Total de visualizações de página

segunda-feira, 8 de julho de 2019

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS DÁ CONTINUIDADE À SÉRIE ‘MÚSICA DE CÂMARA NA ABL’, COM O CONCERTO DO ‘QUARTETO DE CORDAS DA UFF’



A série “Música de Câmara na ABL” apresenta concerto do grupo “Quarteto de Cordas da UFF”, intitulado “Teuto-brasilidade”. O evento está programado para o dia 9 de julho, terça-feira, às 12h30, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, 1º andar, Castelo Rio de Janeiro). Entrada franca.

O espetáculo dá continuidade a essa atividade oferecida pela Academia Brasileira de Letras, uma das mais concorridas pelo público e inteiramente grátis. O Presidente da Academia, escritor Marco Lucchesi, fará a abertura da apresentação.

A formação atual do grupo, criado em 1984, é composto pelos instrumentistas Tomaz Soares (1º violino), Ubiratã Rodrigues (2º violino), Jessé Pereira (violista convidado) e David Chew (violoncelista).

Programa


Calimerio Soares
Suite antiga, para quarteto de cordas

Ernst Mahle
Quarteto 1975 C92

Pixinguinha/João de Barro
Carinhoso

Ernst Mahle
Suite “Viajando pelo Brasil”
Eu não vim para ficar (Maranhão)
Menino vá dormir (Sergipe)
Eh, morena (Minas)
São João Dararão (Piauí)
Meu guriabá (Alagoas)
Jacaré (São Paulo)

Tom Jobim/Vinicius de Moraes
Eu sei que vou te amar

Ludwig van Beethoven
Quarteto de cordas em si bemol maior, OP. 18 nº6

Saiba mais

De acordo com os integrantes do grupo, a Universidade Federal Fluminense é a única instituição educacional pública no Brasil a ter em seu quadro funcional um quarteto de cordas com mais de 30 anos de existência, cuja finalidade é difundir obras de repertório universal e brasileiro para esta formação.

O quarteto da UFF foi criado em 1984 e, desde então, a partir de suas várias formações, buscou divulgar, de acordo com seus integrantes, a música de concerto, e realizar um trabalho de pesquisa acerca dos repertórios para formação de público, integrando projetos na própria UFF, como o Festival Conexões Musicais, realizando workshops e master class em outras universidades públicas e se apresentando em espaços culturais, salas de concerto e teatros de Niterói e do estado do Rio de Janeiro.

01/07/2019



* * *

RAUL POMPÉIA, Um impressionista brasileiro


REALISMO IMPRESSIONISTA

QUE É IMPRESSIONISMO?

          Como diz Afrânio Coutinho, o Impressionismo é uma fusão de elementos realísticos e simbólicos. A reprodução da realidade de maneira objetiva, minuciosa, constituía a norma realista; para o impressionista, a realidade ainda é foco de interesse, mas o que ele pretende mesmo é registrar a impressão que a realidade provoca no espírito do artista, no exato momento em que se dá a impressão. O importante não é o objeto e sim as sensações que o objeto desperta num determinado instante. O impressionista capta o instante, o fragmentário, o instável. O tempo constitui, portanto, o elemento básico do movimento.

--------------

UM IMPRESSIONISTA BRASILEIRO

          Raul D’Ávila Pompéia nasceu em Angra dos Reis, província do Rio de Janeiro, em 1863, e faleceu no Rio de Janeiro em 1895.  Estudou no Colégio Pedro II e bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife; iniciara, porém, seu curso em São Paulo, onde militou nos movimentos abolicionista e republicano. Iniciou-se nas letras muito cedo com “Uma Tragédia no Amazonas”, em 1880, novela que, apesar de imatura, já refletia um temperamento angustiado. Essa mesma inquietude, traço fundamental de sua constituição, levou-o a contínuas polêmicas e ao suicídio, aos trinta e dois anos de idade, na noite de Natal de 1895.

          Obras: “Canções sem metro” (1881); “O Ateneu” (1888).

---------------
O ATENEU

          “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”

          “Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, porque me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente que parece o poema dos cuidado maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura a impressão rude do primeiro ensinamento...”

         Estas são linhas iniciais de O Ateneu, um dos romances mais controvertidos de nossa literatura, dada a sua violência e sua difícil colocação em qualquer dos movimentos artísticos do século XIX. Fortemente autobiográfico, trata das experiências frustrantes de um menino no internato do colégio Ateneu. O narrador é o próprio personagem, que evoca a sua vida no internato, e assim o leitor tem a visão de um sujeito adulto que lembra os acontecimentos e não a visão que o menino tinha ao ingressar no Ateneu. O romance é a memória de uma experiência infantil e está carregado com um espírito de vingança feroz. O homem não perdoa aquilo que o sistema do internato fez à sua infância, destruindo-a.

          O livro se compõe de episódios que são desmascaradamentos sucessivos da miséria moral e da corrupção que habita o Ateneu. De uma sensibilidade quase mórbida (ver o trecho acima) o menino percebe angustiado o cair das aparências. Aristarco, o diretor do colégio, que diz velar “pela candura das crianças, como se fossem não digo meus filhos: minhas próprias filhas”, se mostra cobiçoso, cínico e desumano. Os colegas são também figuras insensíveis, brutais. O menino não consegue estabelecer uma amizade profunda. Todas as camaradagens são rápidas, efêmeras e dissimuladas por uma angustiante ânsia de poder e por um homossexualismo evidente.

          O Ateneu supera o Realismo pela presença emotiva e grandiloquente de um narrador. As vibrações sentimentais têm a propriedade de durar na consciência que os recorda, e as lembranças de Sérgio adulto, os momentos que ele guardou do internato são mais emocionais que objetivos. O Ateneu é pura expressão das emoções do narrador, ou seja, de suas impressões emotivas. Assim, o colégio e seus personagens não são encarados com absoluta objetividade. O espírito de vingança, sofrimento e auto castigo de Raul Pompeia não o permitem. As impressões são demasiadamente fortes para que ele seja impessoal. Daí o caráter impressionista de seu romance.

--------------
                                              O INCÊNDIO DO ATENEU

          Dirigi-me para o terraço de mármore do outão. Lá estava Aristarco, tresnoitado, o infeliz. No jardim continuava a multidão dos basbaques. Algumas famílias em toilette matinal passeavam. Em redor do diretor muito discípulos tinham ficado desde a véspera, vigor inabaláveis e compadecidos. Lá estava, a uma cadeira em que passara a noite, imóvel, absorto, sujo de cinza como um penitente, o pé direito sobre um monte enorme de carvões, o cotovelo, espetado na perna, a grande mão felpuda envolvendo o queixo, dedos perdidos no bigode de branco , sobrolho carregado.

          Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor venerada! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu, devastado! O seu trabalho perdido, a conquista inapreciável dos seus esforços!...

          Em paz!...  Não era um homem aquilo: era um de profundis.

         POMPÉIA, Raul – O ATENEU, Ed. Cultrix, São Paulo, 1976, pag. 216.

          =================

Novo HORIZONTE
Literatura – Linguagem – Redação
Izaías Branco da Silva & Braz Ogleari
COMPANHIA EDITORA NACIONAL

* * *