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domingo, 12 de dezembro de 2021

JOÃO EURICO MATTA OITENTÃO – Cyro de Mattos

 


João Eurico Matta Oitentão

Cyro de Mattos


            Conheci João Eurico Matta na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, nos idos de 1957. O ingresso como calouro naquela Faculdade não me dava condição para me aproximar daquele acadêmico veterano com feição de professor. Era admirado pelos alunos antigos e novos por suas maneiras elegantes, seu saber de bases humanistas. Fazia o quarto ano do curso. A distância entre o acadêmico calouro e o veterano me propiciava apenas que admirasse o mito cuja inteligência e cultura passavam firmeza nas ideias aos outros colegas de sua geração.

            Fazia circular uma energia de seu espírito comprometido com a cultura, apreendida através de procedimentos investigativos e interpretativos dos livros na leitura da vida. Na Faculdade de Direito foi diretor da revista Ângulos, do Centro Acadêmico Ruy Barbosa, com eficiente atuação. A revista fora fundada por Adalmir da Cunha Miranda, em 1950. Veículo de teor jurídico-cultural se tornara em pouco tempo muito comentada por sua importância nos meios intelectuais de Salvador. 

           Contemplou em suas páginas textos dos professores Antônio Luís Machado Neto, Marcelo Duarte, Edivaldo Boaventura, do poeta Florisvaldo Mattos, do cineasta Glauber Rocha, dos acadêmicos de Direito Joaci Góes, Davi Sales, Nemésio Sales, Noênio Spinola, João Ubaldo Ribeiro e de outros alunos com destaque nos meios intelectuais daquela gloriosa Faculdade de Direito. Graduado em Direito, com sólida formação cultural, a legítima vocação para o ensino universitário se aprofundaria adiante nas estradas do educador, através de conhecimentos adquiridos de filosofia, sociologia, literatura e outros ramos das ciências humanas para que hoje, do alto de seus oitenta anos, as veredas da vida se tornassem amplas.  A estrada larga, nas conquistas de uma paisagem feita de saber para saber, saber para ser, saber para poder ser. Uma paisagem fecunda em sua práxis e repercussão nos meios universitários e intelectuais da Bahia. Chega-se aos cumes quando o seu viajante é reconhecido como professor emérito de Administração da Universidade Federal da Bahia.

           O currículo é invejável, intocável, na área do ensino universitário. Não cabe aqui, com o espaço pequeno da crônica, relatar os pontos elevados do percurso, levaria tempo. Cabe dizer, sim, que aqui estou como o jovem recém-ingresso na Faculdade de Direito, que logo passou a admirá-lo, naqueles idos universitários de saudosa memória, à qual o tempo se encarregou de esfumar, como faz em tudo no mistério da vida. O tempo, senhor soberano que une e dispersa, tudo dá e tudo toma. Tornei-me, com a passagem dos anos, ainda mais admirador desse intelectual oitentão, de acumuladas juventudes.

            Associo-me a esse momento de afetividade, felicitações que são dadas por todos os admiradores ao nosso estimado João Eurico. De minha parte agradeço tudo que ele vem operando de saudável pelo ensino universitário e pela cultura de nossa querida Bahia. Autêntico agente formador de gerações e liderança de qualidade.

(Em 16/07/2015, no Restaurante do Yacht Clube, Salvador.)

 

*Cyro de Mattos é poeta, ficcionista, ensaísta, cronista e autor de literatura infantojuvenil. Já publicou 55 livros pessoais. Publicado e premiado no exterior.

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AMOR MATERNO – Eduardo Chaves



Amor Materno

Eduardo Chaves

 

Ele passava as noites na taverna,

Tonto de vinho, tonto de fumaça,

E pelo leito da mulher devassa

Trocara a santa habitação materna.

 

Desde que moço se fizera, eterna

Angústia aquela que o gerou traspassa.

Enfurecia quando às vezes terna

Apontava-lhe a mãe sua desgraça.

