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domingo, 3 de janeiro de 2021

A VERDADEIRA BELEZA ATRAI A JUVENTUDE – II

 


Fachada ocidental da Abadia de Westminster (Londres)

Plinio Maria Solimeo

 

          Cumpro minha promessa voltando ao tema da atração da juventude pela verdadeira beleza das igrejas. O que tratei recentemente, ancorado numa notícia do jornal The Telegraph e comentada pelo Prof. Gabriel Ferreira, da Unisinos, vai na linha do que diz o Conselho Pontifício para a Cultura, no documento Via Pulchritudinis:

            “O caminho da beleza responde ao íntimo desejo de felicidade que reside no coração de cada pessoa. Abrindo horizontes infinitos, leva a pessoa humana a empurrar para fora de si mesmo, desde a rotina do efêmero instante, até o Transcendente e Mistério, e procura, como objetivo final da busca pelo bem-estar e nostalgia total, essa beleza original que é o próprio Deus, criador de toda a beleza”.

            A beleza é uma das mais cativantes perfeições divinas, pois ela nos remete ao Criador e nos leva a amá-Lo. Ensina São Tomás que os seres criados à imagem e semelhança de Deus participam e refletem de algum modo a beleza divina. Os limites de um artigo não permitem uma análise desse transcendental em todos seus aspectos, mas apenas no efeito que se manifesta na arquitetura cristã sobre os jovens de hoje.

           Temos de recorrer ao passado, pois com a abertura da Igreja para o mundo depois do Concílio Vaticano II, praticamente todos os aspectos do campo eclesiástico, como a liturgia, a “música”  sacra, a arquitetura, enfim tudo se sucumbiu à feiúra e ao mau gosto que passaram a dominar as exterioridades da vida religiosa, perdendo todo e qualquer atrativo.

         O que mais surpreende é esse interesse da juventude pelo belo na arquitetura religiosa é universal. A título de exemplo, citamos o que ocorre na Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Nebraska/Lincoln. Como grande parte dos seus 25 mil alunos frequentava a missa na capela do Campus, esta se tornou pequena, sendo preciso construir outra.

         Além do bom sinal de crescente religiosidade entre a juventude, algo de espetacular se passou com o projeto da nova capela. Os alunos se interessaram tanto pela construção do templo que procuraram modelos de igrejas tradicionais, sobretudo das que lhes mais agradavam, a fim de dar sugestões sobre seu embelezamento.

         Tanto o bispo responsável pela Universidade quanto os arquitetos do projeto são também partidários de um reviver da arquitetura religiosa clássica. Afirma o bispo Dom John Conley: “Nós pensamos que o estilo e toda a estrutura da igreja de Santo Tomás de Aquino comunicam beleza, e beleza atrai […]. Nós acreditamos que os estudantes serão atraídos por isso. Aliás, eles já estão sendo. Sempre há estudantes rezando lá”.

          Para o arquiteto Kevin Clark, “é incrível ver alunos católicos e não-católicos participarem da beleza física do edifício. Isso faz parte da conversa entre eles, e é uma coisa que intriga. Há uma série de não-católicos com quem me deparo quando estou dando voltas na igreja […]. Eles só querem estar lá, só querem ver aquilo, e a igreja realmente se tornou um elemento capital da cidade”.

         Outro exemplo da abertura dos jovens para a beleza dos edifícios religiosos, ocorreu no Centro Católico da Universidade de St. Paul, em Madison, Wisconsin. Lá também uma nova capela foi construída tendo como objetivo inspirar a beleza da arquitetura católica tradicional. A razão foi a mesma: “os estudantes estão sedentos de beleza”.

         Outro estudo recente mostrou que a beleza era uma das razões mais importantes pelas quais as pessoas vêm e ficam no catolicismo. A construção precisa ser grande, linda e visível o suficiente para que os estudantes percebam isso. Os alunos comentam que seus amigos não entendem como o prédio de concreto cinzento ao lado da livraria [a antiga capela em arte moderna] possa ser uma igreja.         

          Esperemos que esse movimento tão salutar do reviver do interesse pelo belo religioso contagie também os jovens brasileiros, os quais, apesar de tudo, representam maioria da população ainda católica.

