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domingo, 31 de janeiro de 2021

A CABANA QUEIMADA

 




Um homem sobreviveu a um desastre de avião,

pois conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservou em cima da água.

Ficou boiando à deriva durante muito tempo

até que chegou a uma ilha não habitada.

Ao chegar à praia, cansado, agradeceu a Deus por ter sobrevivido.

Acendeu uma fogueira atritando pedaços de madeira.

Conseguiu se alimentar por um bom tempo de peixes e frutas.

Derrubou algumas árvores e com muito esforço construiu uma cabana tosca que significava proteção e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia dormir sem medo de animais selvagens.

Um dia saiu e ao voltar para a cabana viu sua casa toda incendiada provavelmente pelo fogueira que havia acendido perto.

Ele se sentou em prantos reclamando:

- Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? Por que?

Neste mesmo momento uma mão pousou no seu ombro e uma voz dizendo:

- Vamos rapaz?

Se virou e viu um marinheiro repetindo:

- Vamos rapaz, nós viemos te buscar.

- Mas como é possível? perguntou... Como vocês souberam que eu estava aqui?

- Ora! Observamos de nosso navio os seus sinais de fumaça pedindo socorro!

Conclusão:
É comum nos sentirmos desencorajados e até mesmo desesperados quando as coisas vão mal. Mas Deus age em nosso benefício, mesmo nos momentos de dor e sofrimento. Se algum dia algo na sua vida está em "chamas", esse pode ser o sinal de fumaça que fará o Pai Criador lhe mandar ajuda.

 

 Texto captado da Internet – Autoria não mencionada

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (220)

 


4º Domingo do Tempo Comum – 31/01/2021


Anúncio do Evangelho (Mc 1,21-28)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor!

Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei.

Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!” Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/

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 Ligue o vídeo abaixo e acompanhe e reflexão do Padre André Teles:


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Autoridade que destrava vidas

 


“Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” (Mc 1,27)

Depois do chamado dos primeiros seguidores de Jesus, junto ao lago, o evangelho deste domingo nos leva com eles à sinagoga, que era a escola e casa de oração dos judeus. Fazendo com que falem mais os fatos que as palavras, Marcos nos quer ajudar a ver, como através da atuação de Jesus, o Reino de Deus se faz presente.

Não por casualidade, o evangelista situa a cura do homem possuído por “espíritos maus” em Cafarnaum (centro da atividade de Jesus), na sinagoga (espaço da religião), no sábado (dia de culto e oração) e entre mestres da lei, que tinham poder sobre a assembleia e sobre a interpretação da Palavra. Mas, aqueles que tinham “poder” não curaram o homem de seu espírito imundo.

“Espírito mau” significa tudo o que bloqueia a relação com Deus e a comunhão com os outros; representa o que há de mais contrário a Deus e a possibilidade de uma convivência sadia com aqueles que o rodeavam; é o símbolo de tudo aquilo que no ser humano está em radical oposição ao Pai.

A presença de Jesus desata, liberta, purifica o ser humano que se encontrava oprimido dentro de uma sinagoga. Frente à exclusão nesse espaço comunitário, Jesus profere sua palavra que cura e liberta o enfermo/oprimido de sua situação desumanizadora. O relato deste domingo não fala da enfermidade que o oprimido padecia. Diz simplesmente que era “impuro”, alguém que era considerado “manchado”, dominado por um espírito anti-humano e que Jesus desmascara, para que pudesse falar e agir com autonomia. 

Jesus, na sinagoga, não discute sobre Deus de forma abstrata; não propõe teorias sobre pureza mais intensa, sobre ritos e alimentos; também não oferece uma doutrina sapiencial de tipo moralista; não apresenta uma doutrina melhor sobre leis ou normas de conduta; não é o rabino mais sábio, nem o escriba mais agudo. Tudo isso é secundário para Marcos. O ensinamento novo de Jesus se identifica com sua autoridade humana, com sua capacidade de destravar a vida dos enfermos na sinagoga. Por isso, seu “ensinar com autoridade era novo”; não era o ensino que repetia o que outros diziam ou aquilo que se lê nos livros; não era um ensinamento aprendido na escola de um professor especializado.

Tratava-se de um ensinar novo, diferente dos mestres da lei; a verdadeira autoridade de Jesus residia em sua pessoa, em sua vida. Seus pensamentos eram expressão de sua vida, era expressão do que fazia; e o que fazia era expressão de seu pensamento. Seu ensinar é novo porque Jesus não é o “profissional das ideias”, mas o “profissional da vida”, o profissional do coração, o profissional que ensina vida, o profissional que sara os corações.  

Nosso contexto, social e religioso, também precisa de “profissionais” que nos deem razões para viver, nos deem razões para a esperança, para amar, nos deem razões para aprender a sermos pessoas, livres e criativas; precisamos de “profissionais” que nos mobilizem a viver uma vida plena, sem esses “maus espíritos” que nos atormentam cada dia e nos fazem viver uma vida medíocre.

Jesus fala e atua com “autoridade”; mas sua autoridade é diferente. Não vem da instituição. Não se baseia na tradição. Tem outra fonte. Está cheia do Espírito vivificador de Deus. Jesus não tem “autoridade do poder”, mas o “poder de sua autoridade moral”; não tem a autoridade da força que domina, se impõe e arrasta. Jesus tem o poder da autoridade que brota de seu interior, de seus valores, de sua liberdade. Autoridade que o descentra e o mobiliza a ser presença provocativa frente a todo poder que exclui. Não é o mesmo “poder” e “autoridade”.

O poder é exterior, vem de fora. Uma pessoa tem poder porque lhe foi dado nas urnas, porque foi instituído a partir de “fora” em uma presidência, em uma instituição, em uma empresa... Pode-se ter, pois, poder: títulos, cargos, prestígio,... mas poder não confere autoridade. A autoridade, pelo contrário, é interna à pessoa, e não consiste em ter títulos, nomeações; é a qualidade daquelas pessoas que tem o carisma de suportar as cargas e aliviar o sofrimento dos outros; pessoas que deixam emergir de seu interior a bondade, o alívio, a competência, a liderança solidária...

A pessoa pode ter poder, e poder legítimo, mas pode ser que não tenha a mínima autoridade. É muito perigosa uma pessoa que atua com poder, mas sem autoridade. Pelo contrário, há pessoa que não tem poder na sociedade ou na igreja, mas tem autoridade. Jesus mesmo não tinha nenhum poder no templo, na lei, diante dos escribas, fariseus, sacerdotes... Mas Jesus tinha autoridade: falava e atuava com autoridade. O poder não torna as pessoas boas, nem quem ostenta o poder e nem sobre quem recai o poder. 

Sabemos e sentimos que o poder exerce um grande atrativo; ele é sedutor: “quem é que não foi picado pela mosca azul do poder?” É a paixão mais forte do ser humano; este pode até “perder a cabeça” por umas migalhas de poder político, econômico, religioso ou mesmo na família, nas empresas, etc. Atrás de toda busca de poder, ou das atitudes de poder, se esconde uma ansiedade de domínio, de prepotência, de ego inflado; ao mesmo tempo, uma pessoa fanática por poder revela um intenso medo, uma angústia profunda de perder prestígio, um pânico diante da possibilidade de ficar sem pedestal, sem cátedra, sem a atenção dos outros...

