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segunda-feira, 20 de julho de 2020

HINO AO SOL - São Francisco de Assis


 Hino ao Sol

Senhor Onipotente, ó Eterno Senhor,
Toda a honra te pertence, a Vida, a Luz e o Amor.
Supremo Criador dos luminosos Céus,
O homem não foi jamais digno de nomear
Teu Nome Soberano: este é maior que o mar!
Por toda a Criatura, onde quer que ela esteja,
Bendito seja Deus, Louvado sempre seja
De meu grande Senhor o Nome Sacrossanto,
Que revigora o fraco e dulcifica o Santo,
Que lhe dê glória o Sol, tão fulvo e coruscante.

Fonte de Vida e Luz, tão belo e radiante,
Que dissipa a noite a sombra do terror,
Inundando a amplidão de límpido fulgor.
Bendito seja sempre o meu Deus pela lua,
Que à noite na amplidão dos espaços flutua,
Espargindo uma luz tão doce e maviosa
Como um Hino celeste e o aroma de uma Rosa...
Por esses mil milhões de Estrelas cintilantes
Tão lindas lá nos céus, tão altas e distantes.
Entoe o teu louvor o Vento nosso Irmão,
Que faz rugir o Oceano em fúrias de Leão.
Que tudo te glorie – tempo, nuvens e ar, -
Num hino triunfal, e sem cessar!

Louvado sejas sempre, ó Divino Senhor,
Pela água nossa Irmã, a qual, com seu frescor,
Pura como cristal, fecundante e preciosa,
 Nos suaviza a sede e faz florir a Rosa...
Ó Supremo Poder, glorifique-Te o Fogo,
O qual seja onde for, apenas surge logo
Dissipa a escuridão e é alegre e formoso,
Robustíssimo e Doce, Altivo e Esplendoroso.

Louvado sejas tu, pela Terra, Senhor,
Pois ela nos sustenta e produz Fruto e Flor:
Flor dum fino matiz com que nós Te adoramos.
Fruto diverso e bom com que nos sustentamos.
Bendito sejas sempre, inefável Senhor,
Por quem, de coração, pelo Teu Santo Amor,
Perdoa a quem odeia, e tem resignação
No mais cruel pesar, na maior provação!

Oh! Bendito e Feliz o que conserva a Paz
Que sempre flui de Ti: Venturoso o que traz
Teu Nome – Grande e Bom! – em sua alma guardado,
Porque Ele, lá no Céu, será glorificado.


 SÃO FRANCISCO DE ASSIS
(Versão do Pe. Francisco Siqueira)
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LUSO-BRASILEIRA - ANTOLOGIA FTD 1ª e 2ª séries do Ciclo Ginasial
Livraria Francisco Alves
PAULO DA AZEVEDO & CIA., LTDA

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A CIDADE E O CORONAVÍRUS – Cyro de Mattos


A Cidade e o Coronavírus
Cyro de Mattos

          Quando a cidade comemora outro ano de emancipação política, falam do progresso e vocação de seu povo para o trabalho. A cidade vive o clima de festa e desperta muito cedo com a descarga de foguetes que crepitam no céu. Os moradores sabem que a cidade é antes de tudo raiz que se aninha no peito e seiva que escorre no esforço dos dias.

          É trama com ânsia e sonho. Acontece nas mãos generosas do padeiro, no feijão preparado pela cozinheira, que o ano todo tem calo e calor nas mãos. Na colher do pedreiro. No sermão do padre, na filarmônica tocando na praça, convidando o povo para voar na valsa. Na cuia do cego, na cartilha da professora. Na bola do menino que quebrou a vidraça do vizinho. Com os namorados que passeiam de mãos dadas no jardim. Na rua, na loja, no armazém, no banco, a cidade com o seu modo de estipular o mundo.

          Na guerra da palavra em tempo de eleições quando a vitória é uma questão de vida ou morte. No jornal televisivo que dá a notícia boa ou má, sempre veloz, indo de canto a canto. Nos dias de hoje, desse terrível coronavírus e de um governo executivo que se nutre de ódio com um presidente incendiário, certamente a notícia fere e deixa o brasileiro atônito.
     
          Com sangue nas veias que sangram todos os dias, a cidade anda às vezes triste, os pés descalços, adormece embaixo de marquises. Atropela na dura lei da vida, converte-se em tempo de violência e miséria, que cada vez mais assusta.

          Com vários jornais, emissoras de rádio, canais de televisão, colégios, hospitais, ruas e avenidas asfaltadas, universidade como brasa verdejante em seu novo dizer da lavra, a cidade vive agora a época da automação, da moderna sociedade de massas. Sabe que hoje o mundo é uma aldeia global, não podendo desviar-se dessa sintonia. Mas na cidade ainda encontramos a maneira sensível de alguns conceberem a vida com a razão e a emoção na mais completa leitura do mundo através da arte da palavra.  Existem aqueles que lambem as palavras e se alucinam. Falam de coisas agudas. Tentam com a palavra permanecer na vida, negando a morte.

          Mas ninguém imaginaria que a cidade fosse interrompida no seu fluxo de vida com essa guerra do coronavírus. Agora todos andam de máscara quando uma necessidade impõe que vá comprar algo necessário na farmácia.  Em nossas casas vivemos recolhidos na quarentena.  A notícia na televisão informa os estragos que o coronavírus vem fazendo aos frágeis seres humanos. A cidade está vazia. Vivemos um clímax de filme de ficção científica. De pesadelo e desalento. As ruas desertas.  Impiedoso, sorrateiro, veloz, o coronavírus ataca todo o planeta e não se satisfaz com as vítimas que mata a todo instante.

           Mas venceremos essa impiedosa guerra bacteriana, esperando-se que no próximo ano estejamos comemorando o dia de aniversário da cidade com abraços, euforia de risos no rosto aberto de contente, sem faltar as badaladas do sino na catedral de São José, o padroeiro da cidade, e a descarga de foguetes no céu.

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Cyro de Mattos é escritor e poeta. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Possui prêmios literários expressivos no Brasil e exterior. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia.
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