 

Morre... O povo da aldeia reunido

Discute a sua vida. “Era um perdido”

Quando este exclama; aquele “um maltrapilho,

 

Um jogador, repete” ... A mãe, no entanto,

Ante o esquife soluça toda em pranto:

“Filho! Meu filho! Meu querido filho!”

 

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Eduardo da Silva Chaves, apreciado poeta paulista, nascido em Bananal em 09/11/1863 e falecido na capital paulistana em 16/01/1899. Editou grande parte de suas poesias em jornais e revistas.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (249)



3º Domingo do Advento, 12/12/2021


Anúncio do Evangelho (Lc 3,10-18)

 — O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?”

João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?”

João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!”

O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”.

E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

http://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do padre Roger Araújo:


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Advento: despertar "entranhas solidárias"

 


“Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3,11)

 

Advento e Natal nos situam no clima das grandes esperanças da humanidade; neste dezembro mágico nosso coração caminha mais rápido, rompe o tempo, já está lá na frente, pronto para acolher a surpresa.

Tudo aponta para o Eterno que nos escapa e nos encontra. Aqui a imaginação trabalha e cria momentos felizes. Com essa esperança, podemos dar sabor à nossa vida, muitas vezes modesta e simples.

esperança não é só uma virtude teologal, mas uma habilidade que temos de exercitar; podemos aprender a ter esperança, e esta destreza nos faz mais humanos e mais fortes diante das adversidades da vida.

Quem vive o clima do Advento não é prisioneiro da “cotidianidade”; toda a nossa vida se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente. Nessa espera vislumbramos detalhes decisivos: a vivência da ternura, a reinvenção da vida em cada amanhecer, a gratuidade amorosa, a alegria descontrolada, o despertar de sonhos... Espera-se Jesus vivendo os valores que Ele encarnou: a sintonia com os pobres, o coração dilatado no serviço, o cuidado terapêutico, a ajuda gratuita...

Nessa atitude de espera o cristão pode dar sabor à sua vida: nos pequenos gestos ela floresce e aponta para um sentido novo

“O povo estava na expectativa...”: uma bonita maneira de indicar uma atitude positiva de espera diante de João Batista que, sob o impulso da Palavra brotada no deserto, tocou o coração de muitos.

De fato, João Batista é um personagem instigante e provocativo; muitas pessoas, impactadas pelo seu modo de falar, vão até ele para escutá-lo. João não fala do cumprimento minucioso das normas legais ou dos ritos religiosos. Em nenhum caso faz alusão a uma nova religião, que exigisse um culto diferente, e sim a uma nova forma de viver que dá sentido à própria existência e desperta um modo de proceder para que a relação com os demais seja realmente fraterna, carregada de respeito, de cuidado, de partilha.

O chamado de João à conversão e seu apelo a uma vida mais fiel a Deus despertou em muitas pessoas uma pergunta concreta: “Que devemos fazer?”.  Com algumas pinceladas João reforça a necessidade de mudar a maneira de pensar e de agir; isto é, ativar o que já está presente em nosso coração: o desejo de uma vida mais justa, digna e fraterna.

Todas as propostas que João Batista faz estão direcionadas a melhorar a convivência humana. Percebe-se uma maior preocupação por tornar mais humanas as mútuas relações, superando toda atitude egocentrada.

De fato, uma religiosidade que não se alarga em direção aos outros não é a religiosidade que Deus deseja. Aqui não se trata propriamente de fazer coisas nem de assumir deveres, mas ser de outra maneira, viver de forma mais humana; em outras palavras, a partir do centro de cada um, despertar aquilo que é o mais verdadeiramente humano, para que flua humanidade em todas as direções. Que todo o nosso ser se mova na perspectiva do amor oblativo, que se expressa em “entranhas solidárias”.

