Compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor.
Prêmio ABL de Poesia (2013)
Sétimo ocupante da cadeira nº 27 da ABL, eleito em 10
de agosto de 2017, na sucessão de Eduardo Portella, foi recebido em 16 de março
de 2018 pelo Acadêmico Arnaldo Niskier.
Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista,
poeta e autor de livros para crianças. Membro efetivo da Academia de Letras da
Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor
Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.
* * *
AMALCARG EMPOSSA NOVA DIRETORIA
Em memorável noite, com as presenças da maioria dos
acadêmicos, representantes de diversas Lojas maçônicas da região, familiares e
convidados, no último dia 17/5 (terça-feira), no Templo da A\R\L\S\ 28 de
Julho, Or\ de Itabuna, a Academia Maçônica de Letras, Ciências e Artes da
Região Grapiúna (AMALCARG), empossou sua nova diretoria para o biênio
2022/2024.
A reunião foi presidida pelo acadêmico José Carlos Oliveira
– ex-presidente e um dos fundadores da “Casa das Letras Maçônicas” –, que
convidou o confrade Washington Farias de Cerqueira (presidente reeleito) e o
representante da A\R\L\S\ 28 de Julho, Ir\ Enault Freitas da Rocha Filho, para
comporem a mesa e aos acadêmicos José Augusto Carvalho e Helder Pereira Dantas
para que dessem entrada aos convidados para participarem da Solenidade de
Posse.
O Ir\ José Carlos Oliveira solicitou a todos os presentes
para que de pé e perfilados acompanhasse o Hino Nacional Brasileiro. Após a
audição, declarou aberta a solene reunião de posse agradecendo a todos pelas
suas presenças e em especial os convidados. E em seguida pediu ao
acadêmico-secretário Ernande Costa Macedo, que efetuasse a leitura do Termo de
Posse da nova diretoria executiva, composto pelos acadêmicos Washington Farias
de Cerqueira, presidente; Luiz Roberto Albuquerque Rodrigues Maia,
vice-presidente; Ernande Costa Macedo, secretário-geral e Renato Burití
Oliveira, tesoureiro.
Na oportunidade, foram empossado também o novo Conselho
Fiscal, composto pelos acadêmicos titulares – Frederico Carlos Machado, José
Rebouças Souza e José Noélio Santana de Oliveira e como Suplentes – Itatelino
Oliveira Leite, Khalil Augusto Botelho Nogueira e Alessandro Góes Lima. E na
sequência, após as assinaturas, o acadêmico-presidente proclamou todos os
empossados para um mandato de dois anos, com início dia 17/5/22 e finalizando
no dia 30/5/24, quando foram aclamados por calorosa salva de palmas dos
presentes.
Após a posse da nova diretoria, a reunião passou a ser
conduzida pelo acadêmico-presidente Washington Farias de Cerqueira, que
solicitou ao acadêmico José Augusto Carvalho que desse entrada ao seu afilhado,
o Ir\ Vinicius Misael Portela para prestar juramento como membro da AMALCARG e
para a formalização de sua posse como o seu mais novo “imortal”, ocupando a
cadeira de nº 8, que tem como patrono o Ir\ Carivaldo Lopes Pereira.
Prosseguindo com o ato de posse, Washington Cerqueira,
solicitou a cunhada Isbela Wagmaker Cavalcanti Portela, que colocasse a
pelerine no acadêmico Vinicius Portella e à sobrinha Luzia Lopes Pereira que
lhe entregasse o curriculum do patrono da cadeira de nº 8 Ir\ Carivaldo Lopes
Pereira, que era seu pai, que antes era ocupada pelo saudoso acadêmico Luciano
Lopes Pereira, seu irmão. O acadêmico-presidente pediu ainda ao acadêmico José
Augusto Carvalho, que fizesse a saudação ao novo acadêmico, logo depois
Vinicius Portella fez um excelente discurso dizendo da sua alegria em
participar da AMALCARG, falou também sobre a sua trajetória maçônica, agradeceu
a sua família que sempre lhe apoia e ao acadêmico José Augusto, pela
apresentação do seu nome a gloriosa academia. E finalizou declarando que veio
para somar junto com os demais acadêmicos.
