Total de visualizações de página

domingo, 23 de janeiro de 2022

Poema Canga- Autoria e voz de Cyro de Mattos

AMAZÔNIA NO CENTRO – Péricles Capanema

 


Estados que compõem a Amazônia Legal

 

Péricles Capanema

 

No Exterior, ponto candente. Se você fosse um leitor comum (ou um cidadão comum) dos Estados Unidos ou de algum país europeu (Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, por exemplo), você saberia vaga e distraidamente que longe de suas antenas palpita uma imensa área política chamada América Latina, onde existem cidades grandes chamadas Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro. Saberia ainda que por lá se sucedem meio confusamente golpes de Estado, pobreza, tráfico de drogas, roubalheira política. Um ponto e só um ponto lhe chamaria vivamente a atenção: a Amazônia. Conexo com ele, desmatamento ilegal, florestas pegando fogo, devastação ambiental. Situação normal? Bastante anormal. Ajuda o Brasil? Prejudica, e muito; em especial, aos mais pobres daquela região, são dezenas de milhões, irmãos nossos, merecem ainda (dever solidário de todos) ação eficaz contra os que sofrem. Porção das flechas que perfura a carne dos mais pobres é afiada pela ação dos corifeus da propaganda hostil contra a Amazônia.

Dados úteis. Vamos dividir o grosso do problema em seções, ficará mais fácil entender o caso. A Amazônia não é só Brasil. Mas a grande antipatia mundial pelo suposto descaso em relação à Amazônia recai quase tão-só sobre Pindorama, o vilão da história. A Amazônia é uma floresta tropical úmida que cobre a maior parte da Bacia Amazônica. Esta bacia hidrográfica está localizada no Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Peru, Venezuela, Equador. Sete milhões de quilômetros quadrados, dos quais cinco e meio cobertos pela floresta. A maioria da floresta tropical está no Brasil — 60% dela. A Amazônia abriga mais da metade das floretas tropicais da Terra e tem a maior biodiversidade no mundo em uma floresta tropical. A chamada Pan-Amazônia tem área de aproximadamente 7,8 milhões de km2 e abriga por volta de 40 milhões de habitantes. Amazônia Legal, tantas vezes falada, é outra coisa. Corresponde à área de atuação da SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia). Compreende floresta tropical, cerrado e ainda outras formações. É região composta de 772 municípios localizados em Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão. Tem superfície aproximada de 5.015.067,75 km2, 58,9% do território brasileiro. 45% do território da Amazônia Legal constitui área protegida legalmente. Ela abriga cerca de 30 milhões de brasileiros e seu PIB é por volta de 9% do PIB nacional. Agricultura, pecuária, mineração representam o futuro da região.

A Amazônia Legal (assinalada em verde no mapa) ocupa 58,9% do nosso território

Tema envenenado. Aqui, realidade e propaganda se mesclam, acavalam-se desconhecimento de fatos e sobrevalorização de versões. É comum, grassam versões fantasiosas, fatos reais são ouvidos com apatia. Para o bem e para o mal, a Amazônia foi lançada no centro do interesse mundial. Na questão se aninha não apenas o interesse razoável e fundamentado, mas ainda crepita um desvelo artificial, novo, irritadiço, inflado. Cada vez mais incendeiam os espíritos a sustentabilidade ameaçada e o desmatamento desbragado. A fermentação induzida no Ocidente leva as populações do mundo desenvolvido a ter birra do Brasil (e não apenas do governo), supostamente desleixado com a preservação de uma das maiores riquezas da Terra, penhor de futuro de prosperidade, patrimônio comum da humanidade.

Obrigação de esclarecimento. Preocupa a opinião hostil que se alastra; é ônus grave de todo brasileiro, na medida de suas possibilidades, procurar virar o jogo no cenário internacional (lá fora). No particular, tem pouco valor redarguir que os fatos apontam em direção contrária. Em geral se atribui a Gustavo Capanema observação sempre útil de lembrar quando nos debruçamos no exame dos cenários públicos: na política a versão vale mais que os fatos. As versões falsas precisam ser desinfladas, em boa parte, aí sim, pela difusão inteligente dos fatos que as desmontam. É ainda necessário somar esforços internamente para que consertemos tudo o que possa estar errado.

