Luiz Sérgio Solimeo
Os católicos argentinos deram um exemplo para o mundo ao
lutar valentemente contra a legalização do aborto [fotos acima e abaixo].
Entretanto, eles não tiveram o apoio do papa argentino, uma vez que a agenda
dele não inclui tais preocupações. Com efeito, o silêncio do Papa Bergoglio a
propósito da legalização do aborto no seu país foi chocante.
Por exemplo, o Prof. José Arturo Quarracino destaca que em sua última mensagem de Natal, o Papa Francisco falou sobre os problemas de vários países, mas não disse palavra sobre a Argentina, sua terra natal. Ele ressaltou que esta indiferença confirma o que se comenta entre os bispos e padres amigos de Bergoglio, ou seja, que o aborto não é assunto tão importante como o meio ambiente ou os migrantes.1
Esse silêncio é ainda mais inexplicável considerando que o
Papa tem boas relações com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Este,
pouco depois de ser eleito, foi calorosamente recebido por Francisco [foto ao
lado].
Por sua vez o Prof. Rubén Peretó Rivas escreveu: “O presidente argentino, Alberto Fernández, foi quem promoveu a lei e se comprometeu a pressionar pessoal e insistentemente vários legisladores para que mudassem de voto e permitissem sua aprovação [do aborto]. É o mesmo presidente que foi saudado com complacência e largos sorrisos pelo Sumo Pontífice em 31 de janeiro de 2020, o mesmo que naquele dia assistiu à missa celebrada pelo Arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo para ele e seus acompanhantes na cripta da Basílica do Vaticano — onde se encontra o túmulo de São Pedro — onde comungou com a sua concubina, a ex-showgirl Fabiola Yañez”.2 Afinal, estamos no tempo de Amoris Laetitia…
O Papa Francisco, em cartas privadas às pessoas que o
consultaram sobre o seu pronunciamento de o aborto não ser principalmente uma
questão religiosa religiosa, repetiu a sua declaração.3 Essa postura
sugere que não se deve empreender uma luta religiosa para bloquear a
legalização desse pecado grave. Numa dessas cartas — embora privada, foi
publicada pela Conferência Episcopal Argentina — o Papa afirmou: “A [uma
carta] me perguntando sobre o problema do aborto, eu respondi […] [que] o
assunto do aborto não é principalmente uma questão religiosa, mas humana, uma
questão de ética humana anterior a qualquer confissão religiosa”.4
E prosseguiu sugerindo que argumentos não religiosos sejam
usados na luta contra o aborto: “Sugiro que você se faça duas perguntas: —
É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? — É justo contratar
um assassino para resolver um problema?”5 Uma
coisa é utilizar tanto argumentos religiosos quanto os de bom senso. Outra é
dizer que o aborto não é principalmente uma questão religiosa.
Em questões morais, como o aborto, o argumento mais decisivo
é o religioso, pois coloca a pessoa diante de seu destino eterno, seu fim
último. Isso é especialmente verdadeiro em um país católico como a Argentina.
Afirmar que o aborto não é fundamentalmente uma questão religiosa é negar que
ele, acima de tudo, é uma grave ofensa a Deus. É a morte deliberada de um ser
humano inocente. É um dos quatro pecados que clamam ao Céu por vingança.6
Além disso, o aborto vai contra a infinita sabedoria de Deus
ao vincular a relação sexual natural à procriação da humanidade. Também vai
contra Sua adorável vontade, que determina que o ato sexual deve ser realizado
apenas no casamento e sem interferências que o tornem infrutífero. O aborto é,
portanto, uma revolta contra Deus, “aversio a Deo, conversio ad creaturam” —
afastar-se de Deus, voltar-se para algum bem criado — como Santo Agostinho
definiu o pecado.7
A mulher que procura um aborto voluntariamente, e a equipe médica que o pratica, pecam por ação. Quem deveria se opor à legalização do aborto e não o faz, peca por omissão. Santo Tomás de Aquino afirma que ser negligente em “um ato ou circunstância necessária à salvação é um pecado mortal”.8 O aborto é um pecado mortal extremamente grave. Além de uma ofensa grave contra Deus, tem consequências na vida moral e social de um povo.
