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sexta-feira, 14 de maio de 2021

POEMAS DE LA BRASILEÑA VALDELICE SOARES PINHEIRO, TRADUCIDOS AL CASTELLANO

 por Alfredo Pérez Alencart



Con especial gozo he traducido estos poemas de la brasileña Valdelice Soares Pinheiro (1929-1993), nacida y fallecida en Itabuna, Estado de Bahía. En vida ella publicó solo dos poemarios: ‘De dentro de mim’ (1961) y ‘Pacto’ (1977), además de algunos poemas en publicaciones dispersas.En 2014 apareció ‘Canto contido’, donde el poeta y narrador Cyro de Mattos reunió los dos libros y los textos dispersos de Valdelice. De esta edición elegí estos textos que vestí al castellano.


BAUTISMO

Yo te prometo, hermano,

un bautismo cristiano.

Haré tu inmersión

en las mismas aguas mías,

dentro de las mismas oportunidades.

Sin caridad,

por obligación,

te envolveré en la flor del trigo azul,

perfumaré tu cuerpo

en la realidad del pan

y te untaré de leche y miel.

Abriré tu sonrisa

en una nueva Primavera.

 

CREACIÓN

Dios besó a las abejas

y a las cerezas

y dibujó los divinos dientes

en la pulpa de una guayaba.

Después

encargó a los niños

y a los pajaritos

el sabor de la vida.



POEMA PARA LA NAVIDAD


En medio de todas las alegrías

por el Niño Dios nacido,

tanta sangre

por los niños que no nacen.

En medio de todos los perfumes y hosannas,

tanto grito, tanto olor de dolor

en la boca de los niños con hambre.

En medio de toda la paz

de aquella estrella,

tanta inquietud

en los ojos de mis hermanos,

tanto odio

en las manos de los generales.

 

Niño Jesús,

cruz y redención,

abre de nuevo tu cuerpo

sobre nosotros.

 

PAZ

Plántense los sueños

en la alborada de los dedos.

Coséchense las espigas

en la mañana de las manos.

Y, en el descanso de la noche,

la mesa puesta,

nazca el amor

en el calor del pan.

 

SI YO TE DIGO ADIÓS

Yo abriré mis ojos

llenos de lágrimas

sí, un día,

a la orilla de cualquier camino,

yo te digo adiós.


 



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T R A D U Ç Ã O:

POEMAS DA BRASILEIRA VALDELICE SOARES PINHEIRO, TRADUZIDOS PARA O ESPANHOL

Por Alfredo Pérez Alencart

 



Com alegria especial traduzi esses poemas da brasileira Valdelice Soares Pinheiro (1929-1993), nascida e falecida em Itabuna, bahia. Em vida publicou apenas dois poemas: 'Dentro de Mim' (1961) e 'Pacto' (1977), além de alguns poemas em publicações dispersas. Em 2014 surgiu 'O Canto Contido', onde o poeta e narrador Cyro de Mattos reuniu os dois livros e espalhou textos de Valdelice. A partir desta edição escolhi esses textos que vesti em espanhol.


BATISMO

Eu prometo a você, irmão,

Batismo cristão.

Eu vou fazer o seu mergulho

nas mesmas águas minhas,

dentro das mesmas oportunidades.

Sem caridade,

por obrigação,

Eu vou envolvê-lo na flor de trigo azul,

Vou perfumar seu corpo.

na realidade do pão

e eu vou te dar leite e mel.

Vou abrir seu sorriso.

em uma nova Primavera.

 

CRIAÇÃO

Deus beijou as abelhas

e cerejas

e desenhou os dentes divinos

na polpa de uma goiaba.

depois

encomendou às crianças

e os pássaros

o gosto da vida.

 



POEMA PARA O NATAL

No meio de todas as alegrias

pelo Menino Deus Criança nascido,

tanto sangue

para crianças que não nascem.

No meio de todos os perfumes e hosannas,

tantos gritos, tanto cheiro de dor

na boca de crianças famintas.

No meio de toda a paz

daquela estrela,

tanta inquietação

aos olhos dos meus irmãos,

tanto ódio

nas mãos dos generais.

 

Bebê Jesus,

cruz e redenção,

abra seu corpo novamente

Sobre nós.

 

PAZ

Plantem-se os sonhos

no alvorecer de seus dedos.

Colham-se espigas

na manhã das mãos.

E, no intervalo da noite,

a mesa posta,

o amor nasça

no calor do pão.

 

SE EU DISSER ADEUS

Vou abrir meus olhos

cheio de lágrimas

Sim, um dia,

à beira de qualquer estrada,

Eu digo adeus.




 https://salamancartvaldia.es/not/262439/poemas-brasilena-valdelice-soares-pinheiro-traducidos-castellano/


* * *



O ALIENISTA CAP VI – Machado de Assis


A REBELIÃO

 

Cerca de trinta pessoas ligaram-se ao barbeiro, redigiram e levaram uma representação à Câmara.

A Câmara recusou aceitá-la, declarando que a Casa Verde era uma instituição pública, e que a ciência não podia ser emendada por votação administrativa, menos ainda por movimentos de rua.

