Total de visualizações de página

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

CONHECENDO E DISSEMINANDO A MENSAGEM (VIII) – Clóvis Silveira Góis Júnior


4.8. Área Urbana de Itabuna

            Enquanto a primitiva Boqueirão prosseguia em suas atividades, outro grupo formava-se, dessa vez na zona urbana, no centro da cidade. A primeira data conhecida para a organização da igreja local, aquela que seria a futura sede de Itabuna, foi o ano de 1921, conforme relato do pastor Henry Meyer, presidente da União Este Brasileira, a seguir transcrito:

“Prazer me foi estar com os crentes de
Itabuna. Faz apenas pouco tempo que
a obra tomou pé nessa região. Os
irmãos já fizeram bons progressos e
também operaram com diligência para
tornar a outros conhecida a última
mensagem de advertência. Teve lugar
a 26 de abril uma festa batismal,
sendo, pois, organizados os irmãos em
igreja que atualmente conta 24
membros”.

            Movido pela promessa bíblica constante em Mateus 28: 19 e 20, os crentes Itabunenses desenvolveram aqui uma igreja que seria ícone para outros lugares do Brasil. Em 1924, o casal José Aniceto de Souza e Catarina Souza, depois de muitos anos já sabedores da mensagem, finalmente selaram sua fé em Cristo, batizando-se.

            Portanto, até 1924, com base em depoimentos e nos registros encontrados, temos: Pedro Lima (batizado em 1910 pelo pr. John Lipke), Joaquim de Souza Porto (batizado em 1910/11), Antonio Caldas, Vitória (Vitorinha) de Jesus, José Aniceto de Souza (batizado em 1924) e Catarina de Souza (batizada em 1924 – esposa de Aniceto). Certamente, muitos outros nomes existem, mas a ausência documentária só permite, até aqui, evidenciar estes seis.

            A administração da Obra, sentindo o potencial da cidade, somou esforços para realização de conferências bíblicas, em 1925, capitaneadas por Gustavo Storch, que, além de  bom conhecedor das Escrituras, tinha uma carta na manga – o projetor – como ele mesmo conta:

“num grande salão no centro da
próspera cidade de Itabuna, realizei
uma série de reuniões em que usamos
alguns slides. Estas reuniões duraram
trinta noites consecutivas e o
atendimento foi muito bom”.


            Naquele momento, poderia ele ter ficado para trabalhar com os interessados, mas, em virtude do tamanho do campo e da insuficiência de ministros ordenados, precisou sair para o  Boqueirão e depois Pontal (Ilhéus), que também precisavam de assistência. Ele lamentou o açodamento das ações assim:

“O grande erro que geralmente somos
obrigados a fazer, por falta de tempo,
é deixar o ferro quando esse já está
quente, pois no tempo de maior
interesse, tenho que sair para ir a
outra cidade”.

            Ele usou uma alegoria bastante pertinente para o momento: “preparou-se o ninho e outros estão tentando estabelecer seus ovos nele”.

            A preocupação de Storch não era sem razão. Um dia após o final de trinta noites, um suposto médico iniciou uma série de palestras, contradizendo sua fala. Diante desse fato, é possível entender a preocupação apontada no parágrafo anterior. O pastor desejou que Jesus dissesse ao falsário o mesmo que bradou ao antigo Paulo, em sua fase pré-cristã: “dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”, retirando dele igualmente a ignorância e a cegueira espiritual”.

            O pastor Leo B. Halliwell escreveu à Revista Adventista, em 1927, falando do progresso da obra na Missão Bahia-Sergipe, e confirma a existência de diversos interessados em Itabuna, os quais estavam sendo preparados, dessa vez, pelo colportor Cyríaco Leite. O próprio Halliwell dá continuidade aos trabalhos, apresentando uma série de reuniões doutrinárias, buscando não se reeditar a incômoda situação ocorrida em 1925. Dessa  vez, a exposição da Palavra alcançou qualidade invejável e resultados satisfatórios, mexendo inclusive com alguns membros de outras igrejas evangélicas, os quais chegaram a ser excluídos  por seus líderes: “Há completamente uma comoção dos círculos religiosos da cidade, especialmente porque dois membros foram expulsos da sua igreja por ter assistido as reuniões”.


