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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dia do Negro

Cyro de Mattos




Você sabe quantos morreram
Para me ver aqui escrevendo,
Comer moqueca de peixe,
Jogar futebol na várzea,
Ir pra escola pra aprender,
Dançar com suas danças,
Louvar com os seus santos,
Cantar com os seus cantos,
Dizer que o caráter vale,
Todos temos a mesma alma,
Não importa a cor de pele,
Somos iguais e diferentes?

 

Cyro de Mattos é poeta,  ficcionista e Jornalista. Autor de 70 livros, premiado, editado no Brasil e exterior. É também advogado.


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domingo, 10 de novembro de 2024

Nosso Herói Jipe e Maria Camisão

Por Cyro de Mattos

 


                 Jipe não era apenas mais um doido manso com suas esquisitices que habitou minha infância cheia de sentimentos e graça. Era o mais querido por gente grande e pequena. Hélio Pólvora, nascido em Itabuna, ficcionista dos melhores da moderna literatura brasileira, dedicou-lhe o conto “No Peito o Motor”, que faz parte do livro Estranhos e Assustados, publicado pela editora Francisco Alves, Rio, 1977. Teve várias edições, deu ao autor o Prêmio Nacional da Fundação Castro Maia.

              Depois do conto primoroso do conterrâneo Hélio, tive a ousadia de escrever um texto de ficção breve sobre nosso herói do trânsito, que de repente se achara que era de corpo e alma um jipe. O título do meu texto é “Um Jipe nas Nuvens”. Faz parte do livro Nada Era Melhor, da Editus, 2017, é uma reunião de contos curtos ou romancinho da infância, se quiserem. Jipe aparece no meu romance Eterno Amanhecer, ainda inédito, com mais estaque.

            Os meninos de meu tempo consideravam os doidos mansos como uma gente indefesa, ingênua, engraçada, sofrida, invenção do destino. Tanta consideração tínhamos por eles, que meu livro Zurububuruna, Editora Batel, Rio, 2024, poesia satírica em formato de cordel, sobre uma gente que habita com suas vilanias uma localidade imaginária, é dedicado aos doidos mansos de minha terra, claro que na homenagem não podia faltar nosso famoso Jipe.


                 Eis a dedicatória no meu livro Zurububuruna:          

                                    Aos doidos mansos de minha terra, que não fazem mal a uma mosca. Ingênuos, indefesos, perseguidos pelo fado. Incansáveis intérpretes da vida diária, riso do trânsito. Mula-Manca, Maria Camisão, Ciro Mergulhador, o tal Jipe falado. Zeles Carnavalesco, mais Chiranha, mais Paturi, meio azoado, entre outros, dedico com muito gosto esses versos de pé quebrado.

                       

          Maria Camisão vestia uma camisa folgada, mangas compridas, de tão grande batia nos joelhos. Ela era de estatura baixa, os cabelos sempre assanhados, a boca desdentada.  Alguns diziam que guardara como lembrança meia dúzia de camisas do seu homem, um preto alto e forte. Vivia do ganho da roupa que lavava para a família abastada. Nas horas de crise aparecia na avenida do Cinquentenário. Revoltava-se, xingava a Deus e o mundo. Comentava-se que ela havia ficado adoidada depois que o marido amanheceu enforcado na cadeia, dizem que a mando do delegado Nero, que armara para ele uma cilada. O delegado mandou que os dois soldados tomassem as caças moqueadas e prendessem na feira o homem chamado Barba Preta.  Não demorou, não se sabe como, o delegado passou a ser o dono da rocinha de cacau e cereais, que o negro Barba Preta havia plantado nas Salteadas.

            Escrever sobre esses tipos curiosos de minha terra, convenhamos, é atender com prazer no tempo o aceno das distâncias. O aceno dos dias com sua graça e lamento. Eles preenchiam a minha infância como um episódio relevante da vida, sem que nada me custasse

 

Cyro de Mattos é poeta,  ficcionista e Jornalista. Autor de 70 livros, premiado, editado no Brasil e exterior. É também advogado.