—Voltai ao trabalho, concluiu o presidente, é o conselho que vos damos.

A irritação dos agitadores foi enorme. O barbeiro declarou que iam dali levantar a bandeira da rebelião e destruir a Casa Verde; que Itaguaí não podia continuar a servir de cadáver aos estudos e experiências de um déspota; que muitas pessoas estimáveis e algumas distintas, outras humildes mas dignas de apreço, jaziam nos cubículos da Casa Verde; que o despotismo científico do alienista complicava-se do espírito de ganância, visto que os loucos ou supostos tais não eram tratados de graça: as famílias e em falta delas a Câmara pagavam ao alienista...

—É falso! interrompeu o presidente.

—Falso?

—Há cerca de duas semanas recebemos um ofício do ilustre médico em que nos declara que, tratando de fazer experiências de alto valor psicológico, desiste do estipêndio votado pela Câmara, bem como nada receberá das famílias dos enfermos.

A notícia deste ato tão nobre, tão puro, suspendeu um pouco a alma dos rebeldes. Seguramente o alienista podia estar em erro, mas nenhum interesse alheio à ciência o instigava; e para demonstrar o erro, era preciso alguma coisa mais do que arruaças e clamores. Isto disse o presidente, com aplauso de toda a Câmara. O barbeiro, depois de alguns instantes de concentração, declarou que estava investido de um mandato público e não restituiria a paz a Itaguaí antes de ver por terra a Casa Verde —"essa Bastilha da razão humana"—expressão que ouvira a um poeta local e que ele repetiu com muita ênfase. Disse, e, a um sinal, todos saíram com ele.

Imagine-se a situação dos vereadores; urgia obstar ao ajuntamento, à rebelião, à luta, ao sangue. Para acrescentar ao mal um dos vereadores que apoiara o presidente ouvindo agora a denominação dada pelo barbeiro à Casa Verde—"Bastilha da razão humana"—achou-a tão elegante que mudou de parecer. Disse que entendia de bom aviso decretar alguma medida que reduzisse a Casa Verde; e porque o presidente, indignado, manifestasse em termos enérgicos o seu pasmo, o vereador fez esta reflexão:

—Nada tenho que ver com a ciência; mas, se tantos homens em quem supomos são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?

Sebastião Freitas, o vereador dissidente, tinha o dom da palavra e falou ainda por algum tempo, com prudência, mas com firmeza. Os colegas estavam atônitos; o presidente pediu-lhe que, ao menos, desse o exemplo da ordem e do respeito à lei, não aventasse as suas ideias na rua para não dar corpo e alma à rebelião, que era por ora um turbilhão de átomos dispersos. Esta figura corrigiu um pouco o efeito da outra: Sebastião Freitas prometeu suspender qualquer ação, reservando-se o direito de pedir pelos meios legais a redução da Casa Verde. E repetia consigo namorado:—Bastilha da razão humana!

Entretanto a arruaça crescia. Já não eram trinta, mas trezentas pessoas que acompanhavam o barbeiro, cuja alcunha familiar deve ser mencionada, porque ela deu o nome à revolta; chamavam-lhe o Canjica—e o movimento ficou célebre com o nome de revolta dos Canjicas. A ação podia ser restrita—visto que muita gente, ou por medo, ou por hábitos de educação, não descia à rua; mas o sentimento era unânime, ou quase unânime, e os trezentos que caminhavam para a Casa Verde, —dada a diferença de Paris a Itaguaí, — podiam ser comparados aos que tomaram a Bastilha.

D. Evarista teve noticia da rebelião antes que ela chegasse; veio dar-lha uma de suas crias. Ela provava nessa ocasião um vestido de seda, —um dos trinta e sete que trouxera do Rio de Janeiro, —e não quis crer.

—Há de ser alguma patuscada, dizia ela, mudando a posição de um alfinete. Benedita, vê se a barra está boa.

—Está, sinhá, respondia a mucama de cócoras no chão, está boa. Sinhá vira um bocadinho. Assim. Está muito boa.

—Não é patuscada, não, senhora; eles estão gritando: — Morra o Dr. Bacamarte!!! o tirano! dizia o moleque assustado.

—Cala a boca, tolo! Benedita, olha aí do lado esquerdo; não parece que a costura está um pouco enviesada? A risca azul não segue até abaixo; está muito feio assim; é preciso descoser para ficar igualzinho e...

— Morra o Dr. Bacamarte!!! morra o tirano! uivaram fora trezentas vozes. Era a rebelião que desembocava na Rua Nova.

D. Evarista ficou sem pinga de sangue. No primeiro instante não deu um passo, não fez um gesto; o terror petrificou-a. A mucama correu instintivamente para a porta do fundo. Quanto ao moleque, a quem D. Evarista não dera crédito, teve um instante de triunfo súbito, imperceptível, entranhado, de satisfação moral, ao ver que a realidade vinha jurar por ele.

 —Morra o alienista! bradavam as vozes mais perto.

