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domingo, 5 de dezembro de 2021

Passaporte da vacina: a luta contra a criação de um apartheid no Brasil

O ROMANCE AUDACIOSO DE ASSIS BRASIL – Cyro de Mattos


O Romance audacioso de Assis Brasil

Cyro de Mattos


          Quando Assis Brasil estreou no romance com Beira rio, beira vida (1965), já era conhecido nos meios literários do Rio como crítico atuante de jornais e revistas importantes, além de ser visto como conceituado ensaísta do livro Faulkner e a nova técnica do romance. Editava o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB), do qual era colaborador assíduo com ensaios e artigos, no período compreendido entre 1956 a 1961. A atuação constante do ensaísta e crítico fizera com que durante largo tempo o escritor esquecesse a experiência existencial ligada às raízes na terra natal, importantes vivências que poderiam ser transformadas em ficção de alto nível. 

          Beira rio, beira vida rendeu-lhe o Prêmio Nacional WALMAP, o maior e mais prestigiado na época. Seu autor informava, em depoimento à imprensa, que nesse romance vigoroso deflagrava o processo estético da tetralogia piauiense, constituída a seguir com os livros A filha de meio quilo, O salto do cavalo cobridor e Pacamão. Ficava visível na escrita contundente que a tetralogia formava um dos mais vastos painéis de denúncia social do Brasil arcaico encravado no Piauí. Revelava um narrador seguro, que se apresentava com um projeto dotado de técnica inovadora, de rico conteúdo na denúncia social equilibrada, sem que fosse nas linhas traçadas da realidade impiedosa um autor panfletário, favorecendo o ideológico em prejuízo do estético. 

          Assis Brasil dedicou-se durante dez anos ao projeto da tetralogia, comprometido em projetar o que viveu na problemática social da terra natal em matéria ficcional, dotada de feição humanista com engajamento implícito na solidariedade social, tendo como vínculo de gravidade a dura existência de mulheres largadas ao azar, estagnadas na vida áspera sob o peso da vida. Criaturas que eram procuradas no cais do Parnaíba para suprir na cama carências dos marujos de água doce. Mulheres infelizes, fundadoras de uma dinastia em que o destino não dava trégua ao círculo inevitável de infelicidade, que lhes impingia o gosto da tristeza nos dias.

           Com um ritmo veloz, centrado no drama, livre da sequência cronológica linear e  da onisciência narrativa do romance convencional,  em que o autor é o que sabe tudo sobre os personagens, imprimindo  sua impressão digital na escrita como um controlador exclusivo do plano previsível do que deve acontecer no desenvolvimento do enredo,    Beira rio, beira vida mostrava-se como resultado de uma imaginação audaciosa, técnica inovadora bem-sucedida, texto contemporâneo contrário aos tipos estereotipados na forma de narrar da  ficção brasileira. 

          De curtos trechos, diálogos cerrados, convincentes espaços, usando silêncios  imprescindíveis, ligeireza nos trechos. A narrativa de textura nervosa informava o necessário do que pretendia expressar na ideia tecida de sentimentos dolorosos, pensamentos com um ritmo nada agradável suscitando uma realidade dura, na teia armada de situações críticas. Com peculiaridades instigantes na forma romanesca de narrar, contemporâneos modos de apreender a lembrança tornada cena no detalhe, surgia esse romance arguto na denúncia social com uma estrutura plural tanto no significado como no significante.  Vinha estruturado no texto coeso com felizes soluções, surpreendentes efeitos no movimento, que se aglutinavam na desenvoltura da trama impregnada de sofrimento. Impressionantes lances do enredo preenchiam-se de ideias nítidas, apropriada cadência fragmentada na entonação ausente de ternura, na rude   verdade dos enleios e anseios, que assinalavam desabafos, choros e gritos.