Por último, Washington Farias de Cerqueira, disse da sua
alegria e satisfação em presidir mais uma vez a AMALCARG, comentou sobre as
dificuldades que teve no primeiro mandato por conta da pandemia (Covid-19),
disse da gratidão que tem com todos os membros da “Casa das Letras Maçônica”, e
em especial o acadêmico Ernande Costa Macedo, pelos seus relevantes serviços
prestados a secretaria dessa egrégia casa e a Maçonaria Universal. Agradeceu
também as presenças dos IIr\ Vercil Rodrigues, representando a imprensa
maçônica baiana (leia-se jornal e site O COMPASSO) e a Academia de Letras
Jurídicas do Sul da Bahia (ALJUSBA) e Edmundo Dourado, representante da
Academia Grapiúna de Letras (AGRAL) e a todos os convidados presentes. O
presidente avisou que a próxima reunião acontecerá no dia 7/6 e convidou todos
para participarem de um jantar no salão de banquetes.
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Por Vercil Rodrigues.
Jornalista DRT/FENAJ 5.801.
Membro-fundador da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL),
Cadeira 1; membro-idealizador-fundador da Academia de Letras Jurídicas do Sul
da Bahia (ALJUSBA), Cadeira 1 e membro da Academia de Letras de Ilhéus (ALI),
Cadeira 21.
* * *
domingo, 29 de maio de 2022
ITABUNA CENTENÁRIA UM SONETO: Amor Condusse Noi Ad Nada - Paulo Mendes Campos
Solenidade da Ascensão do Senhor | domingo, 29 de maio de
2022
Anúncio do Evangelho (Lc
24,46-53)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de
Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos
mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o
perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sereis testemunhas de tudo
isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso,
permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
Então Jesus levou-os para fora,
até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os
abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em
seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no
Templo, bendizendo a Deus.
Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali
ergueu as mãos e abençoou-os” (Lc 24,50)
Segundo o relato de Lucas, na Ascenção, Jesus “desaparece” em
Deus; Ele não se afasta da humanidade, mas continua presente de uma outra
maneira: junto com o Pai e o Espírito faz sua “morada” no interior de cada
pessoa.
Por isso, Jesus não deixa uma estrutura religiosa organizada
(com sua hierarquia, seus ritos, leis, doutrinas...); Ele deixa na terra
“testemunhas”, ou seja, aqueles(as) que comunicam a sua experiência de um Deus
de bondade e contagiam com seu estilo de vida centrado no modo de agir e viver
do próprio Jesus. Serão testemunhas cristificadas, trabalhando por um mundo
mais justo e humano.
Mas Jesus conhece bem os seus discípulos; sabe que eles são
frágeis e medrosos. Onde encontrarão a audácia para serem testemunhas de alguém
que foi crucificado pelo representante do Império e pelos dirigentes do Templo?
Jesus tranquiliza-os: “Eu enviarei a vós aquele que Pai prometeu”. Não
lhes vai faltar a “força do alto”. O Espírito de Deus os defenderá.
A “ausência física” de Jesus revelar-se-á, então, como
oportunidade para fazer crescer a maturidade de seus seguidores. Ele lhes deixa
o dom de seu Espírito que promoverá o crescimento responsável e adulto dos
seus. É inspirador recordar isso nesse momento em que parece crescer entre nós
o medo à criatividade, a tentação do imobilismo, a petrificação no ritualismo e
na doutrina, ou a saudade de um cristianismo pensado para outros tempos e outra
cultura.
A festa da Ascenção do Senhor nos
recorda que, terminada a presença história de Jesus, vivemos “o tempo do
Espírito”, tempo de criatividade e de crescimento responsável no seguimento de
Jesus. O Espírito não nos oferece “receitas eternas”. Ele nos dá luz e alento
para ir buscando caminhos sempre novos e alternativos para atualizar hoje o
modo de ser e agir de Jesus. Assim Ele nos conduz para a verdade completa
d’Aquele que sempre se revelou verdadeiro.
