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quarta-feira, 31 de março de 2021

8 DE JULHO – Antônio Baracho


8 de Julho

Antônio Baracho*

 

Fui assistir a semifinal do jogo BRASIL X ALEMANHA com um forte pressentimento. Na véspera a minha vizinha convidou-me para comemorarmos o seu aniversário, na referida data, junto às amigas. O pior é que segundo a aniversariante, o Brasil, repetidamente em outras ocasiões, jogando na mesma data, tinha obtido resultado adverso. Não deu outra. No entanto são coincidências que fazem parte do cotidiano.

O que aconteceu dentro do campo tem relação com o que acontece fora. Ouvi muita gente dizer que não confiava no futebol brasileiro e que precisávamos de mais educação, saúde, segurança etc. A nossa psicosfera gerava um clima de dúvida e desesperança antes da copa do mundo. O Brasil precisava de um choque de realidade, por mais cruel que fosse. Diz Tostão, craque do time tricampeão em 1970 e hoje lúcido crítico. "É um sistema viciado, incompetente e promíscuo, baseado numa estrutura política de troca de favores que começa desde as categorias de base. A derrota só reflete isso".

Mas, para amenizar o texto transcreverei o ensaio poético que fiz durante uma partida de futebol, no mês de abril de 1978. Época que eu tinha mais prazer de ir aos estádios com os meus amigos e o Esporte Clube Vitória sagrou-se campeão.




VIM, VI E VENCI

 

Rola a bola no gramado

E há o predomínio das cores rubro-negras
Numa mística de geração à geração

De que o vermelho e preto

É a cor da guerra e a cor da morte.

Dando um impacto visual até nos indígenas
Quando numa partida de futebol
Apontaram nessas cores: as suas preferidas.
Olho em volta do estádio

Num confronto torcida x torcida.

Vejo nesses comportamentos os anseios,

  As frustrações, os recalques,
O fanatismo de um povo.

Nesse momento penso no estudo que poderia fazer
do comportamento grupal e individual.

São apenas divagações que são despertadas
Pelo gool que não existiu, mas perigou.  

A torcida do Vitória vaia a torcida do Bahia
Em um coro de vozes uníssono.

É o espetáculo dos artistas no gramado
Que parece um jogo cadenciado

Mas prevalece um futebol modernizado
No ritmo de sinfonia e de luz.

De repente o silêncio total:

O número nove do Vitória entra na área adversária
E num pique drible um, dribla dois.

De cara com o goleiro é goooooolllllll......

Mais uma vez brilha a bola nos pés do jogador
Como brilha a lua cheia no céu nesse momento,
Substituindo o placar eletrônico:

VIM, VI E VENCI!

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*Antônio Baracho, membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL), ocupante da cadeira nº 11. Email: antoniobaracho@hotmail.com.

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terça-feira, 30 de março de 2021

SOBRE NATHAN COUTINHO - Cyro de Mattos


Sobre Nathan Coutinho

Cyro de Mattos

 

Nasceu na cidade de Valença, Bahia, em 22 de agosto de 1911. Muito jovem, recém formado em direito veio residir em Itabuna, onde se dedicou ao jornalismo, à advocacia e à política. Aqui dirigiu durante onze anos o jornal diário “A Época”, que tinha no seu corpo de redatores os jornalistas Hélio Pólvora e Manoel Leal. Em 1947, eleito para a Assembleia Legislativa do Estado transferiu-se com a família para Salvador onde exerceu como deputado três legislaturas. De 1958 a 1959, assumiu a presidência da Assembleia Legislativa Estadual. Foi nomeado para o tribunal de Contas do Estado no qual se tornou conselheiro.

É autor do livro de poesias Inquietudes. Sua poesia de bom nível seria mais reconhecida se publicada em jornais de circulação nacional. Aparecia nos jornais de Itabuna e Ilhéus. E assim, impressa nas ilhas literárias do interior, ficou esquecida. Ele era o pai da consagrada contista e romancista Sônia Coutinho e do sociólogo Carlos Nelson Coutinho, uma das maiores autoridades sobre a dialética marxista através do prisma de Georg Lukacs. Filhos de Itabuna, ambos passaram aqui a sua infância, antes de o pai com a família fixar residência em Salvador.

      Nathan Coutinho foi incluído na antologia Poesia Moderna da Região do Cacau, organizada pelo poeta Telmo Padilha, com dois poemas. Um deles transcrevo agora.

 

O Soneto de Agosto

 

Na sombria mudez de teus dias cinzentos

há soluços de inverno e angústias de sol posto.

És veneno e ilusão... E nos teus céus nevoentos

há o motivo maior de todo o meu desgosto.

