Meu irmão Wilson
Dos três irmãos, Wilson, Waly e Wilde assim mesmo com W,
nomes de outras latitudes, mas nós todos tabaréus, sertanejos nascidos em
Conquista – dos três irmãos, o Wilson não fez curso universitário. No ano do
vestibular trocou a Faculdade de Medicina pelo casamento. Em vez de Hipócrates,
de carne e osso, Cupido, de asas e flecha.
E fez bem. Virou roceiro e, depois, logo depois, Tabelião de Notas em Itabuna.
Criatura recatada, modesta, mais para ouvir do que para
falar.
Nunca fez um discurso como seus irmãos, que ele gostava de
escutar, e, às vezes, aconselhá-los.
Jamais escreveu um poema, uma crônica, embora houvesse sido
pela vida afora, um grande ledor, apreciador das boas obras, íntimo de muitos
saberes da vida, que transmitia aos irmãos, em horas de aperto.
Não lhe aponto um gesto notável na sua vida, gesto capaz de
marcá-lo, ressaltando-o, em algum momento singular, de seus concidadãos.
Porém, a sua bondade e sabedoria sempre foram continuadas,
em silêncio. A sua voz, mansa, permanentemente para servir.
Somados gestos de bondade, frequentes, para amparar a
parentes e amigos, conhecidos e desconhecidos, nesta Itabuna que ele elegeu
sua pátria, terra de seus filhos e netos, tenda do seu bem querer e do seu bem
servir, armada ali, na Travessa dos Artistas, sede do tabelionato do primeiro
ofício, de absoluta honradez, respeitada e respeitosa, Wilson se transforma num
rio de amor, sabedoria, dignidade, modéstia e prestimosidade.
Os irmãos doutores diziam sempre ao irmão tabelião de notas,
nos momentos de congraçamento familiar, a ele que a todos amparou e protegeu:
“você não precisou cursar a universidade para conquistar o saber, os dons invejáveis
da verdadeira sabedoria. Já nasceu mestre, sobretudo na arte difícil de bem
conviver, no dom de ser prestimoso”.
Wilson era assim. Sendo muito e tendo pouco. E assim ele nos
deixou caladamente, numa noite triste.
Junto com Wilde, vi pela última vez o irmão Wilson, ele já
no caixão, nos lábios um sorriso meio escabreado, de quem não gostava de
incomodar, como se estivesse pedindo desculpas pelo estorvo de nossa viagem
apressada, em tormentosa madrugada, para um até breve.
Em novo encontro que teremos, o irmão Wilson muito vai nos
contar de tudo que já souber daquele outro lado, onde deve estar, agora,
fazendo tudo para ajudar os outros.
(CRÔNICA AVULSA)
Da Antologia ITABUNA, CHÃO DE MINHAS RAÍZES
Seleção, Prefácio e Notas de Cyro de Mattos
WALY DE OLIVEIRA LIMA - nasceu em Vitória da Conquista, a 29
de dezembro de 1919. Fez o curso primário em Jequié, Uruçuca e Salvador, onde,
no Colégio Maristas, aprovado no admissão, iria ingressar no ginásio e alcançar
o “complementar de direito”. Formado em advocacia pela Faculdade de Direito da
Bahia, em 1944. Promotor de justiça durante muitos anos em Itabuna, onde
lecionou nos colégios Divina Providência e Ação Fraternal. Crônicas suas
aparecem na imprensa sul - baiana, jornal “Dimensão“ de Itapetinga, e “A Tarde”.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário