28 de Fevereiro de 2019
♦ Fonte: Revista
Catolicismo, Nº 818, Fevereiro/2019
Resposta do Padre David Francisquini
Pergunta — A mídia vem noticiando, com frequência cada
vez maior, casos escandalosos de abusos sexuais por parte de clérigos, o que
leva alguns a duvidarem da Fé católica e se afastarem da Igreja, ou pelo menos
da prática religiosa. Outros dizem que seria melhor eliminar o celibato
sacerdotal, alegando que ele é o responsável por tais abusos. Qual a melhor
defesa que um católico pode fazer da Igreja nessa situação constrangedora?
Esses fatos podem ser denunciados, ou isso equivaleria a levar água para o
moinho dos inimigos da Igreja?
Resposta — Começamos por esclarecer que nem todas
as denúncias de abuso divulgadas pela mídia ou investigadas pela Justiça são
verdadeiras. Sabe-se que em muitos países os veículos de divulgação, como
também muitas autoridades da Justiça, são hostis à Igreja Católica, e vão
acusando e condenando sacerdotes e prelados sem ouvi-los, desrespeitando assim
a presunção de inocência de que goza qualquer acusado até o julgamento.
É inegável, contudo, que muitas das investigações
confirmaram grande número de casos de abuso sexual por parte de clérigos,
incluindo bispos e até mesmo um cardeal de muito destaque. Revelou-se ainda a
existência de verdadeiras redes de corrupção dentro de alguns seminários e em
organismos ligados à Igreja.
O celibato sacerdotal nada tem a ver com a difusão dessa
praga moral do abuso sexual. Estudos estatísticos sérios provam que em mais de
80% dos casos trata-se de abusos de adolescentes ou de jovens de sexo masculino
por parte de clérigos homossexuais. Um estudo, em particular, provou que o
número desses abusos cresceu exatamente na mesma proporção em que aumentou o
número de pessoas com atração homossexual nas fileiras do Clero.
A arca de Noé continha animais puros e impuros
A Arca de Noé, que continha animais puros e impuros
(Gn 7, 2; 1 Pd 2, 6; cfr. At 10, 9; 11, 4-18), era também
uma imagem e semelhança desta Igreja [militante].
Essa infiltração se deu de modo especial a partir da década
de 1960, devido ao relaxamento nas condições para a admissão nos seminários e
na disciplina destes, bem como pela relativização da Moral nos estudos de
Teologia após o Concílio Vaticano II. Contribuiu também a difusão da chamada
“homo-heresia”, ou seja, o erro de afirmar que a atração homossexual não é
contrária à natureza, e que as relações homossexuais são lícitas.
Não é a primeira vez na história da Igreja que a heresia e a
corrupção moral se espalham como câncer entre os que são chamados a ser “o
sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5, 13-14). Mas, em cada
circunstância, os Papas e os Santos conseguiram reformar o Clero e restaurar
tanto a disciplina eclesiástica como a pureza dos costumes, que deve
caracterizar os ministros de Deus. No tenebroso período que atravessamos hoje,
essa necessária reforma moral das fileiras do Clero e da Hierarquia nem sequer
começou.
Diante desses escândalos, e para fortalecer a nossa fé,
convém relembrar que, de acordo com o Catecismo do Concílio de Trento, a Santa
Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo não é como a imaginavam Lutero e
seus sequazes, ou seja, como uma comunidade puramente espiritual e constituída
somente por justos que têm fé.
Ao falar da Igreja militante — “o conjunto dos fiéis
que ainda vivem na Terra” —, diz o referido Catecismo: “Há na Igreja
militante duas categorias de homens: bons e maus. Certo é que os maus
participam, com os bons, dos mesmos Sacramentos, professam a mesma fé, mas não
lhes são semelhantes nem na vida, nem nos costumes”. Mais adiante,
ainda repete: “A Igreja comporta não só os bons, mas também os maus.
Assim o demonstra o Evangelho por muitas parábolas, quando diz, por exemplo,
que o Reino dos céus – isto é, a Igreja militante – se compara a uma ‘rede
lançada ao mar’ (Mt 13, 47); a um ‘campo semeado em que se espalhou joio’ (Mt
13, 24); a uma ‘eira, na qual o trigo se acha misturado com a palha’ (Mt 13,
12; Lc 3, 17); a ‘dez virgens’, umas loucas, outras prudentes (Mt 25, 1). Muito
antes [de tais parábolas], a Arca de Noé, que continha animais puros
e impuros (Gn 7, 2; 1 Pd 2, 6; cfr. At 10, 9; 11, 4-18), era também uma imagem
e semelhança desta Igreja [militante]. A fé católica sempre ensinou,
expressamente, que à Igreja pertencem bons e maus; não obstante, devemos
explicar aos fiéis cristãos, em virtude das mesmas normas de fé, que entre
ambas as partes há grande diferença de condição. Os maus assistem na Igreja, à
semelhança da palha que na eira se mistura com o trigo; ou, como os membros
quase mortos, às vezes continuam ligados ao corpo”.
Pagãos, hereges, cismáticos e excomungados não pertencem à
Igreja
Henrique VIII, negando a supremacia do Papa,
se distanciou da Igreja Católica até cair em heresia,
dando origem à igreja anglicana.
