“Contrariamente ao que se espera de uma corte
constitucional, o STF vem há tempos propagando notórias e repetidas
demonstrações de partidarismo político em suas interpretações da Constituição
Federal e, até mesmo de modo surpreendente, manifestando publicamente
preferências partidárias, como agiu um de seus Ministros em evento no exterior,
ao considerar como inimigo o Chefe do Poder Executivo.
Arrogando-se o direito de, sem cerimônias, interferir nas
atribuições dos demais Poderes que constituem o Estado Brasileiro, decidiu recentemente
aquele Tribunal punir, de modo injusto e desproporcional, um parlamentar que,
de forma insultuosa, emitiu opinião sobre a corte e alguns de seus integrantes.
Estritamente de acordo com o que reza a Carta Magna, o
Presidente exerceu o direito de indultar o punido, não por concordar com os
insultos, mas para corrigir um processo e julgamento cristalinamente
inconstitucionais, posto que caberia ao Congresso conduzi-los.
Estabelecido o impasse institucional, pergunta-se: Aonde
querem chegar alguns Ministros do Supremo? Pretendem enfraquecer nossa
democracia? Com que finalidade? Premeditaram essa crise para fazer valer suas
indisfarçáveis tendências políticas? É esta a postura que os cidadãos
brasileiros devem esperar de uma corte que se pressupõe isenta e tida como
suprema?
Nós, integrantes dos Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica
manifestamos incondicional apoio ao Presidente da República em seu esforço para
sustentar a democracia e a liberdade de expressão no país.”
Luiz Fernando Palmer Fonseca, Almirante de
Esquadra, Presidente do Clube Naval;
Eduardo José Barbosa, General de
Divisão, Presidente do Clube Militar;
Marco Antonio Carbalo Perez,
Major Brigadeiro do Ar e Presidente do Clube da Aeronáutica.
* * *
RÁDIO FRANCESA DECLAMA VERSOS DE CYRO DE MATTOS
No encerramento do programa Travessias, divulgado pela Radio Galere de Marseille, na França, o radialista e escritor Jean-José Mesguen, https://radiogalere.org/?playlist=2022-04-04-que-viva-la-musica,
declamou os versos de Cyro de Mattos do
poema O Canto Impossível, que integra o livro Poemas de Terreiro e Orixás,
publicação das Edições Mazza, Belo Horizonte, com prefácio de Muniz Sodré.
Abaixo o poema.
O Canto Impossível
Cyro de Mattos
Quero cantar o negro / com todas as notas / de meu coração
lírico./ Torna-se impossível. /Pra não morrer corre / do irmão
em África. / Foge como bicho, /na tevê eu vejo./ Os dentes da guerra, / a
fome, a sede, / o sal alimentam/ o sonho de dias melhores./ A carga precária /
no barco socada. / De repente emborca, / morrem centenas./ Ouço os gritos,/
pressinto as mãos, / debatem-se na água, / somem no desespero./ A Europa não
se importa / com o menino nascido / nessa aventura suicida / do novo navio
negreiro. /Quero cantar o negro / mas como fazê-lo? / Resistência, sofrimento
/ fazem o verso impossível.
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Le Chant Impossible
Traduit pas Jean-José Mensguens
Je veux chanter le noir / de toutes les notes / de mon cœur
lyrique. / Et c’est impossible. /Pour ne pas mourir il fuit / son frère en
Afrique. / Il court comme une bête,/ on le voit à la télé. /Les dents de la
guerre, / la faim, la soif, / le sel nourrissent / le rêve de jours meilleurs./
La charge précaire / entassée dans le bateau. / Soudain elle prend l’eau, / ils
meurent par centaines./J’entends les cris, / je pressens les mains,/ ils se
débattent dans l’eau, / ils sombrent dans le désespoir./L’Europe n’a cure / de
l’enfant qui naît / dans cette aventure suicidaire / du nouveau navire négrier./Je
veux chanter le noir / mais comment le faire ? / Résistance, souffrance /
rendent le vers impossible.
---
Cyro de Mattos é escritor de contos, crônicas, romance,
poemas, literatura infantojuvenil, ensaio e memorialista. Membro efetivo da
Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de
Santa Cruz. Também é editado no exterior.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando
fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se
encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja
convosco”.
Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então
os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai
me enviou, também eu vos envio”.
E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão
perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com
eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o
Senhor!”
Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em
suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no
seu lado, não acreditarei”.
Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente
reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus
entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.
Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas
mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas
fiel”.
Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!”
Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste?
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos,
que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que acrediteis
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em
seu nome.
“Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o
lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20)
O relato pascal deste 2º domingo da Páscoa é chave para
entender o sentido de todas as aparições do Ressuscitado aos seus amigos e
amigas. Ele não tem a intenção de nos querer dizer o que “aconteceu”, mas
transmitir-nos uma vivência, uma experiência.
Ao refletir sobre os relatos das Aparições padecemos de um
míope e estéril realismo: quê viram? quê aconteceu? como Ele apareceu?... Interessa-nos
muito mais a curiosidade do investigador. Lemos os Evangelhos mais como
jornalistas do que como pessoas de fé. Nosso desejo era ter estado ali e ver
tudo com nossos próprios olhos.
Mas, se tivéssemos estado ali, teríamos acreditado no
Crucificado? Esta é a pergunta decisiva. Esta é a finalidade do relato de João,
especialmente do conjunto Paixão/Ressurreição: “que creiais no
Crucificado”. Aquele que não sente sua fé interpelada pelo crucificado e
pelos crucificados do mundo, não tem uma fé bem enraizada.
A experiência pascal dos(as) seguidores(as) de Jesus revela
que é na comunidade onde se pode descobrir a presença do
Ressuscitado. A comunidade é a garantia da fidelidade a Jesus e ao seu
Espírito; sobretudo, é a comunidade que recebe a nobre missão de expandir a
grande surpresa realizada pelo Pai em Jesus.
Jesus aparece no centro da comunidade dos seus amigos e
amigas, como presença de unidade, porque, agora, Ele é para eles e elas a única
referência e fator de comunhão. A comunidade cristã está centrada em Jesus: sua
saudação elimina o medo; as chagas, sinal de sua entrega, evidenciam que é o
mesmo que morreu na cruz; o sopro do seu Espírito lhes reacende a alegria e a
coragem; desaparece o medo da morte...
A verdadeira Vida não pode ser tirada de
Jesus nem tirada dos seus seguidores. A permanência dos sinais de
sua morte (chagas) indica a permanência de seu amor. Além disso, garante a
identificação do Ressuscitado com o Jesus crucificado. A comunidade tem agora a
experiência de que Jesus vive e lhe comunica essa mesma Vida.
O evangelista João é o único que divide em dois o relato da
aparição aos apóstolos reunidos. Com isso personaliza em Tomé o
tema da dúvida, que é capital em todos os relatos de aparições. Bastavam
os sinais anteriores: o dom da paz, a memória de sua entrega (mãos e lado), o
perdão, o sopro do Espírito. Mas o texto joanino continua dizendo que faltava
Tomé, precisamente um dos Doze. Não é um cristão comum aquele que estava
ausente da comunidade, mas um dos antigos companheiros de Jesus, um de seus
doze seguidores. Precisamente Tomé, um dos líderes da igreja primitiva, corria
o risco de entender a ressurreição de um modo “espiritualista”, “desencarnada”,
fora da comunidade.
Não há experiência pascal sem um retorno à corporalidade do
Cristo, que continua sendo o mesmo Jesus da história que morreu por sua
fidelidade à causa do Reino: trazer vida em abundância a todos.
Neste segundo encontro do Ressuscitado com os discípulos,
João destaca a exigência de “tocar” as feridas de
Jesus, para conservar assim a memória de sua paixão, descobrir sua presença
pascal e encontrá-lo nos feridos da história. “Tocar” em Jesus significa tocar
e curar as feridas da humanidade que sofre.
