Dia do Negro
Cyro de Mattos é poeta,
ficcionista e Jornalista. Autor de 70 livros, premiado, editado no Brasil
e exterior. É também advogado.
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Dia do Negro
Cyro de Mattos é poeta,
ficcionista e Jornalista. Autor de 70 livros, premiado, editado no Brasil
e exterior. É também advogado.
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Nosso Herói Jipe e Maria Camisão
Por Cyro de
Mattos
Jipe
não era apenas mais um doido manso com suas esquisitices que habitou minha
infância cheia de sentimentos e graça. Era o mais querido por gente grande e
pequena. Hélio Pólvora, nascido em Itabuna, ficcionista dos melhores da moderna
literatura brasileira, dedicou-lhe o conto “No Peito o Motor”, que faz parte do
livro Estranhos e Assustados, publicado pela editora Francisco Alves, Rio,
1977. Teve várias edições, deu ao autor o Prêmio Nacional da Fundação Castro
Maia.
Depois do conto primoroso do conterrâneo Hélio, tive a ousadia de
escrever um texto de ficção breve sobre nosso herói do trânsito, que de repente
se achara que era de corpo e alma um jipe. O título do meu texto é “Um Jipe nas
Nuvens”. Faz parte do livro Nada Era Melhor, da Editus, 2017, é uma reunião de
contos curtos ou romancinho da infância, se quiserem. Jipe aparece no meu
romance Eterno Amanhecer, ainda inédito, com mais estaque.
Os meninos
de meu tempo consideravam os doidos mansos como uma gente indefesa, ingênua,
engraçada, sofrida, invenção do destino. Tanta consideração tínhamos por eles,
que meu livro Zurububuruna, Editora Batel, Rio, 2024, poesia satírica em
formato de cordel, sobre uma gente que habita com suas vilanias uma localidade
imaginária, é dedicado aos doidos mansos de minha terra, claro que na homenagem
não podia faltar nosso famoso Jipe.
Eis a dedicatória no meu livro Zurububuruna:
Aos doidos mansos de minha terra, que não fazem mal a uma mosca. Ingênuos, indefesos, perseguidos pelo fado. Incansáveis intérpretes da vida diária, riso do trânsito. Mula-Manca, Maria Camisão, Ciro Mergulhador, o tal Jipe falado. Zeles Carnavalesco, mais Chiranha, mais Paturi, meio azoado, entre outros, dedico com muito gosto esses versos de pé quebrado.
Maria Camisão
vestia uma camisa folgada, mangas compridas, de tão grande batia nos joelhos.
Ela era de estatura baixa, os cabelos sempre assanhados, a boca
desdentada. Alguns diziam que guardara
como lembrança meia dúzia de camisas do seu homem, um preto alto e forte. Vivia
do ganho da roupa que lavava para a família abastada. Nas horas de crise
aparecia na avenida do Cinquentenário. Revoltava-se, xingava a Deus e o mundo.
Comentava-se que ela havia ficado adoidada depois que o marido amanheceu enforcado
na cadeia, dizem que a mando do delegado Nero, que armara para ele uma cilada.
O delegado mandou que os dois soldados tomassem as caças moqueadas e prendessem
na feira o homem chamado Barba Preta.
Não demorou, não se sabe como, o delegado passou a ser o dono da rocinha
de cacau e cereais, que o negro Barba Preta havia plantado nas Salteadas.
Escrever sobre esses tipos curiosos de minha terra,
convenhamos, é atender com prazer no tempo o aceno das distâncias. O aceno dos
dias com sua graça e lamento. Eles preenchiam a minha infância como um episódio
relevante da vida, sem que nada me custasse
Cyro de Mattos é poeta, ficcionista e Jornalista. Autor de 70 livros, premiado, editado no Brasil e exterior. É também advogado.
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OAB-BA vai homenagear
Cyro de Mattos no dia 6
A Ordem dos Advogados da Bahia vai homenagear Cyro de Mattos com a Comenda Barachísio Lisboa no dia 6 de dezembro, às 18 horas, em cerimônia a ser realizada no auditório da OAB, Seção de Itabuna, na rua Rufo Galvão, 170, centro, em uma celebração por seus mais de 50 anos de exercício profissional, de maneira competente e ilibada, na Comarca de Itabuna e em outras da região do Sul da Bahia. O advogado exerceu a profissão nas áreas cível, trabalhista e penal, além de ter sido juiz classista da classe patronal na Junta de Conciliação e Julgamento de Itabuna.
O nobre causídico Barachísio Lisboa foi um dos advogados mais proeminente da segunda metade do século XX no Estado da Bahia, atuando nas comarcas do interior e no Tribunal de Justiça da Bahia. Nascido em Ituberá deixou vasta clientela que acorreu aos seus serviços profissionais, dando ensejo à criação do renomado grupo dos Advogados Associados do Escritório Barachísio Lisboa, localizado em Salvador, que já alcança três gerações de prestigiados profissionais do Direito, incluindo filhos, netos e bisnetos.