 

Mês das horas mortais e dos minutos lentos,

mês de melancolia e de penumbra... Agosto!

Tu vens ressuscitar a dor dos meus tormentos,

pondo-me crepes na alma e lágrimas no rosto. 

 

No lívido palor dos teus dias de calma

com o noturno da chuva a minha dor confortas

e ouço a alma de Chopin a chorar na tua alma...

 

Quando vens, mansamente, no Nada me convidas:

porque és o mês do tédio, o mês das folhas mortas

- ó mês sentimental das ânsias incontidas!

 

 “O Soneto de Agosto” apresenta-se no formato fixo do próprio soneto, o conteúdo tem laivos simbolistas. Sem deslizes na ideia e nos versos, emerge da tristeza e revela as interioridades do poeta através das unidades rítmicas. Um soneto que tem a cor das sombras, da melancolia, como pedia a estética simbolista e que dá uma pequena mostra de quanto Nathan Coutinho era um poeta de qualidades, que sabia se expressar com inconfundível disponibilidade anímica. Ele é um dos patronos da Academia de Letras de Itabuna (ALITA).

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* Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Detentor de prêmios literários importantes e, entre eles, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, Associação dos Críticos Literários de São Paulo, Nacional de Poesia Ribeiro Couto (UBE-RJ), Internacional Maestrale Marengo d’Oro, Itália, duas vezes, Menção Honrosa do Jabuti, Nacional Pen Clube do Brasil e Nacional Cidade de Manaus. Publicado em oito idiomas.

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O que está acontecendo?

CHINA FAZ “DOAÇÃO” MILIONÁRIA A SINDICADOS BRASILEIROS

Saiba o que está por trás da queda do chanceler Ernesto Araújo,

segunda-feira, 29 de março de 2021

DEGRAUS DE LUZ, Por Sonia Argon



 

Degraus de Luz  

 

Se não pudermos ser Frutos para nutrir a Terra,

Que possamos ser Sementes.

Se não pudermos ser Flores para enfeitar as janelas,

Que possamos ser Vasos.

Se não pudermos ser Canção para embalar os sonhos,

Que possamos ser Silêncio.

Se não pudermos ser Discurso para encorajar os corações,

Que possamos ser Escuta.

Que tenhamos um Sorriso doce,

Quando faltar Esperança.

Que tenhamos um Olhar sereno,

Quando faltar Doçura.

Que tenhamos uma Palavra terna,

Quando faltar Companhia.

Se não pudermos ter a Segurança da terra firme,

Que possamos ter a Singeleza do grão de areia.

Se não pudermos ter a Valentia do vento,

Que possamos ter a Suavidade da brisa.

Se não pudermos ter a Força dos mares,

Que possamos ter a Simplicidade de uma gota d’água.

Que não almejemos ser estrelas,

mas que possamos ser a menor centelha de luz a iluminar a escuridão.

Que não precisemos fazer grandes Obras, 

mas que consigamos ser uma pequena onda de calor a dissipar a Solidão.

Que não intencionemos fazer Sucesso, mas que tentemos plantar 

uma minúscula partícula de Esperança em cada Coração.

Se não pudermos ser Elogio sem restrição,

que possamos ser Paciência.

Se não pudermos ser Parceria sem questionamento,

que possamos ser Respeito.

Se não pudermos ser Atenção,

Que possamos ser Gentileza.

Se não pudermos ser Escada de transformação,

que possamos ser, apenas,

“Degraus de Luz”!



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Sonia Argon é Bacharel em Direito. Pós-Graduanda em Filosofia. Locutora, Roteirista e Narradora de Audiodescrição. Eterna Aluna de Canto! Atuou como Professora de Educação Infantil por longo período, em sua cidade natal, Petrópolis, situada na região serrana fluminense. Confessa ser encantada pela Comunicação e pelo enriquecimento proveniente da troca de ideias e da interação entre as pessoas. É Petropolitana de nascimento e alma, mas, pelo fato de viver na cidade do Rio de Janeiro há um bom tempo, já se considera Carioca de coração!

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sábado, 27 de março de 2021

Os crimes do Lulopetismo – Parte I

ACADEMIA GRAPIÚNA DE LETRAS (AGRAL) COMPLETA DEZ ANOS DE EXISTÊNCIA

 




Academia Grapiúna de Letras AGRAL

completa dez anos de existência

 

Neste 4 de abril de 2021, a Academia Grapiúna de Letras (AGRAL), sediada na cidade de Itabuna e sob a recém presidência do professor universitário Samuel Leandro Oliveira de Mattos [Foto acima], que sucede o jornalista e autor do livro “De Tabocas a Itabuna 100 anos de Imprensa” (Agora Editora, 1999), Ramiro Soares de Aquino, completa dez anos de existência.

