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domingo, 28 de novembro de 2021

COMO O “METAVERSO” CRIARÁ UM INFERNO VIRTUAL NA TERRA – John Horvat II


Um mundo tão solitário, desconectado da realidade e da natureza das coisas, pode alimentar as paixões desenfreadas que odeiam toda restrição moral. Um espaço como este pode rapidamente se transformar de Alice no País das Maravilhas em um asilo de loucos.

John Horvat II

(LifeSiteNews) – O próximo passo na revolução cibernética é o chamado metaverso, uma plataforma de computação poderosa que vai além de qualquer coisa conhecida. Está sendo comercializada como sendo a próxima geração da Internet, facilitando intensas experiências individuais e abrindo novos mercados. Alguns temem que o metaverso agrave os vícios que se veem atualmente nas redes sociais. Outros o veem como uma distração altamente prejudicial, especialmente entre os jovens.

No entanto, ninguém considera as implicações morais do projeto. O metaverso prejudicará as almas. Tragicamente, as pessoas não veem razão para envolver Deus e a moralidade em uma invenção tecnológica aparentemente fora do domínio privado da religião. Pior ainda, o clero não dá sinais de reconhecer o problema. Não está nem mesmo em seu radar.

Porém, o problema está aí. O metaverso é um ataque metafísico à cosmovisão da Igreja. Ele oblitera a natureza de um universo criado por Deus e tornará possíveis atos imorais que ofenderão gravemente o Criador.

Um processo de imaginação e destruição

metaverso deve ser entendido no contexto de um processo de esforço contínuo da modernidade para colocar a humanidade, e não Deus, no centro de todas as coisas.

Na verdade, é uma obsessão da modernidade imaginar novos mundos sem Deus. O Iluminismo introduziu maneiras de levar a realidade ao limite, desenvolvendo novas tecnologias, filosofias e estilos de vida.

Os tempos modernos deram início à glorificação do indivíduo. A sociedade se tornou uma coleção de pessoas, uma “pilha de areia de indivíduos”, segundo Hobbes, cada qual guiado pelo seu próprio interesse e mantido em ordem por um forte estado de direito encontrado em seu Leviatã.

Assim, o individualismo moderno tendeu a destruir as estruturas externas – tradição, costume ou comunidade – que incomodavam o interesse próprio. Destruiu muitos mecanismos morais que facilitavam a prática da virtude em comum. Criou uma ordem acelerada em que o homem se tornou o centro de tudo e a religião foi relegada a um assunto privado.

A pós-modernidade destrói a sociedade

A ordem da modernidade foi destruída pela pós-modernidade da década de 1960, que propôs liberar a imaginação e remover todas as restrições morais. O pós-modernismo levou o individualismo ao extremo por meio do uso de novas tecnologias, filosofias e estilos de vida. A sociedade virou de cabeça para baixo com as drogas psicodélicas, a música rock e a revolução sexual.

Pela mesma lógica em que a modernidade idolatrava o interesse próprio, o individualista pós-moderno torna o “direito” à autogratificação o único direito absoluto – mesmo quando tal comportamento é autodestrutivo. O individualista pós-moderno busca destruir aquelas estruturas internas – a lógica, a identidade ou a unidade – que impedem a gratificação instantânea. As narrativas “desconstruídas” da pós-modernidade isolaram os indivíduos ainda mais e os levaram a criar suas próprias realidades fora de Deus e de Sua moralidade.

No entanto, a modernidade e a pós-modernidade ainda estavam ancoradas de alguma forma em uma realidade externa da qual as pessoas não podiam escapar totalmente. Havia limitações físicas e ontológicas que mantinham a imaginação sob controle. Um homem poderia identificar-se como algo que ele não era, mas aquele desejo não alterava a realidade. Além do mais, seus sonhos não se tornavam óbvios para todos ao seu redor.

Entrando em uma nova fase de percepção da realidade

A introdução do metaverso está alterando essa dificuldade de mudar a realidade. Ela faz parte do que muitos futuristas chamam de Quarta Revolução Industrial.

Seguindo a trilha da modernidade e da pós-modernidade, o próximo passo no processo é a autoimaginação fora da realidade. Os obstáculos que se interpõem a isso são a maneira atual de perceber a natureza, a existência e o ser.