(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.8.)
Clóvis Silveira Góis Júnior

----------------
Sobre o autor:

Clóvis Silveira Góis Júnior é trineto de Genoveva França Jacó (integrante do primeiro batismo adventista realizado em Boqueirão, no ano de 1918).
Servidor público federal há 30 anos, é graduado em Administração e licenciado em história. É casado com Iara Souza Setenta Góis, pedagoga, e tem dois filhos: Felipe e João.

* * *

SEGREDO DE CONFISSÃO AMEAÇADO - Paulo Henrique Américo de Araújo

29 de novembro de 2018


♦ Paulo Henrique Américo de Araújo


Nos últimos meses, notícias de abusos sexuais de membros do clero ganharam novamente grande destaque na mídia. As evidências existem, embora sejam habitualmente acompanhadas de exageros da imprensa. Escândalos como os noticiados causam indignação e tristeza em todos os católicos verdadeiros, mas, sobretudo no coração materno de Nossa Senhora.

Nesses momentos em que o público se manifesta estarrecido com o noticiário, os propagadores de falsas soluções surgem e se arvoram em defensores da moral infantil e juvenil, repetindo a velha cantilena de que a Santa Igreja deve mudar suas instituições e disciplinas. O celibato sacerdotal e a organização hierárquica da Igreja tornam-se os alvos preferidos de tais detratores e fabricantes de falsas soluções.

Curiosamente, a mídia anticatólica passou a pontificar contra os abusos sexuais de membros do clero. Mas é público e notório que ela há muito tempo se destaca como a maior promotora da perversão sexual de crianças, jovens e adultos. Basta ver o amplo espaço que dedica à imoralidade na TV, no cinema, na internet; à educação sexual e ensino da ideologia de gênero nas escolas; à pornografia e incentivo a desvios sexuais em todos os veículos de publicidade. Sendo essa mídia a grande propagadora dos erros morais, com que direito esbraveja contra os que praticaram esses mesmos erros? Deveriam entender ainda que uma consequência inevitável da propaganda que fazem da imoralidade e liberalização dos costumes é a penetração dessa imoralidade nos próprios seminários, minando na base a tradicional exigência da castidade e pureza dos costumes no clero. Tudo isso, dói também dizê-lo, com a conivência ou cumplicidade de altos Prelados.

A solução para a crise moral do clero não se encontra na desconstrução dos costumes e instituições católicas milenares, mas na retomada vigorosa deles. Acrescente-se a necessidade de frisar a noção do pecado, do bem e do mal. Sem isso, será inócua qualquer medida para encontrar, denunciar e punir os eventuais culpados de abusos sexuais dentro da Igreja.

Diante desse quadro, bem se podem aplicar as palavras de Plinio Corrêa de Oliveira em uma meditação da Via Sacra publicada em Catolicismo (março/1951): “Quantos são os que realmente veem o pecado e procuram apontá-lo, denunciá-lo, combatê-lo, disputar-lhe passo a passo o terreno, erguer contra ele toda uma cruzada de ideias, de atos, de viva força se necessário for? Quantos são capazes de desfraldar o estandarte da ortodoxia absoluta e sem jaça, nos próprios lugares onde campeia a impiedade ou a piedade falsa? Quantos são os que vivem em união com a Igreja este momento, que é trágico como trágica foi a Paixão, este momento crucial da História, em que a humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo?

 Inviolabilidade do segredo da confissão

Sacerdotes na Austrália “dispostos a ir para a prisão” 
antes que violar o segredo de confissão.
Entretanto, a atual ofensiva contra a Igreja aproveita-se dos escândalos sexuais para avançar ainda mais na sua obra destruidora. Pretende inclusive quebrar o sigilo do sacramento da confissão. Em junho deste ano, o território de Camberra, na Austrália, aprovou uma lei que obriga os sacerdotes católicos a revelar à polícia o segredo de confissão, quando algum fiel declarar pecados em matéria de abusos de menores. A norma passará a vigorar a partir de 31 de março de 2019.1