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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

OAB-BA vai homenagear 

Cyro de Mattos no dia 6

 


A Ordem dos Advogados da Bahia vai homenagear Cyro de Mattos com a Comenda Barachísio Lisboa no dia 6 de dezembro, às 18 horas, em cerimônia a ser realizada no auditório da OAB, Seção de Itabuna, na rua Rufo Galvão, 170, centro, em uma celebração por seus mais de 50 anos de exercício profissional, de maneira competente e ilibada, na Comarca de Itabuna e em outras da região do Sul da Bahia. O advogado exerceu a profissão nas áreas cível, trabalhista e penal, além de ter sido juiz classista da classe patronal na Junta de Conciliação e Julgamento de Itabuna.

O nobre causídico Barachísio Lisboa foi um dos advogados mais proeminente da segunda metade do século XX no Estado da Bahia, atuando nas comarcas do interior e no Tribunal de Justiça da Bahia. Nascido em Ituberá deixou vasta clientela que acorreu aos seus serviços profissionais, dando ensejo à criação do renomado grupo dos Advogados Associados do Escritório Barachísio Lisboa, localizado em Salvador, que já alcança três gerações de prestigiados profissionais do Direito, incluindo filhos, netos e bisnetos.

Cyro de Mattos é formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. É também jornalista e escritor, publicado no Brasil e exterior. Autor de 70 livros de diversos gêneros, premiado no Brasil e exterior. Membro da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna, do qual é um dos fundadores e Presidente de Honra. Pertence ao Pen Clube do Brasil. Sobre a homenagem que lhe está sendo prestada pela OAB-Bahia disse: “Recebi a notícia da homenagem pela OAB-BA surpreso e assustado. Ainda advogo, muito pouco, só em causa própria quando o pleito merece. O tempo vai nos levando, a gente continua trabalhando e sonhando, acreditando no estado de direito e no milagre da literatura, dona da linguagem que mais chega perto como forma de conhecimento para nos dizer o que é a vida, a morte, o homem, esse desconhecido, que mata pelo prazer de matar, às vezes nem enterra.


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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Memória de Itabuna Agredida

Cyro de Mattos

 


Sugeri há dias, no “zap” de correspondência social da Academia de Letras de Itabuna, que a entidade devia se manifestar com uma nota de repúdio contra a demolição do prédio onde morou o comendador Firmino Alves, fundador de Itabuna. Agora fico sabendo que a dose da danosa demolição foi dupla. Demoliram a casa onde morou o poeta Firmino Rocha. Essas duas agressões estúpidas foram dadas na cara da cidade, situada ali na praça Olinto Leoni, local onde se encontra o esfacelado Centro Histórico de Itabuna. A Galeria Walter Moreira, pintor renomado das paisagens e tipos da cidade, erguida também na praça Olinto Leoni, foi demolida pela atual administração do município.

A demolição dos prédios que serviram de residência ao Comendador Firmino Alves e ao poeta Firmino Rocha vêm na mesma esteira do que aconteceu com o Castelinho, um primor de arquitetura colonial, representativa da beleza antiga forjada no auge da lavoura cacaueira. Ressalte-se que o Comendador mandou construir o Castelinho para dar à sua filha Áurea como presente de casamento. Como se nada significasse, o destino desse prédio de beleza antiga rara e importância histórica incontestável teve como final desastroso o de ser engolido pela boca insaciável da ganância imobiliária

Quando em 2011 fomos presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, demos parecer contrário à venda do prédio onde funcionou o Ginásio Divina Providência, educandário que contribuiu para que jovens se tornassem dignos cidadãos e profissionais valorosos. O prédio daquela instituição de ensino fora tombado em 2008. Uma empresa se interessou em adquirir à Sociedade de São Vicente de Paula, dona do imóvel, comprometendo-se em construir no local um shopping que daria emprego a 600 pessoas. Edital do Executivo Municipal determinou que fosse criada uma comissão para examinar o assunto. A Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania não integrou essa comissão. Consultada para que desse parecer sobre a questão, nos manifestamos para que o Executivo Municipal desapropriasse o imóvel e em seu lugar instalasse o Museu de Educação de Itabuna e o Memorial Lindaura Brandão, educadora que dedicou sua vida para que sempre estivesse em pé com dignidade o educandário de grande valor histórico no ensino e educação, locais e regionais.