Até o ano de 2011, Itabuna lamentavelmente cometia um descaso com a cultura grapiúna, que detém nomes nacionais em suas diversas vertentes, não dispondo de uma academia de letras que os imortalizassem no seio de suas origens, mas que foi corrigida por um grupo de abnegados intelectuais dessa urbe, em 4 de abril, quando fundaram a AGRAL.

A propósito, o Sul da Bahia é uma das únicas regiões brasileiras que tem uma literatura própria, com identidade diferenciada. A chamada Civilização do Cacau, pois, produziu expressões idiomáticas, adjetivos e substantivos peculiares, a exemplo dos encontrados na obra “Dicionareco das Roças de Cacau e Arredores”, de Euclides Neto (1925-2000). Por sua vez, as temáticas abordadas nas obras de Adonias Filho (1915-1990), Sosígenes Costa (1901-1968), Jorge Medauar (1918-2003), Jorge Amado, dentre outros, difundiram um expressivo imaginário cultural sulbaiano, já reproduzido na dramaturgia, teledramaturgia e no cinema.

A AGRAL, que tem como patrono o escritor Jorge Amado (1912-2001), reverencia grandes literatos sulbaianos e brasileiros, como um todo, e objetiva o cultivo da língua e da literatura, sobretudo a regional, inclusive nas áreas das ciências e das artes.

O seu estatuto diz que os membros efetivos, serão escolhidos preferencialmente entre os destacáveis em sua atuação cultural, científica e artística em Itabuna, ou seja, privilegiará intelectuais ou artistas que tenham atuação ou trabalhos em quaisquer meios escritos ou falados de informação e arte etc., acolhendo-se, também, alguns residentes nas cidades que compõem a Região Grapiúna, sob essas mesmas condições.

A AGRAL, que inspirou-se no formato da Academia Brasileira de Letras (fundada em 1897), é composta por  40 acadêmicos e/ou imortais efetivos (e perpétuos) e 20 correspondentes, tem como fundadores e historicamente membros de sua primeira diretoria, Ivan Krebs Montenegro, cadeira 10, presidente; Vercil Rodrigues, cadeira 1, vice-presidente; Washington Farias de Cerqueira, cadeira 3, secretário-geral; Antônio da Silva Costa, cadeira 8, tesoureiro; Jorge Ribeiro Carrilho, cadeira 7, 2º tesoureiro; Ramiro Nunes de Aquino, cadeira 9, diretor de eventos e José Carlos Oliveira, cadeira 4, diretor de biblioteca. [Foto abaixo]



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quarta-feira, 24 de março de 2021

NIETZSCHE NO CÉU - Marco Lucchesi


A poesia clássica persa é um condensado de beleza, em língua delicada: antiga e jovem, intensa e maleável, aberta e rigorosa. Seu timbre não esconde uma sublime vocação. Atenta às formas transitórias. Habitada por nuances. Herdeira de semitons. Todo um repertório de imagens que incessantemente se renova. Tema e variação: o jardim e a luz da aurora, as flores perfumadas e os espinhos, o rouxinol de amor perdido pela rosa. Língua suave e subtil, feita de símbolos e formas vicárias. E se abastece de sua própria linfa. Uma vogal apenas une umas às outras as palavras. Não se apagam as vozes de Rūmī e Hāfez. Esse mesmo frescor feriu o Divã de Goethe e a poesia de Mohammed Iqbāl.

Iqbāl, poeta paquistanês (1877-1938) mergulha nas várias línguas de sua cultura. E quando escreve em persa, filia-se a uma tradição, que lhe pertence, amorosamente. Usa o repertório para modificá-lo, mais inclinado a Rūmi que a Hāfez. Menos a Pérsia barroca, de que falava Scarcìa, e mais o tesouro sufi de águas claras. Íntimo, contudo, de Sanā’ī , Sa‘dī e Attār. A rosa e o jardim, a flauta e o rouxinol aparecem deslocados em Iqbāl. Adquirem novas ressonâncias. Um centro que desde então se descentra. Mantida entretanto a moldura simbólica.

