Papai Noel ou São Nicolau?
15 de dezembro de 2016
Plinio Maria Solimeo
Aproxima-se
o Natal. Desde os mais sofisticados Shoppings Centers até as lojas mais
humildes esmeram-se na decoração natalina. Em praticamente todas elas ocupa
lugar de realce o obeso Papai Noel, que nesta nossa época tão materializada se
tornou o símbolo do Natal.
Como surgiu esse personagem, que tomou o lugar do próprio
Menino Jesus nas comemorações natalinas? Segundo fontes autorizadas, em 1821
foi publicado em Nova York um livro de litografias para o público infantil
intitulado Santa Claus, o amigo das crianças, o qual alcançou muita
popularidade. Pelo que tudo indica, “Santa Claus” é uma deturpação fonética do
“Sankt Niklaus” alemão, ou seja, de São Nicolau de Bari.
Vindo do Norte, esse personagem chegava num trenó puxado por
uma rena voadora, e aparecia não mais no dia 6 de dezembro, festa do Santo, mas
na véspera de Natal.
“Segundo peritos do St. Nicholas Center, foi uma elite de
Nova York que conseguiu nacionalizar a Natividade [de Jesus] através de Santa
Claus, com o apoio de artistas e literatos como Washington Irving, John Pintard
e Clement Clarke Moore”.
Mas foi só em 1863, durante a Guerra Civil dos EUA, que o
caricaturista político Thomas Nast começou a desenhar o Santa Claus — ou Papai
Noel, para nós —, como aparece agora, com o gorro vermelho, abundante barba
branca e avantajado ventre.
Essa versão, no entanto, foi popularizada pela indigesta
Coca-Cola, que o representou pela primeira vez num anúncio em 1920. E como essa
rejeitável bebida difundiu-se por todo o mundo como símbolo da modernidade e da
mentalidade hollywoodiana, também o Papai Noel se espalhou por toda a
Terra[i].
Quem era São Nicolau
Nas épocas de fé, em que o espírito religioso ainda
impregnava as festas natalinas, o nascimento de Cristo era precedido pela festa
de São Nicolau de Mira, ou de Bari, no dia 6 de dezembro. Era nesse dia que o
santo bispo dava presentes às crianças.
Na vida desse santo tão popular, é difícil saber o que é
realidade e o que é legenda. Pois são tantos os fatos tão extraordinários que
se contam a seu respeito, que, em alguns casos, se torna quase impossível
separar o real do fantasioso.
Esse santo do século IV foi um dos mais venerados do
Oriente, antes de o ser do Ocidente. E as legendas narrando maravilhas a
seu respeito se difundiram por todo o mundo.
Nicolau nasceu por volta do ano 270 em Patara, opulenta
capital da Lícia, na atual Turquia. Seus pais eram nobres, ricos e, sobretudo,
piedosos.
O menino recebeu apurada educação religiosa e cívica. Na
escola, evitava a companhia dos colegas perniciosos, só travando amizade com os
bons e virtuosos. Crescendo, evitava os espetáculos perigosos, e domava seu
corpo com vigílias, cilícios e jejuns.
Quando seus pais faleceram, Nicolau herdou uma grande
fortuna. Mas considerou-se apenas administrador desses bens, cujos reais
senhores se tornaram os pobres e os necessitados.
Bispo de Mira
Faleceu então o arcebispo de Mira. Os prelados da província
e o clero elevavam fervorosas preces aos Céus, pedindo luzes para encontrar um
digno sucessor. Como não chegavam a um acordo sobre a pessoa a escolher, por
inspiração do alto, combinaram então que elegeriam bispo o primeiro cristão que
entrasse na igreja no dia seguinte.
Ora, Nicolau tinha então se mudado de Patara para essa
cidade, a fim de viver mais obscuramente. E pensou logo em visitar a igreja
local. Assim, ignorando em absoluto o que fora combinado, franqueou bem de
manhãzinha o umbral do templo, e foi logo apanhado e aclamado bispo. Embora
resistisse, foi preciso ceder à vontade de Deus.
Desde então, “sua solicitude pastoral estendeu-se
geralmente a todas as necessidades de seu povo. Cuidava dos pobres, dos
doentes, dos prisioneiros, das viúvas e dos órfãos. Quando não podia
assisti-los pessoalmente, fazia-os visitar e assistir por pessoas piedosas, a
quem encarregava desses cuidados. Sua principal aplicação era conhecer as
necessidades espirituais de seus fiéis e levar-lhes os remédios eficazes. [...]
