Cyro de Mattos é publicado na Rede Tíberíades de autores cristãos iberoamericanos na Espanha
Com o título “Cyro
de Mattos: amado Galileo y otros textos”, a Rede Tiberíades de poetas e
críticos literários cristão x iberoamericanos, sediada em Salamanca, na
Espanha, acaba de publicar com destaque a crônica Amado Galileu e os poemas
Cravo de Cristo, Haicai de Cristo e Via Impiedosa, do autor baiano Cyro de
Mattos, em edição português-espanhol. A matéria traz ainda ilustrações
belíssimas do salvador da humanidade, além de divulgar uma foto grande do
escritor e poeta baiano recitando seus poemas no Teatro do Liceu de
Salamanca.
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Cyro de Mattos: 'Amado Galileu' e outros textos traduzidos
por A. P. Alencart
Leitura do escritor brasileiro Cyro de Mattos no Teatro Liceo de Salamanca (foto de José Amador Martín)
Amado Galileu
Para Alfredo Perez Alencart
Contam que nasceu numa manjedoura, o berço de palha. Foi
anunciado por uma estrela, no céu toda acesa de Deus. Os bichos cantaram: Jesus
nasceu! Jesus nasceu! Os pastores tocavam uma música serena nas suas doces
flautas. São José, o pai, o que tinha mãos no labor de enxó, plaina e formão,
soube que de agora em diante ia talhar a mais pura fé do seu constante coração.
Virgem Maria, mãe do menino, dizia baixinho: Pobrezinho quando for um homem, de
tanto nos amar, vai morrer na cruz.
Os três reis magos foram chegando, vieram de longe, muito
longe, atravessaram montanhas e desertos. Traziam, como presente para o menino,
mirra, incenso e ouro. Ajoelharam-se. Não eram dignos de tocar naquela palha,
mas bastava agora que fizessem o bem ao próximo seriam salvos. Abelhas com os
seus zumbidos de ouro vieram colocar afeto e mel no coração de cada um dos
reis.
Contam mais que foi um menino que brincava como qualquer menino, mas que gostava de ficar às vezes sozinho, olhando para a linha do horizonte. Quando ficou rapaz, não teve dúvida, havia sido o escolhido entre os seres humanos para ultrapassar aquela linha. Para conseguir a façanha teria que fazer uma mágica em que disseminasse uma rosa na manjedoura dos ares. Juntar todas as mãos numa só mesa onde todos seriam irmãos.
Teve que trazer as sementes dadas pelo Pai para plantar cirandas nas areias do
deserto. Os sentimentos daquele homem com olhar de mendigo e profeta correram
nas águas doces do rio, seguiram no vento manso, que soprou a flor sozinha na
plantinha do brejo. Foram levados pela borboleta até o lugar onde o amor sempre
permanece.
Ora, vejam só, sair por aí de mãos dadas como criança e
espalhar num instante só ternura nessa terra? Convencer os homens de que viver
vale a pena desde que a vida seja exercida numa comunhão em que não haja
desigualdade, injustiça, opressão? A vida sem solidão, a vida como uma dança, a
vida sem agressão? Os bichos sem matança e a mata sem queimada? Sem veneno as
nuvens na chuva despejando a poluição?
Os donos do poder no sistema organizado não perdoaram a
afronta. Traçaram o mais pérfido calvário. Fizeram que carregasse uma cruz
pesada. Puseram uma coroa de espinho na cabeça, cuspiram, chicotearam. Ó
desamor, quão amarga é a tua memória! Morra o rebelado, o falso profeta, o
demolidor da ordem, o falso fazedor de milagre? Os que estavam cegos investiam,
urravam, não se cansavam. Até que decretaram a crucificação. Não aceitaram que
no seu lugar ficasse o ladrão, que para ali fora apenado com a crucificação
pelos crimes cometidos.
Mas o que se viu, depois de perversa infâmia, é que até hoje
toca um sino na cidade e na campina, só para nos dizer que do menino se fez o
homem, em duras pedras no caminho. Vestido de aleluias, ressuscitou,
ressuscitou, por ser divino e eterno só nos quer o bem.
Esse amado galileu.
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Cristo na Cruz, por Miguel Elias
Cravo do Cristo
Haicai do Cristo
Caminho implacável
- Ciro de Mattos (Itabuna, Bahia, 1939) Poeta, Narrador,
Jornalista e Advogado. É membro da Academia de Letras da Bahia e já conquistou
diversos prêmios, como o Prêmio Nacional Ribeiro Couto, o Prêmio Alfonso
Arinos, o Prêmio Centenário Emílio Mora e o Prêmio Internacional de Literatura
Maestrale Marengo (Gênova). Tem um trabalho publicado na Alemanha, França,
Portugal, Rússia, Estados Unidos, México, Dinamarca, Suíça e Itália. Entre seus
livros de poesia estão Vinte Poemas do Rio, Cancioneiro do Cacau, Ecológico,
Vinte e Um Poemas de Amor e Oratório de Natal, entre outros.
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