          De vozes solitárias ecoava o gesto perverso nas rações diárias, simbolizadas pela vida impotente diante da realidade cruel, sem brilho, fomentada na sina lastimável de mulheres que viviam no cais envelhecendo, no tempo igual, sem cura, onde tudo acontecia com o sofrimento. A intensidade conferida com clareza por cada recorte da existência lembra Calvino na proposta do milênio. Leveza e concisão na linguagem de fácil acesso, rapidez e precisão como ingredientes eficazes para o desdobramento do enredo.

       Assis Brasil denuncia em Beira rio beira vida o drama de mulheres marginalizadas,  suas relações agudas com a  paisagem humana e física do rio, descendo na água barrenta, nas travessias com as canoas, as balsas, os navios-gaiolas, o delém, delém das sinetas;  no  deslize rotineiro das embarcações as cargas de arroz e algodão,  transporte de gente simples, marinheiros que sempre vinham jantar  com a mesma farda vistosa, branca, de botões dourados, o inseparável dolmã, o quepe azul, o talabarte brilhante.

          Romance que toca com sensibilidade apurada nas feridas sociais, faz emergir as verdades com sensações de um tempo invariável onde habitam criaturas que sentem bater o coração em dó e tristeza. Conta o drama de mulheres, que, de mãe à filha, ocupam um destino estipulado pelo rio da vida, sem perspectiva de fuga, desprotegidas na rotina sofrida.   

“Vergonha, humilhação, por quanto tempo? Os mesmos atos, palavras – uma submissão completa. Assim, assim, nada mudava, todos sabiam e aceitavam, a vida era aquela, botar os passos no rumo e pronto. Eles nasceram na cidade para dar esmolas, elas nasceram no cais para receber.” (página 65, ano 1965).

        Cremilda, Luiza, tempo de solidão, cenas caracterizadas na saga do destino marcado na dura profissão de humildes prostitutas do cais, mal a noite caía. E Mundoca, que não se interessava por homens, não esperaria em vão com a barriga  cheia. Havia pegado o vício de fumar o cachimbo desde cedo. E Jessé e Nuno, personagens absorvidas pelos lances aventureiros da vida, que também compartilham dessa saga atravessada com tristeza e revolta pela imaginação audaciosa e técnica que renova a estrutura da narrativa brasileira. 

          Entra no conjunto das personagens desse romance de província uma protagonista passiva, que não fala, não ouve, vestida de pano feito com retalhos coloridos. A boneca Ceci recebe tratamento cuidadoso de Luíza, porque sabe como ela consola quando se busca apoio para sublimar lembranças de coisas amargas, remoídas com sentimentos que porejam nas pulsações de feridas abertas.

          Assis Brasil serve da personagem Luíza para montar a história das prostitutas no cais do Parnaíba e ela própria, como figura central do drama, cria os outros personagens, fazendo com isso que a nervura da trama ganhe em autonomia e intensidade dramática. A mãe contava uma história quando estava bêbada. Ela ouviu da avó, se referindo a outra pessoa.  Era a mais bonita mulher do cais, tinha casa própria, muitos vestidos e admiradores tantos. Um dia um moço da cidade, de família rica e conhecida, se apaixonou por ela, causando grande escândalo. De tanto repetir a história, terminou por ficar entendendo tudo. Um marinheiro amigado com a mulher matou o pobre rapaz. Diziam que o pai mandou matar o próprio filho e botar a culpa na mulher, que foi presa. Na cadeia, toda noite, quando a cidade dormia, gritava e chorava alto. Um dia descobriram que a mulher estava de barriga, passando os meses atormentada na cela. Gritava e chorava, maldizendo a filha que estava para ser parida, para que a cidade toda ouvisse o sofrimento e não dormisse. Do marinheiro assassino nunca se soube.

