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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

LANÇAMENTO: A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA REVOLUÇÃO DOS ALFAIATES, DE FLORISVALDO MATTOS


Revolta dos Búzios, 220 anos   

Boletins sediciosos, o embrião do
Jornal impresso na Bahia de 1798


Pelos 220 anos da também chamada Revolta dos Búzios, que abalou o morno cenário colonial-urbano da então Cidade da Bahia, em agosto de 1798, a Assembleia Legislativa da Bahia lançará no próximo dia 24, às 18 horas, em segunda edição, no Instituto
Geográfico da Bahia, o livro intitulado A comunicação social na Revolução dos Alfaiates, de Florisvaldo Mattos, em que, deixando aos historiadores a parte essencialmente histórica, o autor aborda o que considerou ponto crucial, o papel da comunicação social na dita insurreição, que visava libertar o Brasil-Colônia do jugo colonizador de Portugal sob o primado de múltiplas bandeiras, tais como independência da Capitania, implantação da república, abolição da escravatura, igualdade para todos, livre comércio com as nações do mundo, interrupção de vínculo com a Igreja do Vaticano, instituição do trabalho remunerado, melhoria do soldo militar e garantias para os plantadores de cana, fumo e mandioca, assim como para comerciantes.

Calcula-se que centenas de pessoas estivessem engajadas no pretendido levante, todos em sua maioria pertencentes à mais reduzida condição social, mas, segundo os estudiosos, apenas 33 deles foram processados, sendo 11 escravos, seis soldados da tropa paga, cinco alfaiates, três oficiais militares, dois ourives, um pequeno negociante, um bordador, um pedreiro, um professor, um cirurgião e um carpinteiro, e, desses, desbaratado o movimento, como exemplo máximo de sofrimento, crueldade e tragédia, somente sobre quatro recaíram as penas de 
enforcamento, seguido de esquartejamento e exposição de despojos fixados em postes e espalhados por vários pontos da cidade, dois deles soldados (Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas do Amorim Torres) e dois artesãos (João de Deus do Nascimento, mestre alfaiate, e Manoel Faustino dos Santos Lira, então oficial alfaiate, mas ex-escravo), livrando-se da punição severa um quinto personagem, Luiz Pires, também artesão, porque desaparecera, sem deixar rastros, numa Bahia colonial, cuja estrutura social se assentava no patriarcalismo e na economia escrava, com uma população estimada em menos de 200 mil habitantes, sendo 50 mil para o Recôncavo, menos de 60 mil para a Capital e menos de 100 mil para o resto da Capitania.

Baseado em fontes primárias e secundárias, em seu livro, o autor preferiu focar as suas lentes nas relações de comunicação que permitiram, seja no nível interpessoal, pela via oral, com predominância da conversa e do recado, seja no da comunicação manuscrita, com cartas, bilhetes e avisos, os revoltosos atuarem em dois planos: o da formação da consciência política e revolucionária e o da preparação para o levante, praticamente se esgotando nelas toda a engrenagem conspiratória, havendo, no entanto, um momento determinante que levou à frustração e ao fim trágico do movimento.

Foi quando, superando repentinamente as limitações da comunicação em círculo privado, na madrugada de 12 de agosto de 1798, a população foi surpreendida com uma série de textos manuscritos, em número de dez, afixados em locais públicos, para onde convergia grande número de pessoas, tais como portas de igreja, os chamados cantos do peixe, açougues, feiras de frutas e legumes, cais do porto, portas de quartéis, tendas de alfaiates e oficinas de artesãos, veiculando mensagens de conteúdo basicamente político-ideológico, em prol de uma reforma social. Deveu-se ao uso de um búzio de Angola, às vezes até preso na lapela, como uma das formas de identificação de conjurados, no trânsito diário por esses pontos, a opção posterior de se dar ao movimento a designação de Revolta dos Búzios, a preferida na atualidade.

A partir daí, deflagrada a perseguição, instalaram-se dois processos regidos por dois desembargadores fiéis à Corte de Portugal, um para investigação do que se passou a chamar "boletins sediciosos", espalhados pela cidade, e outro voltado para a reunião de preparação para o levante, que fora convocada para o dia 25 seguinte, no então chamado Dique do Desterro, naquele tempo um lugar afastado e ermo.