 

https://www.abim.inf.br/a-verdadeira-beleza-atrai-a-juventude-ii/

 

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (216)

 


Epifania do Senhor | Domingo, 03/01/2021


Anúncio do Evangelho (Mt 2,1-12)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.

— Glória a vós, Senhor!

Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém. 4Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.

Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.

Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:


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Epifania: todos os povos na gruta de Belém


 
"Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2)

A festa da Epifania é a mais antiga que se conhece. Era a única festa de Natal celebrada em toda a Igreja, até que no Ocidente passou a ser celebrada no dia 25 de dezembro. A palavra “epifania” significa, em grego, “manifestação”, referindo-se sobretudo à primeira claridade da manhã, antes do nascer do sol. Depois passou a significar a “manifestação” de Deus a todos os povos, pois Ele inunda com sua Luz todos os recantos escuros de nossa existência.

Mais uma vez a Epifania grita para que nos levantemos e, iluminados pela Luz do Nascimento de Jesus, sejamos espelhos que refletem essa mesma Luz, iluminando toda a realidade envolta em trevas.

Tanto no nível pessoal como comunitário, sejamos luz do mundo, e não nos cansemos de proclamar a todos que nosso Deus se manifesta nas coisas simples e palpáveis, próximas: como um menino que nasce, ou como uma expressão infantil de assombro e surpresa frente ao diferente, ou como cada um dos gestos que podemos e devemos fazer para abrir espaço ao Deus da Vida e àqueles que, como novos “magos”, vêm ao nosso encontro...

A celebração da Epifania nos lança para além dos estreitos limites de qualquer instituição religiosa, de todo dogmatismo, fanatismo e intolerância... Deus se manifesta sempre a todos os povos e em todas as épocas. Todos os homens e mulheres estão sob a mesma mão providente de Deus. No momento em que nos sentimos privilegiados por Deus, fazemos a mensagem desta festa virar pó. Todos recebemos tudo de Deus e todos temos a obrigação de aprender e ensinar uns aos outros; todos temos a nobre missão de acender uma luz, em lugar de maldizer as trevas; todos temos uma estrela a nos guiar até à fonte da verdadeira Luz.

Aqui não se trata de buscar, no relato da Epifania, um fundo histórico, no sentido moderno da palavra. O importante não é o que está por “detrás” da narração, mas o que nela se manifesta, a saber: os sábios do oriente representam a humanidade em busca de paz, verdade e justiça; representam a aspiração profunda do espírito humano, a marcha das religiões, da ciência e da razão humana ao encontro de Cristo.

O caminho dos magos que buscam o Menino Jesus é o caminho de todos os homens e mulheres, de todas as raças e religiões... O Jesus de Belém está sempre disposto a receber o ouro da cultura dos povos, o incenso de todas as expressões religiosas, a mirra de todas as dores.

Os Magos do Oriente são o símbolo de tantos homens e mulheres que, em qualquer parte do mundo, a partir de outras sendas e tradições espirituais, se perguntam, buscam e caminham.

Uma lenda os apresenta como um rei jovem, outro ancião e outro negro, querendo significar que a humanidade toda é mobilizada a “fazer-se caminho”.

Nesse percurso, os Magos escutam outras palavras e sinais, aprendem a filtrar aquilo que “ajuda para o fim” e a não seguir qualquer conselho. Herodes e os escribas estarão sempre presentes e ameaçam reaparecer antes, durante e depois do encontro com o Menino.

E toda viagem que culmina na manjedoura, é ponto de partida para novos caminhos. 

O ícone bíblico do relato dos Magos ilustra o risco do fechamento em nós mesmos, de enredar-nos nas armadilhas da nossa própria inteligência, ou de petrificar-nos em nossas sacralidades doutrinárias e legais. Isso se manifesta como rigidez para a mudança, a intensa necessidade de manter a própria imagem, a resistência em aceitar coisas novas que rompam nosso frágil equilíbrio ou os limites da nossa vontade...

A experiência da Epifania supõe uma capacidade de encontro e de escuta de Alguém que chama, uma atenção especial para distinguir vozes diferentes da própria voz, uma sensibilidade para escutar os gritos de nosso mundo e para receber a palavra da comunidade cristã.

O Deus, escondido na fragilidade humana, não é encontrado naqueles que vivem encastelados em seu poder ou fechados em sua segurança religiosa. Ele se revela àqueles que, guiados por pequenas luzes, buscam incansavelmente uma esperança para o ser humano, na ternura e na pobreza da vida. 

