11 de Abril de 2018
Marcos Costa
Recente pesquisa Datafolha assinala que 76% dos
cariocas aprovam a intervenção federal. Não é nosso objetivo comentar o mérito
desta, mas a adesão dos cariocas reforça a atualidade dos temas aqui tratados:
Valores Morais.
As declarações do ministro Jungmann (“El País”, 27-2-18)
sobre a perda dos valores e a contradição da juventude, que ao mesmo tempo em
que clama contra a violência consome drogas, põem em foco o problema que aqui
tratamos, um dos mais graves da nossa sociedade.
Ora, os valores morais são os fios com que se fabrica o
tecido social de uma nação. Mostramos, no último artigo, a família como umas
das pilastras-mestras do tecido social. Tradição e propriedade completam essa
trilogia sobre a qual se edificaram as nações cristãs.
Tradição, família e propriedade são, pois, os pilares da
nova ordem que, conscientemente ou não, as gigantescas manifestações públicas
de 2016, nas principais cidades do País, cobravam de nossos homens
públicos: “Queremos nosso Pais de volta”.
Os progressistas e a esquerda reconhecem a importância dessa
trilogia
Como bem observou Max Delespesse, conhecido progressista
belga, em livro com o significativo título Tradition, Famille, Propriété.
Jésus et la triple contestation, “observadores superficiais poderiam
surpreender-se diante da trilogia ´tradição-família-propriedade´ como se se
tratasse de um amálgama artificial. Na realidade, a junção destes três termos
não se deveu ao acaso. […] ‘Tradição-família-propriedade’ é um bloco coerente
que se aceita ou se rejeita, mas cujos elementos não podem ser separados” (Max
Delespesse, Tradition, Famille, Propriété. Jésus et la triple contestation,
Fleurus, Paris, 1972, pp. 7, 8).
No mesmo sentido, é muito frequente a mídia de esquerda
referir-se à trilogia tradição família propriedade como sendo a ponta
de lança da reação conservadora em nosso Brasil.
O ensinamento dos Papas: valores morais são o alicerce
São Pio X, na Encíclica Il Fermo Proposito, de 11 de
junho de 1905, insistiu em que “a civilização do mundo é a Civilização
Cristã, tanto mais verdadeira, mais duradoura, mais fecunda em frutos
preciosos, quanto é mais autenticamente cristã”1;
E na Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de
1910, ele recordava: “Não se deve inventar a Civilização, nem se deve
construir nas nuvens a nova sociedade. Ela existiu e existe: é a Civilização
Cristã, é a sociedade católica. Não se trata senão de a instaurar e restaurar
incessantemente nas suas bases naturais e divinas, contra os ataques sempre
renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: ‘Omnia instaurare in
Christo’ (Ef. I, 10)”2.
Por sua vez, Leão XIII ressalta o valor da propriedade
privada:
“A teoria socialista da propriedade coletiva deve
absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer
socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as
funções do Estado e perturbando a tranqüilidade pública. Fique, pois, bem
assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que
querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade
particular” (grifos nossos).3
* *
*
Não pretendemos esgotar a fundamentação doutrinária da
trilogia tradição família propriedade no âmbito de um artigo. Daremos
apenas alguns traços essenciais que ajudem o brasileiro (aquele que saiu às
ruas em 2016, em gigantescas manifestações) na busca da verdadeira solução dos
nossos problemas.
Saber ver as raízes de uma crise como a nossa já representa
80% da solução e exclui as utopias da esquerda ou da pseudo-direita.
Resta-nos uma pincelada sobre a importância da tradição.
Face às contradições atuais: tradição, por que não?
A tradição não é só um passado. Pelo contrário, ela cabe no
presente. Escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em artigo para a “Folha de
S. Paulo”:
“A verdadeira tradição não é — em princípio — só pelo
passado enquanto passado, nem só pelo presente enquanto presente. Ela pressupõe
dois princípios:
a – que toda ordem de coisas autêntica e viva tem em si
um impulso contínuo rumo ao aprimoramento e à perfeição;
b – que, por isto, o verdadeiro progresso não é
destruir, mas somar; não é romper, mas continuar para o alto.
Em suma, a tradição é a soma do passado com um presente que
lhe seja afim. O dia de hoje não deve ser a negação do de ontem, mas a
harmônica continuação dele.
Em termos mais concretos, nossa tradição cristã é um valor
incomparável que deve regular o que é hodierno. Ela atua, por exemplo, para que
a igualdade não seja entendida como o arrasamento das elites e a apoteose da
vulgaridade. Para que a liberdade não sirva de pretexto ao caos e à depravação. Para que o dinamismo não se transforme em delírio. Para que a técnica não
escravize o homem. Numa palavra, ela visa impedir que o progresso se torne
desumano, insuportável, odioso.4
Vejamos a sábia advertência de Nosso Senhor
“E ninguém deita remendo de pano cru em vestido velho,
porque (este remendo) levaria consigo uma parte do vestido, e ficava pior o
rasgão. Nem se deita vinho novo em odres velhos; doutro modo rebentam os odres,
e derrama-se o vinho, e perdem-se os odres. Mas, deita-se vinho novo em odres
novos; e assim ambas as coisas se conservam”. (Mt 9, 16-17).
Em outras palavras, o tecido velho representa aqui os erros
liberais e petistas que nos têm governado. Saibamos, pois, edificar o novo
Brasil, reconstruir o tecido social com os valores perenes da tradição família
propriedade.
O alicerce de toda civilização é a moralidade: edificando o
novo Brasil
“O alicerce de toda civilização é a moralidade. E quando uma
civilização se edifica sobre os alicerces de uma moralidade frágil, quanto mais
ela cresce, tanto mais se aproxima da ruína. É como uma torre que,
assentando-se sobre alicerces insuficientes, ruirá desde que chegue a certa
altura. Quanto mais se sobrepõem uns andares a outros, tanto mais está próxima
sua ruína. […] O trabalho que a Humanidade tem efetuado desde o século XIV
consistiu em enfraquecer os alicerces e aumentar o número de andares”.5
Desafio à geração atual
Reconstruir o Brasil com base nos valores morais, esses são
os fundamentos do tecido social. Os pilares são: tradição, família,
propriedade.
Não à ideologia de gênero, que desonra a Família.
Não às invasões de propriedade pelo MST e assemelhados,
guiados pela CPT (ramo da CNBB).
Não aos inimigos da tradição cristã brasileira, os quais,
seguindo socialismos, bolivarianismos ou petismos, quiseram implantar aqui a
ideologia igualitária da foice e do martelo.
Não ao esfarelamento da unidade nacional com a criação de
“nações” indígenas e quilombolas como se estes não fossem partes integrantes de
nosso Brasil.
Não àqueles que querem colocar um “remendo” nesse tecido
social apodrecido pela revolução libertária, igualitária e sensual de nossos
dias.
Confiantes em Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do
Brasil, lutemos, rezemos e trabalhemos pelo nosso porvir.
____________
Notas:
São Pio X, Encíclica Il fermo proposito, in ASS, vol 37
(1905) p. 745
São Pio X, Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de Agosto
de 1910, cit., p. 612.
Leão XIII, Encíclica “Rerum Novarum”, de 15 de maio de 1891
– Editora Vozes Ltda., Petrópolis, pág.12.