Para expressar graficamente o último desejo de Jesus, o
evangelista Lucas descreve a sua partida deste mundo de forma surpreendente:
Jesus volta ao Pai levantando as suas mãos e abençoando os
seus discípulos. É o seu último gesto. Jesus entra no mistério insondável de
Deus e sobre o mundo faz descer a sua bênção. Seus seguidores começam sua
peregrinação pelo mundo protegidos por aquela benção com a qual Jesus curava os
enfermos, perdoava os pecadores, abençoava e acariciava as crianças...
A Bênção atravessa toda a Bíblia, e quer
atravessar também nossas vidas. Ela brota do olhar primeiro e amoroso de Deus
que, admirado, viu que toda Criação era boa e preciosa. Também nossa
missão, confiada pelo Ressuscitado, consiste em recuperar este olhar, esta
benção original, sobre nós e sobre a terra; uma bênção que desperta admiração e
assombro ao perceber a bondade e beleza no interior daqueles que não são
considerados bons e dignos de beleza.
A palavra “bênção” tem um sentido amplo e direto;
procede do termo latino “benedictio” e significa “dizer
bem”. Mas, determinados pelo nosso contexto social e político que
preza pelo ódio, preconceito, maledicência, “fake news”..., a sensação que
temos é que há uma curiosidade viral, uma excitação, um prazer mórbido em
“dizer mal”, destruir reputações, emitir juízos moralistas, ferir e excluir o
outro que pensa, sente e ama de maneira diferente. Há uma “maledictio” (“mal-dizer”)
que paira em todos os meios de comunicação e redes sociais, envenenando
relações, rompendo vínculos, criando divisões. E tudo isso emerge da
interioridade petrificada das pessoas, alimentando um fúnebre processo de
desumanização. O trágico é que essas manifestações de maldição são expressas
por quem se confessa seguidor(a) d’Aquele que sempre foi presença visível da
Verdade e fonte de perene Benção. Quanta incoerência no seguimento de Jesus
Cristo!
“Não há pior patologia que essa dissipação da alma, esse
olhar cheio de pré-juizos que nos torna pequenos e amargos, esse juízo que se
deixa escravizar pelo defeito e pelo peso da imperfeição e depois não nos deixa
sair até que ignoramos a liberdade. Não há exercício mais esterilizante que
essa espécie de ressentimento expresso como anátema em relação com a vida, esse
totalitarismo da queixa que, sem nos dar conta, nos asfixia, essa incapacidade
de romper com a engrenagem da maldição sobre todos e sobre tudo, da qual nem
nós mesmos escapamos” (Cardeal Tolentino).
Somos herdeiros(as) de uma benção, herdeiros(as) da doação e
da esperança de tantos homens e mulheres que, ao longo da história, aliviaram
sofrimento, recobraram dignidades e ajudaram a viver.
Agora, somos nós a geração portadora dessa benção. Presente,
passado e futuro.
Como seguidores(as), esquecemo-nos que somos portadores(as)
da bênção de Jesus. A nossa primeira tarefa é ser testemunha da
Bondade de Deus, manter viva a esperança, não nos rendermos diante do “maledictio”.
Na Igreja de Jesus, temos esquecido que a primeira coisa a
se fazer é promover uma “pastoral da bênção”. Temos de nos sentir testemunhas e
profetas desse Jesus que passou a sua vida semeando gestos e palavras de
bênção, de bondade e de misericórdia. Assim, despertou nas pessoas da Galiléia
a esperança no Deus Salvador, abriu um horizonte de sentido. Jesus era uma
bênção visível e as pessoas reconheciam isso.
Somos chamados a ser presença de “bênção”. Que todos aqueles
que vivem situações de desamparo, de miséria, de desamor, de indefesa, de
maldição... possam sentir em nós o prolongamento da Benção do Ressuscitado;
possam sentir-se bem acolhidos, bem nomeados, bem olhados, bem-amados.
