Poema de torcedor
Penso que
um futebol tão rico de jogadores como o daquele tempo, no velho Campo da
Desportiva, não deveria ficar esquecido. Merece ser pesquisado e estudado.
Comunicado através de teses universitárias, de mestrado e doutorado. É preciso
que seja explicado melhor. Como nasceu e se desenvolveu com tão boas
qualidades, em seu longo curso de amadorismo. Avaliado nas razões de como
jogadores amadores, vivendo no interior baiano, longe de Salvador, do eixo
Rio-São Paulo e de outros centros esportivos mais adiantados, deram espetáculos
com um potencial técnico surpreendente, movido com arte e emoção. Jogadores
amadores que podiam vestir a camisa de grandes clubes brasileiros, se estivessem
atuando hoje. Com sorte, alguns poderiam chegar até mesmo à Seleção Brasileira.
Como aconteceu com Perivaldo, que surgiu no declínio do Campo da Desportiva,
mas já em época mais recente, quando então os meios de comunicação fazem ficar
conhecido o atleta que joga em lugares distantes desse imenso Brasil.
Sem
ufanismo, sabem como eu os mais antigos desportistas de Itabuna, alguns deles
hoje passando dos oitenta anos, que aqueles jogadores amadores escreveram, no
piso esburacado de um estádio acanhado, páginas belas de uma das nossas maiores
paixões populares. Basta dizer que meio século depois nenhuma cidade do
interior da Bahia conseguiu igualar o feito da seleção amadora de Itabuna, que
foi campeã seis vezes seguidas pelo Intermunicipal. Além disso, venceu antes o
Torneio Antonio Balbino, em Salvador, do qual participaram as boas seleções de
Feira de Santana, Ilhéus, Santo Amaro, São Félix e Alagoinhas.
O pontapé
inicial foi dado com essas memórias relatadas e inventadas, que falam de uma
das faces da alma do povo brasileiro, o futebol, jogado com garra e conjunto,
classe e algum feitiço, no campinho do interior.
Resta
agradecer de novo àqueles artistas da bola, amadores de ouro, que me deram
tantas alegrias no velho e saudoso Campo da Desportiva.
Terminar
com o poema em que falo um pouco deles.
Campo da Desportiva
O drible de Puruca
O maior de minha vida,
O gol de Juca
O maior da minha vida,
A defesa de Asclepíades
A maior da minha vida,
A falta batida por Leo Bríglia
A maior de minha vida,
O nó de Carrapeta
O maior de minha vida,
A catimba de Tombinha
A maior de minha vida,
A investida de Fernando Riela
A maior de minha vida,
O torcedor Rodrigo Bocão
O mais engraçado de minha vida,
Os roletes de cana da desportiva
O doce mais gostoso de minha vida,
Esse tiro na memória
O gol mais triste de minha vida.
(O VELHO CAMPO DA DESPORTIVA – Edição Comemorativa do
Centenário de Itabuna)
Cyro de Mattos, escritor e poeta. Primeiro Doutor Honoris
Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de
Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia
de Letras de Itabuna. Autor premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.
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