Século
XXI. Um importante jornal de Boston, EUA, foi vendido para um grupo
internacional. Na primeira reunião com os jornalistas, o novo editor, vindo de
Miami, tem sua atenção despertada pela investigação da Equipe Spotlight daquela redação.
Durante
20 anos o jornal recebeu cartas denunciando problemas nas paróquias de Boston,
e pequenas matérias estampadas caçavam as vespas. O novo editor levou o caso a
sério e enfrentou o sistema que
propiciava os eventos: não caçou as vespas, atacou o vespeiro.
O
primeiro encontro do novo editor com o Arcebispo de Boston, segundo o filme Spotlight (que inspirou este texto) foi assim:
Arcebispo
– Acho que uma cidade prospera quando as grandes instituições trabalham juntas.
Jornalista
– Um jornal para funcionar bem precisa ir sozinho.
Arcebispo
– Claro
Jornalista
– Sou da opinião de que um jornal só desempenha bem suas funções se for
independente.
Arcebispo
– É claro, mas a minha oferta (trabalhar junto) continua de pé.
Os
jornalistas protagonistas em Spotlight são frutos da escola americana que,
desde os anos 1960, deixou de ser reprodutora de conhecimentos (informativa) e
passou (em todos os níveis) a ser geradora de novos conhecimentos (formativa) e
a valorizar a identidade. As crianças são orientadas para conhecer,
compreender, aplicar, analisar, sintetizar, avaliar, escolher e agir.
Na nossa mídia, nós temos vários profissionais vocacionados,
preparados e muito competentes. O problema é o sistema? O Art. 215 da nossa Constituição
diz: “O Estado... apoiará e incentivará a valorização e difusão das
manifestações culturais.” O Art. 216 § 3º diz: “A lei estabelecerá incentivos
para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.” Essa
obrigação constitucional do Estado e moral da Mídia não é cobrada, resultando
em prejuízo: financeiro e ético para a mídia; artístico, para agentes culturais
(não existe arte sem público); e em déficit de informação para todos.
Na
globalização são os diferentes que somam, e os benefícios são proporcionais à
contribuição dada. Como contribuir, de uma maneira sustentável, se não
cultivarmos nossa identidade e ignorarmos nossa vocação? Um povo sem identidade
é facilmente manipulado. Será essa a intenção?
O
silêncio dos jornalistas profissionais a respeito da quase extinção, sob seus
olhos, das editorias de cultura nas nossas mídias, indica que alguma coisa anda
errada, pois a cultura é o que move o indivíduo para além da indiferença.
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