Nestes casos, o poder acaba se descambando para o fundamentalismo fanático. Uma pessoa fanática é alguém cuja mente é rígida, esclerosada, bloqueada pelo medo e pânico visceral frente à verdade, das pessoas e dos fatos. Por isso, o fanatismo se identifica com o pensamento dogmático mais intransigente. Em alguns cargos políticos e em algumas posições religiosas se dá uma atitude de poder despótico, agressivo, violento, porque o poder fanático não é capaz de pensar, de dialogar, somente agride.

A autoridade faz bem; o poder se impõe; a autoridade acompanha. O poder dispõe, a autoridade liberta. O poder crucifica, a autoridade está crucificada ou ao pé da cruz. Só a autoridade traz a paz, ilumina e faz crescer; o poder, pelo contrário, gera ansiedade, medo e faz o outro se sentir inferior. Quem tem autoridade, inspira e motiva as outras pessoas a fazerem as coisas com boa vontade e ânimo; o poder, no entanto, as obriga, por causa de sua posição de força.

Por seu caráter impositivo, o poder deteriora relacionamentos, resvalando-se para o terreno pantanoso da competição, da suspeita, da intriga, da violência. A autoridade, por sua vez, não tem nenhuma relação direta com a obediência: repousa, isto sim, sobre o reconhecimento da riqueza e da possibilidade do outro. Ela anima, sustenta, desafia e toca aquilo que cada um tem de melhor em seu interior.

A cultura do poder suga o “espírito” da vida de uma comunidade, minando sua criatividade e fragilizando seus laços de convivência. Quem tem poder não age, dá ordens; jamais suja as próprias mãos; é impune e não deixa impressões digitais.

O poder não constrói comunidade, pois a pessoa se cerca de subservientes que cumprem suas ordens, dizem amém às suas ideias ou calam-se coniventes. Sorrateiramente este mal toma conta do coração humano e o petrifica, impedindo a vida de desabrochar e a criatividade de se expressar. 

Texto bíblico:  Mc 1,21-28 

Na oração: Todos nós somos habitados por dois dinamismos internos: um, que nos impulsiona para o bem, a verdade, a comunhão...nos descentra; outro, que nos fecha, nos faz autoreferentes, prepotentes, violentos...

- Qual dos dois dinamismos se faz visível no seu agir e falar cotidianos?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2249-autoridade-que-destrava-vidas

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sábado, 30 de janeiro de 2021

A GENTE VAI EMBORA


 

A GENTE VAI EMBORA  e fica tudo aí,

os planos a longo prazo e as tarefas de casa,
as dívidas com o banco,
as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.

A GENTE VAI EMBORA  sem sequer guardar as comidas na geladeira,
tudo apodrece, a roupa fica no varal.

A GENTE VAI EMBORA, se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos, a vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas normalmente.

A GENTE VAI EMBORA  as brigas, as grosserias, a impaciência, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.

A GENTE VAI EMBORA  e todos os grandes problemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio, não existem problemas.
Os problemas moram dentro de nós. As coisas têm a energia que colocamos nelas e exercem em nós a influência que permitimos.

A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua caótico, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Na verdade, não faz. Somos pequenos, porém prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que a morte anda sempre à espreita.

A GENTE VAI EMBORA, pois é...
É bem assim: Piscou, a vida se vai...
O cachorro é doado e se apega aos novos donos.

Os viúvos se casam novamente, andam de mãos dadas e vão ao cinema.

A GENTE VAI EMBORA  e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos na empresa.

As coisas que sequer emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.

Quando menos se espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem espera morrer?
Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor.
Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, fizesse amor hoje, talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço.
Talvez a gente esperasse menos dos outros,
Se a gente esperasse pela morte, talvez perdoaria mais, sorriria mais, sairia à tarde para ver o mar, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.

Quem sabe, a gente entendesse que não vale a pena se entristecer com as coisas banais,
ouvisse mais música e dançasse mesmo sem saber.

O tempo voa.
A partir do momento que a gente nasce começa a viagem veloz com destino ao fim - e ainda há aqueles que vivem com pressa, sem se dar o presente de reparar que cada dia a mais é um dia a menos, porque A GENTE VAI EMBORA  o tempo todo, aos poucos e um pouco mais a cada segundo que passa.

O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM O POUCO TEMPO que lhe resta?!

Que possamos ser cada dia melhores e que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa passagem pela Terra, porque

A GENTE VAI EMBORA...

 

Recebi via WhatsApp

(Texto atribuído a Maria Augusta da Silva Calari)

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30 de Janeiro DIA DA SAUDADE!

 

30 de janeiro - DIA DA SAUDADE 



sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: História de Carnaval - Luiz Gonzaga Dias




História de Carnaval

Luiz Gonzaga Dias

 

O homem mau contou uma história estranha...

Disse que era Arlequim enganando Pierrot,

E que o beijo frio do lança-perfume

Tinha o aroma da sua Colombina.

 

O homem meu pulou, dançou o frevo,

Fez discursos extremistas no salão,

Das serpentinas fez uma gravata,

Bebeu uísque e confete misturados,

Serviu de crooner para o jazz tocar.

 

Deu viva à majestade do Rei Momo,

Clamou que era mau, que era valente,

E no trêfego rumor da batucada

Saiu sozinho pela madrugada,

Pelas ruas vivando o carnaval!

 

(IMAGENS MUTILADAS)

Luiz Gonzaga Dias

 

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EM LUGAR DE PREFÁCIO

 


            Como um derivativo à luta diária, neste século agitado, nesta época de progresso vertiginoso, aqui estão alguns versos reunidos neste volume, poesias na sua maior parte, dispersas nas publicações brasileiras.

             Sentencia o Evangelho, que nem só de pão vive o homem, sendo, portanto, estes versos, assim como um oásis, no deserto febril da civilização, da política, da atividade multifária dos seres, na era do avião a jato, dos inventos nucleares e do perene choque de interesse dos homens.

          Um momento de arte e descanso, não faz mal ao corpo ou ao espírito exausto.

             Se o leitor não acha que ler poesia é perder tempo, leia um pouco estes versos.

           Ao contrário, desculpe e passe adiante.

             De qualquer modo, queira aceitar os agradecimentos do autor.

 

São Felix, Estado da Bahia, julho de 1962

Luiz Gonzaga Dias

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Entrevista com HELOÍSA PRAZERES | Livro: TENDA ACESA

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

SENTIMENTOS – Maria Irene Frieza




                                             Sentimentos

Maria Irene Frieza


Sim, são sentimentos

De pura gratidão

Que me fazem elevar

A mente em oração!

Com o cair da noite

As tarefas cumpridas

Numa prece emotiva

Agradeço as bênçãos recebidas!

São tantas, e a cada dia

Que receio esquecer alguma

Tantas coisas vividas

Tristeza... Sim também

Mas sobretudo alegrias imerecidas!

Na minha prece

Que o meu coração expressa

Para agradecer a vida

O pão, e a casa que me dá guarida

Espero nunca esquecer!

O dia em que nasci, e quem me deu o ser

Elevo mais um pouco

Meus olhos ao céu e dobro meus joelhos!

Pelas coisas menos boas que vivi

Por tudo o que com elas aprendi

Agradeço em oração

As lágrimas que como pérolas

Em meus olhos, brilham e deslizam!

Esta prece que do meu coração saltita

Que faz minha alma, transbordar d' emoção

Pela paz recebida, que faz ninho neste meu coração

 




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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

MINISTÉRIO DE DEFESA ESCLARECE GASTOS COM ALIMENTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS



Brasília (DF), 27/01/2021 – O Ministério da Defesa (MD) informa que as Forças Armadas devem, por lei, prover alimentação aos militares em atividade. Ao contrário dos civis, os militares não recebem qualquer auxílio alimentação.