“Dizer bem”, “bendizer”, “abençoar”, é
nossa vocação primordial, porque só isso desperta a consciência de que cada um
de nós é portador(a) autorizado(a) de uma indestrutível benção, e esse é o modo
de fazer justiça ao maravilhoso milagre que é estar vivos. “Dizer bem” é
conectar-nos com aquela verdade mais profunda, que é o puro vínculo na ordem do
ser. Sem essa ancoragem compassiva na raiz do nosso ser e no nosso modo
cristificado de viver, não chegaremos a compreender verdadeiramente o enorme e
misterioso pulsar da própria existência.
Cada um de nós depende – porque a vida é dom e confirmação
reiterada do dom – daquilo que a benção desencadeia. Somos um elo na longa
corrente de bênçãos; são inúmeras as pessoas que deixaram impregnadas em nosso
coração a marca da bênção oblativa, aberta e desafiadora. Crescemos e amadurecemos
sob o impulso da “benedictio” daqueles(as) que conviveram ou convivem conosco.
E, por isso, é tão importante buscar a benção, colocar-nos
de seu lado luminoso, ativá-la e exercitá-la ao nosso redor. O tempo se ilumina
quando nos deslocamos da sombra da “maledictio” e nos re-situamos na órbita da
“benedictio”.
Assim se expressa a maravilhosa e antiga bênção
irlandesa: “Que o caminho seja brando a teus pés,/ que o vento
sopre leve em teus ombros./ Que o sol brilhe em teu rosto sem ferir-te,/ e as
chuvas caiam serenas em teus campos./ E até que eu de novo te veja,/ Deus te
guarde cada dia na palma de Sua mão”.
Texto bíblico: Lc 24,46-53
Na oração: Todo(a) seguidor(a) de Jesus é
“canal” de transmissão de Sua bênção que salva, eleva,
exalta a dignidade de cada pessoa.
- Sua presença cotidiana é reveladora de “benedictio” ou
“maledictio”, de elogio ou de maledicência, de vibração diante da nobreza do
outro ou de queixa amarga?...
Meu tio
Raimundo tinha uma fazenda grande de criatório de gado. Às vezes ele pedia a
meu pai para deixar eu ir passar com ele alguns dias na sua fazenda chamada
Bela Paisagem. Lá o capim era verde e parecia que não tinha fim, se perdia nos
pastos até onde as vistas pudessem alcançar.Meu tio era muito sorridente, mostrava que estava de bem com a vida,
apesar de não ter um filho, ele dizia que isso tia Edite não podia lhe dar. Ele
dizia que eu era o sobrinho que ele mais gostava, o filho que ele queria ter.
Gostava de
pegar na minha cabeça e ficar repetindo Mundeco, meu sobrinho esperto, corra
bem depressa, que é evem o boi brabo, maior que um boneco. Gostava de fazer
adivinha comigo. Se eu acertasse uma adivinha, ele me dava sorvete, saco de
pipoca, cocada ou um copo grande com caldo de cana. Eu escolhesse. Se eu não
acertasse, ele dizia que não tinha importância. Era uma adivinha com a reposta
difícil. Guardasse comigo, fosse apostar guloseima com os amigos para ver quem
acertava a resposta da adivinha difícil, que somente ele e eu sabíamos.
Guardei
várias adivinhas que ele me passou. Como essa:O que é, o que é? Bolota voadora, Tem um zumbido Que não para, Entrando
e saindo De uma casa Com cem portas? Ou essa outra: O que é, o que é?Tem cabeça, Não tem rosto, Fura e segura,
Marca o caminho Para a agulha Andar na costura? Olhe, se você não for um menino
esperto, não vai responder certo. Eu lhe ajudo com a resposta certa. A primeira
é abelha, a segunda só pode ser alfinete.
Meu tio
presenteou-me no aniversário com um carneirinho. Pai e mãe não aprovaram o
presente, ia dar preocupação e trabalho até que ficasse crescido. A ovelha, mãe
do carneiro, morreu de uma picada de cobra, o carneirinho ficou órfão, berrando
sem parar, de causar pena, segundo meu tio informou. Agora eu ia ter que cuidar
dele dando leite na mamadeira. Fiz a dormida dele no quintal, na casa onde
guardava meus brinquedos, como bicicleta, skate, bola de futebol, bambolê e
patim.
