Os escritores “não lidos”
compartilham sua escrita com o público da Feira
“Sarau dos não-lidos” apresentou a literatura
marginal e periférica na Feira
Foi
com o auditório Carlos Urbim lotado de alunos das turmas da Educação de Jovens
e Adultos (EJA) e demais freqüentadores da Feira do Livro, que aconteceu nesta
segunda-feira (31), o Sarau dos não-lidos: literatura
marginal periférica. Uma das atividades que mais emocionou e
aproximou escritores e público na programação do evento. O sarau foi promovido
pelo site Nonada, coletivo de
jornalismo cultural alternativo de Porto Alegre.
A
editora do site, Thaís Seganfredo, conta que a
proposta partiu da necessidade de descobrir onde está a literatura de
periferiana Capital. “A gente sabe que Porto Alegre é um centro de
literatura independente, no entanto, majoritariamente branca e masculina”,
disse, contando que, assim que o evento foi divulgado, diversos escritores se
interessaram em participar.
“Não estamos com nossos livros à venda, mas
trouxemos nossas palavras”.
A
atividade abriu com o show do rapper Guerreiro Poeta & Time show e
com a participação mais do que especial de sua filha, a pequena Emily, de seis
anos de idade. Letras que incentivavam a leitura e o respeito ao próximo
ganharam a plateia. Em seguida, os escritores Ana dos Santos, Cíntia Colares, Jonatan Ortiz Borges, Marcelo Martins, Nayara Lemos e Roberta Mello (representando as escritoras
do Ponto de Cultura Feminista) subiram ao palco para a
leitura de seus textos. A mediação foi do editor-fundador do Nonada, Rafael Gloria.
Os
poemas – e também um cordel – falaram sobre a condição da mulher negra,
racismo, consciência política, preconceito, entre outros temas que buscam
espaço na literatura. “Não estamos com nossos livros à venda, mas trouxemos
nossas palavras”, disse a escritora e poeta Ana dos Santos, em referência ao
fato de muitos autores, apesar de sua constante escrita, não conseguirem verba
– e espaço também – para publicarem seus livros.
O
site da Feira do Livro entrevistou o editor-fundador do Nonada, Rafael Gloria,
que falou sobre o evento e a literatura marginal e periférica:
Quem
são as vozes da literatura marginal e periférica, como elas se caracterizam?
Acreditamos que essas vozes abordam temas mais
políticos e engajados, e que muitas vezes acabam sendo minorizados por grupos
opressores. No próprio evento você
pode ver alguns exemplos de poemas dos autores. São temas do cotidiano e da
vivência de cada um. Também não acredito que é tudo uma culpa da mídia
hegemônica ou de grandes eventos que não dão visibilidade, o problema é um
sistema que tende a não dar muita opção para quem deseja trabalhar com
cultura. E a literatura nesse sentido está encaixada em um movimento
maior que se une ao hip hop, formado e as suas linguagens: o grafite, dança de
rua, que dão voz à periferia e que dão espaço aos que estão à margem da
sociedade seja geograficamente, culturalmente ou economicamente.
Quais seriam os prejuízos ao leitor em ter ao alcance apenas o cânone?
Não
acho que se deve banir a leitura dos cânones, obviamente, mas devemos sim
problematizá-lo sempre. Não só na literatura, mas em qualquer área artística:
repensar o porquê de estarmos lendo aquela obra, colocá-lo no devido contexto.
Sabe-se que o cânone é elaborado ao longo do tempo por quem tem o controle de
algum tipo de poder, seja o acadêmico, econômico ou social. Quero dizer que o
cânone não reflete necessariamente uma época, nem necessariamente o que é
melhor produzido nele. Há grupos que sempre foram “abafados”, vistos como
secundários, apartados do cânone. Quantas mulheres há no cânone da literatura
brasileira, por exemplo? Há, mas são poucas e não reproduzem a qualidade e a
quantidade de mulheres que já escreveram.
Priscila Pasko
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