Deus, eu preciso de sua ajuda!
- Márcio, você cai! Não corra, vou chamar sua mãe.
Márcio apesar das advertências da babá corria como um desesperado. Eu da varanda que dava para o jardim onde Márcio brincava, observava-lhe e dava risadas com as suas traquinadas.
Num dada momento, Márcio resolveu subir na goiabeira. Aí, realmente fiquei apreensiva. Ele tinha só cinco anos e disse-lhe de onde estava:
- Cuidado Márcio.
- Deixe comigo.
Lá em cima ele conseguiu tirar uma goiaba verde. A babá
gritou:
-- Não coma goiaba verde. Vai lhe fazer mal.
Não sei se por que a babá falou ou porque não gostou da goiaba, resolveu jogá-la fora. Não foi uma coisa nem outra; é que a goiaba estava lhe atrapalhando, pois de lá de cima, continuava as suas travessuras passando de um galho para outro.
Numa dessas tentativas, o seu bracinho não conseguiu encontrar o outro galho e ele ficou pendurado só em um braço. Eu e a babá tomamos um susto. Foi naquele momento que ele sentindo o perigo, gritou:
- Deus, eu preciso de sua ajuda!
Na mesma hora ele conseguiu alcançar o outro galho e ficou a se balançar alguns segundos pendurado na goiabeira e em seguida pulou no chão e saiu correndo.
“Deus, eu preciso de sua ajuda”. Quantas lições as crianças nos dão. O grito de Márcio foi realmente uma oração. Durante a nossa vida vivemos tentando passar de um galho para outro. Sirvamo-nos das palavras de Márcio. “Deus, eu preciso de sua ajuda.”
Com certeza, ele virá ao nosso encontro.
(CARROSSEL)
Marília Benício dos Santos
---
PREFÁCIO
Marília escreve como quem canta. Naturalmente.
Em sua prosa fluente e agradável sentimos a vida palpitando,
mesmo nos acontecimentos mais triviais. Fragmentos do tempo, suas próprias
vivências constituem seu tema predileto, o qual, sob uma aparência singela,
representa, em última análise, um diálogo ininterrupto com Deus e com o mundo.
Não se pense, porém, que se trata de um livro religioso no
sentido estrito da palavra. Em momento algum, a autora tenta provar o que quer
que seja. No desdobrar de suas reflexões despontam os sentimentos mais intensos
do seu coração e Marília possui aquela qualidade tão rara em nosso tempo e tão
marcante dos autores místicos: a capacidade de transformar o seu dia a dia em
busca constante de encontro entre a criatura e o Criador.
Lendo este livro, ou melhor, saboreando suas páginas, aos
poucos nos apercebemos de que o trivial é, para Marília, o lugar próprio de
encontro e de diálogo. Assim, ela nos prende e nos encanta desde o primeiro
momento, precisamente pelo fato de que canta a vida, em suas alegrias e em suas
tristezas, mas, sempre, na perspectiva feliz da esperança.
Lygia Costa Moog
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário