Um homem lúcido
Havia naquela
cidade uma mulher que prometera nunca se casar se isso fosse bom para a
humanidade a fim de conter o aumento populacional. Não eram poucos os
pretendentes, ela era bonita. Não dessas belezas estonteantes, inatingíveis, de
comerciais de tevê, principalmente os que vendem cervejas. Aliás, até hoje me
pergunto a relação entre cerveja e mulher bonita. Porque? Ao olhar para uma
você sente sede? Mas, sede você mitiga com água. E neste mundo corretamente
político pergunto: uma mulher feia não inspira a pessoa a tomar cerveja?
Preconceito? Machismo? Uma cerveja geladíssima pede paisagem deserta, sem fim,
extensão super escaldante. Um lugar onde você precisa caminhar aos pulinhos
para não queimar os pés pede o que? Cerveja geladíssima na mente publicitária.
Faz semanas que
isto me intriga. Penso tanto que meu cérebro ferve, e com os neurônios
queimados o pensamento se torna impossível para mim, preciso me refrescar, fico
desesperado em busca de um oásis, com palmeiras, ou tamareiras, porque me
parece, ou melhor, parece-me que as tâmaras se dão bem em regimes quentes.
O que, pensando
racionalmente, se é que alguém no mundo pensa racionalmente, a não ser os
Inteligentes Artificias que entraram em moda. No entanto, confesso que tenho 87
anos e ainda não encontrei nenhum Inteligente Artificial e me alertaram que se
eu for procurar entre os políticos, aí é que ficarei desiludido. É um desastre.
Súbito, minha
esposa me chama a atenção. Que elocubrações são essas que vejo como legendas na
sua testa? No futuro haverá legendas nas nossas testas. Como pensar que em meio
a um deserto ardente (nada a ver com a Sarça Ardentes bíblica) uma pessoa
apareceria com um isopor cheio de garrafas de cerveja? Para vender a quem?
Imaginou o preço que este ambulante cobraria? Uma exorbitância e ninguém
reclamaria. Claro, sentado em uma duna no deserto, solão ardendo, você
recusaria aquele liquido gelado por causa de uns reais. Uns? Não! Nem dezenas. Centenas. Milhares.
Porque, reconheçamos, vale. Mas talvez pudesse pagar em Drex. A nova moeda que
o Brasil inventou. Sim, mas espere, para sentar-se na areia fervente, será bom
levar uma almofada climatizada, gelada. Ou será catastrófico para o traseiro?
Drex. Já vivi a época do conto de reis, do mil reis, do cruzeiro, do cruzado,
do cruzado novo, do real, da bitcoin. Mas estas serão outras considerações
menos complexas. Não, não tomei ácido, estou lúcido. Como qualquer brasileiro.
Estado de São
Paulo, 09/08/2023
Ignácio de Loyola Brandão - Décimo ocupante da Cadeira 11,
eleito em 14 de março de 2019 na sucessão do Acadêmico Helio Jaguaribe.
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