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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

DEPOIS DA PANDEMIA - Carlos Diegues


A
cada dia, recebemos melhores notícias sobre a queda no número de vítimas da Covid-19. Mesmo que a vacina ainda demore, estamos aprendendo a lidar com os meios de controle parcial da pandemia. Com algum sucesso, tentamos descobrir modos de sobreviver ao vírus, sem nos deixarmos imobilizar pelo terror que sua existência nos provoca. As conversas privadas e os debates públicos sobre como seremos, nós e o mundo, depois da pandemia se multiplicam e são um sinal saudável de que o pânico passou, com o pessimismo que poderia nos paralisar. Agora sabemos que o mundo não vai acabar, embora se torne outra coisa. E discutimos planos para seu futuro, em cada uma de nossas atividades.

Embora novinho, inventado há apenas 125 anos, o cinema é o velho patriarca, o avozinho da família do audiovisual que inaugurou no final do século XIX. O mundo virtual, assim como qualquer outra novidade no gênero, tem sido um resultado do que ele começou em dezembro de 1895. Do som à cor, da televisão ao streaming, tudo o que, nesse universo, apareceu depois da invenção do cinema foi gerado por ele ou é uma consequência do que ele foi.

Não compreendo as críticas radicais, quase histéricas, de gente como Martin Scorsese ao streaming. Não compreendo por que um grande cineasta, com quem tantos jovens aprenderam tanto, se posiciona contra o desenvolvimento de sua atividade. Lembra os intelectuais reacionários que, em 1927, se negaram a assistir a “O cantor de jazz”, como uma manifestação contra o som no cinema. A mesma tradição que lamentou a cor (um disfarce da realidade, criado para nos esconder o mundo real) e amaldiçoou a tela larga (os mais espirituosos diziam que o Cinemascope só servia para filmar procissão religiosa e desfile militar). O streaming é uma multiplicação de resultados obtidos pelo cinema, seja na criação, seja na difusão, num formato doméstico que pode vir a ser o destino social do ser humano. O que ficou claro durante a crise mundial provocada pela pandemia.

O coronavírus jogou o ser humano nos braços de dois estados de espírito morais que andavam esquecidos ou abandonados: a solidão e a solidariedade. É possível que nunca mais voltemos a ser a humanidade tensa destes últimos tempos, em busca de resultados imediatos por meio de disputas acirradas, sem ordem de sentimentos ou princípios comuns. Uma humanidade que nunca esteve satisfeita porque, por falta de consistência e significância, nada lhe era suficiente. A pandemia nos revelou um mundo em que somos obrigados a nos organizar sozinhos, sabendo entretanto que, sem o outro, nunca seremos nada. Solidão e solidariedade são, por acaso, as circunstâncias humanas originais do espectador de cinema.

Não sei prever se a sala de cinema vai desaparecer, em razão do crescimento do streaming ou do que for. Mas é claro que, com as novas, claras e imensas telas de nossos receptores de TV, teremos menos vontade de sair de casa para ver um filme na rua cheia de atropelos. Imagino, mas não sei dizer com total clareza, como essa economia se organizaria, porque é sempre muito difícil prever tendências que não são exatas. Ainda não sabemos nem como a pandemia há de terminar, com que costumes novos, quais e quantos serão os mortos e suas qualidades. Ninguém é capaz de controlar tais cifras.

Sempre pensei o cinema como a mais clara e bela expressão de uma cultura, de um povo, de um país. Por intermédio dele, descobrimos o que somos e o que queremos ser. Mas o cinema não é uma necessidade primária, sem a qual não se pode viver. Ele se estrutura a partir de circunstâncias aleatórias, em que o fator principal será sempre o gosto de seus frequentadores. Entendendo por gosto a soma de elementos que vão da emoção ao conhecimento, do saber ao sentir etc. Não ouso prever esse gosto, nem mesmo no curtíssimo prazo.