           Nuno fora o primeiro e verdadeiro amor de Luíza, do encontro dos dois no camarote do navio-gaiola, quando ela era jovem, nascera Mundoca. Ele fora o primeiro a lhe pagar. A cédula de vinte mil réis era um presente para ela comprar o que mais quisesse, embora o que mais quisesse era que ele ficasse uma porção de tempo ou quando voltasse que fosse para sempre. Guardara o dinheiro sem jeito, não querendo que ele notasse sua tristeza. Guardara como um presente. Viriam outras cédulas, de outros homens, acompanhados com as sombras de Nuno. O tempo passava, ia conhecendo outros marinheiros, os retratos deles afixados na parede, como fizeram a bisavó, a avó, a mãe.

          Em todos os traços, de um homem que gostava da aventura na vida, ela amara Nuno como nenhum outro. Os cabelos crespos, o rosto rústico de marinheiro, a pele tostada, a barba entranhada na pele, dando coloração azul no queixo. A boca diferente dos beiços de Jessé – firme, altiva nos dentes enfileirados, certos, alvos. Jessé sempre lhe pareceu com uma boca de velho, beiço caído, uns cacos estragados nas gengivas à mostra – a dentadura nova o fizera bicudo, cuspindo as palavras com uma feição grotesca e modo esquisito de dizer a vida.  

      Olhava um, que era Nuno, afogada na ilusão, e via o outro, Jessé, o amigo de brincadeiras na infância como livre expressão de inocência pura. Crescera ao seu lado como guia e protetor, nutrindo por ela com o tempo o sentimento do amor. Era   correspondido com os risos de afeição, relações de uma amizade boa feita nas corridas pelo mato para saber quem chegava primeiro. Encontros com os passos despreocupados aconteciam pela rua quieta do cais, debaixo do sol que aquece, no sopro do vento que ameniza.   

       Mundoca era uma figura estranha, não tinha interesse por marinheiros, jamais conhecera Nuno, jamais esperaria de barriga grande, seguindo a sina de sofrer aquele sofrimento terno, “aquela saudade boa, o choro de uma infelicidade doce.”  Perguntava à mãe quem era o pai, perguntava, perguntava, até que um dia soube dela a verdade num desabafo misturado de dor e lembrança. Ouviu que era o Nuno, ficando surpresa na revelação súbita, frustrada por saber que não justificava a ausência paterna durante tanto tempo. Ele nunca voltou para Luíza, depois de anos que vivera com o coração pulsando na ilusão da espera.

         E Mundoca, numa mistura de perversidade e tristeza, quando enterraram a velha, disse:

         - Quantos não passaram por cima dessa pobre.

            A acusação ressoava grave, como anotação desconfortável dirigida à mãe, à avó, à bisavó, a toda família que se reproduziu no ciclo da prostituição, nas submissões diárias da derrota, das amargas procedentes das aspirações sociais que não vingavam, o coito exasperado no armazém através daqueles homens conhecidos, com gestos conhecidos que sumiam uma vez consumados. Era tudo agora lembrado como notas do argumento solitário, desgastante ali mesmo   na beira do cais. Na saga que perfurava com choros e gritos, o tempo era indiferente, não dava descanso aos cortes da dor.  Os meses passavam em dó nas vidas vendidas para o dinheiro, envelhecendo sem cura, sem volta no tempo que tudo sabe, lambe o sal e escorre sua neutralidade perene na paisagem subvertida dos dias saudáveis, estes que confortam nessa hora leve do sono desfrutado pelos justos.    

              Assim se externa numa dinâmica que aflige o romance Beira rio, beira vida, sem forçar as notas. Tem sua ordem formal contemporânea, personalidade gritante que transcende da vida nada fácil de mulheres humildes, amassadas nas dobras opressivas do tempo, que não muda, pois na temperança do feio e belo ao mesmo tempo dá permanência a uma criação artística realizada com sobras no acerto. Procede da palavra insuspeita no texto intocável porque operado com habilidade e talento.  De tanto saber o lado ruim da canção, da vida que ventava entre pobres mulheres com os sopros do não.

               

Leitura sugerida

ASSIS Brasil. Beira rio, beira vida, romance, edição O Cruzeiro, Rio, 1965.

