Treme a velha carcaça socialista europeia
25 de novembro de 2016
A eleição de Donald Trump apavorou a esquerda europeia.
Na Itália ela ainda treme. Treme mais do que o solo de suas cidades abaladas
pelos vários e recentes terremotos. A esquerda italiana foi profundamente
sacudida. Seus círculos dirigentes fazem um reexame de ideias e programas. Não
é difícil. Esse exame é forçosamente superficial e expedito, pois de ideias o
socialismo europeu, e em particular italiano, há muito caiu na indigência do
pauperismo ideológico: nada têm de novo a apresentar. Repetem os surrados slogans de
fracassados programas de um século atrás.
O mais importante jornal italiano, “Corriere della Sera”,
fez abertamente campanha por Hillary Clinton. Embora se dizendo imparcial — é
claro —, como todo grande órgão da imprensa, sua subserviência à esquerda vai
bem além da mera simpatia. No entanto, em sua edição de 18 de novembro, à
primeira página, um artigo de fundo escreve que os socialistas de todos os
matizes, incapazes de compreender as aspirações da opinião pública, se
dilaceram em conflitos internos. Comunistas acusam socialistas. E estes, com
esquálidas lideranças incapazes de discernir novas perspectivas, se atolam no
pântano de teorias peremptas. Em outras palavras — e em termos brasileiros —
eles estão como os líderes do PT, embora fora da cadeia.
Poucos dias depois, o mesmo “Corriere della Sera”, à mesma
primeira página, volta a verter lágrimas bem quentes sobre a sepultura política
de Hillary e da esquerda europeias. Um de seus mais cotados jornalistas
se incumbe de lançar um pouco de fumaça sobre a ruína esquerdista alegando a
concomitante desgraça da direita atuante no Velho Continente. Ambas, diz aquele
jornalista, não sabem o que fazer neste momento. Devem inventar novos
argumentos, se quiserem ainda manter vínculos com seu eleitorado. Ambas estão
em processo de desagregação dos laços que ainda mantinham com a opinião
pública. Afirmações estas que, na pena de um simpatizante socialista, tomam o
sabor de amarga confissão. Trata-se, sobretudo, do esvanecimento da velha
esquerda. A direita entrou no artigo como fumaça a embaciar a visão. Pois os
conservadores europeus vêm obtendo contínuas vitórias nas urnas e plebiscitos:
a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, a oposição da Holanda, Áustria e
Hungria ao socialismo europeísta, a Suíça em sucessivos plebiscitos se
distanciando da União Europeia, a recente vitória na França do mais conservador
dos pré-candidatos à eleição presidencial pelo partido centrista confirma a
tendência antissocialista.
A esquerda europeia treme aos rugidos de Trump. E este
tremor é sua maior prova de fraqueza. Pois ela está tiritando diante de uma
figura fantasmagórica na qual não se vê estabilidade de ideias, nem coerente
programa de governo. Por isto precisamente: porque as esquerdas não sabem o que
são ideias firmes, e desconhece a lógica de governo.
Nelson Fragelli
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