Foi sobre tal nova forma de comunicação que Florisvaldo Mattos centrou a sua análise, considerando que esses dez “boletins sediciosos”, apesar de manuscritos, foram para os revolucionários e para o movimento “o seu jornal, seu instrumento de divulgação de ideias e definições para um público mais amplo, que extrapolava o circuito da conspiração até aquele momento” e assim, tendo em vista esse aspecto, tomou-os como a mais expressiva e inovadora forma de comunicação indireta utilizada pelos participantes da conjuração, desempenhando, para a época, o legítimo papel de jornal manuscrito, por meio do qual os conjurados difundiram as suas ideias e projetos de reforma social, com sublevação da ordem constituída, para um público indeterminado - chamado por eles de Povo Bahiense -, com características de comunicação pública, unilateral e indeterminada, como seriam alguns anos depois - no Brasil e na Bahia - os jornais impressos, a Gazeta do Rio de Janeiro, em 1908, autorizada por carta-régia de dom João VI, e Idade D´Ouro do Brazil, em 1811, na Bahia.

Motivos de uma das devassas que apuraram a conspiração, segundo ele, esses dez boletins sediciosos visavam, em essência, alcançar um público, uma coletividade de pessoas, em apoio do movimento. Dirigidos ao Povo Bahiense, cinco eram encabeçados como Aviso, um como Nota e quatro como Prelo, palavra que sintomaticamente fazia ressoar a técnica de impressão inaugurada por Gutenberg, que deu origem a toda a uma consagrada cultura editorial e gráfica no Ocidente.  Sob o título de Aviso ao Povo Bahiense, eis uma dessas conclamações:

Ó vós Homens Cidadãos, ó vós Povos curvados e abandonados pelo Rei, pelos seus ministros.
Ó vós Povos que estais para serdes Livres, e para gozardes dos bons efeitos da Liberdade; Ó vós Povos que viveis flagelados com o pleno poder do Indigno coroado, esse mesmo Rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é quem se firma no trono para vos vexar, para vos roubar e para vos maltratar.
Homens, o tempo é chegado para a vossa Ressurreição, sim para ressuscitardes do abismo da escravidão, para levantardes a Sagrada Bandeira da Liberdade.
A liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem com igual paralelo de uns para outros, finalmente a liberdade é o repouso, e bem-aventurança do mundo.
A França está cada vez mais exaltada, a Alemanha já lhe dobrou o joelho, Castela só aspira a sua aliança, Roma já vive anexa, o Pontífice já está abandonado, e desterrado; o rei da Prússia está preso pelo seu próprio povo: as nações do mundo todas têm seus olhos fixos na França, a liberdade é agradável para vós defenderdes a vossa Liberdade, o dia da nossa revolução, da nossa Liberdade e da nossa felicidade está para chegar, animai-vos que sereis felizes para sempre.

Na verdade, para o autor, esses boletins constituíram-se no mais vigoroso instrumento de divulgação dos revolucionários de 1798, como nítida compensação à inexistência de meios impressos, sustentando que, em face das precariedades técnicas da época, devem ser comemorados, senão como ato legítimo de imprensa, como seu alvissareiro embrião e prova coletiva de vontade redentora e modernizadora da Colônia do Brasil, 220 anos depois.
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FLORISVALDO MATTOS:

Nascido em Uruçuca, antiga Água Preta do Mocambo, na Região do Cacau da Bahia, quando ainda distrito de Ilhéus, residindo depois em Itabuna, onde cursou no Ginásio da Divina Providência, e transferindo-se depois para Salvador, Florisvaldo Mattos diplomou-se em Direito, em 1958, mas optou pelo exercício do jornalismo, no mesmo ano, integrando inicialmente a equipe fundadora do Jornal da Bahia, como extensão da militância cultural de parcela do grupo nuclear da Geração Mapa, atuante, nos anos 1960, sob a liderança do cineasta Glauber Rocha.

Foi professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde ministrou disciplinas e ocupou cargos na Faculdade de Comunicação, e foi presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, de 1987 a 1989; jornalista, escritor e poeta, desde 1995 ocupa a Cadeira 31, da Academia de Letras da Bahia.
Atuação em jornais: Jornal da Bahia, Estado da Bahia, Diário de Notícias, Jornal do Brasil (RJ); afastou-se do jornalismo em 2011, no cargo de Diretor de Redação do jornal A Tarde, de Salvador, onde antes editou por quase 14 anos o caderno “A Tarde Cultural”, premiado em 1995 pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA, na categoria de Divulgação Cultural.

