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domingo, 25 de julho de 2021

UM VELHO NA ATIVA - Arnaldo Niskier


Até que idade se pode permanecer na ativa? O certo é que não existe uma resposta precisa para essa pergunta. Veja-se o caso do escritor e pensador francês Edgard Morin. Ele está completando 100 anos e segue escrevendo, dando ao mundo o resultado de uma experiência que parece não ter fim.

Nelson Motta, em  “O Globo”, defende a tese de que o tempo não se mede pelo calendário, mas pela intensidade. E dá muitos e bons exemplos, como Marcos e Paulo Sérgio Valle, irmãos da minha professora Patrícia. A sua inspiração parece infinita.

Falar em termos pessoais nem sempre é o melhor caminho. Mas não posso deixar de revelar que me sinto inteiraço aos 86 anos de idade. Fruto talvez de um passado bem vivido de atleta. Recebi um elogio recente do médico Paulo Niemeyer Filho: “Você tem ossos muito bem constituídos.”  E assim ele pôde operar, com sua competência internacional, a minha lombar que ameaçava dar mais trabalho do que deveria.

Hoje, apear da idade, estou na plenitude das minhas atividades profissionais. Sou presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) do Rio de Janeiro, oferecendo oportunidades de emprego a milhares de jovens estagiários e aprendizes. Faço lives e dirijo e apresento o programa “Identidade Brasil”, no Canal Futura de televisão, com uma audiência espetacular. Integro os quadros da Academia Brasileira de Letras, figurando hoje como o seu vice-decano (só perco para o amigo José Sarney).

E estou colaborando com o fraternal amigo Carlos Alberto Serpa de Oliveira para criar a Academia Brasileira de Cultura, que em breve estará funcionando na plenitude. A idade só ajuda a ter mais experiência.

Utilizando as virtualidades do tempo, escrevo livros e artigos semanais para diversos periódicos. O tema é sempre educação, como tenho feito de forma ininterrupta. E não deixo de dar uma relevante contribuição ao Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços, obediente à liderança dos notáveis Ernani Galvêas e Bernardo Cabral. Velho? Nem pensar…

Jornal Dois Estados, 22/07/2021

 

https://www.academia.org.br/artigos/um-velho-na-ativa

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Arnaldo Niskier - Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da ABL, eleito em 22 de março de 1984, na sucessão de Peregrino Júnior e recebido em 17 de setembro de 1984 pela acadêmica Rachel de Queiroz. Recebeu os acadêmicos Murilo Melo Filho, Carlos Heitor Cony e Paulo Coelho. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 1998 e 1999. 

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (238)


17º Domingo do Tempo Comum – 25/07/2021

Anúncio do Evangelho (Jo 6,1-15)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades.

Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos.

Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.

Levantando os olhos e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?”

Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer.

Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”.

Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto para tanta gente?”

Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens.

Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes.

Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca! Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”.

Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:


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O gesto de partilha de um menino

 


“Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes” (Jo 6,9)

 

Do pão de trigo ou cevada para o pão do sentido de vida doada; do alimento de cada um para a circularidade do alimento partilhado, em pequenos grupos, sem templo, na gratuidade e frugalidade...

Este é o sentido do texto joanino, proposto para este domingo.

De todos os gestos realizados por Jesus, durante sua atividade profética, o mais recordado pelas primeiras comunidades cristãs foi, seguramente, uma refeição multitudinária, organizada por Ele no descampado, nas proximidades do lago da Galiléia. É a única cena relatada em todos os evangelhos.

O conteúdo do relato é de grande riqueza e cheio de simbolismo. Seguindo seu costume, o evangelho de João não o chama “ milagre”, mas “sinal”. Com isso nos convida a não ficarmos nos fatos externos que são narrados, mas descobrir, a partir da fé, um sentido mais profundo.

Longe do templo e das autoridades judaicas, seguido por uma multidão, Jesus sinaliza para uma Páscoa centrada na pessoa dele, aberta a um processo de partilha, comunhão e retorno de vida abundante para todos. O congraçamento de Israel, durante a festa da Páscoa, no Templo, é substituído pelo congraçamento em torno a Jesus, no lugar onde Ele estiver, com a multidão que o segue.

Mas, enquanto a Páscoa no Templo favorece os controladores dele, a Páscoa em torno de Jesus favorece e engrandece a todos. 

Jesus ocupa o lugar central na cena; ninguém lhe pede que intervenha. É Ele mesmo que olha, intui a fome daquela multidão e ativa a necessidade de alimentá-la. Como alimentar tanta gente no meio do descampado? Os discípulos não encontram nenhuma solução. Felipe diz que não se pode pensar em comprar pão, pois não têm dinheiro. André sugere que se poderia partilhar o que havia, mas só um menino tem cinco pães e dois peixes. Que é isso para uma multidão?

Segundo João, enquanto Filipe justifica a impossibilidade de solução, André procura uma alternativa e se depara com cinco pães de cevada e dois peixinhos nas mãos de um menino. Filipe ocupa seu tempo e sua inteligência em buscar justificativas para o impasse e desculpas para não ser responsabilizado.