No momento, o alcance dessa lei anticatólica é regional, mas já se cogita a sua ampliação para a esfera nacional. A informação é de Sandro Magister: “O primeiro-ministro de New South Wales, um dos estados que constituem a federação australiana, já requereu que a lei seja discutida e sancionada em âmbito federal, tornando-a válida para todo o país”.2

O clero católico, como é seu dever, reagiu com firmeza. O Pe. Michael Whelan, pároco de Saint Patrick, em Sydney, esclareceu que o Estado não pode constranger os sacerdotes católicos a praticar o mais grave dos crimes. E acrescentou que ele e outros sacerdotes estão “dispostos a ir para a prisão” antes que violar o segredo de confissão.

A Fraternidade Australiana do Clero Católico (Australian Confraternity of Catholic Clergy – ACCC), associação privada de sacerdotes, afirmou que o segredo sacramental “não é meramente uma questão de direito canônico, mas de Lei Divina, a qual a Igreja não tem poder para dispensar. Nenhum sacerdote está obrigado a cumprir qualquer lei humana que procure solapar a confidencialidade absoluta da confissão”.3

É importante lembrar a firmeza com que a Igreja trata o sigilo da confissão. O cânon 984 do Código de Direito Canônico proíbe terminantemente ao confessor fazer uso de qualquer informação ouvida na confissão. O cânon 1388 pune o confessor que “viole diretamente o sigilo sacramental, com excomunhão latæ sententiæ [automática] reservada à Sé Apostólica”; quer dizer, além de ser automática, a excomunhão só pode ser levantada pelo Papa.

Além de iníqua, a lei favorece o abuso

São Pio de Pietrelcina no confessionário

Qualquer iniciativa para violar essa sagrada instituição representa grave violação à liberdade da Igreja Católica. Em outras palavras, trata-se de perseguição religiosa sob a capa de legalidade. Como se essa tirania legislativa já não bastasse, alguns membros do clero australiano a consideram também ineficaz. A Fraternidade Australiana do Clero Católico registrou uma gravíssima contradição: os pecadores deixarão de confessar o ato iníquo, e consequentemente permanecerão sem os recursos penitenciais e sobrenaturais para evitar a reincidência. Como resultado evidente, a lei acabará aumentando o crimes que pretende evitar.

Além disso, caso algum sacerdote católico se disponha a denunciar um eventual confidente, como poderá ter certeza da sua identidade? Pois é sabido que na maioria das vezes as confissões são feitas através da grade do confessionário, e nessa situação é difícil o reconhecimento de qualquer pessoa. Exigirá a nova lei que o confessor pergunte o nome do penitente? Quantas outras situações constrangedoras surgirão daí? Os absurdos da lei vão se sobrepondo uns aos outros.

Diante dessa onda, mais uma pergunta se impõe: estarão os sacerdotes australianos — e eventualmente os do mundo inteiro — dispostos a manter o segredo de confissão a todo o custo, até mesmo ao preço da própria vida? Outros já o fizeram no passado…


Mártires do sacramento da confissão

Talvez o caso mais conhecido de martírio por fidelidade ao sigilo da confissão seja o de São João Nepomuceno.4 Em meados do século XIV ele era Arcebispo de Praga e se tornou confessor da rainha Sofia, esposa do rei Wenceslau. O soberano considerou-se no direito de exigir que ele lhe revelasse a confissão de sua mulher. Diante da negativa, em um ataque de cólera Wenceslau ameaçou-o de morte. Posteriormente, aproveitou-se de uma querela com o santo sobre bens da Igreja como pretexto para torturá-lo e atirar seu corpo no rio Moldava. Recolhido pela população local, o corpo foi sepultado religiosamente.

No século XX, durante a perseguição aos católicos no México, o Pe. Mateo Correa Magallanes foi fuzilado pelas autoridades do governo pró-comunista, por se negar a revelar as confissões de prisioneiros resistentes, tornando-se mártir do sigilo sacramental. Pelo mesmo motivo, os padres Felipe Císcar Puig e Fernando Reguera foram martirizados durante a Guerra Civil Espanhola, na década de 30.

