escravocrata". "A
questão é: estamos preparados para a sua emergência?"
Homenagem (meio vazia) a Lima Barreto
O tema da mesa foi o homenageado da edição, Lima Barreto. Na
noite anterior, ele já havia sido "protagonista" da abertura, em
perfomance emocionada do ator Lázaro Ramos e "aula
biográfica" da historiadora e escritora Lilia Scwharcz.
Chamado de "Arqueologia de um autor", o encontro
reuniu, além de Edimilson Pereira de Almeida, outros dois convidados: a crítica
literária e professora Beatriz Resende e o professor de literatura Felipe
Botelho Corrêa.
Este primeiro debate da Flip 2017 não estava cheio. No
interior da Igreja Matriz, que sedia a programação principal do evento, dava
para contar pelo menos 50 cadeiras vazias, das 450 disponíveis. Na fila de
entrada, minutos antes de a conversa começar, uma frequentadora gritava
ofecerendo um ingresso que tinha sobrando nas mãos.
Lima Barreto militante
Beatriz Resende disse que "custou para vir a
homenagem" a Lima Barreto na Flip. "Este é o momento ideal. Estamos
precisndo, hoje no Brasil retomar, as críticas de Lima Barreto", afirmou,
especificando textos do autor que condenavam "a República, o Congresso
incompetente e omisso, os deputados que praticam nepotismo com a maior facilidade".
Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
foi aplaudida lembrar "colegas meus da Uerj [Universidade Estadual do Rio
de Janeiro] que há quatro meses não recebem salário". "Essa é
penalizada por ser a primeira a abrir vagas de cotas e dar bolsas a cotistas.
Porque costistas, como precisam de passagem para sair de lugares distantes,
como Lima Precisava."
Já Felipe Botelho Corrêa comentou a "literatura
militante" do homenageado, que escreveu numa época em que "a
literatura começa a ser mais popular aos recém alfabetizados". "Ele
tinha um projeto literário muito claro de falar para o maior número possível de
gente."
Para o professor, a militância de Lima Barreto era
"muito mais desse lado intelectual de usar esse meio de comunicação de
massa para levar a literatura a um novo público". Ao se dirigir àquela
nova classe, em geral ocupante do subúrbio do Rio, o escritor passou a
"falar de uma coisa mais leve, clara, oral".
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