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sábado, 7 de janeiro de 2017

EPIFANIA: "VIVER EM SAÍDA" - Pe. Adroaldo Palaoro sj

Epifania: "viver em saída"


“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles,
até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,9)

A “travessia” vivida pelos Magos é a mesma que todos experimentamos; somos seres “em saída”, em contínua busca. Quem busca não permanece sentado olhando o teto ou paralisado com o comando da tv na mão; hoje somos milhões de pessoas buscando permanentemente no Google, no Facebook, no WhatsApp..., sentados, parados, anestesiados...

Quem “sai” está deixando sua acomodada segurança, expondo-se ao que não conhece ou lhe dá medo conhecer. Há milhões de pessoas saindo sem pôr os pés na rua, de garagem em garagem, de centro comercial em centro comercial, viajando de metrô com os olhos fixos no celular, transitando por circuitos perfeitamente estabelecidos para não ver o que há mais além do “parque temático” que lhe é apresentado. Há muitos milhões que vivem com uma venda nos olhos, quer estejam em casa ou saiam para fazer exercícios. Quê buscam? Quê as animam a sair? O quê encontram?

O relato dos Magos não faz referência a pessoas concretas, mas a personagens. Não eram reis, mas “magos”, ou seja, sábios que investigavam os céus para entender melhor o que se passava na terra. Porque estavam buscando, descobriram, encontraram. Notemos que são os que estavam longe que descobriram, enquanto que aqueles que estavam próximos do Menino não se inteiraram de nada.

Para descobrir a presença de Deus, o único definitivo é a atitude. Ao descobrir algo surpreendente, puseram-se a caminho. Não sabiam para onde iam, mas arriscaram. No caminho que os Magos percorreram para aproximar-se de Jesus estão representadas as atitudes daqueles que buscavam a Jesus e se aproximavam das primeiras comunidades cristãs para conhecê-lo. E está também representada nossa busca.

O importante, no texto de Mateus, não é deter-nos na veracidade histórica dos Magos, mas descobrir a “pérola preciosa” que o evangelista oferece, tanto para as primeiras comunidades cristãs como para os judeus que se aproximavam para conhecer Jesus através de seu testemunho.

Como eles poderiam situar-se diante do nascimento de Jesus? Segundo o Evangelista, diante de Jesus podem ser adotadas atitudes muito diferentes. O relato dos magos nos fala da reação de três grupos de pessoas. As autoridades religiosas, que conheciam muito bem a lei judaica e sabiam o que significava Belém para a corrente profética, não souberam ler os sinais dos tempos e não puderam encontrar Jesus. A religião, quando se reduz a simples práticas rituais, atrofia a sensibilidade da pessoa, impedindo-a abrir-se às surpresas de Deus.

O poderoso rei Herodes, preocupado em preservar seu poder, só vê perigo diante de qualquer situação diferente. Nenhum poder é mediação para deixar-se provocar pelo novo. Somente alguns pagãos, guiados pela pequena luz de uma estrela, buscaram, puseram-se em marcha e encontraram Jesus.

O relato é desconcertante. Deus, escondido na fragilidade humana, não é encontrado pelos que vivem instalados no poder ou fechados na segurança religiosa, mas se revela àqueles que, guiados por pequenas luzes, buscam incansavelmente uma esperança para o ser humano, na ternura e na pobreza da vida.

Os Magos não pertenciam ao povo eleito, não conheciam o Deus vivo de Israel. Nada sabemos de sua religião nem de seu povo de origem. Só sabemos que eles viviam atentos ao mistério que se encerra no cosmos. Seu coração buscava verdade.

Em algum momento acreditaram ver uma pequena luz que apontava para um Salvador. Precisavam saber quem era e onde estava. Abriram-se à luz da estrela e rapidamente puseram-se a caminho. Seria uma perda de tempo? Valia a pena fazer a travessia? Não conheciam o itinerário preciso que deveriam seguir, não sabiam para onde a estrela os conduziria e o caminho implicava riscos. Mas em seu interior ardia a esperança de encontrar uma Luz para o mundo.