Cyro de Mattos é formado pela Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Bahia. É também jornalista e escritor, publicado no
Brasil e exterior. Autor de 70 livros de diversos gêneros, premiado no Brasil e
exterior. Membro da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e
Academia de Letras de Itabuna, do qual é um dos fundadores e Presidente de
Honra. Pertence ao Pen Clube do Brasil. Sobre a homenagem que lhe está sendo
prestada pela OAB-Bahia disse: “Recebi a notícia da homenagem pela OAB-BA
surpreso e assustado. Ainda advogo, muito pouco, só em causa própria quando o
pleito merece. O tempo vai nos levando, a gente continua trabalhando e
sonhando, acreditando no estado de direito e no milagre da literatura, dona da
linguagem que mais chega perto como forma de conhecimento para nos dizer o que
é a vida, a morte, o homem, esse desconhecido, que mata pelo prazer de matar,
às vezes nem enterra.”
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Memória de Itabuna Agredida
Cyro de Mattos
Sugeri há dias, no “zap” de correspondência social da
Academia de Letras de Itabuna, que a entidade devia se manifestar com uma nota
de repúdio contra a demolição do prédio onde morou o comendador Firmino Alves,
fundador de Itabuna. Agora fico sabendo que a dose da danosa demolição foi
dupla. Demoliram a casa onde morou o poeta Firmino Rocha. Essas duas agressões
estúpidas foram dadas na cara da cidade, situada ali na praça Olinto Leoni,
local onde se encontra o esfacelado Centro Histórico de Itabuna. A Galeria
Walter Moreira, pintor renomado das paisagens e tipos da cidade, erguida também
na praça Olinto Leoni, foi demolida pela atual administração do município.
A demolição dos prédios que serviram de residência ao
Comendador Firmino Alves e ao poeta Firmino Rocha vêm na mesma esteira do que
aconteceu com o Castelinho, um primor de arquitetura colonial, representativa
da beleza antiga forjada no auge da lavoura cacaueira. Ressalte-se que o
Comendador mandou construir o Castelinho para dar à sua filha Áurea como
presente de casamento. Como se nada significasse, o destino desse prédio de
beleza antiga rara e importância histórica incontestável teve como final desastroso
o de ser engolido pela boca insaciável da ganância imobiliária
Quando em 2011 fomos presidente da Fundação Itabunense de
Cultura e Cidadania, demos parecer contrário à venda do prédio onde funcionou o
Ginásio Divina Providência, educandário que contribuiu para que jovens se
tornassem dignos cidadãos e profissionais valorosos. O prédio daquela
instituição de ensino fora tombado em 2008. Uma empresa se interessou em
adquirir à Sociedade de São Vicente de Paula, dona do imóvel, comprometendo-se
em construir no local um shopping que daria emprego a 600 pessoas. Edital do Executivo
Municipal determinou que fosse criada uma comissão para examinar o assunto. A
Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania não integrou essa comissão.
Consultada para que desse parecer sobre a questão, nos manifestamos para que o
Executivo Municipal desapropriasse o imóvel e em seu lugar instalasse o Museu
de Educação de Itabuna e o Memorial Lindaura Brandão, educadora que dedicou sua
vida para que sempre estivesse em pé com dignidade o educandário de grande
valor histórico no ensino e educação, locais e regionais.
Apesar de nosso parecer contrário à venda do prédio onde funcionou o Ginásio Divina Providência durante décadas, o negócio da venda do imóvel foi realizado, pasmem os céus, e um shopping que foi construído na metade do terreno apenas deu emprego a poucas pessoas. Conservou-se apenas a fachada do prédio construído na metade do terreno, e o seu interior foi destinado ao comércio.
Na época em que fomos presidente da FICC listamos uma série
de prédios históricos que deveriam ser objeto de tombamento por lei municipal,
incluindo-se nesta os imóveis onde residiram o Comendador Firmino Alves e o
poeta Firmino Rocha, localizados na praça Olinto Leoni. Não tive assistência
jurídica municipal eficiente para levar adiante o projeto de tombamento de
prédios com importância histórica para Itabuna. Não sei se os prédios listados
em minha gestão foram tombados posteriormente através de processo administrativo.
Estou de pleno acordo com os membros da Academia de Letras
de Itabuna que querem que o caso da demolição abrupta dos prédios onde residiu
o Comendador Firmino Alves e o poeta Firmino Rocha seja motivo de uma nota de
repúdio. E me associo também aos que desejam que o fato calamitoso seja levado
ao conhecimento do representante do Ministério Público para as medidas cabíveis
de lei e para que inclusive, por extensão, seja preservado o pouco que resta do
patrimônio histórico de uma cidade com papel importante na formação da
civilização cacaueira baiana.
Já não basta o que estamos fazendo com o rio Cachoeira?
Antes de fontes puríssimas e peixe em abundância, era chamado de pai dos
pobres, agora enfermo, afogando-se nas águas viscosas derramadas por bocas de
vômito. Pobre rio, de vida saudável outrora, habitado por gente simples, hoje
não passa de esgoto a céu aberto.
Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Jornalista com livros editados no exterior.
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ALITA ENTREGA MEDALHA JORGE AMADO EM SOLENE CERIMÔNIA NA UESC
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