Quando chegava
da escola, ele ficava no quintal berrando até que eu chegasse com a mamadeira
grande de leite. Saía comigo pela rua puxado pelo cabresto. Gente adulta
parava, ficava olhando admirada o menino e seu carneiro, fazendo seu passeio
pela rua do comércio. Ao passar a mão nele para fazer agrado, os dedos pareciam
que estavam pegando em algodão. Ele tinha uma pelagem fofa. Daí eu passar a lhe
chamar de Lanzudo. Quando deixou de beber leite e começou a comer capim, que
meu pai mandava trazer na carroça, a mãe dizia que ele devia voltar para a
fazenda do tio, era melhor ele viver no meio dos outros carneiros. Lugar de
carneiro era no campo, finalizava, meu pai concordava com ela, sem
pestanejar.
De fato, isso
aconteceu, não que me conformasse com a ausência dele.Era meu bicho de estimação, com quem me
exibia com os amigos lá da rua. Cada um tinha seu bicho de estimação, cada um
achava que o seu era melhor, mais bonito e esperto do que o do outro menino.
Quando meu
tio Raimundo faleceu, meu pai ficou muito triste, minha mãe chorou bastante,
era o único irmão que ela ainda tinha. Eu, nem é bom falar do quanto chorei,
até hoje fico saudoso quando lembro dele.Não escondo, choro porque tenho saudades de mim.
Cyro de Mattos - é escritor e poeta com prêmios literários
importantes, no Brasil e exterior. Doutor Honoris Causa da Universidade
Estadual de Santa Cruz, Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen
Clube do Brasil e Ordem do Mérito do Governo da Bahia, no grau de Comendador
* * *
ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS REALIZA SESSÃODA SAUDADE
Cumprindo o que preceitua o seu regimento interno, que aduz
que quando um dos seus acadêmicos falece, a Academia de Letras de Ilhéus (ALI)
deve realizar uma sessão da saudade em sua homenagem, assim foi feito na noite
de sexta-feira (20), quando o confrade Mário Augusto Albiani Alves, morto no
dia 11 de junho de 2021, em Salvador, foi postumamente homenageado.
A solenidade, que foi presidida pelo acadêmico-presidente
Pawlo Cidade (Cadeira 13), ocorreu no Salão Nobre da “Casa de Abel” e contou
com a participação de familiares e autoridades, entre elas o juiz e membro da
ALI, Antônio Carlos de Souza Hygino (Cadeira 1) e o desembargador Mário Albiani
Alves Júnior, que com emoção e reverência discorreram sobre a trajetória do
desembargador aposentado, figura importante no meio jurídico baiano.
O ex-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA),
Mário Augusto Albiani Alves ocupava a Cadeira nº 37 da ALI, cujo patrono é
Vasconcelos de Queiroz e fundador Nathan Coutinho, cursou Direito na
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Na função judicante, ele atuou na comarca de Palmeiras, na
Chapada Diamantina. Em dezembro de 1989 foi promovido desembargador do TJ-BA e
no ano seguinte tornou-se presidente.
Mário Albiani foi também presidente da Associação dos
Magistrados da Bahia (Amab) por sete mandatos, fundou a Escola de Preparação e
Aperfeiçoamento de Magistrados (Epam), em 1987, no ano 1991 assumiu o cargo de
governador da Bahia pelo período de 10 dias, durante o governo de Nilo Augusto
de Moraes Coelho (15/5/1989 – 15/3/1991).
Na solene e prestigiada sessão, discursou em nome do
sodalício o acadêmico Antônio Carlos Hygino, que sobre o confrade Mário Albiani
declarou: “Foi um juiz que se destacou por participar do meio social em que
vivia, inteirando- -se dos problemas, anseios e aflições da sociedade, com
vista a solução dos conflitos e em busca da paz social. Era um conciliador nato
e será lembrado pelo seu talento, como o eterno presidente do Tribunal de
Justiça da Bahia (TJ-BA)”.
Por Vercil Rodrigues
Advogado, professor e escritor. Membro-fundador da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL), Cadeira1; Membro-idealizador fundador da Academia de Letras Jurídicas do Sul da Bahia (ALJUSBA), Cadeira1 e membro da Academia de Letras de Ilhéus (ALI), Cadeira 21.