A próxima onda de inovação e tecnologia permitirá aos indivíduos mergulhar em um mundo de sua própria criação. As pessoas tornar-se-ão avatares, ou seja, ciberrepresentações de homens, mulheres, animais ou coisas que “vivem” na ciberesfera. Serão capazes de estar onde quiserem – seja na lua, no topo de edifícios ou “em um campo de unicórnios”. Esta plataforma pode ser habitada por extraterrestres, anjos, demônios ou qualquer coisa que siga as fantasias envolvidas.

As pessoas farão coisas sobre-humanas em que seus atos aparentemente não terão consequências. Embora isso não vá mudar o que existe, cria a poderosa mentira de que a imaginação de uma pessoa é mais real do que a realidade.

Essa enorme plataforma virtual é muito mais do que uma extensão da Internet, que permite às pessoas acessar a rede mundial de computadores. Esta fase irá “incorporar a Internet, colocando as pessoas bem no meio dela”. Neste novo mundo, reina a imaginação.

Não se trata de ficção científica

Este projeto não é ficção científica. Ele é discutido em veículos da mídia do establishment, tal como The Wall Street Journal. Todas as empresas de mídia social estão colocando suas peças no lugar. Mark Zuckerberg acaba de mudar o nome de Facebook para Meta. Para construir este novo mundo, ele investirá US $ 10 bilhões e contratará 10.000 novos funcionários.

“O metaverso será a maior revolução em plataformas de computação que o mundo já viu – maior do que a revolução da mobilidade, maior do que a revolução da web”, disse Marc Whitten, da Unity Software, em artigo de fundo do Wall Street Journal.

Ele propõe um universo paralelo tridimensional de realidade virtual e aumentada, em que avatares digitais se reunirão em números ilimitados. As pessoas serão equipadas com óculos especiais e até mesmo equipamentos táteis avançados que lhes permitirão sentir e tocar coisas remotas em tempo real. Elas poderão misturar o mundo real com o imaginário.

Daren Tsui, executivo-chefe da Together Labs Inc., declara: “A experiência do avatar parecerá tão real que você dificilmente conseguirá distinguir entre uma reunião virtual e uma reunião física. E a experiência virtual será melhor.”

Criando um mundo de ilusão sem consequências

Existem três problemas principais com o metaverso.

O primeiro é que encoraja as pessoas a se desligarem da realidade, criando um mundo delirante, sem consequências ou significado. As pessoas são livres para desafiar a natureza fazendo coisas impossíveis, como caminhar na lua ou assistir a um jogo de beisebol da posição do arremessador. As coisas mais absurdas se tornam possíveis dentro de um mundo imaginário desvinculado da realidade.

As pessoas não estarão mais presas ao tempo e poderão viajar no que imaginam ser passado ou futuro. Até a morte é superada com avatares e algoritmos que conspiram para trazer de volta pessoas que aparentam ser parentes falecidos ou figuras históricas com as quais se poderá conversar e interagir.

As pessoas serão livres para fazer coisas a outros (que podem ou não existir), e até mesmo cortar seus braços sem consequências. No metaverso, toda fantasia, mesmo a mais macabra, poderá se tornar realidade. Assim, ele abrirá espaços obscuros e sinistros que facilitarão atos pecaminosos ou suas simulações.

Um mundo tão solitário, desconectado da realidade e da natureza das coisas, poderá alimentar paixões desenfreadas que odeiam toda restrição moral. Tal espaço poderá se transformar rapidamente de Alice no País das Maravilhas em um asilo de loucos. A intemperança frenética da Internet e das mídias sociais atuais já está causando problemas psicológicos e sociais. Quão mais exponencial será a capacidade do metaverso de afogar as pessoas em frenesis e depressões?

Destruição da identidade

A segunda razão para nos preocuparmos com o metaverso é o fato de igualar identidade com escolha. O paradigma pós-moderno já permite que uma pessoa se identifique como outra coisa. No entanto, essa identificação existe apenas na mente da pessoa iludida. O público, de modo geral, consegue perceber a ilusão.