O efetivo de militares da ativa é de 370 mil homens e mulheres, que diariamente realizam suas refeições, em 1.600 organizações militares espalhadas por todo o País.

O valor da etapa comum de alimentação, desde 2017, é de R$ 9,00 (nove reais) por dia, por militar. Com esses recursos são adquiridos os gêneros alimentícios necessários para as refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar). Esse valor não é reajustado há três anos.

As Forças Armadas têm a responsabilidade de promover a saúde da tropa por meio de uma alimentação nutricionalmente balanceada, em quantidade e qualidade adequadas, composta por diferentes itens.

O leite condensado é um dos itens que compõem a alimentação por seu potencial energético. Eventualmente, pode ser usado em substituição ao leite. Ressalta-se que a conservação do produto é superior à do leite fresco, que demanda armazenamento e transporte protegido de altas temperaturas. De acordo com o IBGE, o brasileiro consome em média 5,6 gramas de doce à base de leite por dia. Por se tratar de um contingente eminentemente jovem, o consumo, eventualmente, pode ser até um pouco superior.

No que se refere a gomas de mascar, o produto ajuda na higiene bucal das tropas, quando na impossibilidade de escovação apropriada, como também é utilizado para aliviar as variações de pressão durante a atividade aérea.

Salienta-se ainda que, em 2020, as Forças Armadas mantiveram plenamente suas atividades, uma vez que a defesa do País e a segurança das fronteiras marítima, terrestre e aérea, bem como o treinamento e o preparo, são essenciais e não foram interrompidas. As Operações Covid-19 e Verde Brasil 2 demandaram um enorme esforço das tropas diuturnamente. Só no combate à pandemia, mais de 34 mil militares atuaram diariamente em todo o território nacional.

Em suma, considerando o efetivo das Forças Armadas, é natural que os totais de gêneros, quando somados, apresentem valores compatíveis com sua missão e tarefas.

Centro de Comunicação Social da Defesa (CCOMSOD)
Ministério da Defesa
(61) 3312-4071

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

25 DE JANEIRO — dia do Apóstolo das Gentes e da cidade de São Paulo

25 de janeiro de 2021


Pátio do Colégio, centro histórico marco da fundação da cidade de São Paulo.

Em memória dessas duas importantes efemérides segue um trecho escolhido de um discurso do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em “O Legionário” (21-7-1935).


“Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal [n.r.: Fábio da Silva Prado]

Incumbiu-me a mocidade que aqui se congrega, de homenagear, na pessoa de V. Exa., a gloriosa capital paulista.

Nada de mais grato para nossos corações do que celebrar, na festiva data de hoje, a grandeza e a glória da nossa Pauliceia, tão digna de todas as homenagens, pela sólida catolicidade que a distingue e pelo valor de sua atuação na vida nacional.


Consagrando ao Apóstolo das Gentes a cidade que acabava de fundar, Anchieta implorou e obteve, para a raça que dela brotasse, o idealismo abrasador, a energia inexaurível, a combatividade invencível, a audácia viril e realizadora que Paulo de Tarso soube pôr a serviço da maior das causas, a causa de Cristo e da sua Igreja. […]

Não é apenas no idealismo candente e no vigor da ação, que os filhos desta cidade se têm mostrado dignos do Patrono que lhes deu Anchieta. É também pela universalidade de sua ação.

São Paulo, o Apóstolo das Gentes, não concebia limites para a sua doutrinação. O mundo inteiro era pequeno para a grandeza de seu ardor apostólico.

Assim também a ação vigorosa e fecunda dos paulistanos se destaca pela sua universalidade. Nem a distância dos lugares, nem a dificuldade das comunicações foram diques capazes de conter a ação da gente bandeirante, que se tem derramado em influxos benéficos sobre o Brasil inteiro. E desde as bandeiras até à reconstitucionalização do País, todos os episódios de nossa história têm sido um transbordamento do coração e da energia de São Paulo, para além de nossas fronteiras em benefício de nosso grande Brasil. […]

São Paulo não é grande por ser rica. Mas São Paulo é rica, porque o paulista é grande. Nossa riqueza foi arrancada ao solo virgem de nossa terra depois de uma luta titânica contra a natureza bravia. Nossa capital não se construiu em fértil e luminosa planície, embelezada por todas as graças da natureza. Foi edificada em terreno montanhoso e sob um céu cheio de brumas, em que tudo no ambiente nos lembra, constantemente, a vocação do paulista; porque as brumas nos dizem lutar e o solo acidentado nos brada subir.

Se nosso Estado é próspero e nossa capital é bela, não o devemos nós, portanto, senão à mercê de Deus e à fibra de nossa gente. Porque foram sempre a mercê de Deus e o valor de nossa fibra a maior riqueza com que contamos”.

https://www.abim.inf.br/25-de-janeiro-dia-do-apostolo-das-gentes-e-da-cidade-de-sao-paulo/

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domingo, 24 de janeiro de 2021

A VERDADEIRA FACE DO COMUNISMO



Plinio Maria Solimeo

 

Com o relativismo de nossos dias, as diferenças entre o bem e o mal e a verdade e o erro se diluem cada a vez mais. Há uma crescente tolerância, ou pelo menos grande indiferença diante de coisas que antes nos causavam aversão, como a homossexualidade, o amor livre, e mesmo o comunismo.

Por isso é salutar de vez em quando repisar fatos que nos mostram a maldade que há nisso, e a ofensa que faz a Deus, clamando por punição. Hoje, restrinjo-me ao comunismo, pois se está habituando a vê-lo apenas como uma forma diferente de regime político em vigor na China, Coréia do Norte, Cuba, Venezuela.  

Pouca importância se tem dado ao fato de que essa doutrina ateia, igualitária e antinatural perseguiu e continua a perseguir a Igreja Católica e o que resta de civilização cristã, com todas as suas consequências.



Dou um exemplo: a perseguição feroz e verdadeiramente animalesca que sofreu um seminarista no também comunista Vietnã, por ser fiel à sua fé. Trata-se do Pe. Rafael Nguyen [foto], 68 anos, atual vigário na Diocese de Orange, na Califórnia, como narrado pelo National Catholic Register[i].

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O Vietnã foi colonizado pelos franceses em meados do século XIX. Depois da guerra da Indochina, em 1954, o país foi dividido em dois: o Vietnã do Norte, comunista, e o do Sul, mas não houve paz. Veio a guerra do Vietnã que terminou com a vitória comunista em 1975, e a unificação do país sob o comunismo com o nome de República Socialista do Vietnã, que perdura até nossos dias.

O cristianismo fora introduzido na região nos séculos XVI e XVII por comerciantes portugueses e holandeses. Quando chegaram os franceses, já havia algumas pequenas comunidades católicas na península. A partir de então, elas tiveram novo florescimento, de maneira que hoje, apesar do comunismo, 8% da população — seis milhões de habitantes —, professa a verdadeira religião.

Rafael Nguyen pertencia a essa minoria católica vietnamita, tendo nascido no Vietnã do Norte em 1952. A vida para sua família tornou-se muito difícil quando o comunismo dominou o país, pois os católicos eram perseguidos sem piedade. Ele se lembra ainda de que muitos anticomunistas à época eram enterrados até o pescoço, e depois decapitados por máquinas agrícolas que passavam por cima.