A fé pascal expressa-se, dessa forma, como experiência
mística (mas realíssima) do sofrimento e morte do Messias, que continua
morrendo nos crucificados e enfermos deste mundo. O Ressuscitado não se
apresenta com força e poder, mas com amor e a partir do amor, exercendo o “ofício do
consolar” (S. Inácio). Por isso, às vezes não é fácil reconhecê-lo. E, no
entanto, é Ele mesmo. Aquele que foi crucificado é o que Deus
ressuscitou. Esta igualdade fica expressa por meio das chagas que
o Ressuscitado traz em seu corpo. Mas estas chagas são algo mais que um modo de
dizer “sou eu mesmo”. As chagas são expressão de identidade, ou seja, pertencem
a seu novo ser de ressuscitado; elas são as “marcas” da entrega e que
nunca desaparecerão.
Dito de outro modo: Jesus, vencedor da morte, não abandona a
fragilidade da existência humana. A fragilidade da carne mortal foi assumida na
glória do corpo ressuscitado. A ressurreição não O separa da condição
humana anterior. Não é a passagem a uma condição superior, mas a mesma condição
humana levada à sua culminação. A Jesus e a nós o Pai nos acolhe com toda
nossa realidade, purificada e transformada.
Ao contemplar as chagas do Ressuscitado, somos movidos a
olhar e acolher também nossas chagas: medos, traumas, fracassos, feridas...
Jesus, que conhece bem nossas obscuridades e resistências,
medos e bloqueios que nos habitam, se faz presente em meio às nossas vidas
abrindo as portas fechadas e pacificando nosso interior: “a paz esteja com
vocês!”. Assim, no-lo repete, continuamente, insistentemente,
pacientemente.
Ele vem ao nosso encontro e se empenha em re-criar-nos,
comunicando seu Sopro sobre nós, como o Criador fez no princípio de
tudo. Ali onde continua habitando o caos, a incerteza e a desconfiança, Ele nos
oferece alegria, paz e fortaleza. Alenta nossa fé e renova nossas relações
pessoais e comunitárias. Gratuitamente; com infinito amor. Com o mesmo amor com
que nos anunciou a Boa Nova e nos libertou de nossas enfermidades; com o mesmo
amor com que se pôs a nossos pés para lavá-los; com o mesmo amor com que fez de
sua vida uma doação radical.
A experiência do encontro com o Ressuscitado nos
faz também encontrar o verdadeiro lugar do nosso corpo em nossa vida.
Normalmente tratamos mal nosso corpo: há muito de stress, de suspeita, medo e
submissão. Sabemos muito sobre nossa mente e muito pouco sobre nosso corpo;
temos uma alma livre num corpo rígido.
A nossa vida é uma bela história de ressurreição, um milagre
de fortaleza na fragilidade que nos impulsiona continuamente a nos despertar da
letargia, a sair de nossos lugares fechados, a colocar-nos de pé, a pisar firme
sobre a terra, abandonando nossos túmulos e fechamentos, e continuar
caminhando, com a cabeça erguida e os olhos fixos no horizonte da vida, onde se
revela a Vida plena do Ressuscitado.
A este Vivente seguimos, pois Ele sempre nos oferece a
oportunidade para nos encontrar com Ele e reconhecê-lo, apesar de nossas
cegueiras, medos e pesadelos. Ele sempre nos toma pela mão para aproximá-la de
suas feridas abertas e mostrar-nos, nas marcas deixadas pelos cravos, que a
morte não tem a última palavra. Aproximar de suas feridas reacende em nós a solidariedade
e o impulso para sair de nossos espaços fechados e entrar em sintonia com os
chagados da história. As chagas do Crucificado, por graça, nos transformam em
testemunhas de sua presença em todos os feridos e sofredores.
Que sua paz alente nosso anúncio alegre para que outros
possam crer e, crendo, todas tenham vida em seu Nome!
Texto bíblico: Jo 20, 19-31
Na oração: Abrir espaço interno para que o
Ressuscitado tenha liberdade de transitar por suas feridas existenciais
(traumas, fracassos, rejei-ções, crises...) integrando-as, ressignificando-as,
iluminando-as...
- Como ser presença ressuscitada neste mundo onde impera a
cultura da morte, do ódio e da violência...? Como se fazer próximo e “tocar” as
vítimas chagadas?
- Sua fé no Ressuscitado tem implicações sociais, políticas,
relacionais..., ou se revela mais como uma “espiritualidade desencarnada”,
intimista, alienada...?