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sábado, 4 de junho de 2022

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: O Laço de Fita - Castro Alves



O Laço de Fita

Castro Alves


 

Não sabes, criança? ‘Stou louco de amores...

Prendi meus afetos, formosa Pepita.

Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!

Não rias, prendi-me

            Num laço de fita.

 

Na relva sombria das tuas madeixas,

Nos negros cabelos de moça bonita,

Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,

Formoso enroscava-se

            O laço de fita.

 

Meu ser, que voava nas luzes da festa,

Qual o pássaro bravo, que os ares agita,

Eu vi de repente cativo, submisso

Rolar prisioneiro

            Num laço de fita.

 

E agora enleada na tênue cadeia

Debalde minh’alma se embate, se irrita...

O braço, que rompe cadeias de ferro,

Não quebra teus elos,

            O laço de fita.

 

Meu Deus! As falenas têm asas de opala,

Os astros se  libram na plaga infinita.

Os anjos repousam nas penas brilhantes...

Mas tu... tens por asas

            Um laço de fita.

 

Há pouco voavas na célere valsa,

Na valsa que anseia, que estua e palpita.

Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...

Beijava-te apenas...

            Teu laço de fita.

 

Mas ai! Findo o baile, despindo os  adornos

N’alcova onde a vela ciosa... crepita,

Talvez da cadeia libertes as tranças

Mas eu... fico preso

            No laço de fita.

 

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale

Abrirem-me a cova... formosa Pepita!

Ao menos arranca meus louros da fronte,

E dá-me por c’roa...

            Teu laço de fita.

 

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Antônio de Castro Alves
 nasceu na comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril de 1847, sendo filho do médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília da Silva Castro. Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na expressão de Afrânio Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu sentimento e, num tempo em que a miséria da escravidão não comovia ninguém,  despertou com os seus poemas arrebatadores, piedosos ou indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que, vinte anos mais tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome invejável de Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não há grande homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava a outra glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não importaria...

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