Para poder praticar livremente a religião, a família fugiu para o Vietnã do Sul quando Rafael era ainda pequeno. Embora lá houvesse liberdade, havia motivos de preocupação devido a guerra entre o norte e o sul. Aos sete anos, Rafael andava longa distância para acolitar a Missa. Isso despertou nele o desejo de se tornar sacerdote, pelo que, em 1963, aos 11 anos, entrou para o seminário menor. Aos 19 anos, prosseguiu ele os seus estudos no Seminário Maior de Saigon.

Com as contínuas investidas dos comunistas do norte, a situação de guerra se agravava. Explosões se sucediam por toda parte, fazendo com que o seminarista, que dava aulas de catecismo para crianças, tivesse que fazer com que elas se refugiassem embaixo das mesas quando o bombardeamento se avizinhava.


Em 1975 os americanos abandonaram o país, e os comunistas tomaram Saigon, último bastião de resistência, pondo fim à Guerra do Vietnã, e todo o país se tornou comunista. Os seminaristas tiveram de acelerar os estudos visando uma ordenação sacerdotal mais rápida. Rafael completou os três anos de teologia e de filosofia em apenas um, iniciando um estágio de dois anos preparatórios à ordenação.

Entretanto, os comunistas começaram a fazer um controle muito mais rígido sobre a Igreja, não permitindo que os seminaristas fossem ordenados. Na perseguição que se seguiu, Rafael foi preso em 1981 sob a alegação de que ensinava ilegalmente religião às crianças. Durante pouco mais de um ano ele esteve num campo de concentração na selva vietnamita, condenado a trabalhos forçados.

Quando não conseguia concluir a tarefa designada para o dia ou por alguma suposta “infração às regras”, era severamente espancado, além de lhe tirarem a comida. Narra ele que às vezes era obrigado a trabalhar em pé dentro de um pântano, com água até o peito, e onde as árvores densas bloqueavam a luz do sol.

Cobras, sanguessugas e javalis eram um perigo constante para ele e os outros prisioneiros. Entre eles havia dois sacerdotes que celebravam a missa em segredo, e ouviam confissões. Rafael ajudava a distribuir a Sagrada Comunhão aos prisioneiros católicos, ocultando as hóstias sagradas em maços de cigarro.

Libertado em 1986, ele resolveu fugir de seu país prisão. Com amigos, conseguiu um pequeno barco, e rumou para a Tailândia. Mas num mar muito agitado o motor falhou, tendo ele escapado por pouco de um naufrágio, até que conseguiram voltar para a costa vietnamita, e serem capturados pela polícia comunista.

O fugitivo foi novamente preso, e ficou na prisão por 14 meses. Lá ele foi submetido a uma nova tortura — choques elétricos. A dor era tão terrível que o fazia desmaiar. Ao voltar a si, por alguns minutos ficava sem saber quem era e onde estava. Apesar dos tormentos, o futuro padre Rafael descreve o seu tempo na prisão como “muito precioso”, pois rezava “o tempo todo, o que lhe ajudava confirmar a sua vocação”.

Quando foi liberto em 1987, fez nova tentativa de fuga visando chegar à Tailândia. O pequeno barco carregava 33 pessoas, incluindo crianças. Eles partiram e ao longo do caminho encontraram um novo perigo — piratas tailandeses  que roubavam os pobres refugiados, às vezes matando os homens, e estuprando as mulheres.

Se o barco conseguisse chegar à costa tailandesa, seus ocupantes receberiam proteção da polícia; mas no mar eles estavam à mercê dos piratas. Duas vezes o padre Raphael e seus companheiros encontraram os piratas. Eles apagaram as luzes do barco e fugiram deles. Essa tática afastava os atacantes, e o pequeno barco fez um percurso bem-sucedido.

Na Tailândia os fugitivos foram transferidos para um campo de refugiados, onde Rafael viveu quase dois anos esperando aprovação do pedido de asilo feito a diferentes países. Ali, eles tinham pouca comida, os alojamentos apertados e foram proibidos de deixar o lugar. “As condições eram terríveis”, comentou o padre Rafael. “A frustração e a miséria pioraram tanto que algumas pessoas ficaram desesperadas. Houve cerca de 10 suicídios durante meu tempo lá”.

Rafael fazia o que podia para elevar os ânimos, organizando reuniões regulares de oração, e solicitando alimentos para os mais necessitados. Em 1989, ele foi transferido para um campo de refugiados nas Filipinas, onde as condições melhoraram. Seis meses depois, pôde ir para os Estados Unidos.

Em Santa Ana, na Califórnia, depois de tantas vicissitudes e à sua idade, ficou incerto sobre o que fazer. Estudou ciência da computação em uma faculdade comunitária. Resolveu então procurar um sacerdote vietnamita para orientação espiritual. Ele observa: “Rezei muito para saber o que fazer”.

Sua orações foram atendidas, pois sentiu que Deus ainda o chamava para o sacerdócio. Procurou o diretor vocacional da diocese, monsenhor Murray, que comentou: “Fiquei muito impressionado com ele e com sua perseverança na vocação. Confrontado com as dificuldades que suportou; muitos outros teriam desistido”.

Mons. Murray observou que outros padres vietnamitas e seminaristas sofreram um destino semelhante ao do padre Rafael no Vietnã comunista. Rafael entrou para o seminário São João, em Camarillo, em 1991. Embora soubesse um pouco de latim, grego e francês, aprender inglês foi uma luta para ele. Finalmente, em 1996, foi ordenado aos 44 anos.

O Pe. Rafael comenta que demorou para se ajustar ao choque cultural com a mudança para os EUA. Aí ele goza de liberdade, mas sente falta da cultura tradicional vietnamita, que mostra maior respeito pelos anciãos e pelo clero. Aliás, os vietnamitas mais velhos se preocupavam com a moral frouxa e o mercantilismo americano, e seus efeitos funestos sobre seus filhos.

Ele acredita que a forte estrutura familiar vietnamita e o respeito pelo sacerdócio e pela autoridade conduziram um número enorme de padres vietnamitas. Para o Pe. Rafael — sangue de mártires é semente de cristãos —  a perseguição comunista no Vietnã levou a uma fé mais robusta entre os católicos vietnamitas. Pe. Rafael tem alegria em servir como sacerdote: “É incrível que, depois de tanto tempo, Deus me escolheu para ser um sacerdote para servi-Lo e ao próximo, especialmente àqueles que sofrem”.


[i]https://www.ncregister.com/blog/father-raphael-nguyen-profile?utm_campaign=NCR%202019&utm_medium=email&_hsmi=106929876&_hsenc=p2ANqtz-8m8RcXBuYL2lpvM_MPGHSIATtD8wgqg8ycDoRc27qLzKAFlpHwqY2WtsLS-JGRVBrmNLXAvr-gPltqPHrCBeNJF_pWBQ&utm_content=106929876&utm_source=hs_email

https://www.abim.inf.br/a-verdadeira-face-do-comunismo/

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (219)

 


3º Domingo do Tempo Comum – 24/01/2021

Anúncio do Evangelho (Mc 1,14-20)


— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor!


Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo Jesus.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:



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O tempo de Jesus: um tempo novo

 


“O tempo já se completou”
 (Mc. 1,15) 

Não há filósofo que se preze que não lhe tenha dedicado parte de sua reflexão; não há poeta que não o cite em suas obras; não há namorado(a) que não pense que ele “voa”; não há político que não o utilize em suas promessas; não há pregador que não o faça aparecer em seus sermões; não há ser humano que não sinta sua passagem.  Estamos falando do “tempo”.