Apesar de nosso parecer contrário à venda do prédio onde funcionou o Ginásio Divina Providência durante décadas, o negócio da venda do imóvel foi realizado, pasmem os céus, e um shopping que foi construído na metade do terreno apenas deu emprego a poucas pessoas. Conservou-se apenas a fachada do prédio construído na metade do terreno, e o seu interior foi destinado ao comércio.

Na época em que fomos presidente da FICC listamos uma série de prédios históricos que deveriam ser objeto de tombamento por lei municipal, incluindo-se nesta os imóveis onde residiram o Comendador Firmino Alves e o poeta Firmino Rocha, localizados na praça Olinto Leoni. Não tive assistência jurídica municipal eficiente para levar adiante o projeto de tombamento de prédios com importância histórica para Itabuna. Não sei se os prédios listados em minha gestão foram tombados posteriormente através de processo administrativo.

Estou de pleno acordo com os membros da Academia de Letras de Itabuna que querem que o caso da demolição abrupta dos prédios onde residiu o Comendador Firmino Alves e o poeta Firmino Rocha seja motivo de uma nota de repúdio. E me associo também aos que desejam que o fato calamitoso seja levado ao conhecimento do representante do Ministério Público para as medidas cabíveis de lei e para que inclusive, por extensão, seja preservado o pouco que resta do patrimônio histórico de uma cidade com papel importante na formação da civilização cacaueira baiana.

Já não basta o que estamos fazendo com o rio Cachoeira? Antes de fontes puríssimas e peixe em abundância, era chamado de pai dos pobres, agora enfermo, afogando-se nas águas viscosas derramadas por bocas de vômito. Pobre rio, de vida saudável outrora, habitado por gente simples, hoje não passa de esgoto a céu aberto.

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Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Jornalista com livros editados no exterior.

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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

 Livros do Escritor Baiano Cyro de Mattos na Festa Literária de Paraty 

(FLIP 2024)




 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

ALITA ENTREGA MEDALHA JORGE AMADO EM SOLENE CERIMÔNIA NA UESC




No próximo dia 11 de outubro de 2024, às 17:00, a Academia de Letras de Itabuna- ALITA, realizará a Outorga da Medalha Jorge Amado em uma cerimônia solene no Auditório Paulo Souto, na Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC. Esta importante honraria, que celebra grandes contribuições para as artes, ciências e cultura, será concedida a duas personalidades de destaque que impactaram profundamente a região.

A ex-reitora da UESC, professora Renée Albagli, será homenageada por seu trabalho notável e transformador no campo do ensino superior, pesquisa e extensão. Sob sua gestão, a UESC passou por uma fase de expansão e consolidação acadêmica, especialmente com a ampliação do corpo docente e a criação de cursos pioneiros. Renée Albagli é amplamente reconhecida como uma das figuras mais influentes na história da educação superior da Bahia.

Além dela, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna será igualmente homenageada por sua contribuição inestimável na área da saúde, prestando assistência à população há mais de um século, com destaque para seu trabalho humanitário e sua dedicação à melhoria do atendimento médico e hospitalar na região.

A criação da Medalha Jorge Amado foi idealizada pelo escritor Cyro de Mattos, presidente de honra da ALITA, e aprovada por unanimidade pelos membros da academia. A presidente da ALITA, Raquel Rocha, reforça a relevância do evento: “Reconhecer e homenagear aqueles que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento de nossa região é uma forma de perpetuar o legado de Jorge Amado, que tão bem representou nossa cultura e nossa gente.”

A cerimônia contará com a presença de autoridades, intelectuais, membros da Academia e convidados especiais, consolidando este como um evento de grande importância cultural e social para a Bahia.


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