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domingo, 24 de julho de 2022

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Meu Desejo - Álvares de Azevedo

 



Meu Desejo

Álvares de Azevedo

 

Meu desejo? Era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta;
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta.

Meu desejo? Era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra;
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra.

Meu desejo? Era ser o cortinado
Que não conta os mistérios do teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? Era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escumilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? Era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...

Meu desejo? Era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!

 


Álvares de Azevedo (1831 - 1852) foi um escritor brasileiro que pertenceu à segunda geração do romantismo, também conhecida como fase ultrarromântica ou "mal do século".

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