Assim, aqueles cuja missão é guiar, sobretudo
espiritualmente, e não se opõem de modo ativo ao aborto, mas se limitam a
declarações ambíguas ou oposição branda, desproporcional à situação, cometem um
pecado grave. Sua omissão contribui para que o pecado do aborto provocado se
generalize. Ajuda a fazer com que o crime pareça “normal”, levando muitos a
pecar.
O Papa São Félix III já advertia no século V, que “um
erro ao qual não se opõe, é considerado aprovado; uma verdade defendida de modo
minimalista, é abolida […]. Quem não se opõe a um crime evidente, está sujeito
à suspeita de secreta cumplicidade”.9
As autoridades religiosas que não combateram a legalização
do aborto neste país católico como era seu dever, devem prestar contas a Deus
por sua responsabilidade neste pecado nacional. “Que fizeste? A voz do
sangue de teu irmão clama da terra por mim” (Gênesis 4,10).
______________
Notas:
- Marco
Tossati, “Quarracino. Aborto en Argentina: la Indiferencia del Papa
Bergoglio,” Stilum Curiae, Dec. 26, 2020, https://www.marcotosatti.com/2020/12/26/quarracino-aborto-en-argentina-la-indiferencia-del-papa-bergoglio/.
- See
Aldo Maria Valli, “L’aborto in Argentina e gli amici di papa
Francesco,” AldoMariaValli.it, Dec. 30, 2020, https://www.aldomariavalli.it/2020/12/30/laborto-in-argentina-e-gli-amici-di-papa-francesco/.
“Presidente argentino concubino y abortista recibe la Comunión en el
Vaticano (Vídeo)”, https://gloria.tv/post/hwVfRJqDfVYR343VMcFmfztU8,
acessado em 13 de Jan.de 2021.
- Elisabetta
Piqué, “Fuerte condena del papa Francisco al aborto: ‘¿es justo cancelar
una vida humana para resolver un problema?’” La Nación, Jan.
10, 2021, https://www.lanacion.com.ar/politica/fuerte-condena-del-papa-al-aborto-es-nid2566081.
- Conferencia
Episcopal Argentina, “Carta del Papa Francisco a sus alumnos y compañeros
de colegio,” Episcopado.org, Dec. 5, 2020, https://episcopado.org/contenidos.php?id=2707&tipo=unica.
- Ibid.
- “8.
P: Quais são os pecados que bradam ao Céu e pedem a Deus por vingança? –
R: Os pecados que bradam ao Céu e clamam a Deus por vingança são quatro:
1º. Homicídio voluntário; 2º. Pecado impuro contra a natureza; 3º.
Opressão dos pobres, principalmente órfãos e viúvas; 4º. Não pagar o
salário a quem trabalha. P: Por que se diz que estes pecados pedem
vingança a Deus? Porque o diz o Espírito Santo, e porque a sua malícia é
tão grave e manifesta, que provoca o mesmo Deus a puni-los com os mais
severos castigos” (Catecismo Maior de São Pio X, Diocese de Campos, RJ).
- Battista
Mondin, Dizionario Enciclopedico del Pensiero di San Tommaso
d’Aquino (Bologna: Edizione Studio Domenicano, 1991), 445.
- Summa Theologiae,
II–II, q. 54, a.3, c.
- Citado
por Leão XIII na Encíclica Inimica vis (Sobre a Maçonaria), 8
Dez.1892, no. 7. http://www.vatican.va/content/leo-xiii/en/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_08121892_inimica-vis.html
https://www.abim.inf.br/aborto-nao-e-uma-questao-religiosa/