3 de março de 2017
Armando F. Valladares (*)
É sintomática a recente atitude do regime cubano de
proibir a entrada em Cuba do secretário-geral da OEA (Organização dos Estados
Americanos), Luis Almagro, do ex-presidente do México, Felipe Calderón, e da
ex-ministra chilena Mariana Aylwin. Eles participariam de uma homenagem ao
dissidente cubano Oswaldo Payá [foto abaixo], morto em 2012 em um suspeito
acidente de trânsito, cujas características levaram sua família e observadores
internacionais a qualificar o “acidente” como um assassinato.
O ex-presidente Calderón, depois de qualificar de
“despótica” e “indignante” a proibição castrista, afirmou que, em sua opinião,
essa medida transforma em pedaços a sua expectativa e a de outras
personalidades internacionais de que “as coisas mudariam” na Cuba comunista,
caso se contemporizasse com o seu regime.
Vinte ex-presidentes ibero-americanos, a chancelaria chilena
e várias personalidades condenaram a proibição da entrada de Almagro, Calderón
e Aylwin em Cuba. Em sentido contrário, a diplomacia vaticana manteve, segundo
consta, um hermético e sintomático silêncio.
Por ocasião de sua viagem a Cuba, em setembro de 2015, o
Papa Francisco disse que os “muros” deviam ser derrubados para darem lugar a
“pontes”. Tal como se divulgou, foi ele próprio quem se encarregou de orientar
a diplomacia do Vaticano para construir uma “ponte” entre o regime cubano e o
governo Obama, levando o então presidente americano viajar a Cuba em março de
2016, poucos meses após a visita papal.
No seu conjunto, tanto a viagem papal quanto a de Obama,
interpretadas por muitos como uma ajuda para alcançar a liberdade do povo
cubano, constituíram pelo contrário, objetiva e independentemente das intenções
daqueles altos protagonistas, um gigantesco respaldo publicitário ao regime da
Ilha-prisão.
Imitando Francisco ou Obama, outras chancelarias e
organismos internacionais estenderam pontes para Cuba. Dois anos depois, a
repressão do regime comunista não fez senão aumentar. Os resultados estão à
vista. São as “pontes” e não os “muros” castristas que estão se desmoronando.
Em 3 de outubro de 2015, poucos dias após a viagem papal a
Cuba, no artigo intitulado “Francisco abraça os lobos e sustenta o muro
comunista”, tive ocasião de alertar com profunda dor, enquanto católico, cubano
e ex-prisioneiro político durante décadas, que na realidade as “pontes” em
construção sob o auspício de Francisco estavam servindo não para a libertação
do povo cubano, mas para ajudar política, financeira e diplomaticamente o
regime comunista de Havana.
E vi-me obrigado a constatar que, lamentavelmente, Francisco
está sendo o principal arquiteto da construção da nefasta “ponte” obamista e do
reforço do “muro” da vergonha que continua oprimindo os habitantes da
Ilha-prisão.
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(*) Armando Valladares, escritor, pintor e poeta,
passou 22 anos nas prisões políticas de Cuba. É autor do best-seller “Contra
toda a esperança”, no qual narra o horror das prisões castristas. Foi
embaixador dos Estados Unidos perante a Comissão de Direitos Humanos da ONU
durante as administrações Reagan e Bush. Recebeu a Medalha Presidencial Cidadão
e Superior Award do Departamento de Estado. Em 2016 foi condecorado com a
Medalha de Canterbury, prêmio devido à sua luta pela liberdade religiosa no
mundo inteiro, patrocinado pelo Fundo Becket pela Liberdade Religiosa. Escreveu
numerosos artigos sobre a colaboração eclesiástica com o comunismo cubano e
sobre a “Ostpolitik” do Vaticano em relação a Cuba, vários dos quais podem ser
lidos no site http://www.cubdest.org.
Referências:
“Francisco abraça os lobos e sustenta o ‘muro” Comunista”
(Armando F. Valladares).
“Papa Francisco: ‘divisão’, caos e autodemolição” (Destaque
Internacional)
“Cuba: Francisco, um papa que lavou suas mãos”
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Nota: Este artigo publicado em “Destaque Internacional”
(27-2-17), traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode
ser reproduzido livremente em qualquer mídia impressa ou eletrônica.
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