Na maioria dos livros e das pregações evangélicas, seus
autores falam mais do Diabo, do que todos os apóstolos disseram sobre ele na
Bíblia Sagrada. O mais pertinente e grave deste detalhe é que, a cada um dos
pormenores, parece até que o Diabo e eles são afins e cúmplices, há muito
tempo.
Há comentários sobre tudo. Fazem uma verdadeira
autobiografia, como se ele fossem. As informações vão desde o seu odor pessoal,
ao seu modo de pensar, de vestir-se, da sua práxis e até dos seus sentimentos
íntimos. Traçam um retrato físico e psicológico perfeito, daquele que se tornou
o ser mais indigno da criação divina.
Desde a época de Lutero, esse quadro vem se desenhando.
Naquele tempo, já se associavam odor de enxofre do pum ao cheiro do diabo.
Tinha-se o hábito de riscar o fósforo para acabar com o fedor, mas esse
reformista recomendava que substituíssem o fosforo pelo pum, soltando-o na cara
do diabo para afastá-lo.
Já imaginaram se todos os fiéis reunidos numa igreja,
decidissem que um irmão estava com o demônio e resolvessem afastá-lo com um pum? A igreja
ficaria com um cheiro insuportável. Os fiéis não assistiriam nem a metade das preleções
evangélicas. O templo teria que ter um teto, com abertura móvel acima da cabeça
de cada fiel, que assistiria o culto sentado, levantando-se para colocar as
narinas do lado de fora, todas as vezes que tivesse uma sessão de cura,
motivada pelo pum coletivo.
A exposição do perfil daquela entidade tornou-se o
fundamento para institucionalizarem a vigília do medo. O conteúdo e a ênfase
que dão ao discurso evangélico, não nos permite outra interpretação. Os fiéis
temem mais ao Diabo do que
tem fé em Deus. Falam
mais do mal e do seu criador do que de Deus e da mensagem divina.
Mas, mesmo assim, devido a quantidade de adeptos e de
templos construídos, sem os fiéis questionarem a qualidade da mensagem proferida,
a religião da tirania psicológica foi legalizada.
Por Jorge Luís Santos.
Advogado e cronista. Itabuna - Bahia
E-mail: advjls13@hotmail.com
Jornal Direitos, junho de 2019
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