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domingo, 21 de agosto de 2022

A LUTA CONTINUAVA – Carlos Pereira Filho


            

               Nesse tempo, Henrique Alves negociava na “Loja Sempre-Viva”, na estrada do Banco da Vitória. Já se falava que ele além de corajoso, era homem duro; quando não gostava das coisas opunha o seu veto “à moda inglesa”.

            A “Gazeta de Ilhéus” publicou como escândalo o bárbaro assassinato de José Grande. Assassinado, castrado, cortada a língua, retalhado aos pedaços e queimado numa estufa. O jornal bradava pedindo providências, clamando justiça, sem todavia anunciar o nome do mandante do crime. Dizia em letras grandes ”O mandante deste bárbaro crime, deste miserável assassinato, é demasiadamente conhecido, reside à beira da estrada, é protegido da situação dominante. A polícia precisa punir esse monstro, que mata, que castra, que tripudia sobre o corpo de sua vítima vencida, morta”.

            Quinze dias depois da notícia, depois do alarma, apareceu, em Ilhéus, no jornal, acompanhando José Grande, em pessoa, vivo e fagueiro, Henrique Alves. Apresentou ao redator Laudelino Pimentel o José Grande, que fora assassinado, castrado... E explicou o equívoco. José Grande estava foragido no Estreito d’Água, morando lá. Tinha estado evidentemente em sua fazenda, preso, roçando um pasto, para pagar uma dívida. À noite fugiu, desapareceu e se não fosse “ter morrido” tão barbaramente, o teria deixado onde se encontrava no “Estreito d’Água”...

            Em Tabocas, a luta continuava forte, apaixonada, desassistida do Poder Público ilheense. Firmino Alves publicou um protesto enérgico no “Jornal de Notícias”, de Salvador, no qual alegava que, em 1879, quando Tabocas possuía somente oito casas, seu pai pedira uma escola a Domingos Lopes e este nomeara o Professor Joaquim Marcelino que foi o primeiro mestre do povoado. Agora solicitava escolas e nem resposta. Os dominadores de Ilhéus só queriam impostos e humilhação ao povo.

            A resposta a esse atrevimento não se fez esperar. A residência de Firmino Alves e dos seus amigos Paulino Vieira Nascimento, Teófano Correia e Lúcio Pereira de Santa Rosa foram atacadas a tiros de revólver, tendo uma bala quebrado um vidro da janela da casa de Firmino Alves, considerada um palacete, naquele tempo.

            Também os índios davam investidas, no interior. De Macuco, Cândido Pinto informava que os índios flecharam uma moça de nome Zenosinda, em cima dos rins, quando lavava roupa no rio, e que estava mal.

          E dias depois chegava ao distrito a notícia do assassinato de Cândido Pinto apontado como um dos matadores de João Carlos Hohlenverger, de Ilhéus. Estava Cândido Pinto sentado depois do jantar na porta com uns amigos que foram à festa do batizado do seu filho, naquele dia tranquilamente conversando, quando inesperadamente recebeu um tiro, fechou os olhos e morreu.

            Outros dois novos acontecimentos se registraram em Tabocas, em contraste com os dias agitados. A chegada de Augusto Juvenal para a agência dos correios, arranjada por Firmino Alves, através dos amigos de Salvador, e a visita de Bento Berilo de Oliveira, que examinava as possibilidades da construção da estrada de ferro, da qual era concessionário.

            Rezam as crônicas que Bento Berilo se espantou de ver tanta gente armada numa terra de trabalho e de progresso, que naquele tempo possuía um comércio superior ao da cidade ilheense, registando mais de cento e cinquenta casas comerciais e seiscentas e cinquenta de morada, com uma população calculada em cinco mil pessoas. Uma localidade que se projetava a passos acelerados, rumo a um futuro promissor, com a produção de cem mil sacos de cacau.

 


(TERRAS DE ITABUNA – Cap. IX)

Carlos Pereira Filho