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Cyro de Mattos é escritor e poeta. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Possui prêmios literários expressivos no Brasil e exterior. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (248)


2º DOMINGO DO ADVENTO 05/12/2021

Anúncio do Evangelho (Lc 3,1-6)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor!

No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto.

E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todas as pessoas verão a salvação de Deus’".

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:


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A provocante voz que vem do deserto

 


“Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor’” (Lc. 3,4)

 

Estamos no tempo do Advento, alimentando uma esperança ousada; para isso, é preciso fazer descer ao nível do chão o orgulho de nossos montes elevados, a presunção de nosso ego inflado, a altura de nossa vaidade...

O pano de fundo deste tempo litúrgico é a experiência bíblica do deserto, lugar onde podemos nos sintonizar com Deus, escutar melhor o seu chamado para sermos presenças inspiradoras neste velho mundo.

Deserto passa a ser tempo de purificação e de vida em marcha: somos povo peregrino deixando-nos conduzir  somente por Deus. O deserto é território da verdade, o lugar onde vivemos do essencial. Ali não há lugar para o supérfluo; ali não podemos viver acumulando coisas sem necessidade; ali não é possível o luxo nem a ostentação.

O decisivo é discernir e buscar o melhor caminho para orientar nossa vida em direção à “Terra Prometida”. 

De maneira solene, o evangelho deste domingo apresenta o início da atividade de João Batista, situando nas coordenadas concretas de tempo e lugar, os acontecimentos que marcarão a história da humanidade. O evangelista Lucas tem interesse em destacar os nomes dos personagens que controlavam, naquele momento, as diferentes esferas do poder político e religioso; são aqueles que planejam e dirigem tudo.

No entanto, o acontecimento decisivo de Jesus Cristo foi preparado e aconteceu fora dos espaços de influência política e religiosa, sem que os poderosos percebessem o que estava acontecendo nas periferias da história.

Assim, a Graça e a Salvação de Deus banham a história a partir de baixo, dos últimos. O essencial não está nas mãos dos poderosos; eles que controlam as diferentes esferas do poder político e religioso, aqui não decidem nada.

É nesse contexto que Lucas afirma com toda firmeza que “a Palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto”. Não em Roma, nem no recinto sagrado do Templo de Jerusalém, mas no deserto. João Batista não é um funcionário do Templo, é um profeta. As instituições e o poder não querem profetas em suas fileiras: homens que pensem, que anunciem, deem ânimo ao povo, ou que denunciem as mazelas do poder desumanizador. 

Por isso, muitos profetas aspiravam tanto o deserto, símbolo de uma vida mais despojada e melhor enraizada no essencial, uma vida ainda sem estar “distorcida” por tantas infidelidades a Deus e tantas injustiças com o povo. Neste marco do deserto, o Batista anuncia o símbolo grandioso do “batismo”, ponto de partida de conversão, purificação, perdão e início de vida nova. 

Voltar ao deserto: esta é a mensagem chave deste segundo domingo do Advento. Trata-se de aprender a simplificar, centrando-nos no essencial, pois só com o essencial podemos viver no deserto, sem adornos falsos, sem complexos de superioridade. Esta é a maior graça que Deus pode nos comunicar: conduzir-nos de novo ao deserto, para simplificar, para dialogar, para partilhar... Voltar ao deserto para renunciar as comodidades falsas, para sermos nós mesmos, esvaziar-nos e assim poder viver simplesmente como humanos.

É do deserto que surge uma nova “voz”: desafiante, mobilizadora, que nos traz para o essencial; voz que tem forte ressonância em nosso coração.

Estamos imersos numa confusão de vozes que nos distraem, nos saturam e nos fazem viver na superficialidade. As vozes barulhentas que procedem dos grandes centros de poder e dos meios de comunicação são vozes ocas, estéreis, sem consistência, e que se dispersam no ar. Com isso vamos perdendo a sensibilidade para captar as vozes delicadas que procedem do mais profundo de nós mesmos.