Pregava contra todos os vícios, e o fazia com uma eloqüência divina que o
tornava vitorioso sobre todos os corações”[ii].
“‘Graças aos ensinamentos de Nicolau, a metrópole de Mira
foi a única que não se contaminou com a heresia ariana, a qual ele rechaçou firmemente
como se fosse um veneno mortal’, dizia São Metódio. O arianismo negava a
divindade de Jesus Cristo. Do mesmo modo, São Nicolau combateu incansavelmente
o paganismo”[iii].
Um biógrafo do santo, o arquimandrita (superior de um
mosteiro na Igreja Oriental) Miguel, narra assim sua morte: “Havendo
regido a Igreja metropolitana de Mira e embalsamado o país com o perfume de uma
santíssima vida sacerdotal, trocou esta vida perecedoura pelo repouso eterno” por
volta do ano 341[iv].
Túmulo de São Nicolau
Suas relíquias são preservadas na igreja de São Nicolau, em
Bari, na Itália. E até hoje delas emana uma substância oleosa, conhecida
como Maná de São Nicolau, que é altamente apreciada por seus poderes
medicinais[v].
Com efeito, “em Mira se dizia que o ‘venerável corpo do
bispo, embalsamado no azeite da virtude, transudava uma suave mirra que o
preservava da corrupção, e curava os enfermos, para glória daquele que havia
glorificado a Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus”[vi].
São Nicolau é muito venerado na Grécia e na Rússia, sendo o
patrono de Moscou. Seu culto chegou à Itália quando mercadores italianos
roubaram suas relíquias e as levaram para Bari em 1087. Daí seu culto chegou à
Alemanha durante o reinado de Oton II (955-983), provavelmente porque sua
esposa, Teófano, era grega. Nesse tempo, o bispo Reginaldo de Eichstaedt (+
991) escreveu sua vida, que se tornou muito popular. São Nicolau tornou-se
também o patrono de vários países da Europa, como Grécia, Rússia, Reino de Nápoles,
Sicília, Lorena, e também de várias cidades da Itália, da Alemanha, da Áustria,
da Bélgica, da Holanda e da Suíça.
Na Holanda ele é conhecido como Sinterklaas, sendo
representado montado num cavalo branco, mitra sobre a cabeça e empunhando um báculo
dourado. Ele cavalga sobre os telhados, acompanhado de seu escudeiro Pikkie,
um mouro terrível que coloca num saco os meninos maus. São Nicolau visita as
casas, perguntando: “Há aqui algum menino mau?” Todos respondem: “Não,
Sinterklaas, aqui todos somos bons”. “Todos?” pergunta o bispo. “Sim,
Sinterklaas”. Então o santo distribui bombons a todas as crianças. Quando há
alguma que não se comportou bem durante o ano, em vez de bombom o santo dá-lhe
um pedaço de carvão. O mesmo sucede no sul da Alemanha, onde ele é conhecido
como Sankt Nikolaus.
Reações contra o Papai Noel
O Papai Noel comercializado não tem nada de cristão. Pelo
contrário, é inteiramente pagão, tendo por isso se tornado tão popular numa
época cada vez mais paganizada como a nossa.
Felizmente está ocorrendo em vários países, principalmente
na Alemanha, uma sadia reação contra a intromissão do Papai Noel mercantilista
nas festas natalinas, e um ressurgimento da tradição do Sinterklaas, cheia
de encanto e inocência.
Esperemos que essa tão necessária reação apague esse clima
mercantilista das festas de Natal contemporâneas e as transforme novamente na
“noite feliz” em que nasceu o Salvador do Mundo para resgatar o gênero humano.
Notas:
[i] https://www.aciprensa.com/noticias/san-nicolas-o-santa-claus-6-diferencias-entre-el-santo-y-el-personaje-de-ficcion-47672/
[ii] Les
Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs,
Paris, 1882, vol. XIV, p. 87.
[iii] https://www.aciprensa.com/noticias/hoy-se-celebra-a-san-nicolas-patrono-de-los-ninos-marineros-y-viajeros-66900/
[iv] Edelvives,
El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, tomo VI, p.
369.
[v] Cfr.
Michael T. Ott, Saint Nicholas of Myra, The Catholic Encyclopedia, CD Rom
edition.
[vi] https://www.aciprensa.com/noticias/hoy-se-celebra-a-san-nicolas-patrono-de-los-ninos-marineros-y-viajeros-66900/
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