Na esteira de protestos generalizados contra abusos sexuais praticados por membros do clero, podem estar sendo articuladas perseguições como essas e muitas outras. Todos nós católicos lamentamos e repudiamos esses eventuais abusos. Mas também desejamos e esperamos que, se a tais extremos chegar a presente perseguição contra a Igreja, os exemplos já registrados pela História sirvam de modelo para os clérigos de nossos dias.

____________
Notas

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 815, Novembro/2018. 


* * *

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

NATAL DAS CRIANÇAS NEGRAS - Cyro de Mattos


Natal das crianças negras
Conto de Cyro de Mattos

       
        
Ilustrações de Calasans Neto



-------------------

O Autor

Cyro de Mattos nasceu e reside em Itabuna, Sul da Bahia. Contista, poeta, cronista, romancista, autor de livros infanto juvenis. Publicou 44 livros, para adultos e para crianças. Tem livros também editados em Portugal (4), Itália (6), França (1), Espanha (1) Alemanha (1). No Brasil e exterior recebeu vários prêmios e, entre eles, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, Prêmio Internacional de Poesia Maestrale Marengo d’Oro, Itália, e do Instituto Piaget de Almada, Portugal. Finalista do Jabuti três vezes. Participou como convidado do III Encontro Internacional de Poetas da Universidade de Coimbra e Feira Internacional do Livro em Frankfurt. Com o romance Os Ventos Gemedores ganhou o Prêmio Pen Clube do Brasil. É membro da Academia de letras da Bahia e Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia.

---------------------

                   Eles moravam no morro, a irmã era chamada de Bel, o irmão de Nel. Bel não recebia da vida a doçura feita com mel. E Nel não vivia a vida, lá no alto morro, como se estivesse no céu. A mãe deles chamava-se Maria. Vestia trajes simples, gastos pelo uso diário. Nunca vestiu um manto azul feito de seda para brilhar no dia, como se via na igreja com a imagem da Virgem Maria.

                    A mãe de Bel e Nel era lavadeira. Tinha as mãos grossas de calo de tanto bater roupa na correnteza de águas límpidas. Durante a semana, descia o caminho pelo barranco com a bacia de roupas sujas na cabeça. Quando chegava à beira do rio, colocava a bacia de roupas em uma pedra grande, junto ao areal. Não demorava e começava a tirar as roupas da trouxa. Molhava, ensaboava, esfregava, lavava e torcia. Estendia as roupas nas pedras pretas para secar ao sol. As pedras pretas, cobertas de roupas estendidas, de repente apareciam coloridas naquele trecho do rio.

                   O pai de Bel e Nel chamava-se José, era carpinteiro. Sabia usar com habilidade os instrumentos de trabalho: martelo, serrote, enxó, plaina e formão. Suas mãos pequenas faziam cadeira, mesa e banco. Consertavam porta, janela e portão. No mês em que Bel completou seis anos de idade, o carpinteiro José começou a sentir dores na espinha. Os ossos inflamados, as mãos trêmulas, o corpo todo doía. À noite, no quarto, gemia. O coração dele foi diminuindo o amor que tinha por São José, o padroeiro da cidade, por causa da doença que o afligia. Até que um dia o pai de Bel e Nel perdeu para sempre sua constante fé em São José, o santo protetor dos carpinteiros.

                   O tempo de Natal era chegado. Nel queria um avião grande, Bel uma boneca que chora. Viram o velho gordo com o rosto rosado pela primeira vez na televisão da loja. Carregava um saco de brinquedos nas costas. Tinha a barba branca e os cabelos sedosos. Vestia uma roupa vermelha. Calçava botas pretas. Numa das cenas em que aparecia na telinha, deixava escapar do rosto rosado um sorriso que transmitia uma sensação de alegria e paz a cada criança que ia falar com ele e receber o seu carinho. Os meninos no passeio da loja não tiravam os olhos da televisão. Comentavam que o velho dava brinquedos à criançada sem querer nada de volta. Eles sorriam quando o velho aparecia com as roupas folgadas na telinha. Olhinhos deles todos no querer, como que encantados, cintilavam.