Lenha na fogueira. Não acho direito nesse momento, irrefletidamente (no mínimo), jogar lenha na fogueira, quando o importante é procurar extinguir o fogo. Pois o Brasil vai perdendo apoios importantes no Estados Unidos e na Europa, setores importantes estão sendo fermentados por propaganda inamistosa. Ao mesmo tempo, outro fato enorme assoma: a China está silenciosa e de sorriso enigmático. Duas forças de tração opostas, uma atrai, outra afasta. Para onde iremos?

Rumo que faz falta enfatizar. Destaco agora observações lúcidas, enraizadas na experiência e na erudição, impulsionam rumo de solução efetiva. Alysson Paolinelli é dos agrônomos de maior reputação no Brasil. Professor universitário, antigo secretário da Agricultura e ministro da Agricultura, opiniões pé no chão, sempre enfatizou a importância da ciência, pesquisa e experiência na solução dos problemas da agropecuária. Observou em entrevista recente sobre a Amazônia: “O Brasil está como vilão há muito tempo. As viúvas do Muro de Berlim não morreram. É evidente que a Amazônia está sendo desmatada. Mas 90% ainda estão preservados. Os outros 10% me preocupam. Agora, não será só proibindo o desmatamento que vamos resolver o problema. Enquanto a árvore valer mais deitada do que em pé não há polícia, não há exército que controle o desmatamento. O caminho é a biotecnologia. Temos de achar pela ciência uma forma de tirar rentabilidade sem degradar o bioma. No momento em que a ciência botar a árvore em pé valendo mais do que deitada, pode tirar a polícia da floresta. A primeira forma é o manejo sustentável da árvore. Hoje, temos técnicas de manejo sustentado com belíssimos resultados. Você corta a árvore que lhe interessa e dá dinheiro, planta duas ou três no lugar dela”.

Extrativismo de sobrevivência. Paolinelli colocou então cores fortes, talvez exagerou em muitos aspectos, mas mostrou por onde se pode resolver sensata e permanentemente o problema: “Nós temos na Amazônia mais de 25 milhões de pessoas famintas com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo do país. Estão fazendo extrativismo. Elas precisam de renda. Você tem de arrumar uma forma de garantir renda para a população para que, pelo menos, o trópico úmido não seja mexido. Ele não serve para plantar, para boi. Chove demais”. De outro modo, só pelo estímulo a novas formas de exploração econômica (na agricultura e pecuária), bem como pelo aumento da produtividade, será possível impedir que a floresta seja utilizada para subsistência pura; cessaria então o extrativismo da sobrevivência. Foi além: “A organização do produtor é outro problema. As cooperativas do sul conseguem entrar na casa do consumidor europeu, asiático, porque os produtores são organizados. E na Amazônia e no Nordeste a gente não tem isso”.

Impulso sensato no rumo certo. Em resumo, os problemas da Amazônia poderiam ser minorados com policiamento mais efetivo, vigilância mais estrita. São medidas necessárias e urgentes. Contudo, só serão enfrentados com sabedoria efetiva se, ao longo dos anos, houver aumento expressivo de pesquisas, procura de métodos novos, aplicação de capitais e organização da produção. A demagogia vai pelo rumo contrário: com ela, a pobreza se agravará, generalizar-se-á a miséria, teremos na raiz agravamento das principais causas da presente degradação ambiental. Caminhando pela estrada iluminada parcialmente pela lanterna de Paolinelli, lucrarão (e muito) as populações residentes na Amazônia, o Brasil e o mundo.

https://www.abim.inf.br/amazonia-no-centro/

* * *

PALAVRA DA SALVAÇÃO (253)



3º Domingo do Tempo Comum – 23/01/2022

Anúncio do Evangelho (Lc 1,1-4;4,14-21)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra.

Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo. Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste.

Naquele tempo, Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza.

Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam.

E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga, no sábado, e levantou-se para fazer a leitura.

Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.

Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.

Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/liturgia/3o-domingo-tempo-comum-4/?sDia=23&sMes=01&sAno=2022

---

Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Donizete Ferreira, Sacerdote da Comunidade Canção Nova.


---

Ser presença de "boa notícia" que liberta


“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção...” (Lc 4,18) 

O relato do evangelho deste domingo faz referência ao início da vida pública de Jesus, quando retorna à Galiléia, depois da confirmação de ser o Messias e da experiência de discernimento no deserto.

Jesus se apresenta em Nazaré, onde seus compatriotas aguardam seu “discurso programático”, e Ele causa espanto ao dizer que veio falar-lhes em nome dos pobres e excluídos; e faz isso tomando como próprias as palavras do profeta Isaías.

Movido pelo Espírito, Jesus começa a falar uma linguagem provocativa, original e inconfundível: Ele revela seu compromisso em favor de uma vida nova e libre entre os últimos, onde a vida encontra-se ferida.

Diferentemente dos mestres da Lei e dos escribas, cujo ensinamento estava centrado em “decorar” e conservar a Lei, o ensinamento de Jesus parte da realidade humana de sofrimento, exclusão, preconceito...

Aqui estamos numa sinagoga em dia de sábado: lugar e dia de comunhão, de encontro, de festa... No entanto, na mesma sinagoga Jesus convida a ter um olhar mais amplo para a realidade da exclusão.

Surpreendentemente, o texto não fala em organizar uma nova religião, de impor a carga de uma nova lei ou de implantar um culto mais digno, mas de comunicar libertação, esperança, luz e graça aos mais pobres e excluídos da terra.

Jesus se apresenta como o “ungido” pelo Espírito (Cristo) porque declara cumpridas, em sua vida e em sua pessoa, as promessas da antiga profecia que se revelavam como libertação dos oprimidos, encarcerados e estrangeiros. Ele aparece como o Ungido por excelência; o Pai lhe comunicou seu Espírito para que manifestasse seu dom e sua presença no mundo, anunciando a “boa notícia” aos pobres e necessitados, aos famintos de pão ou carentes de outros bens importantes.

Jesus não oferece doutrinas estéreis, não vem complicar a vida com novas exigências, nem está preocupado em apresentar uma religião diferente, mas revela uma presença original no mundo, comprometida com a vida. Nesse sentido, para Ele, evangelizar passou a significar oferecer vida, abrir caminhos de esperança, reconstruir as relações rompidas... Esta é a afirmação geral, o ponto de partida da missão pública de Jesus.

O Espírito de Deus está em Jesus enviando-o aos pobres, orientando toda sua vida para os mais necessitados, oprimidos e humilhados. Também nessa direção devem se comprometer seus seguidores(as).

Esta é a orientação que Deus quer deixar transparecer na história humana. Os últimos serão os primeiros em conhecer essa vida mais digna, livre e ditosa, que o mesmo Deus quer já, desde “agora”, para todos os seus filhos e filhas. 

Após a leitura do texto do profeta Isaías, na sinagoga em Nazaré, a palavra de Jesus move a todos a se situar no presente: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Em Lucas, se trata de um “hoje” continuado, sempre atual, com a única condição de que nos deixemos introduzir nele. É um “hoje” que bem poderia ser traduzido por “aqui e agora”, o tempo presente que vai além do tempo cronológico; é o presente atemporal no qual tudo está bem, onde tudo é benção, graça, liberdade e Vida. Um Presente que não é ambíguo, mas que, abraçando todas as dimensões de nossa existência, rica e pobre, se desvela a nós como Plenitude.

A cena do evangelho de hoje termina com uma promessa de vida que tem lugar “hoje”. Da boca de Jesus brota uma palavra de vida, acompanhada de uma certeza que a faz eterna, ou seja, válida para todo momento, em um presente sempre atual: o “hoje” em Lucas significa “todo momento”, qualquer instante em que, ouvinte ou leitores, se abrem à Palavra inspirada de Jesus.