Então,
Almitra falou, dizendo: “Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte”.
E ele
disse:
“Quereis
conhecer o segredo da morte.
Mas como
podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?
A coruja,
cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o
mistério da luz.
Se quereis
realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso
coração ao corpo da vida.
Pois a
vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma
coisa.
Na
profundidade de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso
conhecimento do além.
E como
sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.
Confiai
nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.
Vosso
temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando se encontra diante do
rei, e este entende-lhe a mão em sinal de consideração.
O camponês
não se regozija, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?
Contudo,
não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?
Pois, que
é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?
E que é
cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que
se levante e se expanda e procure a Deus livremente?
É somente
quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.
É somente
quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.
É quando a
terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.”
(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran
Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na
França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a
beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com
simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da
verdade.
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O ERRANTE, UM LIVRO E IRONIA E AMARGURA
O livro
começa assim: “Encontrei-o nas encruzilhadas, um homem que tinha apenas uma
capa e um bordão, e um véu de dor sobre a face. Cumprimentamo-nos um ao outro,
e eu lhe disse: “Venha à minha casa e seja meu hóspede”. E ele veio... E
contou-nos muitas histórias naquela noite, e também no dia seguinte...”
O livro
relata estas histórias, que refletem a experiência (e a amargura) dos dias. E
também a poeira – e a paciência – das estradas.
Muitas
dessas histórias são realmente fábulas, nas quais os animais manifestam todas
as loucuras do homem, como a história do rato e do gato, ou das rãs, ou da
hiena e o crocodilo.
Mas, em
outras histórias, os heróis são mesmo homens, que têm pouco das qualidades e
muito dos defeitos que distinguem o gênero humano.
Contrariamente
a outros livros de Gibran, este não é uma mensagem de compaixão e de
compreensão, mas uma explosão de amargura e de ironia para com a estupidez e
pequenez dos homens. E sua leitura é um excelente antídoto para o que há de
bondade, às vezes imerecida, nos outros livros, e contribui para dar à mensagem
global de Gibran um benéfico caráter de realismo e equilíbrio. Uma leitura para
mentes maduras.
- Estou aqui pela palavra, disse. Não pelo silêncio.
- Como?
- Sim, no silêncio é que pude contemplar o inseto invisível que ataca o mundo.
- E o motivo?
- Vou queimar na nuvem o inseto!
- Insisti: - Letícia, e a vacina?
- Quando chegarem todas as doses para o povo, não haverá mais o vírus! E além
disso, o vírus acaba o vírus.
Não entendi. Todos usamos máscaras, ficamos reclusos, evitando o
aglomeramento...
- São sábias medidas da ciência!, retrucou Letícia.
Mas minha ciência é outra. Há um fogo em mim que inventa o tempo.
- Um novo tempo?
- Sim. E a luz não é do tempo, é da palavra. Eu sou palavra quando sonho.
- Ninguém sonha sozinho: a palavra sonha junto.
E a Nuvem Letícia sorriu. Estava saudoso de sua presença. Ou do assombro de
vê-la branca, e os dentes e olhos puros, brilhando.
E ficamos sabendo que o tal de vírus foi queimado e extinto.
- Muitos morreram e nós choramos os mortos.
Mas é preciso viver. E, se a palavra vive, nós vivemos.
- Todos juntos na palavra!, exclamou Letícia. E o que se crê, já começa a
existir.
E vi que a Nuvem me abraçou. Com a palavra que derramava luz.
Carlos Nejar - Quinto ocupante da cadeira nº 4 da ABL,
eleito em 24 de novembro de 1988, na sucessão de Vianna Moog, foi recebido em 9
de maio de 1989 pelo Acadêmico Eduardo Portella.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus
Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e
faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda a minha
palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou.
Isso é o que vos disse enquanto estava
convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o
mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
Ouvistes o que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se
me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que
eu.