É autor dos seguintes livros: Reverdor, 1965, Fábula Civil, 1975, A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior, 1996 (Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores), Mares Anoitecidos, 2000, Galope Amarelo e outros poemas, 2001, Poesia Reunida e Inéditos, 2011, Sonetos elementais, 2012, Estuário dos dias e outros poemas, 2016, e Antologia Poética e Inéditos, 2017 (todos de poesia); Estação de Prosa & Diversos, (coletânea de ensaios, ficção e teatro, 1997); A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates, 1998 (1ª edição), e Travessia de oásis - A sensualidade na poesia de Sosígenes Costa, 2004, ambos de ensaio.
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LANÇAMENTO: Assembleia Legislativa da Bahia
LIVRO:  A Comunicação na Revolução dos Alfaiates
2ª Edição. Salvador: ALBA, 2018, 208, p.
AUTOR: Florisvaldo Mattos
LOCAL: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)
DATA: 24/08/2018
HORÁRIO: 18 horas

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A ASSUNÇÃO: PRÊMIO PELOS SOFRIMENTOS DA CO-REDENÇÃO


terça-feira, 14 de agosto de 2018

Assunção, Fra Angelico  (1395 – 1455), Google Cultural Institute.

Nosso Senhor quis Ele mesmo subir aos céus contemplado pelos homens. Mas, também quis que a Assunção de Nossa Senhora para o Céu, depois da dEle, se desse diante do olhar humano.

Por quê?

Era preciso que a Ascensão fosse vista por homens que pudessem dar testemunho desse fato histórico duplo: não só de que Nosso Senhor ressuscitou, mas de que tendo ressuscitado Ele subiu aos céus.

Subindo ao Céu, Ele abriu o caminho para as incontáveis almas que estavam no Limbo esperando a Ascensão para irem se assentar à direita do Padre Eterno.

Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo ninguém podia entrar no Céu. Ali só os anjos estavam lá.

Então Nosso Senhor, na Sua Humanidade santíssima, foi a primeira criatura – porque Ele ao mesmo tempo era Homem-Deus – que subiu aos Céus.

E enquanto Redentor nosso, Ele abriu o caminho dos Céus para os homens.

Também era preciso que Ele, que sofreu todas as humilhações, tivesse todas as glorificações.

E glória maior e mais evidente não pode haver do que o subir aos Céus.

Porque significa ser elevado por cima de todas as coisas da terra e unir-se com Deus Pai transcendendo esse mundo onde nós estamos para se unir eternamente com Deus no Céu Empíreo.

Jesus Cristo quis que Nossa Senhora tivesse a mesma forma de glória.

Assim como Ela tinha participado como ninguém do mistério da Cruz, que Ela participasse também da glorificação dEle.

A glorificação dEla se deu sendo levada aos céus.

Foi uma assunção e não uma ascensão. A ascensão foi a de Nosso Senhor ao céu por Sua própria força e poder. 
A coroação no Céu foi a culminação da Assunção.
Fra Angelico  (1395 – 1455). Galeria degli Uffizi, Florença

A assunção não é igual. Nossa Senhora não subiu ao Céu por um poder próprio, mas pelo ministério dos anjos. Ela foi carregada aos céus pelos Anjos.

Foi a grande glorificação dEla nesta terra, prelúdio da glorificação dEla no Céu.

No momento em que Ela entrou ao Céu, Ela foi coroada como Filha dileta do Padre Eterno, como Mãe admirável do Verbo Encarnado e como Esposa fidelíssima do Divino Espírito Santo.

Nós devemos conceber a Assunção como um fenômeno gloriosíssimo.

Infelizmente, os pintores da Renascença para cá não souberam descrever a glória que cercou este espetáculo.

Quando se quer glorificar alguém, todo mundo se põe nos seus melhores trajes, na casa se exibem os melhores objetos, se ornamenta com flores, tudo aquilo que há de mais nobre é exibido para glorificar a pessoa a quem se quer homenagear.

Esta regra da ordem natural das coisas é seguida também no Céu. Então é claro que o maior brilho da natureza angélica, o fulgor mais estupendo da glória de Deus deve ter aparecido no momento em que Nossa Senhora subiu ao Céu.