                   Com olhinhos espertos e risinhos que enchiam os
dentinhos, Bel e Nel foram olhar a árvore enfeitada com bolinhas e luzinhas, armada em um dos cantos da loja. À noite, as luzinhas acendiam e apagavam. A estrela no alto comovia.

                    Descobriram depois o presépio em outro canto da loja, com os camponeses, pastores e bichos. Ficaram admirando o pequeno estábulo do presépio, que tinha o teto coberto de folha de palmeira. Um galo de crista vermelha estava no telhado. Uma estrela brilhava na cumeeira, toda acesa de Deus. Nossa Senhora e São José mostravam os semblantes felizes, ao lado de Jesuscristinho, que dormia o sono bom no berço puro e quente, feito de palha. E os três reis magos, ali no presépio, davam a entender que não eram dignos de tocar na palha onde Jesuscristinho dormia o sono sereno.

                    Sentados no meio-fio do passeio da loja, Bel e Nel escutavam agora a musiquinha que saía alegre pelo alto-falante no poste. De vez em quando o alto- falante baixava o som. Então a musiquinha fazia um fundo musical no mesmo instante em que entrava a voz pausada do locutor. A voz dele informava que vinha de Belém a estrela mais bela. Fora trazida pelas mãos da maior madrugada. Seu brilho imenso descaía do céu e vinha iluminar a relva onde os bichos anunciavam e cantavam o nascimento do menino Jesus. A voz do locutor ficava emocionada quando comunicava que naquele dia o menino pobre nascia no estábulo. Esse menino Deus vinha para afugentar o mal de toda a terra. A voz doce do locutor terminava a mensagem de paz eterna com mais emoção no final quando então revelava que os sinos do mundo inteiro nessa hora tocavam: É Natal! É Natal!

                    O alto-falante voltava a tocar a musiquinha alegre, acompanhada dessa vez de uma cantiga cativante. Bel e Nel continuavam sentados no meio-fio do passeio. Recebiam o sopro da brisa que circulava na rua, ao final do dia. A brisa suavizava os rostos deles dois em silêncio, enquanto seus pequenos corações eram tocados pela cantiga que se repetia e começava assim:

Botei meu sapatinho
Na janela do quintal.
Papai Noel deixou
Meu presente de Natal...

                     Dizia a cantiga ainda mais, que o velhinho sempre visitava o quarto de cada menino onde deixava, ali, um brinquedo como presente naquela noite especial. Seja rico, seja pobre, seja branco, seja preto, como Bel e Nel, o velhinho sorridente e bondoso não esquece de ninguém.

                    Bel e Nel colocaram os chinelos na janela do quarto. Nada acharam no outro dia. Do ponto mais alto do morro ficaram olhando as nuvens alvas, trafegando no céu como grandes almofadas. Umas nuvens menores desenhavam brinquedos enquanto iam passando, mansas, diante dos olhos tristes deles dois.


                     Eles viam nesse instante a cidade lá embaixo, aos seus pés. Imaginavam a algazarra da manhã festiva. No passeio, no jardim, em qualquer canto da casa. Cada menino o brinquedo exibia. Saltava, dançava, corria, sonhava, voava, sorria.

                     Então souberam como o mundo dava as costas a Jesus. Não queria ver Maria. Escondia-se de José. O Natal era a lágrima que pelo rosto deles dois descia.

                     E uma canção desfazia.

* * *









HISTÓRIA DE NATAL DE CYRO DE MATTOS É PUBLICADA NA ITÁLIA EM 6 IDIOMAS



          A história “Natale dei Bambini Neri”  (Natal das Crianças Negras), do escritor  Cyro de Mattos, foi Publicada pela Aracne Editora, de Roma, Itália, em seis idiomas, português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. A capa e as ilustrações internas do livro são de Calasans Neto enquanto a tradução para o italiano é de  Mirella Abriani, poeta e tradutora de poetas  brasileiros e, entre eles, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.
  
         Os outros tradutores de “Natal das Crianças Negras” são estes: Fred Ellison (inglês), Doutor em Letras, da Universidade de Austin, Texas, Estados Unidos; Meritxell Hernando Marsal (espanhol), Doutora em Tradução, da Universidade de São Paulo;  Luciana Wrege Rassier, Doutora em Estudos de Tradução, da Universidade Federal de Santa  Catarina,  e Jean-José Mesguen, tradutor para o francês do romance Primeiro de Abril de Salim Miguel; Marcel Vejmelka (alemão), Doutor em Tradução, da Universidade de Mainz, em Germersheim, Alemanha.
     