Tem-se dito tantas coisas sobre o tempo...: que “ele tudo cura”, que “temos todo o tempo do mundo”, que “é preciso fazer as coisas a tempo”, que “há um tempo para cada coisa”, que “não podemos apressar o tempo”, que “o tempo passado foi melhor”...

Quando falamos de tempo, não estamos nos referindo, necessariamente, ao tempo físico, ao tempo cronometrado (“chronos”). Esse tempo não é o mais importante. O verdadeiramente importante é o tempo psicológico, o tempo interior, o tempo espiritual, o tempo tal e como nós lhe damos valor.

A Bíblia não concebe o tempo como uma entidade abstrata, vazia, quantitativa, irreversível e retilínea, medida por anos, dias, horas, minutos e segundos, dentro do qual tudo é contido e tudo acontece.

A ideia bíblica de tempo é algo concreto, vivo, experimental e qualitativo, que incorpora os seres e as coisas, marcado por eventos significativos...

A mentalidade judaica considerava que a natureza do tempo presente era determinada tanto pelos atos de salvação de Deus no passado (Êxodo), quanto pelos atos de salvação de Deus no futuro.

Os profetas tinham a tarefa de contar às pessoas o significado do tempo específico no qual estavam vivendo, em vista do novo ato divino que estava prestes a acontecer.

Este acontecimento futuro iminente qualifica o tempo presente, dá sentido à totalidade da nossa vida no presente e determina aquilo que deveríamos estar fazendo. Se o tempo presente é inteiramente inspirado e qualificado por este ato novo e sem precedentes de Deus, então o próprio tempo presente é tempo totalmente novo, nova era.

Cada coisa, ao ter seu próprio tempo, está numa relação de parceria com outros tempos e outras coisas.

Há uma constante vinculação do tempo ao “ser e acontecer de cada coisa”. Isso porque o tempo é “carregado” da presença de Deus, que continuamente trabalha, realizando a salvação.

É o “Kairós”, tempo de salvação. 

Com Jesus chega um “novo tempo”, um tempo decisivo para a história da humanidade.

É Deus quem irrompe de maneira definitiva na temporalidade. A partir desse momento, a história fica dividida em dois tempos: o anterior e o posterior ao nascimento de Jesus.

Desta maneira, o Senhor do tempo faz de Jesus o centro e o ponto de referência do tempo dos homens. Todos os acontecimentos do mundo, tanto passados como futuros, encontrarão sua localização e sentido a partir do “tempo central”, que é o tempo de Jesus.

Jesus vive cada momento numa relação completamente livre com o tempo.

Com os olhos fixos na “Hora do Pai”, Jesus mostra com sua mobilidade que, participando no tempo humano, não se deixa prender pelas ataduras da preocupação, da ansiedade, da pressa...

tempo de Jesus é kairós, presente, dom, tempo de salvação. É a plenificação de todos os tempos.

É o “tempo esgotado”, capaz de abarcar todas as dimensões da vida e da história.

Jesus acomoda seu tempo ao “tempo de Deus, avança sem pressa nem inquietude e busca viver com alegria e prazer cada momento como um dom inesperado.

É no movimento do “Kairós” de Jesus que acontecem o chamado e o seguimento; por isso, Marcos situa o encontro com os primeiros discípulos nesse momento denso, decisivo, inspirador. É no interior do kairós que o Reino vai se expandindo, e movendo a história em direção à sua plenitude. 

Todos carregamos uma certa visão pessimista que desvaloriza o tempo: vemo-lo como efêmero, passageiro, finito, caduco e, inclusive, como ilusório.

Também existe entre nós uma certa concepção que pretende reduzir toda realidade a tempo, a mero tempo; na maioria dos casos, tempo desabitado, sem presença, sem sentido e sem abertura ao futuro.

Outros colocam um preço no tempo: “time is money”. Muitas pessoas, pressionadas pela agenda desumana do ativismo, não conseguem dar um sentido existencial àquilo que fazem. Nada detém o tempo. Sua dinâmica não se submete a nenhum controle humano. O tempo corre como as águas de um rio. Arrasta tudo.

“tempo novo”, tal como o vive Jesus, é original em cada um de seus momentos, e em nenhum caso torna-se banal. O Pai se mostra propício na temporalidade, e por isso a atitude de Jesus é a de descobrir em cada um dos momentos e dos acontecimentos o dom de seu Pai. 

Cada tempo particular é sinal de um Deus benevolente e deve ser acolhido com gratidão.

A pressa descontrolada, o ritmo frenético, o estresse, a antecipação dos acontecimentos, a impaciência diante do desejado, a falta de respeito pelo tempo interior das pessoas,.., são atitudes que caracterizam o ser humano pós-moderno, mas que estão ausentes na pessoa de Jesus. 

A liturgia cristã nos diz que estamos no “tempo” para tomar consciência de nosso verdadeiro ser e descobrir que estamos já na eternidade, que nosso verdadeiro ser não está no “chronos”, mas no “kairós”. Seremos cada ano mais jovem se formos cada dia mais livres. Nosso verdadeiro ser é constituído do divino que há em nós, e isso é eterno. Não precisamos esperar nada, pois já somos a plenitude e estamos na eternidade. Sem a eternidade da “alma” que pulsa em nós, que nos unifica e nos integra por inteiro, a vida se empobrece. Na “alma”, no nosso interior, o eterno tem seu templo.

Quando alguém fala de “coisas” eternas, bem que poderíamos olhar para dentro de nós mesmos. Aí, no nosso interior, há tanto de eterno. eternidade dialoga com a gente, fala por dentro. Talvez ainda somos a onda que ainda não se despertou de que é oceano. Estamos mergulhados no “hoje eterno” de Deus e isso ilumina e dá sentido a cada gesto, cada ação, cada encontro.

Kairós: eis que irrompe a eternidade – eterna idade. Nesse sentido, a própria eternidade é sentida como o fluir de um presente sem fim, dom para ser vivido a cada instante. 

A espiritualidade cristã, marcada pelo “tempo” de Deus, pode nos ajudar a fazer a “passagem” do “tempo insensato” (sem sentido) ao “tempo sensato” (com sentido). Tal espiritualidade é uma boa notícia com respeito ao modo de “estar no tempo” e nos introduz na dinâmica da vida que se abre às surpresas do “Senhor dos tempos”. Jesus irrompe em nossa história e nos coloca diante de uma decisão inadiável e única que marca de maneira definitiva nossa existência: “convertei-vos e crede no Evangelho!”

Encontramo-nos mergulhados no tempo da história, levados e sustentados por Deus, “Senhor do tempo”, que nos fala no tempo, comunica-se a nós no tempo, nos conduz no tempo, nos perdoa no tempo, nos convida a trabalhar com Ele no tempo...; no tempo, Ele nos sacode e nos interpela, no tempo, Ele nos capacita para anunciá-Lo e transformar o mundo segundo seu desígnio original.

Por isso, o transcurso do tempo, longe de se constituir um peso, é um grande aliado de nosso desejo, de nossa vida e de nossa fé. 

Texto bíblico:  Mc 1,14-20 

Na oração: Tempo é vida e a vida é feita de tempo: ordenar seu uso  nada mais é do que ordenar a própria vida, dando-lhe sentido e direção. A maneira como cada um assume o tempo determina a forma como direciona sua vida.

- Você vive o tempo como dom ou como “inimigo” a ser derrotado? Seu estilo de vida é agitado, sempre de olho no relógio, em permanente estado de ansiedade, ou é marcado pela gratidão que descansa?