André, no entanto, encara a realidade e se ocupa na busca de solução. Encontra um sinal. Há pão, é de cevada, não de trigo, é pouco, mas o menino, pessoa que está começando a vida agora, coloca à disposição. 

Naqueles vastos campos da Galiléia, Jesus propõe a grande mesa da comunhão universal, a mesa “fora dos templos” que inclui a todos, sem distinção. O gesto da benção instaura o horizonte da partilha, em que os alimentos são destinados à necessidade de todos, por meio da coresponsabilidade dos participantes no banquete da Criação, sobre cuja mesa Deus preparou pão em abundância para todos.

Todos acompanham com atenção os gestos de Jesus: coração em ação de graças, olhos fixos, ao mesmo tempo, no pão, enquanto o parte, e na multidão ao seu redor. Primeiro dá graças à Fonte da vida. Segundo, contempla o pão, fruto da terra e do trabalho de muitos homens e mulheres, que deve ser partido e compartilhado. Terceiro, convida a repartir e assegura-se de que a distribuição é justa. 

Jesus dá graças por cinco pães e dois peixinhos diante de cinco mil pessoas famintas. É a gratidão sobre o pouco que faz o muito. É pouco, mas é dom de Deus, e dom pode-se multiplicar, pois a graça partilhada tem alcance ilimitado. Nós, geralmente, só damos graças quando temos em abundância, porque, a nosso ver, é a abundância que significa graça.

Depois da ação de graças, o pão se multiplica, tem para todos, o quanto necessitam, e ainda sobra abundantemente. Quanto mais se partilha, mais se tem. A fome desse momento foi saciada, mas a vida continua. Jesus ensina como repartir, isto é, como as pessoas devem proceder na relação de umas com as outras.

A abundância de alimento é graça de Deus, mas é igualmente empenho de cada pessoa e de todas juntas.

Jesus é o primeiro responsável, mas quer partilhar com os seus. Isso exige a participação de todos. 

A cena é fascinante: uma multidão dispersa, transformada pelo encontro com Jesus, já é capaz de sentar-se em grupos ordenados sobre a relva do campo, iguais, sem divisão em hierarquia e partilhando uma refeição simples e gratuita. Não é um banquete de ricos; não há vinho nem carnes. É a refeição frugal das pessoas que vivem junto ao lago: pão de cevada e peixe defumado.

Os que tinham algo para comer também foram repartindo com os outros. Na realidade, o verdadeiro milagre foi o da partilha, onde as pessoas famintas não se lançam vorazmente sobre os pães numa luta para conseguir os alimentos escassos. Compartilhar gratuitamente com os outros, com desconhecidos, e não acumular o que sobra, isso sim é milagre.

A comunhão bíblica se realiza entre os “distantes”, por meio de um gesto que não é de poder, mas de esvaziamento, não é de apropriação, mas de partilha, não é de fechamento, mas de abertura das mãos que acolhem, que distribuem... 

O dinheiro continua hoje sendo a causa de toda desigualdade. Tudo tem um preço, incluídos os “bens espirituais”. A gratuidade e a partilha são gestos que estão desaparecendo de nossa sociedade.

Jesus abre outra lógica: a da partilha, frente à lógica do mercado, focado na apropriação e na acumulação.

Só se fará efetiva a nova comunidade quando pães e peixes entrarem na lógica do Reino. Sem oferecer o próprio pão, os próprios recursos, a própria pessoa, não há possibilidade de construção do Reino de Deus.

Em cada migalha de pão, em cada pedaço de peixe, há uma história de amores e trabalhos que vão passando de mão em mão, sem cobiça devoradora. Os bens deste mundo carregando dentro uma vocação fraterna e universal. São dons para todos.

Nesta refeição de todo o povo sobre o campo verde não se discrimina ninguém, não se pergunta a ninguém pelo seu passado, sua profissão ou sua situação moral e religiosa. Todos são acolhidos como expressão das entranhas compassivas de Deus, que chama todos a compartilhar sua mesa. Todos se sentem pessoas dignas e amadas.

Esta é a utopia do Reino: tudo está reconciliado: o cosmos, com a natureza verde e em paz; os produtos do trabalho humano, da generosidade do mar e da terra; e as pessoas, numa relação harmoniosa entre si e com Deus, sem exclusões, competições nem privilégios. A sensibilidade solidária de Jesus situa tudo na lógica do amor, que é a única força transformadora da história.

Texto bíblico:  Jo 6,1-15 

Na oração: A oração é também questão de densidade de vida, de humanismo, de ativar a sensibilidade para com aqueles que não têm quem os defenda; é revelar que em nosso peito bate um coração de amor infinito, capaz de vibrar e mobilizar-nos em favor dos outros. A oração implica entrar em sintonia com o coração compassivo de Deus voltado para a miséria humana.

- Como seguidor(a) de Jesus, qual é a sua “lógica” diante do contexto social de exclusão e de miséria? A do Reino ou a do mercado neo-liberal?

- A pobreza, a miséria, a fome... despertam em você uma “santa indignação” ou uma acomodação doentia?

- Os gestos de partilha e solidariedade são um modo de proceder contínuo em sua vida?



Pe. Adroaldo Palaoro sj

 https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2367-o-gesto-de-partilha-de-um-menino

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