A viagem dos Magos se torna, assim, o símbolo da vida cristã, entendida como seguimento, como discipulado, como busca.

A viagem exige desapego, coragem, movimento, esperança. Quem está prêso à terra pelo peso das coisas, pelos apegos, pelos egoísmos, não é capaz de se tornar peregrino. Não pode peregrinar aquele que não se dispõe sinceramente a ultrapassar as fronteiras e os esquemas pré-concebidos que muitas vezes lhe fecham e lhe dão segurança. Isto não o deixa livre para encontrar o Deus da Vida que se manifesta.

Quem está convencido de possuir tudo, inclusive o monopólio da verdade, não tem a gana da busca

contínua; é semelhante aos sacerdotes de Jerusalém, frios exegetas de uma Palavra que não os atrai nem converte. Quem está bem instalado na cidade não precisa ir a Belém; ao contrário, Belém se reduz a um insignificante vilarejo de província.

Quando aprende a aceitar e amar a sua própria viagem, novamente a estrela surgirá à sua frente, indicando o sentido de sua existência e mantendo acesa a chama da busca inspiradora. 

Os “magos” somos todos. Esta é a festa do Deus que atrai a todos em seu amor. Quando parece que tudo está definitivamente fechado vem os Magos para abrir as portas da vida. Quando parece que o céu está escuro, brilha uma estrela para aqueles que querem continuar caminhando.

O Menino Jesus, Messias de Deus, não está fechado no templo e na estrutura religiosa, mas é coração aberto em Belém para todos os que dele se aproximam. Não é rei que impõe seu direito, mas criança necessitada, nos braços de sua mãe. Não é sacerdote que controla a sacralidade divina a partir do tabernáculo do tempo, mas menino ameaçado que se faz imigrante, assumindo assim a história de todos os excluídos.

Nós somos “magos” para anunciar a todos que há estrelas que apontam para a Gruta onde um Menino é acolhido, na rota da vida, que continua sempre aberta. Devemos mobilizar a todos para criar um mundo onde nenhum menino-Deus morra abandonado.

Somos “magos” quando experimentamos e anunciamos que a vida é um dom, que o ouro do mundo é um presente para todos os homens e mulheres, que os bens da terra estão a serviço da vida, que toda riqueza é para ser compartilhada para o bem de todos.

Somos “magos” quando temos de dizer a todos, com nosso exemplo, que a vida é prazer e glória, é incenso de admiração e de ternura, de intimidade orante e de proximidade. É preciso proclamar que não buscamos a glória do poder, a vitória da imposição, o incenso da mentira, mas buscamos e compartilhamos o incenso do amor que pode ser celebrado na intimidade da família, nas relações pessoais e sociais, no compromisso solidário. Diremos que sempre haverá um perfume ao nosso lado, ao lado de todos os homens e mulheres que poderão festejar, sonhar...

Somos “magos” quando revelamos que a vida é feita também de mirra. Somos todos “mirróforos(as)”, portadores do perfume, para levar o agradável odor em meio aos ambientes fétidos de ódio, intolerância e violência. A mirra é o perfume de amor, mas também é o bálsamo da morte. A mirra é como uma flor preciosa que pode nos acompanhar na vida, no crescimento de cada dia, na comunhão com os outros, na tristeza e na esperança de cada despedida.

Que cada morte seja tempo de amor, esperança de amor e não fruto da violência.

Enfim, a Epifania nos destrava e nos coloca a caminho, seguindo as “pegadas” dos Magos, fazendo opções, usando desvios, lançando-nos pessoalmente a ações concretas..., movidos pela experiência de encontro com a Vida, no despojamento de uma Gruta.

Texto bíblico:  Mt 2,1-12

Na oração: Às vezes tenho de me deter na vida, como os magos, para pensar e sempre me perguntar: onde estou? Em quê momento da vida me encontro? A quê estrela sigo? Meu caminho tem coração?... É a arte do discernimento.

A Graça também me precede, me acompanha sempre e libera meus melhores recursos e minha inteligência para abrir-me ao novo, a abertura que permite reconhecer o “Mistério” e deixar-me inspirar por Ele.


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2229-epifania-todos-os-povos-na-gruta-de-belem

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