O diálogo com Goethe inscreve-se no seio da comunidade muçulmana. Um olhar de mão-dupla, mais permeável entre Oriente e Ocidente na sua leitura corânica. E a partir do cerco de Bagdad (1258), quando se inicia uma longa crise no islão. O poeta deixa de lado a dissolução contemplativa radical, e encontra na ação o empenho na reforma do pensamento religioso, como Dante, no Paraíso, clamando por justiça. Não é Virgílio o guia de Iqbāl, mas o poeta Rūmī. Temos aqui a elaboração de uma genealogia, de um legado mútuo, fascinante e especular. As palavras de Abdālī, no Empíreo traduz sua densidade: “A força da Europa consiste na ciência e na técnica, desse fogo brilha a sua lâmpada. A sabedoria não consiste no corte da roupa, nem o turbante é obstáculo às ciências e às artes. Pouco importa como proteges a cabeça! Basta um pensamento ágil, uma inteligência aguda".

Nas alturas do Céu, Iqbāl encontra ninguém menos do que Nietzsche. Justamente no prelúdio ou no átrio do Paraíso: “Perguntei a Rūmī: ‘Quem é esse louco?’. Respondeu: ‘é um sábio alemão. Seu lugar é entre estes dois mundos, um canto antigo o que sai de sua flauta! Suas palavras foram ousadas e grandioso o seu pensamento. Cortou a Europa em duas partes com a espada de suas palavras. A sua melodia rompeu a corda de seu alaúde.” Quem é capaz de colocar Nietzsche no Céu, pode sondar a delicada fronteira da alteridade. Iqbāl é o poeta do encontro, além de fortes e fronteiras, segunda a expressão de João da Cruz. Uma nova inscrição em que a paz se redesenha.

 

Jornal de Letras, Artes e Ideias (Lisboa), 24/03/2021

 

Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018.

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#AoVivo: Reunião no Palácio da Alvorada com chefes dos 3 Poderes

segunda-feira, 22 de março de 2021

O CRIME DO ESQUECIMENTO – Péricles Capanema

 22 de março de 2021



Péricles Capanema

 

Lula com uma nova máscara…

Vacina eficiente. Lula voltou ao proscênio da cena política, prepara sua volta em 2022 como candidato pretendendo alcançar vitória. Ponto vivo da estratégia, o demiurgo petista conta com o esquecimento popular. Sabe, a memória boa é a mais eficaz vacina contra a reinfecção petista.

Coligação forte à vista. Tudo o indica, o morubixaba petista busca pôr em pé coligação forte para 2022; para isso certamente irá migrar rumo ao centro e escolher vice tranquilizador — como o fez com êxito ao pinçar milionário, líder empresarial e político de centro para as eleições de 2002. São suas armas para reconquistar o Planalto. Como molhar a pólvora? Nenhuma amnésia. No caso, a memória boa será a salvação do Brasil.

Desgaste da reação antipetista. Lula conta ainda com o desgaste das desorganizadas forças direitistas e conservadoras que surgiram e surraram eleitoralmente o PT em 2018, tendo como principal combustível os avassaladores sentimentos antipetista e anticorrupção, gerados pelo horror dos desgovernos da “cumpanherada”. Por isso, em particular, o esquecimento dos desgovernos é primordial na estratégia petista.

Tais sentimentos perpassavam então de alto a baixo a sociedade, horrorizada com o inescrupuloso assalto ao poder pela tigrada insaciável. Debilidade a ter em vista, noto só de passagem, sentimentos e emoções costumam ser efêmeros. Cuidado com eles, precisam ser cultivados, alimentados e enraizados; permanentes são os princípios e hábitos entranhados. E é congruente, já está em curso intensa campanha de desmoralização das forças conservadoras e direitistas que emprega como munição motivações reais, inventadas ou aumentadas, pouco importa aqui. Vale tudo.

Por tudo isso, retomo e reitero, em 2022 a memória do passivo petista será fundamental. Décadas atrás foi muito popular lema em São Paulo, relativo à Revolução de 1932. Vale a recordação: “São Paulo não esquece, não transige, não perdoa”. Agora realço uma das três posturas, não esquecer, a primeira e mais fundamental delas. O perigo será esquecer. Com o olvido, a transigência e o perdão ficam dispensáveis; de fato, nem entram em linha de conta.

Anão diplomático. Vou lembrar alguns, só alguns, infindo é o rol dos pesadelos pelos quais passamos entre 2002 a 2016 — e a lista voltará aumentada e agravada se o petismo triunfar em 2022. Hostilizar os Estados Unidos e a Europa, na prática, foi política de Estado. Sob o mesmo bafo e em direção contrário bajular e favorecer China, Rússia, Cuba, Venezuela, Irã, Síria e estados em situação semelhante. Claro, também a Argentina de Nestor e Cristina Kirchner. O petismo triunfante tentou criar uma aliança destrutiva da qual participavam países onde campeava a ditadura, o terrorismo e a corrupção para opô-los ao mundo desenvolvido. Era uma versão tóxica da rivalidade Norte-Sul. Ídolos da diplomacia brasileira foram Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales. Do sanguinário ditador cubano, Lula afirmou que foi “o maior de todos os latino-americanos” A disputa do governo brasileiro com Israel chegou ao ponto de o porta-voz do Estado judeu, em 2014, ter qualificado o Brasil de “anão diplomático”.

