Nossas Leis
Então, um
advogado disse: “Que pensas de nossas Leis, mestre?”
E ele
respondeu:
“Vós vos
deleitais em estabelecer leis.
Mas vos
deleitais ainda mais em violá-las.
Tais como
crianças brincando à beira do oceano edificam, pacientemente, torres de areia
e, logo em seguida, as destroem entre risadas.
Mas enquanto
edificais vossas torres de areia, o oceano atira mais areia à praia,
E quando vós
as destruís, o oceano ri convosco.
Na verdade,
o oceano sempre ri com os inocentes.
Mas que
dizer daqueles para quem a vida não é um oceano, nem as leis baixadas pelo
homem, torres de areia,
Aqueles para
quem a vida é uma pedra, e a lei, um cinzel com o qual procuram esculpi-la à
sua própria imagem?
Que dizer do
aleijado que odeia os bailarinos?
E do boi que
gosta do seu jugo e considera o gamo e o cervo seres extraviados e vagabundos?
E da
serpente idosa que não pode mais largar a pele e qualifica todas as outras de
desnudas e impudicas?
E daquele
que chega cedo ao banquete de núpcias e, depois, saciado e esgotado, segue seu
caminho, dizendo que todo festim é uma violação da lei e todo festejador, um
culpado?
Que direi
desses todos, senão que eles também se mantêm na claridade do sol, mas de
costas para o sol?
Veem somente
suas sombras, e suas sombras são suas leis.
E que é o
sol para eles senão um lançador de sombras?
E que é
reconhecer as leis senão curvar-se e delinear essas sombras sobre a terra?
Vós, porém,
que caminhais encarando o sol, que imagens desenhadas sobe a terra vos podem
reter?
Vós que
viajais com o vento, que cata-vento orientará vosso curso?
Que lei
humana vos poderá atar quando quebrardes vosso jugo, mas não à porta de uma
prisão humana?
Que leis
temereis se dançardes sem tropeças em nenhuma cadeia de ferro feita pelo homem?
E quem vos
poderá acusar em juízo se rasgais vossas vestimentas, sem as atirar no caminho
alheio?
Povo de
Orphalese, podeis abafar o tambor e afrouxar as cordas da lira, mas quem poderá
proibir à calhandra de cantar?”
(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran
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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.
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VIDA E OBRA DE GIBRAN (4)
1908-1910 em Paris. Estuda na Académie Julien. Trabalha
freneticamente. Frequenta museus, exposições,
bibliotecas. Conhece Auguste Rodin, que lhe prediz um grande futuro. Uma de
suas telas é escolhida para a Exposição das Belas-Artes de 1910. Neste ínterim,
morrem seu pai e sua irmã Sultane.
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