Esquecer um amor dói tanto
Sentada nas
pedras da praia de Itapoan, olhava a chegada dos saveiros. É lindo vê-los no
horizonte e acompanhar sua chegada até a praia. O sol estava se pondo e
derramava sobre a terra os seus últimos raios, que não eram dourados, mas
vermelhos parecendo chama de fogo. As ondas batiam nas pedras com tanta força,
que pareciam querer quebrá-las mas apesar de toda a sua fúria, eram
transformadas pelas pedras em espuma. Como era gostoso sentir no corpo as
gotinhas dessas espumas que subiam até nós.
Junto de mim
estava Margot que com os olhos cheios d’água, declamava:
“Tu gostas
tanto do mar
E eu me fico
tão triste
Só em pensar
Que tu
gostas assim tanto mar”.
- Margot, eu
tenho a impressão de que Luiz não gosta assim tanto do mar.
Ela, porém
continuou:
“Tu gostas
mais do mar
Do que de
mim
Porque dizes
que o mar é verde
Mas tu não
vês que eu tenho
A alma toda
verde de esperança”.
Margot
realmente vivia cheia de esperança. Vivia apaixonada e não era correspondida.
Luiz era o nome da paixão de Margot. Os dois se conheceram em minha casa. Ele
gostou muito da conversa dela. Conversamos sobre os livros de Machado de Assis.
Depois
daquela noite, ficaram amigos e batiam longos papos.
Para Luiz,
tudo não passava de uma amizade, mas Margot com sua fantasia romântica
transformou tudo num grande amor. Quando ele percebeu que ela queria algo mais,
afastou-se.
A pobre
Margot vivia esperando a passagem do seu amor, na esperança de um encontro.
Luiz
resolveu então mudar de caminho, já não ia tomar o bonde onde costumava tomar:
em frente a casa de Margot. Mesmo assim, ela tinha uma esperança.
Naquele fim
de tarde, ela sentada nas pedras, chorava muito. Ficara sabendo que Luiz estava
namorando. Com os olhos cheios de lágrimas declamava:
“Amar e ser
amada, uma aventura
Não amar
sendo amada, triste horror
Mas há na
vida, uma noite mais escura
Amar alguém
que não nos tem amor”.
Eu muito
aflita, fazia tudo para ajudá-la, mas estava muito difícil.
- Esqueça,
namore outro. Vamos, esqueça.
Ainda hoje
me recordo da expressão sofrida em seu rosto ao declamar:
“Esquecer um
amor dói tanto
Que é melhor
se lembrar a vida toda”.
E foi isso
que ela fez. Não o esqueceu. Namorou outros mas não podia esquecê-lo.
Depois de
muitos anos, encontrei-me com ela, agora, já casada e com netos. Conversamos
muito, matamos as saudades. Ela convidou-me para dar um passeio na praia.
Enquanto admirava a beleza do mar, ela declamava:
“Tu gostas
tanto do mar...”
(CARROSSEL)
Marília Benício dos Santos
* * *
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