Modelos a imitar, Cuba e Venezuela. Na política interna, a união com partidos políticos complacentes (para dizer o mínimo) levou por anos à roubalheira solta — mensalão e petrolão, e ainda não tivemos o destape do eletrolão —, pilharam em especial estatais, o maior assalto aos cofres públicos de que o mundo tem notícia. E à continuação da escandalosa política de promoção da reforma agrária, que empobrece o campo há décadas. Sofremos ainda no fim do governo Dilma, a paralisia econômica, a inflação em alta, o empobrecimento generalizado e a recessão. E suportamos a teimosia do PT em continuar no mesmo rumo, o abismo. Sem falar na parcialidade gritante da assim chamada Comissão da Verdade, em que pululavam favorecimentos para alguns da patota, bem como perseguições claras ou veladas aos opositores. Um autêntico ensaio dos tribunais populares, de sinistra memória nas ditaduras comunistas. No horizonte escuro, o fantasma aterrador de o Brasil virar uma nova Cuba ou uma nova Venezuela. Outra vantagem da memória boa, dificulta idealizações acarameladas dos desgovernos petistas.

Todas as agendas de ideologia do gênero, promoção do aborto, “normalização” social e institucional da “família”, sob as mais absurdas formas, receberão impulso novo, o que não impedirá à CNBB, CPT e entidades congêneres de darem apoio a tais governos, que trabalharão efetivamente para eliminar restos ainda vivos da evangelização em solo brasileiro.

O ex-frei Leonardo Boff com o boné do MST

As CEBs fundaram o PT. Convém reproduzir diálogo entre o ex-frei Leonardo Boff e Lula — está na rede. Temos ali a responsabilização da esquerda católica pelos padecimentos populares de 2002 a 2016, o Brasil atolado no pântano do atraso. Diz o antigo franciscano: “As CEBs, as comunidades eclesiais de base, que eu acompanhei tantas, não entraram no PT, elas fundaram as células do PT, isso é muito mais que entrar num partido, é fundar um partido”. O líder do PT comenta: “O PT não existiria do jeito que ele existe, se não fossem as comunidades eclesiais de base, se não fosse a Teologia da Libertação, eu sei o que é o valor de um padre progressista numa cidade pequena.”

De outro modo, segundo os dois corifeus da extrema esquerda, as comunidades eclesiais de base formaram o caldo de cultura indispensável para fazer germinar no Brasil partido que trouxe no bojo, o retrocesso, a intolerância, o desenho de uma sociedade socialista, com atrofia enorme das possibilidades de realização pessoal. E cuja implantação invariavelmente acarretou exclusões brutais, sufocamento da liberdade, fuga dos pobres apavorados com a generalização da miséria, uma forma de inferno na Terra.

O esquecimento, causa de tragédias. Dou um cavalo de pau e recorro a exemplo imaginário — já aconteceu coisa assim. Um pai estaciona o carro na rua, dia de muito calor, deixa os vidros fechados, o filho pequeno fica no banco. O pai vai cuidar da vida, faz negócios, demora, esquece que o filho está trancado. Quando volta, desespero, a criança está morta por insolação e asfixia. Não quis o fato, não agiu para que acontecesse. Foi culpado? Sim, pela lei e jurisprudência. Negligenciou atenção que deveria dar à situação em que era garantidor. Situações desse tipo configuram os chamados crimes de olvido ou de esquecimento. Reza o artigo 13 do Código Penal: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se a causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. E está no § 2º do mesmo artigo: “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”.

Crimes de esquecimento. Por que fui tão longe e dei o cavalo de pau no texto? Para lembrar um ponto, mesmo de forma inconsciente, até desejando o contrário, o esquecimento não raras vezes leva a tragédias e até ao crime. A criança do exemplo pode no futuro lembrar o Brasil. O pai, qualquer um de nós, se negligentes; faltaríamos no caso ao dever de cuidado.


https://www.abim.inf.br/o-crime-do-esquecimento/

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domingo, 21 de março de 2021

D A N T E - Marco Lucchesi



Dante 

Marco Lucchesi


Todas as vezes que me abeiro de Dante, é como se a esfinge estivesse pronta a devorar-me.

 

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A Commedia é uma fonte secreta no deserto por onde vago. Não me peçam água salobra!