Retrato de Henrique VIII (detalhe)
Hans Holbein, O Jovem, séc. XVI.
Walker Art Gallery, Liverpool, Reino Unido
Em consequência, conforme continua o mesmo Catecismo,
somente três classes de homens estão excluídas da comunhão com a Igreja: os
pagãos, que nunca estiveram no seu seio; os hereges e cismáticos, porque
apostataram; e os excomungados que foram excluídos judicialmente, enquanto não
se reconciliarem com Ela. E acrescenta sabiamente, referindo-se de modo
específico aos pastores que levam vida má, mas nem por isso perdem sua
autoridade dentro da Igreja: “Quanto aos demais, não há dúvida que
continuam ainda no grêmio da Igreja, apesar de maus e perversos. Sejam os fiéis
bem instruídos neste ponto, para que tenham a firme convicção de que os
prelados da Igreja continuam no grêmio da mesma, não obstante qualquer deslize
moral; e que nem por isso lhes fica diminuída a jurisdição [eclesiástica]”.
Acrescenta ainda o Catecismo que o fato de haver no seio da
Igreja membros maus, e até pastores que dão escândalo, não lhe diminui em nada
a santidade, porque a santidade lhe vem do fato de ser “consagrada e
dedicada a Deus” (Lv 27, 28-30); de estar “unida como corpo a uma
Cabeça santa, a Cristo Nosso Senhor (Ef 4, 15-6), fonte de toda a santidade (Dn
9, 24; Is 41, 14; Lc 1, 35); e da qual dimanam os dons do Espírito Santo e as
riquezas da bondade divina (Ef 2, 7; 3, 8; 3, 16-19)”; e também do fato de Ela
ser a única a possuir “o culto legítimo do Sacrifício e o uso salutar dos
Sacramentos”, que são “os meios eficazes, pelos quais Deus opera a
verdadeira santidade”. O Catecismo ainda acrescenta: “É impossível
haver verdadeiros santos fora desta Igreja”.
A Igreja é santa, apesar dos numerosos pecadores
O Catecismo conclui: “não é de estranhar que a Igreja
tenha o nome de santa, apesar de haver nela muitos pecadores. Pois são chamados
santos os fiéis que se fizeram povo de Deus (1 Pd 2-9; Os 2, 1), e que pela fé
e a recepção do Batismo se consagraram a Cristo, embora sejam fracos em muitos
pontos e não cumpram o que prometeram”.
Sendo de fé que a Igreja é santa, mas nela há muitos
pecadores junto aos bons, não é preciso cobrir com um manto de silêncio os
pecados de seus membros que se tornaram públicos, e que dão escândalo aos fiéis
(e até aos infiéis). Nas situações históricas em que a imoralidade do Clero se
generaliza, e às vezes é até aceita como normal pelas autoridades
eclesiásticas, a denúncia pública desse câncer por parte dos fiéis é benéfica e
pode tornar-se até obrigatória, por ser o primeiro passo para a necessária
reforma.
A esse respeito, no livro Igreja e homens de Igreja o
teólogo passionista Pe. Enrico Zoffoli escreve: “Não temos nenhum
interesse em cobrir as culpas dos maus cristãos, dos sacerdotes indignos, dos
pastores vis e ineptos, desonestos e arrogantes. Seria ingênuo e inútil o intento
de defender sua causa, atenuar suas responsabilidades, reduzir o alcance dos
seus erros ou fazer uso do ‘contexto histórico’ e de ‘situações específicas’,
com a pretensão de tudo explicar e tudo absolver”.
A Igreja Triunfante – Fra Angélico, 1423. National Gallery, Londres.
Como dissemos, a veracidade e a santidade da Igreja Católica
não dependem da virtude dos seus filhos, os quais, por fraqueza ou por maldade,
podem tornar-se infiéis ao seu Batismo, à sua ordenação sacerdotal, à sua
sagração episcopal, ou até mesmo ao seu ministério petrino (a história
registra, infelizmente, não poucos casos de Papas que deram grande escândalo).
E isso porque a santidade da Igreja provém da sua condição de Corpo Místico de
Cristo. Basta, portanto, que um “pequeno rebanho” (Lc 12, 32-34) permaneça
inteiramente fiel aos ensinamentos de Nosso Senhor em meio à corrupção geral –
como já aconteceu, por exemplo, nos séculos IV e XI –, para que a Igreja
não só permaneça santa, mas cresça ainda em graça e santidade, como o Divino
Mestre na sua vida terrena.
Nas aparições de 1848, Nossa Senhora afirmou em La Salette
que os sacerdotes tinham se tornado cloacas de impureza. Peçamos a Ela o envio
de almas generosas, que dia e noite implorem misericórdia e perdão para o povo,
a fim de que Deus se reconcilie com os homens e Jesus Cristo seja novamente
servido, adorado e glorificado.
...............
1 comentário
José Antonio Rocha
28 de Fevereiro de 2019
Amém. Os escravos de satanás não vencerão. Não tenhamos
medo. Deus é mais forte que todo o mal. Jesus Cristo venceu o mundo, a morte e
o pecado. O imaculado coração da Virgem Maria triunfará. Amém.
* * *