Total de visualizações de página

terça-feira, 11 de abril de 2023

Cyro de Mattos é publicado na Rede Tíberíades de autores cristãos iberoamericanos na Espanha


           Com o título “Cyro de Mattos: amado Galileo y otros textos”, a Rede Tiberíades de poetas e críticos literários cristão x iberoamericanos,  sediada em Salamanca, na Espanha, acaba de publicar com destaque a crônica Amado Galileu e os poemas Cravo de Cristo, Haicai de Cristo e Via Impiedosa, do autor baiano Cyro de Mattos, em edição português-espanhol. A matéria traz ainda ilustrações belíssimas do salvador da humanidade, além de divulgar uma foto grande do escritor e poeta baiano  recitando seus poemas no Teatro do Liceu de Salamanca.

======

Cyro de Mattos: 'Amado Galileu' e outros textos traduzidos por A. P. Alencart

Leitura do escritor brasileiro Cyro de Mattos no Teatro Liceo de Salamanca (foto de José Amador Martín)


Amado Galileu

Para Alfredo Perez Alencart

Contam que nasceu numa manjedoura, o berço de palha. Foi anunciado por uma estrela, no céu toda acesa de Deus. Os bichos cantaram: Jesus nasceu! Jesus nasceu! Os pastores tocavam uma música serena nas suas doces flautas. São José, o pai, o que tinha mãos no labor de enxó, plaina e formão, soube que de agora em diante ia talhar a mais pura fé do seu constante coração. Virgem Maria, mãe do menino, dizia baixinho: Pobrezinho quando for um homem, de tanto nos amar, vai morrer na cruz.

Os três reis magos foram chegando, vieram de longe, muito longe, atravessaram montanhas e desertos. Traziam, como presente para o menino, mirra, incenso e ouro. Ajoelharam-se. Não eram dignos de tocar naquela palha, mas bastava agora que fizessem o bem ao próximo seriam salvos. Abelhas com os seus zumbidos de ouro vieram colocar afeto e mel no coração de cada um dos reis.

Contam mais que foi um menino que brincava como qualquer menino, mas que gostava de ficar às vezes sozinho, olhando para a linha do horizonte. Quando ficou rapaz, não teve dúvida, havia sido o escolhido entre os seres humanos para ultrapassar aquela linha. Para conseguir a façanha teria que fazer uma mágica em que disseminasse uma rosa na manjedoura dos ares. Juntar todas as mãos numa só mesa onde todos seriam irmãos.

Teve que trazer as sementes dadas pelo Pai para plantar cirandas nas areias do deserto. Os sentimentos daquele homem com olhar de mendigo e profeta correram nas águas doces do rio, seguiram no vento manso, que soprou a flor sozinha na plantinha do brejo. Foram levados pela borboleta até o lugar onde o amor sempre permanece.

Ora, vejam só, sair por aí de mãos dadas como criança e espalhar num instante só ternura nessa terra? Convencer os homens de que viver vale a pena desde que a vida seja exercida numa comunhão em que não haja desigualdade, injustiça, opressão? A vida sem solidão, a vida como uma dança, a vida sem agressão? Os bichos sem matança e a mata sem queimada? Sem veneno as nuvens na chuva despejando a poluição?

Os donos do poder no sistema organizado não perdoaram a afronta. Traçaram o mais pérfido calvário. Fizeram que carregasse uma cruz pesada. Puseram uma coroa de espinho na cabeça, cuspiram, chicotearam. Ó desamor, quão amarga é a tua memória! Morra o rebelado, o falso profeta, o demolidor da ordem, o falso fazedor de milagre? Os que estavam cegos investiam, urravam, não se cansavam. Até que decretaram a crucificação. Não aceitaram que no seu lugar ficasse o ladrão, que para ali fora apenado com a crucificação pelos crimes cometidos.

Mas o que se viu, depois de perversa infâmia, é que até hoje toca um sino na cidade e na campina, só para nos dizer que do menino se fez o homem, em duras pedras no caminho. Vestido de aleluias, ressuscitou, ressuscitou, por ser divino e eterno só nos quer o bem.

Esse amado galileu.

------------------

 

 


Cristo na Cruz, por Miguel Elias


Cravo do Cristo

A terra tremeu,
Portas da esperança abertas,
A morte vencida.

Evocando espinho,
Até hoje perfuramos
Através do bem.


Unha de Cristo

A terra tremeu,
abrir o Portal da Esperança,
A morte venceu.

Evocando o espinho,
Até hoje atravessamos
através do bem

Haicai do Cristo

Espinhos furam
Rei do perdão renegado,
Do sangue bebem.

Pedra, cuspe, crivo,
Ululantes cães na festa
Do sol tenebroso.


Hacai de Cristo

Ferida de espinhos
ao negado rei do perdão,
Eles bebem seu sangue.

Pedra, grelha, peneira,
Ululating cães na festa
do sol escuro.


Via impiedosa  

Cuspido no caminho
por onde passa respinga
sangue dos espinhos
Deixe a carne se animar.
Do ódio não desistem
gargantas que pedra,
uma coroa sabe a dor
do vento nas manadas
sem rumo enfurecidas.

Todos os rancores
vergastam no rosto,
abomináveis renegam
a união como verdade.
Tudo é solidão, é dor,
o mundo que se cala
com a surra desferida
no rei único do perdão.

Pelas ofensas cometidas,
sei que não sou digno
de entrar em tua morada,
mas basta uma só palavra
para que eu seja salvo.
Em tuas mãos entregue,
faz de mim tua criatura,
recolhe-me da injusta onda
entre vilezas e ignomínias
tingindo de roxo o coração.

Caminho implacável

Cuspir na estrada
onde quer que passe salpicos
Sangue dos espinhos
que perfuram a carne.
O ódio não desiste
gargantas que pedra,
Uma coroa conhece a dor
do vento nos rebanhos
sem rumo.

Todos os rancores
chicote na cara,
Renegação abominável
A união como verdade.
Tudo é solidão e dor,
O mundo que está em silêncio
Diante dos golpes
ao único rei do perdão.

Pelas infrações cometidas,
Eu sei que não sou digno
para entrar em sua morada,
Mas apenas uma palavra é suficiente
para que eu possa ser salvo.
Em tuas mãos eu estou,
fazei-me vossa criatura,
Me pega de ondas injustas
entre vileza e ignomínia
tingindo o coração de vermelho.


- Ciro de Mattos (Itabuna, Bahia, 1939) Poeta, Narrador, Jornalista e Advogado. É membro da Academia de Letras da Bahia e já conquistou diversos prêmios, como o Prêmio Nacional Ribeiro Couto, o Prêmio Alfonso Arinos, o Prêmio Centenário Emílio Mora e o Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo (Gênova). Tem um trabalho publicado na Alemanha, França, Portugal, Rússia, Estados Unidos, México, Dinamarca, Suíça e Itália. Entre seus livros de poesia estão Vinte Poemas do Rio, Cancioneiro do Cacau, Ecológico, Vinte e Um Poemas de Amor e Oratório de Natal, entre outros.

 

https://tiberiades.org/?p=7825