Total de visualizações de página

domingo, 14 de novembro de 2021

GIACOMO LEOPARDI (PARA ANTONIO PRETE) - Marco Lucchesi



     Giacomo Leopardi (Para Antonio Prete) 

Marco Lucchesi

 

Um de seus mais belos poemas habita o sentimento do infinito. Para alcançá-lo, apenas a imaginação.
*
Nos domínios fictícios do infinito, o pensamento humano só pode naufragar.
*
Infinito atual e potencial: mas o poema hesita e não adere. A ideia de infinito é uma ilusão. Como na infância e novos arcaicos: o assombro da extensão de terra e mar. A fantasia trabalha e não descansa.
*
Para ele, o infinito não é descortinável. Nem mesmo a analogia vai mais longe: "todos os mundos que existem, por maiores que sejam, não sendo infinitos, em número e em grandeza, são, por conseguinte, infinitamente pequenos, se comparados a quanto o universo poderia, se, de fato, fosse infinito; e o todo existente é infinitamente pequeno, se comparado à infinita verdade do não existente, do nada".
*
De Leopardi, o timbre essencial, desde a infinita verdade do nada.
*
Cantor (Georg) ouviu a melodia do infinito. E emprestou-lhe assim uma hierarquia.
*
O infinito parece uma lição de botânica. Sua nomenclatura é expansiva. Dízimas, Fractais.
*
Dedeking preencheu com os números reais o vazio da reta. É voz corrente. Pra mim, arrefeceu quanto possível.
*
Insiste a voz de Cauchy: a soma de 1+1/2+1/4+... não chega a 2, mas tende para.
*
A matemática e a metafísica se aproximam, segundo Leopardi, mediante operações de cálculo e proposição.
*
Resisto, sitiado, na minha cidadela. Penso que a matemática é filha da poesia.

 

  Revista Humanitas, 12/11/2021

 

https://www.academia.org.br/artigos/giacomo-leopardi-para-antonio-prete


---------------

Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018.

* * *

2021 = 1984 | Livro 1984, de GEORGE ORWELL | Seja Uma Pessoa Melhor

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: O Adeus de Teresa - Castro Alves


 

O Adeus de Teresa

Castro Alves

 

A vez primeira que eu fitei Teresa,

Como as plantas que arrasta a correnteza,

A valsa nos levou nos giros seus...

E amamos juntos... E depois na sala

“Adeus” eu disse-lhe a tremer co' a fala...

 

E ela, corando, murmurou-me: “Adeus.”

 

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...

e da alcova saía um cavalheiro

Inda beijando uma mulher sem véus...

Era eu... Era a pálida Teresa!

“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

 

E ela entre beijos murmurou-me: “Adeus!”

 

Passaram tempos... séc’los de delírio

Prazeres divinais...gozos de Empíreo...

Mas um dia volvi ao lares meus.

Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”

Ela, chorando mais que uma criança.

 

Entre soluços murmurou-me: “Adeus!”

 

Quando voltei... era o palácio em festa!...

E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra

Preenchiam de amor o azul dos céus.

Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!

Foi a última vez que vi Teresa!...

 

E ela arquejando murmurou-me: “Adeus!”

                                     São Paulo, 28 de agosto de 1868

 ------------



Antônio de Castro Alves
 nasceu na comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril de 1847, sendo filho do médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília da Silva Castro. Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na expressão de Afrânio Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu sentimento e, num tempo em que a miséria da escravidão não comovia ninguém, despertou com os seus poemas arrebatadores, piedosos ou indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que, vinte anos mais tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome invejável de Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não há grande homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava a outra glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não importaria...

* * *

PALAVRA DA SALVAÇÃO (245)

 


33º Domingo do Tempo Comum – 14/11/2021

 

Anúncio do Evangelho (Mc 13,24-32)

— O Senhor esteja convosco.

 Ele está no meio de nós!

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas.

Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra.

Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas.

Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

---

Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão de Dom Sérgio Aparecido Colombo:


---

As inspiradoras estações da vida

 


Aprendei da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto” (Mc 13,28) 

 

Estamos chegando ao final de mais um “ano litúrgico” (este é penúltimo domingo), e a liturgia nos propõe leituras que, fazendo referência aos “últimos tempos”, querem nos convidar à “vigilância” e a atenção ao tempo presente.

O Evangelho de hoje é parte do cap. 13 do Evangelho de Marcos, que contém um breve “apocalipse”, ou seja, uma revelação, um desvelamento, um desnudamento dos múltiplos véus que cobrem a realidade humana, com suas contradições, incertezas, promessas e esperanças.

Devido às imagens que este gênero literário utiliza, com frequência atribui-se ao termo “apocalipse” um significado de “catástrofe” ou “destruição”. A realidade, no entanto, é diferente. Etimologicamente “apo-kalypsis” significa “destapar o que está escondido”, “tirar o véu”, “desvelar”, ou seja, “revelação”. 

No texto evangélico de hoje nos é revelado, através de sinais (abalos celestes e terrestres, tribulações...), que esta ordem das coisas (o “mundo”) vai ser renovado em profundidade. Tudo desmorona à nossa volta, tudo vai desaparecer; mas o que o texto realça é a contundente confiança na afirmação e na promessa de Jesus: “O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão”. Ele trará a salvação de Deus; não chegará com aspecto ameaçador.

A destruição anterior é a possibilidade de uma construção mais profunda, fundada no Filho do Homem. Por um lado, o mundo velho acaba. Mas, por outro, chega o ser humano verdadeiro, a humanidade de Deus. Para quem crê, o mesmo “fim deste mundo” vai se converter em princípio de esperança universal.

Por isso, as palavras de Jesus “não passarão”; não perderão sua força salvadora; continuarão alimentando a esperança de seus seguidores e serão sempre alento para os pobres.

As Palavras do Filho do Homem constituem o nosso rochedo, são a nossa força; elas são o centro de nossa vida, iluminando-nos e ativando nossos melhores recursos para acolher a novidade radical do Evangelho.

O sol, a lua e os astros se apagarão, mas o mundo não ficará sem luz. Será o Filho do Homem quem o iluminará para sempre, estabelecendo a verdade, a justiça e a paz na história humana, tão marcada por contínuas mentiras, injustiças e violências.

Nesse sentido, pode-se afirmar que, no final, não será preciso sol ou lua, porque o Filho do Homem será diretamente luz e vida para todos. Seus seguidores poderão ver finalmente seu rosto tão buscado: “Vereis o filho do Homem vindo nas nuvens”. Não caminhamos para o nada e o vazio. Jesus virá ao nosso encontro, para nos conduzir ao abraço do Pai de bondade.

Quando acontecerá tudo isto? Já, agora mesmo: tudo está acontecendo. Estamos na noite que precede à aurora do dia do Homem, da humanidade de Cristo. Devemos nos manter como servos vigilantes no tempo das tribulações e das trevas deste mundo, cheios de esperança.

Jesus põe como sinal uma figueira. Estamos na primavera/verão que precede o tempo dos bons figos, dos bons frutos. Neste contexto podemos recordar o risco de sermos figueiras estéreis, sem frutos. E Jesus está esperando os frutos de nossa figueira. Nós mesmos somos o sinal de que deve chegar o Filho do Homem, a humanidade reconciliada. Este é o tempo oportuno.

Está preparada nossa figueira para dar frutos? Em que “estação” nos encontramos? 

Jesus era um profundo observador da natureza; sabia “ler” as estações da natureza e vislumbrar, por detrás delas, a manifestação da presença divina.

Toda estação tem seu sentido, sua riqueza e seu mistério. Não é um mero repetir de ciclos: cada uma delas traz algo novo, diferente. Também não estão separadas e nem há uma divisão estanque entre as estações: estão interconectadas, interdependentes. Cada estação é mobilização para a seguinte.

