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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

FIDELCASTRISMO SEM FIDEL CASTRO – Plinio Corrêa de Oliveira

 


A polícia cubana reprime as manifestações contra a ditadura, em Havana no dia 13 de julho último

 

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Segundo relatório que a Comissão Especial sobre Cuba apresentou à Associação Interamericana de Imprensa, reunida [em 1969] em Washington, Fidel Castro, premido por insucessos econômicos e diplomáticos de várias ordens, cogitou — para continuar no poder — mudar sua política em relação à América latina, propondo a esta um regime de coexistência pacífica.

Segundo aviso dado pela irmã de Fidel, Juanita Castro, à referida Comissão, o comunismo cubano, apoiado em “manobras de alguns setores norte-americanos e latino-americanos” empenhados em impedir ou pelo menos retardar a libertação do povo cubano do marxismo, pensaria até mesmo, para aliviar a situação, em derrubar o periclitante ditador, substituindo-o por algum outro líder vermelho.

Como é fácil ver, essa mudança propiciaria, fora de Cuba, a impressão de que o comunismo já não é tão feroz na Ilha. Essa impressão, por sua vez, criaria um clima favorável à coexistência. E a coexistência, afrouxando as tensões que estrangulam o comunismo cubano, proporcionaria a este uma sobrevida.

Assim, com Castro ou sem Castro, é para a coexistência, forçosamente velhaca e dolosa, que caminharia a Cuba vermelha.

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(Excertos do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira na “Folha de S. Paulo”, em 9-11-1969)

https://www.abim.inf.br/fidelcastrismo-sem-fidel-castro/

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O GRAPIÚNA JORGE AMADO – Cyro de Mattos


           O Grapiúna Jorge Amado

Cyro de Mattos

 

             Em O Menino grapiúna (1981), pequeno livro de memórias, Jorge Amado destaca:

             Desbravador de terras, meu pai erguera sua casa mais além de Ferradas, povoado do jovem município de Itabuna, plantara cacau, a riqueza do mundo. Na época das grandes lutas.

             Mais adiante afirma:

           “Eu nasci em agosto de 1912 naquela mesma roça de cacau, de nome Auricídia”.

                        Nascera em 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, um povoado do jovem município de Itabuna, que aparece com o seu comércio ativo no romance Terras de sem fim como um dos domínios do coronel Horácio. Neste romance, no capítulo Gestação de Cidades, quando se refere a Tabocas, Jorge Amado conta que o povoado pertencia ao município de São Jorge dos Ilhéus.

            Mas já muita gente quando escrevia cartas, não as datava mais de Tabocas e, sim, de Itabuna. E quando perguntavam a um morador dali, que estivesse de passeio em Ilhéus, de onde ele era, o homem respondia cheio de orgulho:

            - Sou de Itabuna

            Antigos fazendeiros, sobreviventes da fase heroica da conquista da terra, como Maneca Dantas e o coronel Horácio, personagens de Terras do sem fim, voltam no romance São Jorge dos Ilhéus a receber a empatia do ficcionista humaníssimo que é Jorge Amado. A figuração do Coronel Horácio já velho, quase cego, solitário, no meio dos cacaueiros, que plantara com muito sacrifício, alcança rica significação no romance.

            A recriação literária da civilização do cacau na Bahia tem sequência em Jorge Amado com o pequeno romance A descoberta da América pelos turcos ou de como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de visita à cidade de Itabuna para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou ainda os esponsais de Adma. Neste romance publicado em 1994, Jorge Amado volta a apresentar as marcas inconfundíveis de sua arte: fluência na escrita, facilidade de fabular e gozo pela vida. Recorre ao riso para contar a saga de sírios e libaneses no Sul da Bahia quando tinha início o plantio das roças de cacau e a construção de casas em vilarejos e pequenas cidades.

             Situações engraçadas predominam em A descoberta da América pelos turcos, romancinho armado com desventura e premonição de felicidade em seus episódios extraídos da vida real. Passagens com humor árabe acontecem na pequena cidade de Itabuna, agora aparecendo pela primeira vez com destaque na saga da civilização cacaueira baiana, definido como um dos filões ricos da novelística amadiana. Com o seu comercinho novo, o burburinho na estação do trem, igreja e capela. Hotel dos Lordes, cabarés, botequins, pensões de prostituta, fuxicaria na política, desmando dos jagunços armados, tropas carregadas de cacau nas ruas. A recente cidade de Itabuna como um burgo de penetração exibe-se sem retoques e ilusionismo, marca sua presença num cenário divertido da vidinha movimentada e turbulenta.

            Traduzido em mais de 40 idiomas, Jorge Amado é o escritor brasileiro que mais dá voz aos excluídos, os marginalizados pelo sistema organizado.  Sua prosa é prazerosa, sua mensagem de liberdade está expressa com a esperança na escrita irreverente, que faz pensar e, a um só tempo, rir. Esse grapiúna Jorge Amado, que nasceu numa fazenda de cacau, no Sul da Bahia, para se tornar um dos mais criativos contadores de histórias no mundo.

            Faleceu aos 6 de agosto de 2001, em Salvador.

 

 


Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Autor muitas vezes premiado, publicado também no estrangeiro. É membro das Academias de Letras da Bahia, Ilhéus e Itabuna. Na Academia de Letras de Itabuna ocupa a cadeira 6, que tem como patrono Jorge Amado.

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