          A história “Natal das Crianças Negras”, em tradução de Mirella Abriani,  anteriormente havia sido incluída na antologia Natale Di Pace e D’Amore  (Natal de Paz e de Amor), organizada por Marco  Delpino, Edição Tigullio-Bacherontius, Santa Margherita, Genova, Itália, em 2006.

          Autor de diversos gêneros, com 48 livros publicados no Brasil, o  baiano (de Itabuna) Cyro de Mattos é também editado em Portugal (4 livros), Itália (6 livros), Espanha (1 livro), França (1 livro) e Alemanha (1 livro). Contos e poemas seus estão incluídos  em revistas e antologias publicadas  nos Estados Unidos, Portugal, Itália, França, Rússia, Alemanha, Dinamarca e Espanha.


* * *

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

PRÊMIO “POESIA E LIBERDADE ALCEU AMOROSO LIMA” DE 2018 VAI PARA O POETA ÁLVARO ALVES DE FARIA



                O poeta Álvaro Alves de Faria foi distinguido com o Prêmio “POESIA E LIBERDADE Alceu Amoroso Lima”, de 2018, pelo conjunto de sua obra poética. O prêmio será entregue no dia 5 de dezembro, no Centro Alceu Amoroso Lima – o Tristão de Athayde -, da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. O poeta é autor de mais de 50 livros no Brasil, especialmente de poesia. É também autor de peças de teatro. Álvaro Alves de Faria se considera um militante da poesia, desde os tempos de “O Sermão do Viaduto”, nos anos 60, quando realizou 9 recitais no Viaduto do     Chá, em São Paulo, com microfone e quatro alto-falantes.

             Por esse motivo foi detido cinco vezes pelo Dops. O Sermão do Viaduto acabou proibido. No final dos anos 70, também foi proibido pela censura seu livro “4 Cantos de Pavor e alguns Poemas Desesperados”. Sua peça “Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo”, que recebeu o Prêmio Anchieta para Teatro, na época um dos mais importantes do país, também foi proibida de encenação nos anos 80 e permaneceu censurada por 8 anos.

             Em 1969, o poeta foi preso por 11 meses, como subversivo e por desenhar os cartazes do então Partido Socialista Brasileiro. Três anos depois, levou um tiro no ouvido e tem até hoje na cabeça a bala calibre 38, como herança da ditadura militar. Ao longo do tempo, dedicou-se por 15 anos à poesia portuguesa. Tem 19 livros de poesia publicados em Portugal e 7 na Espanha, além de participar de mais de 50 antologias de contos e poesia no Brasil e no exterior. O Prêmio POESIA E LIBERDADE é um dos mais importantes e significativos do Brasil no reconhecimento de uma obra poética que sempre foi testemunha de seu tempo, num ato de resistência.

           Antes do poeta Álvaro Alves de Faria receberam o prêmio “POESIA E LIBERDADE Alceu de Amoroso Lima” os poetas João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Paulo Henrique Brito, Armando Freitas Filho, Marco Lucchesi, Antonio Cícero e Leonardo Fróes.
 


* * *

terça-feira, 27 de novembro de 2018

ABL: NOVA EDIÇÃO DO ROMANCE ‘A SUCESSORA’, DE CAROLINA NABUCO (1890-1981), SERÁ LANÇADO NA ABL


O romance A sucessora, de Carolina Nabuco – filha de um dos fundadores e primeiro Secretário-Geral da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Nabuco (1849-1910) – será lançado, em nova edição da editora Instante, no Petit Trianon da ABL, dia 4 de dezembro, às 16 horas.

Publicado em 1934, A Sucessora obteve grande sucesso editorial, recebendo diversas reedições no Brasil, estando fora de catálogo desde 1996. O livro, segundo os editores, une prosa intimista e psicológica ao dar voz a uma protagonista feminina: Marina, uma jovem recém-casada que, após uma romântica lua de mel, muda-se para a mansão do marido, o milionário Roberto Steen.