No entanto, o metaverso muda essa percepção. A pessoa se torna o modelo perfeito daquilo que deseja e não pode ser. Ela não precisa ser uma pessoa, mas pode ser um animal, planta ou coisa. Neste mundo de fantasia, a pessoa não precisa ser um único ser, mas pode ser uma cacofonia de seres sem unidade.

metaverso torna possível esta mentira de identificar o próprio ser com a liberdade. O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre escreveu que “o homem é liberdade”, o que torna as pessoas essencialmente ilimitadas. Sartre disse, em seu livro O Ser e o Nada: “A liberdade nada mais é do que uma escolha que cria para si suas próprias possibilidades”.

metaverso é a realização dessa ideia distorcida de liberdade que se revolta contra as limitações contingentes da natureza humana. Ele busca transformar os indivíduos nos deuses de suas fantasias.

Demolição da metafísica

Porém, o aspecto mais perigoso do metaverso é a demolição da visão metafísica da vida, que conduz a alma ao Criador.

Todo mundo, inclusive as crianças, se envolvem com a metafísica. A natureza humana, especialmente a alma, exige uma compreensão racional de si mesma e do universo. Assim, uma definição clássica diz que a metafísica é uma investigação filosófica dos princípios e causas finais. Ao se engajar na metafísica, os indivíduos buscam a natureza das coisas que existem e as encaixam em uma visão coerente.

Uma verdadeira visão das coisas torna dolorosamente clara a natureza finita e contingente de cada ser humano. No entanto, ao compreender os desígnios da Criação, as pessoas veem que o objetivo da existência transcende as limitações físicas e sociais. Elas procuram seguir este caminho refletido pela natureza rumo ao Criador. Esse processo confere significado e propósito à vida, à medida que as almas se esforçam para atingir seu objetivo final, que se encontra em Deus.

A revolução transumana

As filosofias que informam o metaverso são contrárias a essa visão metafísica clássica. Não há tentativa de compreender a natureza das coisas, mas apenas a experiência ilimitada de eventos aleatórios. Essa noção “transumana” do mundo entende a humanidade como um processo em constante evolução. Klaus Schwab, o engenheiro do Great Reset, descreve esta próxima fase como a “fusão dos mundos digital, biológico e físico”.

A ideia do metaverso é coerente com a visão de Yuval Noah Harari, autor best-seller do New York Times que escreve frequentemente sobre esses assuntos. Ele vislumbra abertamente um futuro sem alma, livre arbítrio, e um ‘eu’ unificado ou Deus. O seu é um mundo algorítmico de experiências aleatórias onde a pessoa é o que quer que venha a ser. Ele afirma que não existem religiões, mas apenas ficções poderosas como o metaverso, onde as pessoas “criarão mundos virtuais inteiros, completos com infernos e céus”.

Harari não está sozinho em acreditar neste futuro assustador. Ele fala por toda uma ala progressista de cientistas, empresários e acadêmicos do Big Data e do Vale do Silício, todos empenhados na tarefa de mudar a natureza e a realidade humana por meio de artifícios como o metaverso. Eles não fazem segredo de sua rejeição da Criação de Deus e da ordem moral.

Rejeitar o metaverso: uma necessidade

Em face do metaverso que se aproxima, essas preocupações são urgentes. Nem todas as suas aplicações conterão uma dose completa de tais planos destrutivos para a humanidade. No entanto, sua direção geral já leva a um admirável mundo novo sem Deus. Tais conclusões não vêm de teorias conspiratórias, mas dos próprios promotores do metaverso, que as revelam abertamente.

Assim, o metaverso deve ser rejeitado porque sua cosmovisão é contrária à da Igreja. É aflitivo que algo tão grande possa aparecer no horizonte e os pastores das almas tenham tão pouco a dizer sobre o assunto. Na sociedade atual sem Deus, a apostasia da prática da Fé é causada muito mais por tais invenções tecnológicas do que por disputas teológicas abstratas.

Igualmente aflitivo é o fato de as pessoas não desejarem ver aonde tudo isso vai levar. A história mostra que, quando a gente dá rédea solta às paixões, acaba no desespero niilista. A experiência esmagadoramente intemperante do prazer do metaverso acabará exigindo as sensações ainda mais intensas da dor existencialista. Assim, o processo de decadência da modernidade seguirá seu curso completo: do autointeresse à autogratificação, à autoimaginação e à autoaniquilação.