Quando os Magos se desviaram da rota de Belém e entraram em Jerusalém para perguntar onde é que estava o rei dos judeus recém-nascido, a estrela desapareceu de suas vistas, como que indicando que não é na riqueza e no luxo das cortes que a Luz de Deus brilha para os corações. A estrela também moveu os magos a que deixassem de olhar para ela; que olhassem antes para o lugar, na Terra, para onde ela apontava e sua luz iluminava. Pois é na simplicidade e pobreza de uma criança que resplandece a luz de Deus.

Os magos não caem de joelhos diante de Herodes: não encontram nele nada digno de adoração. Não entram no Templo grandioso de Jerusalém: tem acesso proibido. A pequena luz da estrela os atrai para o pequeno povoado de Belém, longe de todo centro de poder. Ao chegar ao lugar indicado, vêem somente o “menino com Maria, sua mãe”. Nada mais. Um menino sem esplendor nem poder algum. Uma vida frágil que necessita dos cuidados de uma mãe. É suficiente para despertar nos magos o assombro.

Eles prostram-se e adoram o Menino Jesus. Cena poética onde Mateus nos ajuda a romper nossos esquemas mentais. Aqueles que conheciam as escrituras de memória e sabiam interpretá-las não vão ao encontro de Jesus. Aqueles que sabem ler as estrelas são capazes de ver mais além das aparências. E o que veem nesse Menino é tão profundo que caem prostrados, tiram seus tesouros, esvaziam-se e enchem-se da nova Luz descoberta.

Foi assim que a longa jornada dos Magos começou seguindo o caminho que a luz da estrela indicava. E ao final de longa peregrinação chegaram ao lugar procurado. “Banhado pela suave luz da estrela, em meio a vacas, jumentos e palha, se encontrava um nenezinho. Eles, então, foram iluminados. Não pela luz da estrela, mas pela luz da criança. Perceberam que sua busca havia chegado ao fim. Aquilo que os adultos esqueceram e que a sabedoria busca – as crianças sabem.

Ser sábio é ser criança. O universo é um berço onde dorme uma criança. E desde aquele dia eles deixaram de olhar para as estrelas e passaram a olhar para as crianças.

Os sábios vêem o avesso. O avesso é esse: os adultos são os alunos; as crianças são os mestres. Por isso os magos, sábios, deram por encerrada a sua jornada ao encontrarem um menino numa estrebaria...

No Natal, todos os adultos rezam a reza mais sábia de todos, escrita pela Adélia Prado:

     “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande...”     (Rubem Alves)

Texto bíblico:  Mt 2,1-12

Na oração: Inspirados nos Magos, que descobriram sinais e começaram um caminho de busca, podemos nos perguntar: quê sinais descobrimos durante o ano de 2016? Para onde nos conduzem esses sinais, como se fossem estrelas? Eles nos fazem sair de nossa “zona de conforto”, de nossas seguranças...? Eles nos ajudam a priorizar a viagem ao interior de nós mesmos?

- A estrela que seguimos nos mobiliza ter acesso à nossa “gruta” interna, onde nova vida pulsa por nascer, ou preferimos alimentar uma multidão de contatos superficiais através das redes sociais, afogando-nos nas experiências de solidão?

- Nossas “viagens” despertam o espírito solidário e nos comprometem a responder às necessidades dos mais frágeis ou permanecemos confinados em nós mesmos, “adorando” nosso “ego”?



Pe. Adroaldo Palaoro sj

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UMA BOA NOTÍCIA - Rosiska Darcy de Oliveira

Uma boa notícia 


O último dia do ano não é o último dia do tempo. Foi Carlos Drummond de Andrade quem me ensinou.