“Ao entrar em sua nova residência, depara-se com um imponente retrato de Alice, a primeira mulher de Roberto, falecida poucos meses antes de Marina e ele se conhecerem. Alice era dona de uma personalidade exuberante e um ícone da sociedade carioca, enquanto Marina, criada na fazenda da família, sempre levou uma vida simples e distante dos costumes liberais da cidade grande. Marina é então invadida por sentimentos de insegurança e inadequação. Afinal, numa vida em que todos a comparam à primeira madame Steen, será que seu amor por Roberto resistirá ao fantasma de uma mulher tão especial?”

 A AUTORA

Carolina Nabuco nasceu no Rio de Janeiro, em 1890. Passou a adolescência nos Estados Unidos, onde o pai, o estadista e abolicionista Joaquim Nabuco, era embaixador do Brasil. Tornou-se importante escritora já ao publicar seu primeiro livro: a biografia de seu pai, em 1928, obra que no ano seguinte receberia o Prêmio de Ensaio da Academia Brasileira de Letras. Apesar da educação recebida no exterior, possuía espírito brasileiro. Atuou como escritora e tradutora e levou uma vida discreta. Não se casou nem teve filhos.

Além de A vida de Joaquim Nabuco e de A sucessora, escreveu outros livros: Chamas e cinzas (romance, 1947), Visão dos Estados Unidos (viagem, 1953), Santa Catarina de Sena (biografia, 1957), A vida de Virgílio de Melo Franco(biografia, 1962), Retrato dos Estados Unidos à luz da sua literatura (crítica literária, 1967), O ladrão de guarda-chuva e dez outras histórias (coletânea de contos, 1969) e Oito décadas (memórias, 1973).

Em 1978, Carolina Nabuco recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Quatro anos depois, em agosto de 1981, faleceu, em decorrência de um ataque cardíaco, aos 91 anos de idade, em sua casa na rua Marquês de Olinda, no Rio de Janeiro.

14/11/2018

http://www.academia.org.br/noticias/nova-edicao-do-romance-sucessora-de-carolina-nabuco-1890-1981-sera-lancado-na-abl

* * *

LUGAR SAGRADO DAS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


27 de novembro de 2018
  Plinio Corrêa de Oliveira

Na Rue du Bac, em Paris, é onde se encontra a capela em que Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré (1806-1876) e lhe fez várias revelações no ano de 1830.(*)

Para falar com Santa Catarina, a Virgem Santíssima sentou-se numa modesta cadeira, que se conserva na capela [foto abaixo]. Neste mesmo lugar sagrado, estão sepultadas Santa Luísa de Marillac (1591-1660), fundadora das Irmãs da Caridade, e Santa Catarina Labouré [foto ao lado], cujos corpos permanecem milagrosamente incorruptos até hoje. Essas religiosas usam uma espécie de chapéu muito bonito, e mesmo muito poético, inspirado em toucados de camponesas da Bretanha.

Lembro-me bem que na primeira vez em que estive na capela, na década de 1950, logo percebi a cadeira e ajoelhei-me junto ao braço esquerdo dela, rezei e a osculei.

Anos mais tarde, estando na Europa, voltei com alguns amigos para rezar na capela. Pedimos autorização para oscular a cadeira a uma pessoa responsável pela segurança. Ela, entretanto, negou brutalmente a autorização. Lembrei-me então de um salmo de David que diz doloridamente: “Tornei-me um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe” (Sl 68,9).
____________
Notas:
Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 13 de janeiro de 1989. Sem revisão do autor.

Entre as referidas revelações, a mais importante foi a da Medalha Milagrosa, no dia 27 de novembro de 1830. A respeito, vide edição de novembro/2008 de Catolicismo:


Comentário:

27 de novembro de 2018 à 15:29

Pois eu diria, além do Salmo de Davi, o seguinte: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais o Reino dos Céus aos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam! Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que percorreis terra e mar para granjear um prosélito e, uma vez conquistado, o tornais merecedor do inferno duas vezes mais do que vós!” (S. Mateus 23, XIII-XV)


* * *