15º Domingo do Tempo Comum – 15/07/2018
Anúncio do Evangelho (Mc 6,7-13)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós!
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, Jesus chamou os doze, e começou a
enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros.
Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não
ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que
andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.
E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai
ali até vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem
vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra
eles!” Então os doze partiram e pregaram que todos se
convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes,
ungindo-os com óleo.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Paulo
Ricardo:
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Conhece-se o seguidor de
Jesus pelos pés
“Adeptos do Caminho”: assim eram conhecidos os primeiros seguidores de Jesus (At 9,2). Assim também quer Jesus que sejamos
seguidores seus, sempre em caminho, em todos os lugares, em todas as casas de
passagem, dispostos a parar e conversar, prontos ao encontro e à solidariedade
com todos os que vão e vem pela vida.
Deveríamos voltar a recuperar o sentido desta expressão
(“adeptos do Caminho”), pois ela nos convida a continuar percorrendo o caminho
cotidiano da existência de uma maneira cristificada; e isto é algo fundamental
para o encontro profundo com o outro, com as alegrias e os sofrimentos daqueles
que se encontram às margens, com a novidade e a surpresa da senda da vida, com
o desafio de prosseguir confiando na Boa Notícia de Jesus, que se manteve
sempre em caminho pelas estradas da Palestina, para levantar os feridos,
oprimidos e excluídos do sistema social e religioso.
Hoje como ontem, sair, caminhar, deslocar-se, ser
itinerante... tem sentido, porque significa ir ao encontro do novo e do
diferente. “Sair” é também uma experiência constitutiva da natureza humana
porque tem um ar transformador. Cada um, ao longo do caminho, experimenta
“novos modos” de habitar a existência, de olhar-se, pensar e
relacionar-se. A itinerância permite ir mais além de si mesmo para
encontrar outras maneiras de viver, para entrar em outras terras prometidas,
para aproximar-se de outras pessoas, povos, culturas, onde encontrar o sentido
de vida; sobretudo, possibilita ir ao encontro d’Aquele que nos transcende e
sempre se revelou Peregrino.
A vida humana, neste sentido, é caminho, com um ponto de
partida, uma meta, um trajeto e um horizonte. Caminho, palavra familiar e
também humilde que evoca a existência de uma origem e um destino e, entre
ambos, de uma aventura: a aventura de nosso caminhar, feita de desafios e
extravios, e também de encontros e de momentos inesquecíveis que nos confortam
ao longo do percurso.
Todos somos “peregrinos” neste “êxodo de nós mesmos para
Deus”, no qual nos “adentramos em terra estranha, despojados dos suportes
usuais da existência, desprovidos de todo amparo que não seja o da caridade...”
(Tellechea Idógoras).
Quem caminha calcula seu trajeto, suas próprias forças,
fadigas, planeja suas paradas. Por outra parte, decide correr o risco de sair
de sua zona de conforto, para abrir-se à paisagem de novas relações, ao
inesperado e inexplorado, a novos encontros e sensações, a confiar e percorrer
a própria existência. O caminho é um processo de mudança pessoal, um lugar
pedagógico de cura, de aprendizagens, abertas ao assombro, a um olhar
dinamizador, à liberdade de pensamento e de ação. Ele nos move a dilatar o
coração e interessar-nos pela situação das demais pessoas, a aproximarmos
dos(as) samaritanos(as) que encontramos nas idas e vindas. Porque o caminho é a
ocasião, o Kairós, o tempo pedagógico de um movimento que vivifica, deixa
pegada e sabor de um outro sentir.
Podemos dizer que na Igreja são imprescindíveis os
itinerantes, os peregrinos do Reino de Deus, como o próprio Jesus, que enviou
discípulos e discípulas pelos caminhos e povos, sem nenhuma estrutura de apoio
a não ser um coração disposto a não querer outra riqueza a não ser o fermento
de nova humanidade. Com os itinerantes Jesus iniciou um movimento a serviço do
Reino e Ele mesmo foi um itinerante. Não permaneceu numa casa, não se fechou em
um lugar, não fundou uma instituição vinculada a um tipo de templo, sinagoga ou
santuário, mas foi percorrendo, com um grupo de discípulos(as)/amigos(as),
também itinerantes, os povoados e aldeias da Galileia, anunciando e tornando
presente o Reino. Jesus os tirou de seus lugares estáveis, de suas simples
redes da margem do mar, e os fez itinerantes através de outros e amplos caminhos
e mares, para assim encontrar-se com os caminhantes, os perdidos e expulsos, e
iniciar com eles a grande Marcha da Vida.
Jesus, o Homem dos Caminhos, chama para uma Vida nova. Chama
na vida e para a vida e põe as pessoas em movimento, a caminho. A “pegada” que
Ele deixa ao passar é sua própria Vida partilhada. Ele é o inspirador de toda
itinerância; com sua peregrinação Ele abre possibilidade de outros caminhos.
Jesus, o homem que se definiu, tem um sonho, um projeto
(Reino). E surge diante dos outros com força pessoal capaz de sacudi-los e
colocá-los em movimento. Ele “passa” e sua presença os atrai
arrancando-os da acomodação. Faz-se do chamado um caminho, quando se partilha a
vida com quem chamou. Responder ao chamado feito por Jesus significa tornar
esse chamado um caminho de entrega e de serviço.
Jesus nos apresenta uma causa muito nobre e, com seu
chamado, rompe nosso estreito mundo e desperta em nós ricas possibilidades,
reacende o que de mais nobre há em cada um e amplia nosso horizonte de vida.
Para isso é preciso sair dos templos que pretendem fechar e aprisionar o
Espírito, para dirigir-nos aos caminhos do mundo, para entrar em sintonia com o
Coração e o Manancial da Vida, “em espírito e verdade”, tocando a carne
concreta da Humanidade e da Mãe Terra.
“Chamado-resposta” implica, pois, um encontro comprometedor.
O modo de ser de Jesus, transparente e livre, ativa nossa vida atrofiada e
estreita e nos capacita a olhar amplos horizontes: seu povo, seu mundo dividido
e excluído... A ressonância de seu chamado nos predispõe a encontrar motivações
saudáveis e maduras que nos permitam peregrinar e viver no contexto atual com
amor, entusiasmo e criatividade. Jesus envia seus discípulos com o necessário
para caminhar: cajado, sandálias e uma túnica. Não precisam de mais nada para
serem testemunhas do essencial. Jesus quer vê-los livres e sem ataduras, sempre
disponíveis, sem instalar-se no bem-estar, confiando na força do
Evangelho.
“O discípulo-missionário é um des-centrado: o centro é Jesus
Cristo que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias
existenciais. A posição do discípulo-missionário não é a de centro, mas de
periferias: vive em tensão para as periferias” (Papa Francisco)
Quê significa “fronteiras geográficas e existenciais”? É
preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para
adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes
para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do
inquestionável para enfrentarmos o novo...
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história
a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque
sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer... A vida está
cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos
percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios,
encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos
farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...
A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o
“novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”,
que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo
petrificado e um questionamento à ordem estabelecida.
Texto bíblico: Mc. 6,7-13
Na oração:
- Nas nossas vidas acontece algo de verdadeiro e belo quando
nos dispomos a buscar dentro de nós mesmos a razão da nossa existência.
- No “mapa espiritual” de nosso interior ainda existe uma
“terra desconhecida”, que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade,
nos põe a caminho... Grandes surpresas interiores estão à nossa espera, e
a capacidade de continuar procurando é que dá sentido ao esforço e vigor à
vida.
- A quê você se sente chamado? A quem se sente
enviado?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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