 

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Melancolia do canto 33 do Paraíso. O impronunciável. Um sonho se desfaz. A neve descongela. E as folhas da Sibila que se perdem. Não é possível desatar a trama do silêncio, pejado de mistério e ressonância. Feliz contradição no adjetivo: a poesia, uma derrota vitoriosa. 

 

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Como se deu a vitória, senão desde as potências da metalinguagem? Poesia que indaga seus limites, o repertório de que pode lançar mão. Poesia de segundo grau, a novos patamares elevada. 

 

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A cada dia visito a Commedia. Mas não me pronuncio: como se fosse um bem intransmissível. Herança dos estudos neoplatônicos? Quem sabe um incompleto parricídio? Uma zona de guerra que apressa ao silêncio. Consonante? Dissonante?

 

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Escrevi certa vez: o náufrago lugar do não-lugar. Do Inferno e Purgatório, a densa geografia. A que se opõe o frágil Paraíso, em busca da moldura luminosa.

  

O silêncio inegociável do Paraíso. Mas de outra espécie, no Inferno e Purgatório. Aliado da luz e cúmplice da sombra: o silêncio tem fome de silêncio. 

  

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No Paraíso, o rosto possível de Deus: totum sed non totaliter. Se a Torá projeta o rosto no futuro, o Alcorão amplia o meta-ôntico. Um rosto que jamais se desvela: Or fu sì fatta la sembianza vostra?


Humanitas, 10/03/2021


https://www.academia.org.br/artigos/dante

 

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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila , foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018
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PALAVRA DA SALVAÇÃO (226)

 


5º Domingo da Quaresma – 21/03/2021

Anúncio do Evangelho (Jo 12,20-33)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”.

Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Então, veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”

A multidão que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. Jesus respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer. 

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/liturgia/5o-domingo-da-quaresma

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe o Evangelho encenado:


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Re-inventar nossa maneira de viver

 


“Quem se apega à sua vida, perde-a” (Jo 12,25)

Estamos chegando ao final do tempo quaresmal; abre-se a porta para a intensa vivência Pascal. Percorremos este caminho vivo de jejum, esmola e oração, centrados na pessoa de Jesus, para aprender d’Ele como viver de maneira mais oblativa, aberta, solidária... Tem sido um caminho de intensidade humana? Temos colocado o tom de nossa fé na direção da Páscoa?

O final da quaresma é tempo de olhar para trás com muita gratidão; tal atitude nos capacita para continuar olhando para frente, subindo com Jesus e seus discípulos a Jerusalém. Sempre há oportunidade para consoli-dar nossa vida e enraizar nossa fé. Não permitamos que continuemos passando o tempo como se nada surpreendente pudesse acontecer!

À luz da Páscoa somos movidos a re-inventar continuamente a nossa vida. Há uma outra forma de vida que subjaz debaixo daquela que levamos cada dia: uma vida mais calma, mais consciente, mais autêntica; uma vida de pequenas coisas, de gestos carregados de ternura, de rotinas habitadas que são vividas como novidade, de silêncios que dançam com as palavras...

“Inventar”, vem da expressão latina “inventio-onis” que significa “encontrar algo” que até agora não se havia descoberto; inventores são aqueles que descobrem algo até então oculto.

Por detrás da pandemia, está sendo oferecida a todos nós uma “mudança de rumo na humanidade”. Estamos sendo forçados a quebrar o ritmo estressante e apressado que levávamos; nosso planeta respira, nossas cidades estão se purificando de tanta contaminação acumulada; estamos encontrando formas novas de trabalho e de educação escolar; estamos ficando mais sóbrios, contentando-nos com o necessário; temos descoberto outra forma de inter-relação e de mais intensidade no amor... 

O apelo de Jesus, no evangelho deste domingo, é para “perder” nossa vida, no sentido de não nos apegar de maneira egóica a ela e abrir-nos para recebe uma Vida maior, nossa verdadeira vida, a Vida de Deus em nós. Precisamos nos destravar, abandonar nossas medidas de segurança, libertar-nos do domínio cego do ego, para que possa transparecer o que realmente somos, nossa dignidade mais profunda. Não é o autocentrar-nos que confere dignidade à existência, mas o descentrar-nos e deslocar-nos em favor dos outros.

Aquele que “se apega à sua vida”, ou seja, aquele que quer estar bem, não quer ter compromissos, não quer se envolver com as situações exigentes, quer estar à margem da realidade que pede uma presença diferente..., esse “perderá sua vida”. Quê vida mais atrofiada quando se vive bem comodamente, bem tranquilo, bem instalado, bem relacionado politicamente, economicamente, socialmente...!

