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sexta-feira, 8 de abril de 2022

A BELEZA – Gibran Khalil Gibran


A Beleza

 

            E um poeta disse: “Fala-nos da Beleza”.

            E ele respondeu:

            “Onde procurareis a beleza e como a podereis encontrar a menos que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia?

            E como podereis falar a menos que ela mesma teça vossas palavras?

 

            Os aflitos e os feridos dizem: A beleza é amável e suave.

            Como uma jovem mãe,  meio encabulada na sua glória, ela caminha entre nós.

            Os apaixonados dizem: Não, a beleza é uma força poderosa e temível.

            Como a tempestade, ela sacode a terra abaixo e o céu acima.

            Os cansados e os gastos dizem: A beleza é um murmúrio suave. Fala em nosso espírito.

            Sua voz cede aos nossos silêncios como uma luz tênue que treme por medo da sombra.

            Mas os turbulentos dizem: nós a ouvimos gritar entre as montanhas.

           E com seus gritos chegavam o tropel de cavalos, o bater de asas e o rugir de leões.

           À noite, os guardas da cidade dizem: A beleza despontará do Oriente, com a aurora.

            E, ao meio-dia, os trabalhadores e os transeuntes dizem: Nós a temos visto inclinada sobre a terra, das janelas do poente.

            No inverno, os prisioneiros  da neve dizem: Ela virá com a primavera, pulando sobre as colinas.

            E no calor do verão, os ceifeiros dizem: Nós a vimos dançar com as folhas do outono, e havia neve no seu cabelo.

 

            Todas as coisas, vós dissestes da beleza.

            Porém, na verdade, não falastes dela, mas de desejos insatisfeitos.

            E a beleza não é um desejo, mas um êxtase.

            Não é uma boca sequiosa, nem uma mão vazia que se estende.

            Mas, antes, um coração inflamado e uma alma encantada.

            Ela não é a imagem que desejais ver, nem a canção que desejais ouvir.

            Mas, antes, a imagem que contemplais com os olhos velados, e a canção que ouvis com os ouvidos tapados.

            Não é a seiva por baixo da cortiça enrugada, nem uma asa atada a uma guarra,

            Mas, sim, um pomar sempre em flor, e uma multidão de anjos em voo.

           

            Povo de Orphalese, a beleza é a vida quando a vida desvela seu rosto sagrado.

            Mas vós sois a vida, e vós sois o véu.

            A beleza é a eternidade olhando para si própria num espelho.

            Mas vós sois a eternidade, e vós sois o espelho.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran



Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

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UMA LÁGRIMA E UM SORRISO

 

          Gibran escreveu livros mais importantes do que este, mas nenhum que contenha tanta ternura e tanta inspiração.

          Uma Lágrima e um Sorriso é o primeiro livro escrito por Gibran. Ele era ainda jovem. Seu gênio não tinha sido disciplinado pela arte e a maturidade. Voava livremente nos espaços ilimitados. Entregava-se sem reserva aos seus ímpetos de compaixão e idealismo. Falava ao vento, às flores, às ondas como se falasse a amigos humanos, e registrava suas impressões com todo o transbordamento emocional e verbal do romantismo.

          O resultado é este livro fascinante, que ressuscita em nós sonhos mais longínquos e nos faz reviver as deliciosas ilusões de nossos 15 anos, quando transformar o mundo pelo entusiasmo nos parecia ao alcance da mão, e quando uma palavra de amor nos abria o paraíso.

          Ler este livro é como nos reencontrar com nosso Eu mais jovem, um Eu esquecido e enterrado por baixo das decepções e amarguras da vida, e que o idealismo de Gibran e seu estilo colorido e inspirado conseguem trazer à vida, para nossa surpresa e nossa delícia.

 MANSOUR CHALLITA