Foi-se um ano sofrido. A memória, parceira obrigatória da vida vivida, nesse dia pede um balanço de lucros e perdas. Há no ar, e nos implacáveis números das pesquisas, tristeza, desencanto e pessimismo. Quem se orgulhava do Brasil não se orgulha mais. O que é injusto com os brasileiros, jogados no purgatório das privações e incertezas.

O ano termina sobre as ruínas da crise mais grave de nossa historia. O cenário mundial é assustador. Vivemos um tempo de jogadas sinistras, de ídolos espatifados, tempos de grandes desilusões. A desordem dos acontecimentos de hoje não se parece com a de ontem, e o futuro não promete nada de previsível. O que vivemos hoje é um enigma ainda não decifrado.

Folheamos os livros que nos ensinaram tudo que sabíamos com um sorriso amargo, pena de nós mesmos e dos mestres em quem confiamos. Nesses dias de feriados e arrumações, eles nos olham das estantes, desolados, como fantasmas que, à noite, passeiam pelos quartos e salas preferidas da casa. E são eles que melhor testemunham nosso desvalimento, agora que vivemos longe da segurança que nos davam e pela qual vestimos um luto secreto. Não há mais caminho das pedras, e vamos nós mesmos, canhestramente, espalhando as pedras frágeis em que tentamos pisar.

Hoje, a crise dói: desemprego, saúde em risco, insônia, medo e miséria não retratam um fracasso individual, como tantos sentem, e sim um drama coletivo. Que não durará para sempre. Quem já enfrentou uma doença grave — em si ou numa pessoa querida — sabe que há recursos desconhecidos, nunca antes mobilizados, que vêm à tona e nos ajudam a enfrentar esses momentos críticos. Os brasileiros têm uma longa história de resiliência.

É longo o inventário das perdas, mas também o do que está preservado. O que interessa lembrar é o que fica imune à crise, tudo que ela não pode confiscar, e que nos faz resistir à depressão e ao desalento. Cada um tem presente em sua vida um patrimônio imaterial com que pode contar.

Assim como o dinheiro não compra tudo — o tempo, por exemplo, a morte não vende —, há bens que independem dele, a exemplo dos vínculos afetivos profundos, como amor e amizade, os círculos de confiança onde esses sentimentos se produzem, onde a roda da vida cria e reforça laços.

As alegrias da solidariedade, aquela que faz o nadador atirar-se ao mar para resgatar o afogado ou alguém entregar as suas veias para, com seu sangue, prolongar uma vida desconhecida. A alegria das esperanças compartilhadas em torno de um projeto comum, que faz sentido — fazer sentido é de fato um fazer — e traz o sentimento cálido de pertencimento.

Tudo que não é passível de monetarização — alguns economistas dirão que tudo tem um preço, mas isso é problema deles — continua a existir e é fonte de prazer e de sentido para a vida. Pensar no que somos fora do dinheiro que temos ou não temos pode ser um exercício inédito de escapar da lógica econômica que torna invisível tudo que não anuncia seu preço e vai pouco a pouco se apropriando de todos os aspectos da existência, até definir cada um pelo que ganha ou deixa de ganhar. Nível de vida passou a ser sinônimo de nível de renda.

Essa lógica não é alheia à epidemia de corrupção que levou nosso país à ruína e homens desmoralizados, de cabeça baixa, às grades das prisões. A fidelidade a valores dos muitíssimos que não mentiram, não roubaram, não jogaram dinheiro no mar é um capital inestimável, razão de justificada autoestima.

Assim como a lógica econômica dita uma visão de mundo redutora, outra lógica perversa, a do charco em que mergulhou a política, ao penetrar cada recanto do cotidiano, incitando ódios, separando amigos, vai envenenando as possibilidades de esperança.