 


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2241-o-tempo-de-jesus-um-tempo-novo

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O ALIENISTA CAP V – Machado de Assis


O TERROR

 

          Quatro dias depois, a população de Itaguaí ouviu consternada a notícia de que um certo Costa fora recolhido à Casa Verde.

          —Impossível!

          —Qual impossível! foi recolhido hoje de manhã.

          — Mas, na verdade, ele não merecia... Ainda em cima! depois de tanto que ele fez...

          Costa era um dos cidadãos mais estimados de Itaguaí. Herdara quatrocentos mil cruzados em boa moeda de El-rei Dom João V, dinheiro cuja renda bastava, segundo lhe declarou o tio no testamento, para viver "até o fim do mundo". Tão depressa recolheu a herança, como entrou a dividi-la em empréstimos, sem usura, mil cruzados a um, dois mil a outro, trezentos a este, oitocentos àquele, a tal ponto que, no fim de cinco anos, estava sem nada. Se a miséria viesse de chofre, o pasmo de Itaguaí seria enorme; mas veio 8 devagar; ele foi passando da opulência à abastança, da abastança à mediania, da mediania à pobreza, da pobreza à miséria, gradualmente. Ao cabo daqueles cinco anos, pessoas que levavam o chapéu ao chão, logo que ele assomava no fim da rua, agora batiam-lhe no ombro, com intimidade, davam-lhe piparotes no nariz, diziam-lhe pulhas. E o Costa sempre lhano, risonho. Nem se lhe dava de ver que os menos corteses eram justamente os que tinham ainda a dívida em aberto; ao contrário, parece que os agasalhava com maior prazer, e mais sublime resignação. Um dia, como um desses incuráveis devedores lhe atirasse uma chalaça grossa, e ele se risse dela, observou um desafeiçoado, com certa perfídia: — "Você suporta esse sujeito para ver se ele lhe paga". Costa não se deteve um minuto, foi ao devedor e perdoou-lhe a divida. — "Não admira, retorquiu o outro; o Costa abriu mão de uma estrela, que está no céu". Costa era perspicaz, entendeu que ele negava todo o merecimento ao ato, atribuindo-lhe a intenção de rejeitar o que não vinham meter-lhe na algibeira. Era também pundonoroso e inventivo; duas horas depois achou um meio de provar que lhe não cabia um tal labéu: pegou de algumas dobras, e mandou-as de empréstimo ao devedor.

          —“Agora espero que”...—pensou ele sem concluir a frase.

          Esse último rasgo do Costa persuadiu a crédulos e incrédulos; ninguém mais pôs em dúvida os sentimentos cavalheirescos daquele digno cidadão. As necessidades mais acanhadas saíram à rua, vieram bater-lhe à porta, com os seus chinelos velhos, com as suas capas remendadas. Um verme, entretanto, roía a alma do Costa: era o conceito do desafeto. Mas isso mesmo acabou; três meses depois veio este pedir-lhe uns cento e vinte cruzados com promessa de restituir-lhos daí a dois dias; era o resíduo da grande herança, mas era também uma nobre desforra: Costa emprestou o dinheiro logo, logo, e sem juros. Infelizmente não teve tempo de ser pago; cinco meses depois era recolhido à Casa Verde.

          Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando soube do caso. Não se falou em outra coisa, dizia-se que o Costa ensandecera, no almoço, outros que de madrugada; e contavam-se os acessos, que eram furiosos, sombrios, terríveis,—ou mansos, e até engraçados, conforme as versões. Muita gente correu à Casa Verde, e achou o pobre Costa, tranquilo, um pouco espantado, falando com muita clareza, e perguntando por que motivo o tinham levado para ali. Alguns foram ter com o alienista. Bacamarte aprovava esses sentimentos de estima e compaixão, mas acrescentava que a ciência era a ciência, e que ele não podia deixar na rua um mentecapto. A última pessoa que intercedeu por ele (porque depois do que vou contar ninguém mais se atreveu a procurar o terrível médico) foi uma pobre senhora, prima do Costa. O alienista disse-lhe confidencialmente que esse digno homem não estava no perfeito equilíbrio das faculdades mentais, à vista do modo como dissipara os cabedais que...

          —Isso, não! isso, não! interrompeu a boa senhora com energia. Se ele gastou tão depressa o que recebeu, a culpa não é dele.

          —Não?

          —Não, senhor. Eu lhe digo como o negócio se passou. O defunto meu tio não era mau homem; mas quando estava furioso era capaz de nem tirar o chapéu ao Santíssimo. Ora, um dia, pouco tempo antes de morrer, descobriu que um escravo lhe roubara um boi; imagine como ficou.

          A cara era um pimentão; todo ele tremia, a boca escumava; lembra-me como se fosse hoje. Então um homem feio, cabeludo, em mangas de camisa, chegou-se a ele e pediu água. Meu tio (Deus lhe fale n alma!) respondeu que fosse beber ao rio ou ao inferno. O homem olhou para ele, abriu a mão em ar de ameaça, e rogou esta praga:—"Todo o seu dinheiro não há de durar mais de sete anos e um dia, tão certo como isto ser o sino-salamão! E mostrou o sino-salamão impresso no braço. Foi isto, meu senhor; foi esta praga daquele maldito.

          Bacamarte espetara na pobre senhora um par de olhos agudos como punhais. Quando ela acabou, estendeu-lhe a mão polidamente, como se o fizesse à própria esposa do vice-rei, e convidou-a a ir falar ao primo. A mísera acreditou; ele levou-a à Casa Verde e encerrou-a na galeria dos alucinados.

          A notícia desta aleivosia do ilustre Bacamarte lançou o terror à alma da população. Ninguém queria acabar de crer, que, sem motivo, sem inimizade, o alienista trancasse na Casa Verde uma senhora perfeitamente ajuizada, que não tinha outro crime senão o de interceder por um infeliz. Comentava-se o caso  nas esquinas, nos barbeiros; edificou-se um romance, umas finezas namoradas que o alienista outrora dirigira à prima do Costa, a indignação do Costa e o desprezo da prima. E daí a vingança. Era claro. Mas a austeridade do alienista, a vida de estudos que ele levava, pareciam desmentir uma tal hipótese. Histórias! Tudo isso era naturalmente a capa do velhaco. E um dos mais crédulos chegou a murmurar que sabia de outras coisas, não as dizia, por não ter certeza plena, mas sabia, quase que podia jurar.

          —Você, que é íntimo dele, não nos podia dizer o que há, o que houve, que motivo...

          Crispim Soares derretia-se todo. Esse interrogar da gente inquieta e curiosa, dos amigos atônitos, era para ele uma consagração pública. Não havia duvidar; toda a povoação sabia enfim que o privado do alienista era ele, Crispim, o boticário, o colaborador do grande homem e das grandes coisas; daí a corrida à botica. Tudo isso dizia o carão jucundo e o riso discreto do boticário, o riso e o silêncio, porque ele não respondia nada; um, dois, três monossílabos, quando muito, soltos, secos, encapados no fiel sorriso constante e miúdo, cheio de mistérios científicos, que ele não podia, sem desdouro nem perigo, desvendar a nenhuma pessoa humana.

          —“Há coisa,” pensavam os mais desconfiados.