D. Evarista, se não resistia facilmente às comoções de prazer, sabia entestar com os momentos de perigo. Não desmaiou; correu à sala interior onde o marido estudava. Quando ela ali entrou, precipitada, o ilustre médico escrutava um texto de Averróis; os olhos dele, empanados pela cogitação, subiam do livro ao reto e baixavam do reto ao livro, cegos para a realidade exterior, videntes para os profundos trabalhos mentais. D. Evarista chamou pelo marido duas vezes, sem que ele lhe desse atenção; à terceira, ouviu e perguntou-lhe o que tinha, se estava doente.

—Você não ouve estes gritos? perguntou a digna esposa em lágrimas.

O alienista atendeu então; os gritos aproximavam-se, terríveis, ameaçadores; ele compreendeu tudo. Levantou-se da cadeira de espaldar em que estava sentado, fechou o livro, e, a passo firme e tranquilo, foi depositá-lo na estante. Como a introdução do volume desconsertasse um pouco a linha dos dois tomos contíguos, Simão Bacamarte cuidou de corrigir esse defeito mínimo, e, aliás, interessante. Depois disse à mulher que se recolhesse, que não fizesse nada.

—Não, não, implorava a digna senhora, quero morrer ao lado de você...

Simão Bacamarte teimou que não, que não era caso de morte; e ainda que o fosse, intimava-lhe, em nome da vida, que ficasse. A infeliz dama curvou a cabeça, obediente e chorosa.

—Abaixo a Casa Verde! bradavam os Canjicas.

O alienista caminhou para a varanda da frente e chegou ali no momento em que a rebelião também chegava e parava, defronte, com as suas trezentas cabeças rutilantes de civismo e sombrias de desespero. —Morra! morra! bradaram de todos os lados, apenas o vulto do alienista assomou na varanda. Simão Bacamarte fez um sinal pedindo para falar; os revoltosos cobriram-lhe a voz com brados de indignação. Então o barbeiro, agitando o chapéu, a fim de impor silêncio à turba, conseguiu aquietar os amigos, e declarou ao alienista que podia falar, mas acrescentou que não abusasse da paciência do povo como fizera até então.

—Direi pouco, ou até não direi nada, se for preciso. Desejo saber primeiro o que pedis.

—Não pedimos nada, replicou fremente o barbeiro; ordenamos que a Casa Verde seja demolida, ou pelo menos despojada dos infelizes que lá estão.

—Não entendo.

—Entendeis bem, tirano; queremos dar liberdade às vítimas do vosso ódio, capricho, ganância... O alienista sorriu, mas o sorriso desse grande homem não era coisa visível aos olhos da multidão; era uma contração leve de dois ou três músculos, nada mais. Sorriu e respondeu:

—Meus senhores, a ciência é coisa séria, e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. Se quereis emendar a administração da Casa Verde, estou pronto a ouvir-vos; mas, se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada. Poderia convidar alguns de vós em comissão dos outros a vir ver comigo os loucos reclusos; mas não o faço, porque seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos nem a rebeldes.

Disse isto o alienista, e a multidão ficou atônita; era claro que não esperava tanta energia e menos ainda tamanha serenidade. Mas o assombro cresceu de ponto quando o alienista, cortejando a multidão com muita gravidade, deu-lhe as costas e retirou-se lentamente para dentro. O barbeiro tornou logo a si e, agitando o chapéu, convidou os amigos à demolição da Casa Verde; poucas vozes e frouxas lhe responderam. Foi nesse momento decisivo que o barbeiro sentiu despontar em si a ambição do governo; pareceu-lhe então que, demolindo a Casa Verde e derrocando a influência do alienista, chegaria a apoderar-se da Câmara, dominar as demais autoridades e constituir-se senhor de Itaguaí. Desde alguns anos que ele forcejava por ver o seu nome incluído nos pelouros para o sorteio dos vereadores, mas era recusado por não ter uma posição compatível com tão grande cargo. A ocasião era agora ou nunca. Demais, fora tão longe na arruaça que a derrota seria a prisão ou talvez a forca ou o degredo. Infelizmente a resposta do alienista diminuíra o furor dos sequazes. O barbeiro, logo que o percebeu, sentiu um impulso de indignação e quis bradar-lhes:—Canalhas! covardes! —mas conteve-se e rompeu deste modo:

Meus amigos, lutemos até o fim! A salvação de Itaguaí está nas vossas mãos dignas e heroicas. Destruamos o cárcere de vossos filhos e pais, de vossas mães e irmãs, de vossos parentes e amigos, e de vós mesmos. Ou morrereis a pão e água, talvez a chicote, na masmorra daquele indigno.

E a multidão agitou-se, murmurou, bradou, ameaçou, congregou-se toda em derredor do barbeiro. Era a revolta que tornava a si da ligeira síncope e ameaçava arrasar a Casa Verde.

—Vamos! bradou Porfírio, agitando o chapéu.

—Vamos! repetiram todos.

Deteve-os um incidente: era um corpo de dragões que, a marche marche, entrava na Rua Nova.



MINISTÉRIO DA CULTURA

Fundação Biblioteca Nacional

Departamento Nacional do Livro

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Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras.


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