João Batista é mais um personagem de Advento; tudo estava tranquilo até que ele apareceu no deserto. Sua pregação sacudiu as consciências, fazendo reacender o espírito solidário que estava atrofiado no coração de todos: a multidão, os publicanos, os soldados... Segundo a definição do Papa Francisco “a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde” (EG 189). A solidariedade é uma decisão, carregada de afeto. A razão, por si mesma não nos leva a ela. É uma decisão pessoal, cordial, livre, voluntária...

A solidariedade é espontânea, não se impõe a partir de cima, senão que supõe uma predisposição favorável ao encontro com o outro, deixando-nos afetar cordialmente pela realidade de quem sofre. A solidariedade nasce da gratuidade e nos faz mover em direção dos outros, sobretudo dos excluídos, daqueles privados de sua dignidade humana.

O encontro com o “outro” marginalizado dá um “toque” especial à nossa espiritualidade e nossa espiritualidade faz nossa ação mais radical – mais enraizada em si mesma e vai mais fundo nas raízes da injustiça. Aproximar-nos do “pobre” e deixar-nos “afetar” pelo seu sofrimento torna-se a maior fonte de nossa espiritualidade. Suas “fraquezas” suscitam em nós o melhor de nós mesmos e, ao nos envolver afetivamente em sua vida, faz com que vivamos um misto de ternura e indignação a que chamamos compaixão.

A solidariedade nos leva a reconhecer no outro (sobretudo o outro que é excluído, marginalizado...) uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação; ela gera protagonismo e nunca dependência; compartilha sem humilhar; cria humanidade em seu entorno, com generosidade, humildade e silêncio; supera todo exibicionismo, sentimentalismo ou instrumentalização do outro.

Sabemos que há uma profunda afinidade entre “sólido” e “solidário”; ambas as palavras, etimológicamente, procedem da expressão latina “solidus”. Diz-se “sólido” em virtude de sua firmeza, densidade, fortaleza ou por ser aquilo que se estabelece com razões fundamentais e verdadeiras; a pessoa “solidária” é aquela que encarna tais virtudes. Há um “plus” maior quando essa pessoa vive a fé cristã. Porque, uma fé ausente de solidariedade carece de coerência e sentido; não é firme e não tem a suficiente densidade para suportar as incompreensões daqueles que não estão em sintonia com suas atitudes solidárias.

Portanto, solidariedade é uma “questão de entranhas”, ou seja, encontrar, experiencial e vitalmente, os “outros” excluídos e despojados de tudo, e sentir-se tocado, afetado pela imensa dor que marca a vida de tantos. A partir daqui o rosto da pessoa solidária é modelado pela compaixão e gratuidade.

A “solidariedade compassiva”, que brota do “patire cum” ou compadecer-nos diante da dor e da miséria do outro, devolve a todos nós a imagem de seres humanos. A solidariedade nos humaniza.

Trata-se aqui de viver a cultura da solidariedade, entendida evangelicamente, que forja nosso ser e nosso fazer no manancial que brota da compaixão e se desenvolve realizando a justiça.

A solidariedade que nasce da compaixão não acaba nela mesma, mas leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação. 

Isto pede de nós uma atitude de abertura ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele... Importa, pois, redescobrir com urgência a solidariedade como valor ético e como atitude permanente de vida...; não uma solidariedade ocasional, mas uma solidariedade cotidiana que se encarna nos pequenos gestos de serviço no dia-a-dia.

Só assim o tempo Advento deixará transparecer seu sentido mais profundo. Deus, ao entrar na história, se faz solidário com a humanidade, salvando-a. O rosto solidário de Deus se visibilizará em cada um de nós quando entramos no fluxo do Seu amor descendente e comprometido. 

Texto bíblico: Lc. 3,10-18

Na oração: A originalidade do Advento está em “alargar” o espaço interior para que os outros encontrem lugar. A atitude da partilha, da solidariedade e do compromisso com os últimos são expressões deste Tempo tão nobre e inspirador.

* Na sua vivência cristã, como responder frente ao chamado tão simples e tão humano de João Batista?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2469-advento-despertar-entranhas-solidarias

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