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terça-feira, 8 de novembro de 2016

FEIRA DO LIVRO PORTO ALEGRE: OS ESCRITORES “NÃO LIDOS” COMPARTILHAM SUA ESCRITA COM O PÚBLICO DA FEIRA

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Os escritores “não lidos” compartilham sua escrita com o público da Feira

“Sarau dos não-lidos” apresentou a literatura marginal e periférica na Feira

Foi com o auditório Carlos Urbim lotado de alunos das turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e demais freqüentadores da Feira do Livro, que aconteceu nesta segunda-feira (31), o Sarau dos não-lidos: literatura marginal periférica. Uma das atividades que mais emocionou e aproximou escritores e público na programação do evento. O sarau foi promovido pelo site Nonada, coletivo de jornalismo cultural alternativo de Porto Alegre.
A editora do site, Thaís Seganfredo, conta que a proposta partiu da necessidade de descobrir onde está a literatura de periferiana Capital.  “A gente sabe que Porto Alegre é um centro de literatura independente, no entanto, majoritariamente branca e masculina”, disse, contando que, assim que o evento foi divulgado, diversos escritores se interessaram em participar.
“Não estamos com nossos livros à venda, mas trouxemos nossas palavras”.

A atividade abriu com o show do rapper Guerreiro Poeta & Time show e com a participação mais do que especial de sua filha, a pequena Emily, de seis anos de idade. Letras que incentivavam a leitura e o respeito ao próximo ganharam a plateia. Em seguida, os escritores Ana dos SantosCíntia ColaresJonatan Ortiz BorgesMarcelo MartinsNayara Lemos e Roberta Mello (representando  as escritoras do Ponto de Cultura Feminista) subiram ao palco para a leitura de seus textos. A mediação foi do editor-fundador do Nonada, Rafael Gloria.
Os poemas – e também um cordel – falaram sobre a condição da mulher negra, racismo, consciência política, preconceito, entre outros temas que buscam espaço na literatura. “Não estamos com nossos livros à venda, mas trouxemos nossas palavras”, disse a escritora e poeta Ana dos Santos, em referência ao fato de muitos autores, apesar de sua constante escrita, não conseguirem verba – e espaço também – para publicarem seus livros.
O site da Feira do Livro entrevistou o editor-fundador do Nonada, Rafael Gloria, que falou sobre o evento e a literatura marginal e periférica:
Quem são as vozes da literatura marginal e periférica, como elas se caracterizam? 
Acreditamos que essas vozes abordam temas mais políticos e engajados, e que muitas vezes acabam sendo minorizados por grupos opressores. No próprio evento você pode ver alguns exemplos de poemas dos autores. São temas do cotidiano e da vivência de cada um. Também não acredito que é tudo uma culpa da mídia hegemônica ou de grandes eventos que não dão visibilidade, o problema é um sistema que tende a não dar muita opção para quem deseja trabalhar com cultura.  E a literatura nesse sentido está encaixada em um movimento maior que se une ao hip hop, formado e as suas linguagens: o grafite, dança de rua, que dão voz à periferia e que dão espaço aos que estão à margem da sociedade seja geograficamente, culturalmente ou economicamente.

Quais seriam os prejuízos ao leitor em ter ao alcance apenas o cânone?
Não acho que se deve banir a leitura dos cânones, obviamente, mas devemos sim problematizá-lo sempre. Não só na literatura, mas em qualquer área artística: repensar o porquê de estarmos lendo aquela obra, colocá-lo no devido contexto. Sabe-se que o cânone é elaborado ao longo do tempo por quem tem o controle de algum tipo de poder, seja o acadêmico, econômico ou social. Quero dizer que o cânone não reflete necessariamente uma época, nem necessariamente o que é melhor produzido nele. Há grupos que sempre foram “abafados”, vistos como secundários, apartados do cânone. Quantas mulheres há no cânone da literatura brasileira, por exemplo? Há, mas são poucas e não reproduzem a qualidade e a quantidade de mulheres que já escreveram.
Priscila Pasko


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