          Um desses limitou-se a pensá-lo, deu de ombros e foi embora. Tinha negócios pessoais Acabava de construir uma casa suntuosa. Só a casa bastava para deter a chamar toda a gente; mas havia mais,—a mobília, que ele mandara vir da Hungria e da Holanda, segundo contava, e que se podia ver do lado de fora, porque as janelas viviam abertas,—e o jardim, que era uma obra-prima de arte e de gosto. Esse homem, que enriquecera no fabrico de albardas, tinha tido sempre o sonho de uma casa magnífica, jardim pomposo, mobília rara. Não deixou o negócio das albardas, mas repousava dele na contemplação da casa nova, a primeira de Itaguaí, mais grandiosa do que a Casa Verde, mais nobre do que a da Câmara, Entre a gente ilustre da povoação havia choro e ranger de dentes, quando se pensava, ou se falava, ou se louvava a casa do albardeiro,—um simples albardeiro, Deus do céu!

          —Lá está ele embasbacado, diziam os transeuntes, de manhã.

          De manhã, com efeito, era costume do Mateus estatelar-se, no meio do jardim, com os olhos na casa, namorado, durante uma longa hora, até que vinham chamá-lo para almoçar. Os vizinhos, embora o cumprimentassem com certo respeito, riam-se por trás dele, que era um gosto. Um desses chegou a dizer que o Mateus seria muito mais econômico, e estaria riquíssimo, se fabricasse as albardas para si mesmo; epigrama ininteligível, mas que fazia rir às bandeiras despregadas.

          — Agora lá está o Mateus a ser contemplado, diziam à tarde.

          A razão deste outro dito era que, de tarde, quando as famílias safam a passeio (jantavam cedo) usava o Mateus postar-se à janela, bem no centro, vistoso, sobre um fundo escuro, trajado de branco, atitude senhoril, e assim ficava duas e três horas até que anoitecia de todo. Pode crer-se que a intenção do Mateus era ser admirado e invejado, posto que ele não a confessasse a nenhuma pessoa, nem ao boticário, nem ao Padre Lopes seus grandes amigos. E entretanto não foi outra a alegação do boticário, quando o alienista lhe disse que o albardeiro talvez padecesse do amor das pedras, mania que ele Bacamarte descobrira e estudava desde algum tempo. Aquilo de contemplar a casa...

           —Não, senhor, acudiu vivamente Crispim Soares.

          —Não?

          —Há de perdoar-me, mas talvez não saiba que ele de manhã examina a obra, não a admira; de tarde, são os outros que o admiram a ele e à obra.—E contou o uso do albardeiro, todas as tardes, desde cedo até o cair da noite.

           Uma volúpia científica alumiou os olhos de Simão Bacamarte. Ou ele não conhecia todos os costumes do albardeiro, ou nada mais quis, interrogando o Crispim, do que confirmar alguma notícia incerta ou suspeita vaga. A explicação satisfê-lo; mas como tinha as alegrias próprias de um sábio, concentradas, 10 nada viu o boticário que fizesse suspeitar uma intenção sinistra. Ao contrário, era de tarde, e o alienista pediu-lhe o braço para irem a passeio. Deus! era a primeira vez que Simão Bacamarte dava ao seu privado tamanha honra; Crispim ficou trêmulo, atarantado, disse que sim, que estava pronto. Chegaram duas ou três pessoas de fora, Crispim mandou-as mentalmente a todos os diabos; não só atrasavam o passeio, como podia acontecer que Bacamarte elegesse alguma delas, para acompanhá-lo, e o dispensasse a ele. Que impaciência! que aflição! Enfim, saíram. O alienista guiou para os lados da casa do albardeiro, viu-o à janela, passou cinco, seis vezes por diante, devagar, parando, examinando as atitudes, a expressão do rosto. O pobre Mateus, apenas notou que era objeto da curiosidade ou admiração do primeiro vulto de Itaguaí redobrou de expressão, deu outro relevo às atitudes... Triste! Triste! não fez mais do que condenar-se; no dia seguinte, foi recolhido à Casa Verde.

          —A Casa Verde é um cárcere privado, disse um médico sem clínica.

          Nunca uma opinião pegou e grassou tão rapidamente. Cárcere privado: eis o que se repetia de norte a sul e de leste a oeste de Itaguaí,—a medo, é verdade, porque durante a semana que se seguiu à captura do pobre Mateus, vinte e tantas pessoas,—duas ou três de consideração,—foram recolhidas à Casa Verde. O alienista dizia que só eram admitidos os casos patológicos, mas pouca gente lhe dava crédito. Sucediam-se as versões populares. Vingança, cobiça de dinheiro, castigo de Deus, monomania do próprio médico, plano secreto do Rio de Janeiro com o fim de destruir em Itaguaí qualquer gérmen de prosperidade que viesse a brotar, arvorecer, florir, com desdouro e míngua daquela cidade, mil outras explicações, que não explicavam nada, tal era o produto diário da imaginação pública.

          Nisto chegou do Rio de Janeiro a esposa do alienista, a tia, a mulher do Crispim Soares, e toda a mais comitiva, —ou quase toda—,que algumas semanas antes partira de Itaguaí O alienista foi recebê-la, com o boticário, o Padre Lopes os vereadores e vários outros magistrados. O momento em que D. Evarista pôs os olhos na pessoa do marido é considerado pelos cronistas do tempo como um dos mais sublimes da história moral dos homens, e isto pelo contraste das duas naturezas, ambas extremas, ambas egrégias. D. Evarista soltou um grito, balbuciou uma palavra e atirou-se ao consorte, de um gesto que não se pode melhor definir do que comparando-o a uma mistura de onça e rola. Não assim o ilustre Bacamarte; frio como um diagnóstico, sem desengonçar por um instante a rigidez científica, estendeu os braços à dona que caiu neles e desmaiou. Curto incidente; ao cabo de dois minutos, D. Evarista recebia os cumprimentos dos amigos e o préstito punha-se em marcha.

          D. Evarista era a esperança de Itaguaí; contava-se com ela para minorar o flagelo da Casa Verde. Daí as aclamações públicas, a imensa gente que atulhava as ruas, as flâmulas, as flores e damascos às janelas. Com o braço apoiado no do Padre Lopes —porque o eminente Bacamarte confiara a mulher ao vigário, e acompanhava-os a passo meditativo—D. Evarista voltava a cabeça a um lado e outro, curiosa, inquieta, petulante. O vigário indagava do Rio de Janeiro, que ele não vira desde o vice-reinado anterior; e D. Evarista respondia, entusiasmada, que era a coisa mais bela que podia haver no mundo. O Passeio Público estava acabado, um paraíso onde ela fora muitas vezes, e a Rua das Belas Noites, o chafariz das Marrecas... Ah! o chafariz das Marrecas! Eram mesmo marrecas—feitas de metal e despejando água pela boca fora. Uma coisa galantíssima. O vigário dizia que sim, que o Rio de Janeiro devia estar agora muito mais bonito. Se já o era noutro tempo! Não admira, maior do que Itaguaí, e, de mais a mais, sede do governo... Mas não se pode dizer que Itaguaí fosse feio; tinha belas casas, a casa do Mateus, a Casa Verde...

          —A propósito de Casa Verde, disse o Padre Lopes escorregando habilmente para o assunto da ocasião, a senhora vem achá-la muito cheia de gente.

          —Sim?

          —É verdade. Lá está o Mateus...

          —O albardeiro?

          —O albardeiro; está o Costa, a prima do Costa, e Fulano, e Sicrano, e...

          —Tudo isso doido?

          —Ou quase doido, obtemperou o padre.

          —Mas então?