Mas aquele que, por amor ao Reino, se desinstala, acompanha o povo, se solidariza com o sofrimento do pobre, encarna-se e faz sua a dor do outro... esse “ganhará” a vida. Sua vida transformar-se-á em Vida. Libertam o mundo todos aqueles e aquelas que fazem de suas vidas uma doação, um oferecimento. Assim, se deixam atravessar por Deus, puro Dom de Si, Amor que não se reserva a Si mesmo.

É gratificante fazer memória de tantos homens e mulheres que foram presenças de misericórdia e, à maneira de Jesus, consumiram suas vidas em favor da vida; histórias silenciosas de tantas pessoas que com seu compromisso ajudaram os outros a viver; pessoas que revelaram a paixão por viver em pequenas paciências cotidianas, que entregaram suas vidas sem aparecer nas “redes sociais”, sem vozes que as proclamassem; foram como o fermento silencioso que se dissolve na massa para fazê-la crescer. 

“Se o grão de trigo não morre”, ou seja, se o ser humano não faz de sua vida um dom para os outros, se ele não investe a sua vida em favor da vida, acaba perdendo-se a si mesmo. Esta é a mensagem radical deste quinto domingo da quaresma: “morrer de vida”, não de morte, morrer fazendo que outros vivam, numa efusão de amor. Trata-se de “morrer de tanto viver”, nas diferentes dimensões da vida: individual, familiar, comunitário, social... Esse é o sentido da Cruz cristã: não é cruz vazia, nem um “peso morto”. É perda que se converte em ganho.

Sabemos que, à medida que nosso ego aumenta, ele se distancia da vida dos outros e só se ocupa em conservar a sua, buscando saciar sua fome devoradora para conquistar, acumular, ser o centro...

Isso lhe faz perder a capacidade de assombrar-se e de deixar-se afetar pela alegria e pela dor dos outros; tudo se converte em meio e instrumento para sua própria gratificação. O auge da afirmação de si mesmo se contrasta com a afirmação de Jesus, vista como aberração humana: “aquele que se apega à sua vida, perde-a”.  Qual é a pérola de grande valor que se oculta nesta afirmação? Onde nos quer conduzir Jesus?

É um fato central de nossa existência que a própria vida, por mais valiosa que seja, não se encontra sob nosso controle. Então precisamos nos soltar, deixar de apegar-nos a nós mesmos, abrir as mãos, abandonar nossa autoafirmação, para que Deus possa entrar e atuar livremente em nosso interior.

Jesus recorre a uma brevíssima parábola, para fundamentar isso. Só o grão de trigo que morre dá muito fruto. Esta parábola apresenta mais uma vez, e de outro modo, a lição fundamental do Evangelho inteiro, o ponto máximo da mensagem de Jesus: o amor oblativo, o amor que se entrega a si mesmo, e que nesse perder-se a si mesmo, nesse morrer a si mesmo, gera a vida.

O ser humano se caracteriza por ser capaz de amar, por ser capaz de sair de si mesmo e entregar sua vida ou entregar-se a si mesmo por amor. A humanização ou hominização seria esse “descentramento” de si mesmo, que é centramento nos demais e no amor. A parábola do grão de trigo que morre expressa o ponto máximo dessa maturação da Humanidade; tanto é verdade que pode ser considerada como uma expressão do cume do amor. No fundo, esta parábola equivale ao mandamento novo: “Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei; não há maior prova de amor que dar a vida” . 

As palavras de Jesus têm também aqui a pretensão de síntese: aí se encerra toda a mensagem do Evangelho. E, na realidade, aí se encerra também toda mensagem religiosa, pois também as outras religiões chegaram a descobrir o amor, a compaixão, a solidariedade, o “des-centramento” de si como a essência da religião.

Jesus é a expressão máxima da humanidade que busca e deixa emergir o melhor que há em seu interior.

A vida é constantemente chamada a ser Páscoa. Porque na vitória da Vida entregue, a vida ganha sentido, avança, como uma torrente que rega terras secas, ávidas de água, como um fogo que, na noite mais escura, traz uma luz que permite vislumbrar a vida oculta.

A vida não se conta pelas respirações, mas pelos momentos de assombro, de alegria e encantamento. Ela tem a dimensão do milagre e carrega no seu interior o destino da ressurreição.

A vida, desde o mais íntimo da pessoa humana, deseja ser despertada e vivenciada em plenitude. A certeza de nossa fé em Cristo morto e ressuscitado nos ajuda a ir tirando do coração os medos, os impulsos egoístas de busca de segurança e imortalidade, e ir encontrando uma paz profunda que nos permita fazer de nossa vida uma oferenda gratuita para a vida de outros. 