Disse-vos isso, agora, antes que aconteça, para que, quando
acontecer, vós acrediteis.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
“Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o
meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele nossa morada” (Jo
14,23)
Neste último domingo de Páscoa a liturgia, mais uma vez, nos
faz ter acesso a um trecho do discurso de despedida de Jesus, no evangelho de
S. João. Na realidade, trata-se de um “discurso pascal”, onde o evangelista
recolhe os dons principais revelados pelo Ressuscitado: vida, amor, paz, fé,
Espírito Santo.
A narração deste domingo dá destaque a uma nova presença do
Cristo Ressuscitado entre os seus seguidores e seguidoras: junto com o Pai e o Espírito,
Ele faz do interior de cada um(a) sua “morada”.
Sabemos que o ser humano é interioridade; é
sua essência, é a dimensão mais nobre e sagrada de todos. E essa interioridade
é habitada por uma Presença, sempre inspiradora e iluminadora como
o Sol.“O Sol res-plendente está sempre
dentro da alma e nada pode arrebatar sua magnificência” (S. Teresa
D’Ávila).
Presença que fala dentro de nós; presença que é Fonte de
paz; presença que, através do seu Espírito, nos inspira, nos sustenta e
desperta as melhores energias e forças mobilizadoras de nossa vida.
Os mestres espirituais chamam a esta interioridade também
de “Imago Dei” (imagem de Deus), ou a própria presença
divina em nós.
Só descobrindo o que há de Deus em nós, poderemos cair na
conta da nossa verdadeira identidade. Ele é nosso verdadeiro
ser, nosso ser profundo, nossa essência. Somos templos de Deus, presença
constante do Espírito de Deus conosco. Somos seres habitados; não estamos
sozinhos.
É próprio do ser humano mergulhar e experimentar sua profundidade. Auscultando
a si mesmo, percebe que brotam de seu “eu profundo” apelos
de compaixão, de amorização e de identificação com os outros e com o grande
Outro (Deus). Dá-se conta de uma Presença que sempre o acompanha, de um Centro
ao redor do qual se organiza a vida interior e a partir do qual se elaboram os
grandes sonhos e as significações últimas da vida.
Normalmente quando falamos de Deus nós o
imaginamos bem distante e quase inacessível. Vemos longe Aquele que está tão
perto, Aquele que trazemos dentro de nós mesmos. Vemos longe Aquele que vive e
nos dá vida cada dia. Basta um simples olhar por dentro para nos encontrar com
Ele.
Às vezes, sentimos como se tivéssemos medo de nosso próprio
mistério; temos medo de sentir que nós somos o céu de Deus; temos medo de
pensar que somos a “casa” onde vive e habita Deus.
Muitas vezes não nos damos conta dessa Presença, mas ela não
nos invade, não nos anula, não se impõe... Simplesmente se faz habitante,
presença, inspiração...
No entanto, esta é a nobreza de nosso ser: todos somos “morada”divina, porque nosso verdadeiro ser é o que há de Deus em
nós; embora a imensa maioria das pessoas não tem consciência disso ainda, não
podemos deixar de manifestar o que somos. Deus sempre habita no mais profundo
de cada um de nós; podemos ou não entrar em sintonia com essa presença para nos
deixar conduzir por ela.
Deus anda abraçado conosco e sua graça banha
suavemente todas as dobras do nosso ser e agir. Agostinho cunhará a expressão
de que Deus é “intimior intimo meo”, mais íntimo que nossa
própria intimidade. Esta presença é fonte de vida espiritual, uma vida que
pulsa dentro de nós e flui com diferentes “moções” que
nos fazem sentir perto d’Aquele que já está perto.
Em nosso coração há sempre um movimento profundo que
é manifestação da ação de Deus no mais íntimo de cada um.
Quem toma consciência de sua identidade profunda, descobre-se
habitado e amado pelo Mistério e não pode fazer outra coisa senão amar e
experimentar a comunhão com tudo e com todos. Na linguagem do quarto evangelho,
Deus é o “centro” último do nosso interior, o que constitui nossa
identidade mais profunda. A expressão do pensador Pascal - “o ser humano
supera infinitamente o ser humano” -, resume bem esta vivência da Trindade
que nos habita, nos move e nos faz transbordar em nossa mesma intimidade.