Na verdade, um mundo dominado por delírios, pelo absurdo e pela negação do ser, em que o significado (da vida humana) e seu fim são obliterados e governados por uma bizarra fantasia, deve mudar de nome. Os visionários laicos do metaverso estão projetando na Terra, isto sim, um inferno virtual.

https://www.abim.inf.br/como-o-metaverso-criara-um-inferno-virtual-na-terra/

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (247)



1º Domingo do Advento – 28/11/2021


Anúncio do Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:

“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas.

Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.

Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra.

Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:



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ADVENTO: somos poetas do futuro

imagem: pexels.com

 “…levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28)

 

Iniciamos um novo ano litúrgico. É Advento. Quando começamos algo novo, o empreendemos com esperança e ativamos nossa melhor disposição. O Advento nos convida a começar de novo, a nos renovar; ele nos oferece uma nova oportunidade para romper inércias, deixar para trás o que é caduco e explorar algo novo em nossas existências.

O Advento nos recorda sempre que as coisas mais importantes da vida requerem espera, vigilância, assombro, acolhida e que a obscuridade e a luz convivem sempre no coração da história e em nosso próprio coração. Ou seja, que tudo está misturado e que o Deus que vem, se embarra, se faz carne em nossa carne, com nossas grandezas e misérias, as nossas e as de nosso mundo; é nessa encarnação que se fundamenta nossa esperança.

Advento fala de esperança-confiança em Alguém que está por chegar e que nós podemos facilitar sua chegada. Esta esperança é como a impressão, os rastos, o desejo ardente que Deus colocou em nosso coração. Deus sonhou o ser humano, e o ser humano anseia por Deus. Nossa história pede um novo sentido a partir desta fé-esperança-confiança. A fé confia em Deus. A esperança confia a Deus.

No Evangelho deste domingo Jesus se esforça por sacudir as consciências de seus seguidores e seguidoras: “tomai cuidado para que o coração não fique insensível; não vos deixeis arrastar pela frivolidade e pelos excessos; mantei viva a indignação; estai sempre despertos; vivei com lucidez e responsabilidade; não vos canseis; mantei sempre acesa a atenção...”

Lucas enumera algumas atitudes que afogam a possibilidade de entrar em sintonia com o Deus que continuamente vem ao nosso encontro: viver o cristianismo acomodado aos critérios do mundo sem nos dar conta, ou seja, insensibilidade do coração; deixar-nos prender pelas garras do consumismo, concretizado nos atos desordenados de comer e beber; as preocupações que esvaziam a vida e nos deslocam do essencial.

Na literatura apocalíptica, os “sinais” que são nomeados no texto do evangelho – movimentos no sol, na lua e nas estrelas, o estrondo do mar e as ondas, a angústia das pessoas, presas do medo e da ansiedade – falam do final do “mundo velho” e do surgimento de um “mundo novo”. Tudo isso pode ser comparado às dores de parto, que anunciam o nascimento de uma nova vida.

Nessa situação difícil, surge a tentação de buscar compensações – “vício, bebida, preocupações da vida” – capazes de nos distrair e inclusive de nos fazer cair em estado de letargia durante um tempo. Mas, todas essas compensações têm em comum que nos fazem adormecer e, desse modo, abortam a novidade que poderia brotar em nós. 

Frente a essa armadilha, – nós humanos tendemos a fugir de tudo aquilo que nos assusta ou simplesmente nos desloca -, a leitura evangélica proposta neste início do ano litúrgico é um chamado a despertar. Sabemos do perigo de viver distraídos, dispersos, perdidos nos afazeres cotidianos.

“despertar” requer atenção, consciência, presença..., e é o contrário da rotina, distração, perturbação, confusão... Trata-se de atitudes contrapostas que remetem a dois estados de consciência: o estado mental, no qual terminamos perturbados, e o estado de presença, que se sustenta na atenção e traz consigo lucidez e liberdade interior.

É preciso ter os olhos abertos para além das preocupações cotidianas para entrar em sintonia com a presença d’Aquel que vem sempre ao nosso encontro. O maior inimigo de nossa existência é a dispersão, ou seja, investir afetivamente nas atividades cotidianas mais imediatas e esvaziar o horizonte de sentido de nossa vida. Para dar lugar Àquele que vem sempre é preciso alargar espaço em nossas vidas, expandir o coração. 