A realidade na qual vivemos clama por vozes corajosas, que despertem a vida, as consciências e apontem para um horizonte de sentido. Estamos saturados de vozes carregadas de morte, de ódio, de intolerância... 

O Tempo do Advento é um forte apelo de retorno ao coração. Só a voz que vem “lá das quebradas do deserto” é capaz de sintonizar-se com as tênues vozes que brotam do nosso ser profundo; “Voz divina” que desperta nossas vozes. Só ela é capaz de ativar nosso ser original, mobilizar nossos recursos, desbloquear nossa vida, desencadeando um movimento inovador que nos faz entrar em comunhão com todos e com o Todo.

Para ouvir a desafiante voz do Batista é preciso deslocar-nos para o deserto, sair dos espaços fechados e atrofiados. O lugar determina nossa maneira de pensar, de sentir, de amar. A voz que vem dos amplos espaços do deserto tem um impacto rompedor nos nossos espaços rotineiros (físicos, afetivos, psicológicos, sociais, religiosos...); assim, somos impulsionados a sair daquilo que nos dá a sensação de segurança e conforto. Advento não é para acomodados! É para os(as) inquietos(as).

Só o encontro com a “voz” do Precursor pode quebrar o modo arcaico e petrificado de pensar, viver e amar. Só o encontro das duas vozes reacende em nós o desejo de uma transformação contínua.

Sabemos que a “voz” não é só expressão de uma interioridade, articulando sentimentos, pensamentos, sonhos...; toda voz particular também carrega em si a dimensão comunitária; a voz de cada um é caixa de ressonância da voz da humanidade.

Nesse sentido, o Advento é um tempo privilegiado para unir nossas vozes, para fazer emergir uma voz solidária, que assume a voz sufocada de tantos sofredores e excluídos. São tantas as vozes travadas nas gargantas de muitos e que não encontram meios para se expressar. Com isso, a “voz” que nos chama à Vida acaba caindo “no deserto”, ou seja, não encontra destinatários, porque nos encontramos dispersos, distraídos em mil ocupações, vivendo na superficialidade.

Sejamos “voz” dos “sem voz”!

Somos chamados ao deserto onde a voz da Vida ressoa com mais intensidade, sem ser sufocada pelo “vozerio crônico”. Com sua austeridade e simplicidade, o deserto não é lugar de experiências superficiais. A profundidade da identidade de uma pessoa é testada e experimentada no deserto.

deserto é o grande auditório para ouvir Deus;  “solidão” cheia de presença. Ainda que sozinhos, sentimo-nos solidários, em comunhão com todos. A proximidade de Deus vai ser sentida e percebida.

Ao tomar distância do estressante ritmo cotidiano, teremos a possibilidade de reconhecer a voz de Deus em nós com outra intensidade e com outra força. Assim, a experiência de deserto passa a ser “tempo e lugar” de decisão, de orientação da vida, de enraizamento de nossos valores, de consciência maior da nossa identidade pessoal e da nossa missão... O mestre do deserto é o silêncio; o deserto tem valor porque revela o silêncio, e o silêncio tem valor porque nos revela Deus e a nós mesmos.

Texto bíblico:  Lc 3,1-6

Na oração: “Preparem o caminho do Senhor,

                    endireitem suas estradas...”

- O que está “torto” em minha vida pessoal, relacional, espiritual... que precisa ser endireitado?

- Quais são os grandes caminhos tortos, presentes na sociedade de hoje, que clamam por minha presença e meu compromisso, para endireitá-los?

- Que caminhos posso ajudar a construir para despertar uma nova esperança nestes tempos tão sombrios? Como endireitar os caminhos para que chegue mais rápido o Reinado de Deus?


Pe. Adroaldo Palaoro SJ

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2464-a-provocante-voz-que-vem-do-deserto

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