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terça-feira, 25 de maio de 2021
SEM PAREDES - Carlos Nejar
Mia Couto, o grande escritor africano, num de seus livros, conta que, quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana, ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes. Essa lição se converteu assim na minha conduta”, explicava.
Nós todos confinados pelo
“coronavírus”, cercados como uma cidade, por inimigos invisíveis, com a ciência
impotente, nos aconselhando apenas ao encarceramento, trocando a liberdade pela
vida.
Mas é o momento de desvalorizar as
paredes, ver além do muro, além desse confinamento.
Por continuarmos vivos e
sobrevivermos, porque a mão poderosa de Deus descansa sobre os nossos ombros e
com fé tudo isso passará.
Tudo isso fará que, futuramente,
valorizemos o próximo, mesmo sem rosto, com uma nova civilização talvez não tão
rica monetariamente, mas se preparando ao recesso, forte de espírito.
Esse tempo não foi em vão, tudo tem
sentido, ainda que não se perceba. Lemos muito o que não líamos, aproveitamos o
tempo que antes não tínhamos, temos o ensejo de maior intimidade com o Senhor
do universo e nos alongamos para um novo tempo.
Apesar dos percalços, como diz a
“Bíblia”: “A segunda casa será melhor do que a primeira”.
As paredes só existem quando nos
impressionamos com elas, ou deixamos que nos retirem a liberdade interior. Mas
há que viver “sem paredes”, como os nossos sonhos ou o desconhecido da
imaginação, que sempre pode nos invadir.
Tribuna Online,
24/05/2021
https://www.academia.org.br/artigos/sem-paredes
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Carlos Nejar - Quinto ocupante da
cadeira nº 4 da ABL, eleito em 24 de novembro de 1988, na sucessão de Vianna
Moog, foi recebido em 9 de maio de 1989 pelo Acadêmico Eduardo Portella.
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