A crise ameaça expropriar até mesmo a esperança de ser mais feliz que sempre anima um novo ano. Paralisa com o risco do autoengano. Quer tornar ridículo o brinde da meia-noite. Inúteis, as rosas jogadas ao mar. Mas a esperança tem uma natureza imbatível, ela que, quando um cansaço imenso invoca o testemunho da memória para defender renúncias, caminha para o quebra-mar, olha o horizonte de um novo ano e, antes de mergulhar no futuro, anuncia: tenho uma boa notícia. E todos olham para ela porque é ela que se quer ouvir. A notícia é sucinta: estamos vivos.

Peço a benção, nessa passagem do ano, a Carlos Drummond de Andrade: “Recebe com simplicidade esse presente do acaso/ Mereceste viver mais um ano”.

Que seja um Ano Novo feliz.

O Globo, 31/12/2016




Rosiska Darcy de Oliveira - Sexta ocupante da cadeira 10 da ABL, eleita em 11 de abril de 2013. É escritora e ensaísta. Sua obra literária exprime uma trajetória de vida. Foi recebida em 14 de junho de 2013 pelo Acadêmico Eduardo Portella, na sucessão do Acadêmico Lêdo Ivo, falecido em 23 de dezembro de 2012.

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CURIOSIDADES SOBRE MONTEIRO LOBATO

Curiosidades

Vamos então saber um pouco mais sobre esse grande autor brasileiro.

Você sabia?...


• Aos 9 anos, ele resolveu trocar de nome. De José Renato Monteiro Lobato ele passou a se chamar José Bento Monteiro Lobato. Fez isso para usar uma bengala de seu pai que tinha as iniciais J.B.M.L. gravadas.

• Monteiro Lobato começou a escrever aos 14 anos, quando publicou sua primeira crônica para o jornal O Guarani.

• Além de escritor, Monteiro Lobato foi fazendeiro de café, desenhista, pintor, pesquisador de babaçu, adido comercial do Brasil nos Estados Unidos, industrial e editor.

• Sua primeira editora, a Monteiro Lobato & Cia., foi criada em 1919, quando havia pouco mais de 30 livrarias na época. Ele foi aos Correios e conseguiu uma listagem de pequenos negócios espalhados por todo o país. Despachou lotes de livros junto com uma carta. Oferecia o produto consignado e uma porcentagem nas vendas. Foi então que nasceu sua célebre frase "Um país se faz com homens e livros".

• Jeca Tatu apareceu pela primeira vez nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo, em 1918. Depois fez parte do livro Urupês, publicado em 1919. Mas o personagem ganhou fama quando foi citado por Rui Barbosa numa conferência.

• Monteiro Lobato enviou uma carta ao presidente Getúlio Vargas, criticando a política brasileira de petróleo e as torturas do Estado Novo. Foi preso em 20 de março de 1941. Cumpriu três meses dos seis a que fora condenado.

• Dois dias antes de sua morte, em 5 de julho de 1948, Monteiro Lobato declarou numa entrevista: "Meu cavalo está cansado e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula ou ponto final".




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ITABUNA CENTENÁRIA SORRINDO - Taboca Grande & Taboquinhas

Taboca Grande & Taboquinhas


Quando o arraial era conhecido pela denominação de “Tabocas”, a parte que ficado do lado de cá do ribeirão do Lava-pés, compreendendo Rua Miguel Calmon, Largo da Matriz, Rua da Areia e imediações, era chamada de “Taboca Grande” e a parte depois do dito ribeirão, Rua Barão do Rio Branco, Floriano Peixoto, etc., era conhecida como “Taboquinhas”.

Contam que nessa época, uns frades italianos aqui estiveram pregando uma Santa Missão. Um deles, no seu sotaque estrangeiro, ao fazer um aviso aos fiéis, assim se expressou:

- Amanhã, à tarde, haverá confissão geral para as “muiéres” das Tabocas grandes e à noite, para os “homes” das Taboquinhas...



Extraído do livro DOCUMENTÁRIO HISTÓRICO ILUSTRADO DE ITABUNA de José Dantas de Andrade.

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