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segunda-feira, 23 de maio de 2022

A MORTE – Gibran Khalil Gibran



A Morte

 

            Então, Almitra falou, dizendo: “Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte”.

            E ele disse:

            “Quereis conhecer o segredo da morte.

            Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?

            A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz.

            Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso coração ao corpo da vida.

            Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.

            Na profundidade de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além.

            E como sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.

            Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.

            Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando se encontra diante do rei, e este entende-lhe a mão em sinal de consideração.

            O camponês não se regozija, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?

            Contudo, não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?

            Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?

            E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?

 

            É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.

            É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.

            É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

  

Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.        

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O ERRANTE, UM LIVRO E IRONIA E AMARGURA

 

          O livro começa assim: “Encontrei-o nas encruzilhadas, um homem que tinha apenas uma capa e um bordão, e um véu de dor sobre a face. Cumprimentamo-nos um ao outro, e eu lhe disse: “Venha à minha casa e seja meu hóspede”. E ele veio... E contou-nos muitas histórias naquela noite, e também no dia seguinte...”

          O livro relata estas histórias, que refletem a experiência (e a amargura) dos dias. E também a poeira – e a paciência – das estradas.

          Muitas dessas histórias são realmente fábulas, nas quais os animais manifestam todas as loucuras do homem, como a história do rato e do gato, ou das rãs, ou da hiena e o crocodilo.

          Mas, em outras histórias, os heróis são mesmo homens, que têm pouco das qualidades e muito dos defeitos que distinguem o gênero humano.

        Contrariamente a outros livros de Gibran, este não é uma mensagem de compaixão e de compreensão, mas uma explosão de amargura e de ironia para com a estupidez e pequenez dos homens. E sua leitura é um excelente antídoto para o que há de bondade, às vezes imerecida, nos outros livros, e contribui para dar à mensagem global de Gibran um benéfico caráter de realismo e equilíbrio. Uma leitura para mentes maduras.

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