As estações da natureza nos ajudam a desvelar as estações existenciais. Cada estação interna é um “kairós”, um tempo único e original, que deve ser vivido intensamente. Cada estação interior também apresenta sua riqueza e seu mistério. O problema está na petrificação de uma estação interior, ou seja, medo da mudança, medo de entrar em outra estação, medo de fazer a passagem.

Outro problema é o fato de não suportar uma determinada estação, querendo fugir dela para entrar logo em outra estação. Cada estação gesta algo novo; vivê-la a fundo é humanizar-se, deixar-se surpreender. 

Podemos distinguir dois movimentos nas estações existenciais: dois de maior interioridade (outono e inverno): tempo de desfolhamento, esvaziamento e poda para livrar-se do que está sobrando (outono). Tempo de descida (hibernação) para concentrar-se no essencial (inverno).

Outro movimento: primavera e verão – vida expansiva, aberta (tempo dos brotos, flores e frutos: sonhos, desejos, projetos, criatividade).

Em todas as estações há uma certeza: a presença da seiva (presença divina), que tudo sustenta, embora, muitas vezes tudo parece estar morto.

Cada tempo litúrgico também apresenta diferentes estações ao longo do ano; estamos terminando um tempo litúrgico, com suas diferentes estações, e nos preparando para viver outro novo tempo, com suas surpresas. Uma nova esperança reacende e a nossa vida adquire novo sabor e sentido.

O anúncio de uma nova “estação” abre um “tempo” de júbilo imenso porque chega o Filho do Homem, nova humanidade reconciliada, a meta da criação de Deus, centrada e redimida em Cristo.

Estamos esperando o novo ser humano que vem de Deus, ou seja, de nossa mesma capacidade divina de ser e de nos renovar; esperamos o Deus de Jesus que é e que vem em nós.

Falsos sóis, luas e astros (ego inflado) querem fazer prevalecer suas efêmeras luzes em nosso interior, fazendo brilhar nossa vaidade, nossa prepotência, nosso autocentramento. Tudo isso deve ser abalado e cair, para que o centro de nosso espaço interior seja ocupado pela presença d’Aquele “que é tudo em todos”. 

Nos dias sem sol de nossa vida, a esperança se parece a esses ramos de árvores no inverno. Dá a impressão de estarem mortas. Mas o calor da primavera as desperta e as veste de novo vigor. Há dias nos quais a esperança se parece a grãos semeados na terra. Ninguém mais os vê, até que um dia somos testemunhas de que o broto surge e o talo espera a espiga.

Para o cristão, a esperança é muito mais que otimismo; é a virtude teologal que nunca engana. Esperar é a capacidade de ver, mesmo quando nossos olhos não veem. É um dom do Espírito que deve ser pedido sempre. Cristo é o motivo angular de nossa esperança, a revolução na história apesar da limitação, do mal e da morte, que nos impulsiona a “esperar contra toda esperança” (Rom. 4,18) 

Texto bíblico:  Mc 13,24-32 

Na oração: “Marana thá” (vem, Senhor! Vem, mundo melhor!), repetiam em aramaico os primeiros cristãos para dizer e realizar a esperança. Esperar não é pedir nem aguardar que alguém venha ou que algo aconteça. É levantar a cabeça e abrir os olhos, levantar-nos cada dia, deixar-nos inspirar pelo Espírito que alenta em tudo, semear e antecipar o mundo melhor, necessário e possível, como fez Jesus. Assim é que devemos e podemos “esperar”.

- Em que “estação” a árvore da sua vida se encontra? Primavera, verão, outono ou inverno? Você percebe o “novo” que cada uma delas está gestando?

- A “seiva”, que inspira e sustenta todas as “estações” de sua vida, encontra facilidade para circular por todo o seu ser? Há alguma dimensão da sua interioridade que está bloqueada, impedindo a passagem do “oxigênio divino”?


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2451-as-inspiradoras-estacoes-da-vida

* * *