À luz do texto lucano, podemos dizer que, em nós existem a angústia, o medo e o espanto, não causados pelos “sinais no sol, na lua e nas estrelas”. Pelo contrário, nossas preocupações e angústias são causadas pelas crises econômicas, pelos conflitos sociais, pelo abuso de poder, pela falta e pão e trabalho, pela cultura do ódio e da indiferença..., e de tantas estruturas injustas, que só poderão ser removidas pela passagem-presença do amor de Deus e sua justiça no coração de todos nós.

Respiremos. “Maranathá!” (Vem, Senhor Jesus!”). Sabemos que a arma mais destrutiva, sofisticada e letal no mundo que vivemos é o medo – “os homens vão desmaiar de medo -; essa força que nos paralisa pouco a pouco. Em primeiro lugar, aceitando as pequenas injustiças, sendo conivente e insensível diante do ódio e das intolerâncias; em segundo lugar, nossa insensibilidade diante das injustiças que massacram os mais fracos e não tocam nosso bem-estar.

Quando o nível de injustiças vai subindo, é sinal de que estamos nos acostumando com elas: elas vão nos “aclimatando”, nos domesticando e nos insensibilizando. Nesse fluxo da injustiça, vamos nos esquecendo que a dignidade humana é coisa séria e que é preciso defendê-la a todo custo.

É urgente não nos deixar determinar pela armadilha do medo; e, para isso, somos convidados a nos adentrar no tempo do Advento que nos fala dos contrastes tão fortes que o ser humano vive em todos os tempos: a violência e a confiança, o medo e a esperança, a fé inquebrantável e a dúvida angustiante....

Nestes tempos de obscuridade e sofrimento, somos desafiados e continuar crendo nos recursos e nas ricas possibilidades que a humanidade carrega em seu interior; para isso devemos “estar vigilantes, orando a todo momento” (Lc 21,36). Vigilantes, mas sem medo.

É preciso cuidar para que se renove a esperança e a fé na vida. É preciso manter acesa a certeza de que a comunidade global chegará a viver na Paz, que emergirá indestrutível a partir do mais profundo de nossa consciência, para estendermos os braços uns aos outros com olhar cristalino e sentimentos divinizados. 

Advento desperta em nós o carisma de sermos “poetas do futuro”, embelezando tudo o que vemos e fazemos, revelando uma Presença que dinamiza tudo, inclusive no mais doloroso.

Deus, com sua vinda permanente ao mundo, marcou um caminho de esperança para os descartados da sociedade. O Advento é tempo de espera (do verbo “esperançar”), tempo para recordar que ninguém fica fora da foto, que todos somos protagonistas e convidados a sair das sombras que nos rodeiam.

Nossa esperança é saber que Deus “olhou a humildade de seus servos e servas”, e nos instiga a levantar o nosso olhar para ver os rostos daqueles que arrastam suas vidas na sombra da exclusão e da dor.

O Advento é tempo de assombro e de renovação, mas pede de nós situar-nos frente à realidade não como algo já conhecido, mas como permanentes aprendizes.

Assombro diante do mistério e da gratuidade do Deus de Jesus que quer fazer tudo novo; assombro diante do milagre do amor e da entrega e seu empenho, no coração humano e na história, de renovar tudo, até que toda a realidade e a criação sejam uma contínua “ação de graças”, até que surjam o novo céu e a nova terra onde não haverá mais pranto, nem primeiros e nem últimos.

Texto bíblico:  Lc 21,25-28.34-36

Na oração: A vida cristã é uma vida de espera, traço característico do ser humano, pois se trata de uma espera carregada de esperança.

No supermercado da vida há muitas ofertas que pretendem preencher o vazio da espera, mas não tem consistência, não nos saciam, não nos preenchem, e não nos apontam para um horizonte de sentido.

Esperar é uma forma de viver, um hábito de vida. Nós somos o que esperamos.

Existem esperas doentias, que provocam ansiedade, medo e nos paralisam; esperas centradas em nós mesmos.

- O que espero? Se não sei o que espero, a vida perde o sentido; quem não espera, não busca, não amadurece.

- O que vislumbro no meu horizonte pessoal, profissional, social, eclesial...?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2460-advento-somos-poetas-do-futuro

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