É o céu que vem tocar a terra, é Deus que se aloja no
coração humano, é o Reino que se entrelaça na configuração de nossa
convivência, é a fé que se revela como atitude de confiança inabalável.
Em Deus sempre vivemos. Em Deus nos movemos. Em Deus somos.
A Ele nunca vamos. D’Ele nunca saímos. N’Ele sempre nos encontramos. Ele está
nos gerando a cada momento (“o ser humano é criado para...).
Precisamos vivenciar a Fonte donde tudo jorra e onde tudo deságua; precisamos
caminhar à luz do Sol primordial, regressar ao seu seio luminoso.
Eis a meta derradeira do ser humano: a auto-transcendência.
Ao fazer morada em nós, Deus acende nosso desejo no desejo
d’Ele, ativa a nossa vontade na Vontade d’Ele, faz pulsar o nosso coração no
ritmo do Coração d’Ele. Ele entra com sua Liberdade nas raizes da nossa
liberdade e alarga os espaços internos para que a Vida divina atravesse todas
as dimensões de nosso ser, tornando nossa vida mais oblativa, aberta e
comprometida. Segundo José Saramago “a vida é breve, mas cabe nela
muito mais do que somos capazes de viver”.
Podemos ter acesso ao mais profundo de nós mesmos porque em
nós está a dimensão de eternidade, a dimensão “divina” que nos situa acima do
vai-e-vém das coisas, para além da superficialidade e da aparência.
Enraizados nessa Presença divina que nos habita, podemos
transitar pela história com mais sentido e inspiração. Nós nos movemos, pois,
entre transcendência e história, entre contingência e eternidade. É
no “substrato humano” que o mistério da Trindade marca
presença e age. É na “natureza humana” que Deus
constrói a Sua Tenda e, na Sua ternura, abraça a pessoa no seu todo; abrange
todas as áreas da vida.
Deus se serve das mediações humanas para revelar-se e falar ao
coração. Ele quer assumir o humano na sua totalidade. Ele deseja ser o
responsável pela “terra sagrada” da vida humana. Da parte de
cada pessoa, Ele pede, apenas, para deixá-Lo trabalhar, limpar, semear, fazer
crescer e colher os frutos. A pessoa é solicitada para que deixe espaço aberto
e livre ao plano da ação de Deus.
É nas entranhas mais profundas do ser que
Deus “toca” com a Sua bondade, ternura e misericórdia. Esta
experiência gera compromisso de viver a bondade, a ternura e a misericórdia na
missão.
Assim é a Trindade amorosa revelada por Jesus, que se deixa“transparecer” no
interior e na vida de cada um de nós. Se nos sentimos “morada de Deus”, se
verdadeiramente Deus está em nós, devemos necessaria-mente manifestá-lo
em nossa vida. Deus é amor e o melhor de nós é nosso ser amoroso; por isso,
também nós devemos ser “diáfanos”, ou seja, deixar
transparecer, em nossa vida e em nossa ação, o Deus íntimo, fundamento de nosso
ser e identificado com cada ser humano. Quem é “diáfano” também “vê” o
Deus que se deixa transparecer no outro.
Somos presença do amor de Deus no mundo. Os outros
descobrirão essa Presença em nossa vida quando manifestemos, através de nossas
atitiudes, o que de Deus há em nós: bondade, compaixão, disponibilidade,
atitude de serviço aos outros; quando, de verdade, sejamos um ser para o outro,
a partir de nosso ser amoroso. Isso significa viver já como seres
ressuscitados, uma nova humanidade; isso significa nascer de novo, nascer para
a Vida divina, eterna, definitiva. E isto, aqui e agora, sem deixar para mais
tarde.
Texto bíblico: Jo. 14,23-29
Na oração: Na oração, mergulhamos em
Deus e libertamos em nós profundidades que desconhecemos.
Se a nossa oração for um autêntico face-a-face com Deus, ela
de-verá fazer emergir à nossa consciência as profundidades
desconhecidas do nosso ser. Descobriremos recursos e dons ainda
inexplorados, que nascerão para a vida sob a ação da Graça de Deus. Ele é a
verdadeira fonte do nosso ser, mais próxima de nós do que nós de nós
mesmos.