Quando o cinema surgiu como espetáculo popular, se pensou que os teatros fechariam. E, quando a televisão tomou conta de nosso tempo de lazer, se dizia que o cinema tinha acabado. Não aconteceu nem uma coisa, nem outra. O novo não é necessariamente o fim do que havia antes; ele pode ser também uma consequência ou uma recuperação do que precisava mudar no que havia antes.

 

O Globo, 14/09/2020

https://www.academia.org.br/artigos/depois-da-pandemia

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Carlos Diegues - Décimo ocupante da Cadeira 7 da ABL, eleito em 30 de agosto de 2018 na sucessão do Acadêmico Nelson Pereira dos Santos e recebido pelo Acadêmico Geraldo Carneiro em 12 de abril de 2019.


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OS HUMANOS DESUMANOS! – Antonio Nunes de Souza


F
alar sobre os comportamentos humanos é tão difícil quanto você acertar sozinho na mega sena. As possibilidades de acertos são tão remotas e passivas de mudanças constantes, assim como as numerações sorteadas semanalmente, pois se estuda a mente humana há centenas de anos, fazem-se milhares de pesquisas científicas e, sempre somos surpreendidos com atitudes e reações descabidas e fora dos propósitos, somente em função de um grupo pré-determinado que para ele até o errado seja o que passará a ser certo, apenas para agradar os gostos daqueles que prepararam e executaram as ações!

Esses despropósitos e fatos que demonstram tolas atitudes constantemente são tão comuns perante os noticiários, que esses se aproveitando do Ibope que geralmente alcançam, oferecem uma cobertura, infelizmente injustificada, se analisada friamente os propósitos esdrúxulos e simplórios, deixando de lado assuntos muito mais importantes e pertinentes a um segundo ou terceiro plano, transparecendo aos olhos de pessoas que pensam mais em termos humanísticos, que os atos praticados são completamente paradoxais, expondo sentimentos nada humanos como deveriam!

O motivo que me fez escrever a respeito, mesmo sendo e reconhecendo um completo leigo na matéria, apenas baseando-me na perspicácia e vivência de muitas dezenas de anos, vendo constantemente essas disparidades incompreensivas é a invasão de um grande e renomado laboratório na cidade de S. Roque, Estado de São Paulo, raptando mais de duzentos cães que estavam sendo usados em pesquisas científicas, sem nenhuma comprovação que estava havendo maus tratos, interrompendo trabalhos de vários anos em benefícios de industrializações de medicamentos que curarão aos humanos. E olhe que no Brasil é permitida a utilização de animais em pesquisas, principalmente, quando esses não são sacrificados inutilmente!

Assim como vi e vejo sempre atitudes similares, principalmente na defesa canina, deixa-me estarrecido e revoltado pela cegueira desses e dessas criadoras de luxo de “Poodle”, que gastam fortunas com seus animaizinhos de estimação, não fazerem levantes e protestos em benefício das crianças abandonadas que, no norte e nordeste passam fome, trabalham desde a infância para complementar a renda familiar, não estudam e são ou estão sempre doentes. Estes sim é que necessitam de protestos sociais veementes, não só junto aos governos como, principalmente, a toda sociedade, pois os benefícios que advirão, obviamente, serão de todos os envolvidos!

Não sou contra cães e gatos, nem animal algum, mas, sinceramente, deixar as crianças abandonadas e ficar simploriamente, somente condenando os governos, não deixa de ser uma atitude desumana, nada racional!

Será que esse povo não enxerga nas áreas urbanas, quando passam em seus carrões, crianças abandonadas apanhando restos de comida nas latas de lixo para se alimentarem? Esse quadro é super comum!

Esses procedimentos humanos (?) são tão estranhos que, se Freud vivesse mais 500 anos ainda morreria sem explicar!

 

Antonio Nunes de Souza, escritor 

Membro da Academia Grapiúna de Letras 

antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com 


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