Cada um desses “hoje” remete o leitor a seu próprio presente. Por isso, não perdem nunca sua atualidade, sempre que o leitor ou ouvinte acolha o dom desse “tempo novo”.

E o mais maravilhoso é quando o “hoje de Deus” coincide com o “hoje nosso”. Deus é nosso “hoje”, nós somos o “hoje” de Deus; é no nosso “hoje” que Deus nos fala e realiza maravilhas.

Desse modo, o evangelista Lucas está nos dizendo: essa Palavra é válida também para nós, hoje, com a con-dição de que nos deixemos conduzir por ela. Para todos nós há também uma promessa de vida, que não pode ser bloqueada por nenhum tipo de escravidão e que não se acaba na fronteira da morte.

Antes de mais nada, a expressão “hoje” nos mostra Jesus como um homem que vive em um presente consciente e descansado, sábio e pleno. Deus não é graça ou castigo, boa notícia ou ameaça. Segundo Jesus, Deus é amor e só amor, compaixão e bondade, gratuita e incondicional. Esses atributos divinos se visibilizam no “hoje” de nossa existência. 

Deus não só nos liberta, Deus é a libertação. Somos nós que devemos tomar consciência de que somos livres e podemos viver em liberdade sem que ninguém no-la impeça. Também devemos ajudar os outros a descobrir a possibilidade de serem livres. Como Jesus, não devemos deixar que nada nem ninguém nos oprima. Nem Deus, nem os homens em seu nome, podem nos exigir algum tipo de vassalagem.

A liberdade deve ser o estado natural do ser humano. Por isso, a “boa notícia” de Jesus é dirigida a todos aqueles que padecem qualquer tipo de submissão. A enumeração feita por Isaías não deixa lugar a dúvidas: a libertação chega para todos os oprimidos e de todas as opressões.

É preciso recordar sempre: Jesus está longe de um mero assistencialismo... Ao tornar pública sua missão, Jesus inaugura uma nova ordem integral, a única que permite falar de uma libertação real. É importante cair na conta de que muitas vezes quando se fala de “opção preferencial pelos pobres”, na realidade se trata claramente de uma mentalidade assistencial, muito distante do discurso e prática de Jesus no início de sua vida pública. “Evangelizar é libertar através da palavra” (Nolan). Uma palavra que não entra na história, que não se pronuncia, que se mantém em cima do muro, que não mobiliza, não sacode, não provoca solidariedade, não transforma as estruturas geradoras de escravidões... não é herdeira da “palavra bendita” de Jesus.

Jesus é tão “entranhavelmente” humano que nos desconcerta a ponto de parecer estranho, extravagante e, para muitos, escandaloso. Mas, precisamente dessa maneira Ele nos revela, não só sua profunda humanidade, senão o grau de “desumanização” a que podemos submeter os outros, sem darmos conta disso.

Portanto, o sentido de nossa existência cristã não está em “divinizar-nos”, mas em “humanizar-nos” (descermos até o fundo de nossa condição humana). Porque o “ponto de encontro” entre Deus e os seres humanos não foi só o “divino”, senão o “divino humanizado”.

Texto bíblico:  Lc 1,1-4; 4,14-21

Na oração: “Hoje se cumpre” a Escritura em cada um de nós. O mesmo Espírito que atuou em Jesus, está atuando em nós. O ego nos separa; o Espírito nos identifica e nos unifica.

- Na oração, procure conectar com essa “divina energia” que está em você, e a espiritualidade será o mais espontâneo e natural de sua vida.

- As palavras de Isaías abrem um novo “sentido” para a vida de Jesus; também para todos nós, seus seguidores.

Elas se cumprem em você, no “hoje” de sua existência? Você se sente também “enviado” a ser presença da Boa Notícia para os pobres, para as vítimas das estruturas sociais injustas? Sua vida é “boa-notícia” para todos?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2495-ser-presenca-de-boa-noticia-que-liberta


* * *