Juan Manuel
Santos assinou o acordo de paz com as FARC a 26 de setembro. Não escondeu a
desilusão com o não no referendo de 2 de outubro
Helena Tecedeiro
Juan Manuel Santos vence o prémio deste ano
pelos esforços de paz com a guerrilha marxista das FARC para pôr fim a 50 anos
de guerra civil no país.
Comité norueguês
decidiu premiar o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, com o Nobel da Paz
2016 pelos seus "esforços para pôr fim aos mais de 50 anos de guerra civil
no país".
De fora de um
prémio que foi também "para o povo colombiano" ficou o líder das
FARC, Rodrigo Londono, aliás Timochenko, que no dia 26 de setembro assinou com
Santos o acordo de paz negociado durante quatro anos em Cuba.
Em Oslo, Kaci
Kullmann Five, a presidente do Comité Nobel sublinhou que o resultado do
referendo torna ainda mais importante que Santos e as FARC respeitem o
cessar-fogo. E garantiu que "o facto de a maioria do povo ter dito não ao
acordo não significa que o processo de paz esteja morto".
O acordo veio
pôr fim a mais de meio século de uma guerra que deixou mais de 220 mil mortos.
E fez dos seus protagonistas os favoritos ao Nobel, mas a vitória do Não no
referendo de dia 2 na Colômbia veio pôr em causa esta vitória.
Santos torna-se
assim no 26.º chefe do Estado a receber um Nobel. E América Latina volta a
receber o galrdão da Paz depois da vitória de Rigoberta Menchu em 1992, pela
sua defesa das mulheres indígenas.
O vencedor do
Nobel da Paz recebe oito milhões de coroas suecas (mais de 830 mil euros).
Premiar os dois
lados em conflito depois de terem chegado a um consenso não poderia estar mais
no espírito dos prémios criados em 1895 pelo sueco Alfred Nobel. A última vez
que o comité o fez foi em 1998, quando atribuiu o galardão da Paz (o único
entregue na Noruega, todos os outros Nobel são entregues na Suécia) a John Hume
e a David Trimble "pelos seus esforços para encontrar uma solução pacífica
para o conflito na Irlanda no Norte". Mas o passado também já provou que
esta pode ser uma escolha arriscada. Em 1994, na sequência dos acordos de Oslo
entre israelitas e palestinianos, o recém-falecido Shimon Peres, Yitzhak Rabin
e Yasser Arafat receberam o prémio. Mas passados 22 anos, com todos os
protagonistas mortos, a paz no Médio Oriente ainda é uma miragem.
Entre os
favoritos este ano estavam ainda os negociadores do acordo sobre o nuclear
iraniano - entre eles os chefes da diplomacia americana, John Kerry, iraniana,
Mohammad Javad Zarif, e europeia, Federica Mogherini. Mas também os habitantes
das ilhas gregas, um coletivo para designar todos os voluntários que ajudaram
os refugiados - sobretudo sírios, mas também iraquianos, afegãos, etc. - que
nos últimos meses chegaram às costas da Grécia em busca de uma vida melhor na
Europa.
Em termos
coletivos, os Capacetes Brancos , antigos padeiros, professores, alfaiates ou
outros profissionais que decidiram dedicar a vida a salvar as vítimas dos
bombardeamentos e da guerra na Síria, tinham subido nas apostas nos últimos
dias. Em termos individuais, a ativista russa pelos direitos humanos Svetlana
Gannushkina era uma das favoritas. Tal como Denis Mukwege, o ginecologista
congolês que já ganhou o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu por desafiar a
morte para ajudar as mulheres violadas durante a guerra civil no seu país. Na
lista não falta outro vencedor do Sakharov, o blogger saudita Raif Badawi,
detido e condenado a mil chicotadas pela sua defesa da liberdade de expressão.
Nos últimos
anos, as instituições dominaram o Nobel da Paz, tendo arrecadado três dos
últimos cinco galardões: em 2012 foi a vez da União Europeia, em 2013 da
Organização para a Proibição das Armas Químicas e em 2015 do Quarteto para o
Diálogo Nacional na Tunísia. Neste ano havia 148 instituições entre os nomeados
e a Save the Children era uma das favoritas à vitória. Sobretudo pelo seu
trabalho com as crianças nos campos de refugiados na Síria e nos países
vizinhos
Com milhares de
pessoas, inclusive todos os membros dos parlamentos nacionais, professores
universitários ou antigos vencedores, a poderem nomear candidatos ao Nobel, não
espanta que da lista constem nomes menos consensuais. Entre os favoritos neste
ano voltou a estar Edward Snowden, o ex-analista da NSA que em 2013 divulgou os
programas de vigilância secreto dos EUA. Mas também Donald Trump, o candidato
republicano às presidenciais de 8 de novembro nos EUA, mais conhecido por
querer construir um muro na fronteira com o México ou banir os muçulmanos de
entrar na América do que pelos atos a favor da paz.
O Papa Francisco
e a chanceler alemã Angela Merkel também voltaram à lista, já sem o favoritismo
claro de outros anos.
Os prémios Nobel
nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel
(1833-1896) em doar a sua imensa fortuna para o reconhecimento de
personalidades que prestassem serviços à humanidade.
O inventor da
dinamite expôs este desejo num testamento redigido em Paris em 1895, um ano
antes da sua morte. Os prémios foram atribuídos pela primeira vez em 1901.
Esta semana já
foram divulgados os prémios para as categorias Medicina, Física e Química.
Faltam Economia, no dia 10, e Literatura.
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