Texto bíblico:  Jo 12,20-33 

Na oração: Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica estéril. O grão de trigo precisa entregar-se, enterrar-se, perder-se... para ser fecundo. Desate a Vida de Deus que já está em você!

- Você sente resistência em fazer de sua vida uma contínua oferta em favor da vida, nos pequenos gestos de cada dia ou nos grandes momentos decisivos?

- Você captou que o centro da mensagem do evangelho é fazer da vida uma contínua doação por amor? Está dispos-to(a) a aceitar essa “morte” para viver mais plenamente?

- Sua prática cristã se reduz a cumprir ritos, devoções, práticas piedosas... ou se expressa na vivência do encontro e do diálogo amoroso, como pede a Campanha da Fraternidade deste ano?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2292-re-inventar-nossa-maneira-de-viver

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sábado, 20 de março de 2021

SONETOS MOTIVADOS POR SHAKESPEARE – Cyro de Mattos


Sonetos Motivados por Shakespeare

Cyro de Mattos

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I

Ó amor, que horror traz a memória!

Da flor a dor esmaga a formosura,

E o coração diz: “Sinto essa vontade 

Que nas veias arde, no sonho voa.”

As amargas de pronto contrapõem:

 “Nas veias a ira ferve amargo fel.”

Inspirado do que fazem os dons 

Da natureza inocente, Romeu

Comove quando fala à Julieta:  

“Não tenhas medo, haverá tua voz

Em minha voz, gestos meus que são teus, 

Teus sustos meus, a cada primavera.”

Fatal sucedeu conforme a fúria 

O beijo que selou os seus algozes.  

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II

Alguns adoram nadar em dinheiro,   

Ter na cocheira cavalos de raça,          

Dirigir em automóveis de luxo,

Deslizar no iate entre as ondas mansas. 

Hoje como ontem, o homem é um ser

Que, no jogo dos desejos, paixões

Refunde, na fortuna do prazer

É que esbanja o valor de sua fama.

Mas tua alquimia traduz o mundo,

Inventado na forma da beleza, 

Em seus ares se espalha pela terra,

Também Homero conta velhas lendas.

Ó bardo inglês, teu som me faz completo.

Homem real, crente do amor eterno.   

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III

Comprovas quão insano vive o homem, 

Matador que leva contra si a paixão,   

Entristece o céu com as cores do nada,  

No lugar do verde quer os desvãos. 

Cava o tempo, que tudo sabe e lambe,

 Com os golpes indeléveis do tormento,

Do desespero, da louca ambição,

Como trágico desde não sei quando,

Tem prazer em andar na solidão.

Carrega o gume que mais cego fura,

Encrava-o até o último gemido,

A ponta aguda sempre o faz contente.  

Na manhã sorridentes seus reveses 

Dos feitos sem remorso tantas vezes.

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IV

Bardo inglês, aonde vais farto de tudo?

Farto da arrogância dos que mandam,

Da paixão humana que tanto horroriza,  

Produz messes sem frutos promissores.

Farto dos que exibem a pompa enfadonha, 

Entoam que a coroa vale o mundo,

Adoram o fausto como a seu tesouro,

 Nessa ópera de vilezas, constantes

Cantores bufões. De tudo que é vasto

No inútil pedes ares do descanso,

A paz que a morte com a sua chegada

Planta e faz que todos sejam justos.

Na lápide de um gênio seja escrito:

“Nada quis, a não ser da vida o belo.”

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V

Verme vil debaixo do chão não vejo, 

Este cumpre   papel na natureza,   

À espera que a matéria podre

Chegue pra ele fartar-se no banquete. 

O que sobre a terra impeça o botão 

Que em ti flora os hábitos da beleza,

 Os gorjeios nos acordes da harmonia, 

De ti mágica cena que arrebata,    

Este é o pior de todos que existam.  

Rói teu poema para não ser lido,

A página em que incorruptível fazes   

Da vida sonho que supera o tempo. 

Hás de viver na voz que te recita

Enquanto dure o amor no humano peito.  

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VI

Do deserto onde o sol queima,      

Da neve que tem cor branca,
Da verdade não acredito,

Mas teu amor eu sei vero.     

Duvido do mar azul,     

Dos gorjeios na Primavera,

Da boca voraz do tempo,  

Mas teu amor eu sei puro.    

Duvido que   encante a flor,

Tenha o dia venturoso

Do beija-flor quando a beija. 

Mas teu amor que comove 

Duvido que a noite negra    

De ti neste som esconda.


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Cyro de Mattos é ficcionista, poeta, ensaísta, cronista, romancista e autor de literatura infantojuvenil. Editado também em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos. Premiado no Brasil e exterior. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia e Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Sua obra é estudada na universidade, adotada nas escolas.

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