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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA

8 de dezembro de 2021

 

A Coluna da Imaculada, na Piazza di Spagna (Roma), erguida a 18 de dezembro de 1856 e abençoada pelo Bem-aventurado Pio IX em 8 de setembro de 1857.


Hoje, 8 de dezembro, é festa da Imaculada Conceição, uma das magnas celebrações da Santa Igreja. Neste dia em 1823, na cidade de Ariano di Puglia, os padres dominicanos Gassiti e Pignataro obrigaram satanás, em nome de Deus, provar Imaculada Conceição de Maria, através de um menino de 12 anos, possesso, analfabeto, que estava sendo exorcizado. Obrigado, e muito contra sua vontade, fez satanás com este soneto:

 

Sou verdadeira mãe de um Deus que é Filho

E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe

Ele de eterno existe e é meu Filho

E eu nasci no tempo e sou sua mãe

                   Ele é meu criador e é meu Filho

                   E eu sou sua criatura e sua mãe

                   Foi divinal prodígio ser meu Filho

                   Um Deus eterno e ter a mim por mãe

O ser da mãe é quase o ser do Filho

Visto que o filho deu o ser a mãe

E foi a mãe que deu o ser ao Filho

                   Se, pois, do Filho deve o ser a mãe

                   Ou há de se dizer manchado o Filho

                   Ou se dirá Imaculada a mãe.

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Pio IX, que proclamou o dogma da Imaculada Conceição em 1854, se emocionou ao ler este soneto (Apud. Salve Rainha, pág.147, Caxias do Sul-RG, 1955).

https://www.abim.inf.br/imaculada-conceicao-de-nossa-senhora/

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O CARROSSEL – Marília Benício dos Santos



O carrossel

 Marília Benício dos Santos

 

          O sol continuava dormindo. O domingo estava nublado.

          Em vez de praia fomos à Quinta da Boa Vista. Ao sairmos, Júlia Maria exclamou:

          - Um carrossel, minha tia!

          Chegamos em frente ao carrossel e ficamos a observá-lo.

          - Venha, vovó, disse Lucas, tentando subir. Resolvi aceitar o seu convite. Ele, muito entusiasmado, montava no cavalinho e eu o segurava, e ao abraçá-lo, abraçava também o cavalo.

          Quanta diferença desse carrossel para o carrossel da minha infância!

          Enquanto o carrossel girava, eu refletia: “O carrossel se identifica com a vida; ambos sempre estão a girar, passam pelos mesmos lugares”.

          Todos os anos há Natal, Páscoa; as estações vêm todos os anos. A primavera com suas flores dando uma colaboração imensa para ornamentar a vida. O verão, portador de alegria com o sol muito intenso, traz mais alegria para viver. Tem também o outono, quando as flores caem e dão lugar aos frutos, e, finalmente, o inverno, quando há um amadurecimento intenso e assim permite que surjam as flores na primavera e os frutos no outono.

          E o carrossel da vida vai girando, girando... Só que neste carrossel não podemos voltar atrás. Embora haja primavera, a primavera de minha infância jamais voltará. O carrossel brinquedo, sim, o homenzinho que o dirige pode dar meia-volta. Na minha fantasia, porém, eu tento voltar atrás. É isso que eu faço agora. Abraçada com Lucas e o cavalinho, volto à minha infância.

          Como era bonito aquele carrossel! Cada menina exibia o seu vestido novo cheio de rendas, babados e fitas. Cada uma usava um laço de fita nos cabelos que dava um brilho lindo, confundindo com o colorido do carrossel.

          O carrossel girava, girava... Era lindo vê-lo assim levando tantas crianças, fazendo-as felizes.

          O carrossel da Quinta da Boa Vista levava também muitas crianças diferentes, bem nenês, por isso exigia a presença de alguém para protege-las.

          Ao meu lado estava um senhor que segurava uma criança. – Será que ele também estava lembrando da infância? A criança que ele protegia era menina ou menina? Não conseguia identificar. Logo, porém, o fiz, pois havia uma argola na sua orelha.

          No carrossel da minha infância os meninos eram também muito bem-vestidos. A camisa podia ser colorida, mas a calça era geralmente branca ou azul marinho, algumas mais sofisticadas, de veludo.

          O carrossel era armado sempre no Natal, daí a razão para as crianças estarem bem arrumadas. Esperavam a Missa do Galo, o ponto alto da festa.

          Para completar a alegria, o carrossel era acompanhado de uma linda música.

          Depois de algum tempo passei a fazer parte daquela multidão que apenas observava o carrossel. “Menina grande não andava no carrossel”. Hoje, abraçando Lucas e o cavalinho, dava risadas e refletia.

          Há sempre aqueles que participam e aqueles que observam. Quantas vezes nos anulamos e ficamos à margem, apenas vendo o carrossel girar, girar...

          Não importa a idade; enquanto estamos vivos, vamos participar de tudo que temos direito. Do colorido que o carrossel da vida nos oferece, da música, do amor, da alegria, da festa. Devemos sempre lutar por um lugar neste carrossel, e ao encontrá-lo, segurá-lo com muita garra. Nunca ficar à margem a observar o carrossel girar.

          O carrossel da vida passa rápido e não para. O carrossel de brinquedo para de quando em quando, e novas crianças vão participando de suas alegrias. O carrossel da vida não para; quando isso acontece, realmente acabou, apagou, emudeceu.

          Para nós que acreditamos em outra vida, vamos pegar outro carrossel, no qual há sempre um lugar para aquele que tem esperança. Esse carrossel passa pelos mesmos lugares do carrossel da minha infância; há, porém, uma grande diferença: embora passando pelos mesmos caminhos, estes são sempre renovados, as belezas são modificadas a cada instante e esse imenso carrossel vai girando, girando, circulando o amor ao som de uma música celeste.

 

MARÍLIA BENÍCIO DOS SANTOS

Itabuna (BA)

*10/10/1920   +24/05/2014

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