          O vigário derreou os cantos da boca, à maneira de quem não sabe nada ou não quer dizer tudo; resposta vaga, que se não pode repetir a outra pessoa por falta de texto. D. Evarista achou realmente extraordinário que toda aquela gente ensandecesse; um ou outro, vá; mas todos? Entretanto custava-lhe duvidar; o marido era um sábio, não recolheria ninguém à Casa Verde sem prova evidente de loucura.

          —Sem dúvida... sem dúvida... ia pontuando o vigário.

          Três horas depois, cerca de cinquenta convivas sentavam-se em volta da mesa de Simão Bacamarte; era o jantar das boas-vindas. D. Evarista foi o assunto obrigado dos brindes, discursos, versos de toda a casta, metáforas, amplificações, apólogos. Ela era a esposa do novo Hipócrates, a musa da ciência, anjo, divina, aurora, caridade, vida, consolação; trazia nos olhos duas estrelas, segundo a versão modesta de Crispim Soares, e dois sóis, no conceito de um vereador. O alienista ouvia essas coisas um tanto enfastiado, mas sem visível impaciência. Quando muito dizia ao ouvido da mulher, que a retórica permitia tais arrojos sem significação. D. Evarista fazia esforços para aderir a esta opinião do marido; mas, ainda descontando três quartas partes das louvaminhas, ficava muito com que enfunar-lhe a alma. Um dos oradores, por exemplo, Martim Brito, rapaz de vinte e cinco anos, pintalegrete acabado, curtido de namoros e aventuras, declamou um discurso em que o nascimento de D. Evarista era explicado pelo mais singular dos reptos. “Deus, disse ele, depois de dar ao universo o homem e a mulher, esse diamante e essa pérola da coroa divina (e o orador arrastava triunfalmente esta frase de uma ponta a outra da mesa), Deus quis vencer a Deus, e criou D. Evarista."

          D. Evarista baixou os olhos com exemplar modéstia. Duas senhoras, achando a cortesanice excessiva e audaciosa, interrogaram os olhos do dono da casa; e, na verdade, o gesto do alienista pareceu-lhes nublado de suspeitas, de ameaças e, provavelmente, de sangue. O atrevimento foi grande, pensaram as duas damas. E uma e outra pediam a Deus que removesse qualquer episódio trágico,— ou que o adiasse, ao menos para o dia seguinte. Sim, que o adiasse. Uma delas, a mais piedosa, chegou a admitir, consigo mesma que D. Evarista não merecia nenhuma desconfiança, tão longe estava de ser atraente ou bonita. Uma simples água-morna. Verdade é que, se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo? Esta idéia fê-la tremer outra vez, embora menos; menos, porque o alienista sorria agora para o Martim Brito e, levantados todos, foi ter com ele e falou-lhe do discurso. Não lhe negou que era um improviso brilhante, cheio de rasgos magníficos. Seria dele mesmo a ideia relativa ao nascimento de D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em algum autor que?... Não senhor; era dele mesmo; achou-a naquela ocasião e parecera-lhe adequada a um arroubo oratório. De resto, suas ideias eram antes arrojadas do que ternas ou jocosas. Dava para o épico. Uma vez, por exemplo, compôs uma ode à queda do Marquês de Pombal, em que dizia que esse ministro era o "dragão aspérrimo do Nada", esmagado pelas "garras vingadoras do Todo"; e assim outras mais ou menos fora do comum; gostava das ideias sublimes e raras, das imagens grandes e nobres...

          “Pobre moço!” pensou o alienista. E continuou consigo: “Trata-se de um caso de lesão cerebral; fenômeno sem gravidade, mas digno de estudo...”

           D. Evarista ficou estupefata quando soube, três dias depois, que o Martim Brito fora alojado na Casa Verde. Um moço que tinha ideias tão bonitas! As duas senhoras atribuíram o ato a ciúmes do alienista. Não podia ser outra coisa; realmente, a declaração do moço fora audaciosa demais.

          Ciúmes? Mas como explicar que, logo em seguida, fossem recolhidos José Borges do Couto Leme, pessoa estimável, o Chico das Cambraias, folgazão emérito, o escrivão Fabrício e ainda outros? O terror acentuou-se. Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido. As mulheres, quando os maridos saíam, mandavam acender uma lamparina a Nossa Senhora; e nem todos os maridos eram valorosos, alguns não andavam fora sem um ou dois capangas. Positivamente o terror. Quem podia, emigrava. Um desses fugitivos chegou a ser preso a duzentos passos da vila. Era um rapaz de trinta anos, amável, conversado, polido, tão polido que não cumprimentava alguém sem levar o chapéu ao chão; na rua, acontecia-lhe correr uma distancia de dez a vinte braças para ir apertar a mão a um homem grave, a uma senhora, às vezes a um 12 menino, como acontecera ao filho do juiz de fora. Tinha a vocação das cortesias. De resto, devia as boas relações da sociedade, não só aos dotes pessoais, que eram raros, como à nobre tenacidade com que nunca desanimava diante de uma, duas, quatro, seis recusas, caras feias, etc. O que acontecia era que, uma vez entrado numa casa, não a deixava mais, nem os da casa o deixavam a ele, tão gracioso era o Gil Bernardes. Pois o Gil Bernardes, apesar de se saber estimado, teve medo quando lhe disseram um dia que o alienista o trazia de olho; na madrugada seguinte fugiu da vila, mas foi logo apanhado e conduzido à Casa Verde.

          —Devemos acabar com isto!

          —Não pode continuar!

          —Abaixo a tirania!

          —Déspota! violento! Golias!

          Não eram gritos na rua, eram suspiros em casa, mas não tardava a hora dos gritos. O terror crescia; avizinhava-se a rebelião. A ideia de uma petição ao governo para que Simão Bacamarte fosse capturado e deportado, andou por algumas cabeças, antes que o barbeiro Porfírio a expendesse na loja, com grandes gestos de indignação. Note-se, — e essa é uma das laudas mais puras desta sombrio história — note-se que o Porfírio, desde que a Casa Verde começara a povoar-se tão extraordinariamente, viu crescerem-lhe os lucros pela aplicação assídua de sanguessugas que dali lhe pediam; mas o interesse particular, dizia ele, deve ceder ao interesse público. E acrescentava:—é preciso derrubar o tirano! Note-se mais que ele soltou esse grito justamente no dia em que Simão Bacamarte fizera recolher à Casa Verde um homem que trazia com ele uma demanda, o Coelho.

          —Não me dirão em que é que o Coelho é doido? bradou o Porfírio,

          E ninguém lhe respondia; todos repetiam que era um homem perfeitamente ajuizado. A mesma demanda que ele trazia com o barbeiro, acerca de uns chãos da vila, era filha da obscuridade de um alvará e não da cobiça ou ódio. Um excelente caráter o Coelho. Os únicos desafeiçoados que tinha eram alguns sujeitos que, dizendo-se taciturnos, ou alegando andar com pressa, mal o viam de longe dobravam as esquinas, entravam nas lojas, etc. Na verdade, ele amava a boa palestra, a palestra comprida, gostada a sorvos largos, e assim é que nunca estava só, preferindo os que sabiam dizer duas palavras, mas não desdenhando os outros. O Padre Lopes, que cultivava o Dante, e era inimigo do Coelho, nunca o via desligar-se de uma pessoa que não declamasse e emendasse este trecho:

           La bocca sollevò dal fiero pasto Quel "seccatore"...

mas uns sabiam do ódio do padre, e outros pensavam que isto era uma oração em latim.

 

FONTE:

MINISTÉRIO DA CULTURA

Fundação Biblioteca Nacional

Departamento Nacional do Livro

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Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras.

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