Muitas vezes na história a presença dos anjos se faz sentir de um modo imponderável, embora não seja uma revelação deles.

Mas nesta ocasião, deveriam estar rutilantíssimos, num esplendor invulgar.

É natural também que o sol tenha brilhado de um modo magnífico, que o céu tenha ficado com cores variadas refletindo a glória de Deus como numa verdadeira sinfonia. 
Assunção, igreja de São Cipriano, Londres

É natural que as almas das pessoas que estavam na terra tenham sentido essa glória de um modo extraordinário, a verdadeira manifestação do esplendor de Deus em Nossa Senhora.

Nenhum dos esplendores da natureza podia se comparar com o esplendor pessoal de Nossa Senhora subindo ao Céu.

À medida que Ela ia subindo, como num verdadeiro monte Tabor, a glória interior dEla ia transparecendo aos olhos dos homens.

O Antigo Testamento diz dEla: omnis glória eius filia regis ab intus ((Ps 44, 10) – toda a glória da filha do rei lhe vem de dentro.

Com certeza essa glória interna dEla se manifestou do modo mais estupendo quando, já no alto de sua trajetória celeste, Ela olhou uma última vez para os homens, antes de deixar definitivamente esse vale de lágrimas e ingressar na glória de Deus.

Foi o fato mais esplendorosamente glorioso da história depois da Ascensão de Nosso Senhor.

Comparável apenas com o dia do Juízo Final em que Nosso Senhor Jesus Cristo virá em grande pompa e majestade para julgar os vivos e os mortos.

Junto com Ele, toda reluzente da glória dEle, aparecerá também Nossa Senhora. Nós devemos considerar aí a impressão que tiveram os apóstolos e os discípulos quando A viram subir ao Céu.

A tradição narra que o apóstolo São Tomé duvidou da Ascensão. Por isso foi convidado por Nosso Senhor a meter a mão na chaga sagrada do flanco dEle.

Ele recebeu a Pentecostes e ficou confirmado em graça e um grande santo.

Mas conta uma tradição venerável que, porque ele duvidou da Ascensão, na hora da morte e da Assunção de Nossa Senhora ele não estava presente.

Quando chegou Nossa Senhora já estava a certa distância da terra.

E ali vemos a índole de Nossa Senhora super materna, incomparável. Quando

Foi um castigo pungente e merecido por uma culpa tão reparada. Então, conta-se que Ela sorrindo, concedeu uma graça a ele que não concedeu a nenhum outro:

Ela desatou o seu cinto e de lá de cima fez cair o cinto sobre ele, que ele recebeu – não como um perdão, porque ele já estava perdoado – mas como uma suprema graça, que era uma relíquia dEla atirada para ele do mais alto dos céus.
Assunção, col. UTS, manuscrito MS49

Assim faz Nossa Senhora quando tem algo a perdoar a algum filho muito dileto.

Ela pune às vezes, porque às vezes Ela nem sequer pune, mas Ela o faz com um sorriso tão bondoso, de um perdão tão completo e de uma graça tão grande que São Tomé poderia mostrar esse presente dizendo: “o felix culpa, ó culpa feliz! Eu tive a desgraça de duvidar de meu Salvador, mas em compensação eu tive a felicidade de receber esta relíquia direta e celeste de minha Mãe Santíssima”.

O último favor dEla, a amenidade mais extrema, a bondade mais suave Ela deu exatamente a São Tomé.

Isto nos deve encorajar.

Não há nenhum de nós que não tenha falhas, não tenha algum perdão a pedir.

Nós devemos pedir a Nossa Senhora na festa da Assunção que Ela olhe para nossas falhas, e nos dê um perdão.

Se nós chegarmos atrasados, que Ela nos dê o favor especial, particularmente rico e suave, de maneira tal que quando os acontecimentos anunciados por Nossa Senhora em Fátima nós estejamos prontos.

Em Fátima durante no milagre do sol, esse se manifestou de um modo tão esplêndido, num espetáculo de terribilidade.

Na Assunção de Nossa Senhora poderemos ir nos preparando para os grandes momentos previstos em Fátima com a certeza de que Ela nos sorrirá com a super maternidade com que tratou a São Tomé.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra de 10.8.1968, sem conferição do autor)


Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



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